• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – Fundamentação Teórica

8. Congressos Matemáticos

Um congresso matemático carateriza-se por um encontro onde algumas pessoas se juntam para partilhar as suas ideias e discutir sobre assuntos relacionados com a área da matemática, enquanto outras assistem. Neste sentido, ao transpor o congresso matemático para o contexto de sala de aula, pretende-se que os alunos assumam o papel de verdadeiros matemáticos e defendam a sua linha de pensamento “O congresso continua o trabalho de ajudar as crianças a tornarem-se matemáticos numa comunidade matemática. Os matemáticos comunicam as suas próprias ideias, soluções, problemas, provas e conjeturas uns com os outros.” (Fosnot & Dolk, 2001, p. 29).

Esta proposta didática surge pela primeira vez por intermédio de Fosnot e Dolk, e até aos dias de hoje já existem diferentes adaptações desta mesma ideia, como o caso da dinâmica implementada por Boavida, Silva e Fonseca (2009). Estas últimas autoras

82

propõem a realização de um congresso matemático estruturado em cinco etapas: (1) Exploração de uma tarefa a pares ou grupos; (2) Elaboração de um cartaz que exiba o raciocínio e as estratégias utilizadas na resolução da tarefa; (3) Preparação da apresentação e antecipação de questões que possam ser colocadas; (4) Seleção dos cartazes pelo professor tendo em consideração os objetivos da aula, caraterísticas dos alunos e estratégias utilizadas e estipulação da ordem de apresentação pelos mesmos; (5) Apresentação, análise e discussão dos cartazes em grupo turma.

Relativamente à proposta apresentada por Fosnot e Dolk (2001), que foi a utilizada no presente estudo, esta encontra-se organizada em igualmente cinco etapas, mas com algumas diferenças: (1) os alunos resolvem individualmente ou em grupo, uma ou mais tarefas; (2) Escolha das tarefas e respetivos grupos, pelo professor, para apresentar, tendo em conta as estratégias utilizadas e resolução apresentada (3) Seleção e elaboração dos materiais e recursos pelos alunos a utilizar na apresentação da sua proposta de resolução; (4) Preparação da sua apresentação, havendo, principalmente, o cuidado de antever as questões que podem ser colocadas pelo público; (5) apresentação da resolução dessas mesmas tarefas. Nesta fase final, os alunos que apresentam têm o papel de interpretar a linha de pensamento do público e responder às questões colocadas e os ouvintes a responsabilidade de assistir, com um olhar crítico, e de intervir quando não estiverem a perceber ou não concordarem. Como acrescenta Pimentel e Vale (2014):

Por isso, devem organizar ou reorganizar as suas ideias e melhorar ou rever as suas estratégias, primeiro para si e depois para outros, de forma precisa e coerente, utilizando formas orais, visuais ou outros recursos (por exemplo, TIC, materiais concretos) antes de se lançarem num grupo. Como eles são livres como fazer isso, eles podem usar sua criatividade (p. 310).

Após uma análise de ambas as propostas, apesar de as duas fomentarem o desenvolvimento de conhecimentos e competências ao nível da resolução de problemas, do raciocínio matemático, do trabalho colaborativo, da comunicação matemática, argumentação e representação, que são competências importantes na formação dos alunos, na proposta apresentada por Fosnot e Dolk o facto de serem os alunos a selecionar os recursos que servirão de suporte à sua apresentação estimula de uma forma mais livre a criatividade destes. Assim, é importante realçar que a criatividade é uma capacidade

83

transversal na aprendizagem da matemática que, no congresso matemático, não só poderá estar presente na resolução das tarefas como também na própria exposição das ideias/raciocínio dos alunos. Como referem Vale e Barbosa (2015), ser criativo em matemática pode favorecer o sucesso nesta área, bem como na resolução de problemas em contexto de sala de aula ou até mesmo fora deste.

Outros dois aspetos que me parecem importantes referir centram-se no facto de o congresso matemático permitir trabalhar a matemática fora da sala de aula, visto que é passível de ser concretizado em qualquer lugar e também possibilitar uma partilha de ideias e opiniões de alunos de diferentes turmas e anos de escolaridade.

Ainda antes de concluir este tópico, parece-me importante refletir sobre duas questões que devem ser consideradas pelo professor antes e durante a implementação de qualquer congresso matemático: (1) Que tipo de tarefas devem ser selecionadas para serem trabalhadas num congresso matemático? (2) Que cuidados deve um professor ter durante todo o processo?

Relativamente à escolha das tarefas, o professor deve priorizar tarefas com um grau de desafio elevado, de maneira que os alunos sejam desafiados e motivados a resolvê-la (Ferreira, 2015, p. 11) e tarefas inseridas em contextos que fomentem a reflexão, imaginação sobre o trabalho que estão a realizar (Ferreira, 2015, pp. 13-14). Aquando a resolução de cada tarefa pelos alunos, deve haver um cuidado por parte do professor em antecipar as resoluções apresentadas pelos alunos, a fim de compreender o seu raciocínio, prever eventuais dificuldades dos alunos e identificar as estratégias de resolução possíveis (Ferreira, 2015). Além disto, cabe-lhe também a responsabilidade de monitorizar a exploração da tarefa pelos alunos, levando-os a refletir sobre as suas próprias ideias “É essencial que o professor promova este discurso e apoie na reflexão de modo a que os alunos aprofundem a compreensão das ideias matemáticas em jogo e se apropriem de formas de raciocinar cada vez mais eficientes e precisas.” (Fonseca, Boavida & Santos 2012, p. 434).

Em jeito de conclusão, de acordo com Fosnot e Dolk (2001), o congresso matemático pode ser realizado de diferentes formas, porém deve servir-se sempre como

84

um momento que promove, nos alunos, diferentes formas de pensar e apoia o desenvolvimento de esquemas mentais.