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CONHECENDO OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 CONHECENDO OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Como primeiro passo para compreender as opiniões dos alunos sobre os temas em estudo, está sua caracterização, obtida por meio das três primeiras perguntas do questionário a que responderam, no total, 90 estudantes, sendo 51 mulheres e 39 homens.

Tem- se, nos Gráficos 1 e 2, um panorama das idades e da situação de moradia, considerando o número de pessoas que habitam sob o mesmo teto.

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Gráfico 1 - Faixa etária dos participantes

Observa-se que a faixa etária varia de 15 a 75 anos e a predominância é de jovens 15 a 20 anos, o que revela que esses buscam a continuidade dos estudos na modalidade. Isso, possivelmente, aponta uma das seguintes realidades: a) os jovens saem do curso regular e procuram a modalidade EJA a fim de concluir os estudos; b) os adolescentes/jovens foram “colocados” na modalidade para corrigir fluxo, ou por outros motivos encaminhados pela gestão da escola; c) a modalidade é oferecida no período noturno, geralmente, o que implica que o adolescente/jovem só tenha uma opção de horário para continuar seus estudos; d) no noturno é possível conciliar estudo e trabalho.

Observa-se que o jovem aluno da EJA não é aquele com uma história de escolaridade regular. Ele é um excluído da escola e, por isso, incorporado aos cursos supletivos em fases mais adiantadas da escolaridade, com maiores chances, portanto, de concluir o ensino fundamental, ou mesmo o ensino médio. Esse jovem é bem mais ligado ao mundo urbano, envolvido em

52% 9% 7% 13% 7% 6% 1% 3% 0% 1% 0% 1% 15 - 20 21 - 25 26 - 30 31 - 35 36 - 40 41 - 45 46 - 50 51 - 55 56 - 60 61 - 65 66 - 70 71 - 75

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atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada e urbana (OLIVEIRA, 1999).

Por outro lado, esse resultado mostra um número menor de pessoas mais velhas na modalidade, o que pode gerar hipóteses sobre o que aconteceu com elas. Uma possibilidade é que querem e precisam concluir sua escolaridade por algum motivo.

De qualquer forma, o adulto está inserido no mundo do trabalho – ou querendo nele se inserir – e no das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do adolescente. Traz uma história mais longa de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas, portanto tem sua particularidade.

O adulto da EJA, segundo Oliveira (1999), não é um estudante universitário, nem o profissional qualificado que frequenta cursos de formação continuada ou de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos em áreas como artes, línguas estrangeiras ou música, por exemplo.

Na conversa informal com os alunos em sala de aula, pudemos perceber que os dados de Kohl (1990) continuam atuais, quando menciona que eles são, geralmente, migrantes que chegam às grandes metrópoles provenientes de áreas rurais empobrecidas, filhos de trabalhadores rurais que não saíram da zona rural e que apresentam baixo nível de instrução escolar, e que têm, eles próprios, uma passagem curta e não sistemática pela escola, trabalhando em ocupações urbanas não qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência. Eles buscam, tardiamente, a escola para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensino supletivo. Pode-se acrescentar que esse adulto é mais consciente da importância do estudo formal na sua vida social, desde a relação com os filhos e netos até nos possíveis empregos, já que hoje o adulto de mais de 60 anos, embora aposentado, tem necessidade de continuar trabalhando para manter os seus próprios gastos e os da família.

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A EJA tornou-se uma oportunidade educativa para um largo segmento da população, com três características escolares básicas: a) iniciaram a escolaridade já na condição de adultos trabalhadores; b) são adolescentes/jovens e adultos que ingressaram na escola regular e a abandonaram há algum tempo, frequentemente motivados pelo ingresso no trabalho e em razão de movimentos migratórios, entre outros; e c) são adolescentes que ingressaram e cursaram recentemente a escola regular, mas acumularam aí grande defasagem entre a idade e a série cursada.

Pode-se considerar, ainda, que a clientela da EJA tornou-se mais jovem e urbana em função da dinâmica escolar e da pressão do mundo do trabalho. As deficiências do sistema escolar regular público são responsáveis por parte da demanda do público jovem em relação os programas da EJA, a qual ficou com mais algumas funções, como a de “acelerar os estudos” desses estudantes.

Essas pessoas têm em comum o fato de estar diante de um curso oferecido pelo Estado, destinado àqueles que não puderam seguir o caminho da escolaridade regular e que constitui objeto da área da EJA.

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Gráfico 2 - Número de pessoas que moram com os participantes da pesquisa

O Gráfico 2 apresenta, em termos percentuais, o número de pessoas com quem cada participante da pesquisa mora: 1 pessoa mora sozinha; 53 moram com 2 a 3 pessoas; 26 moram com 4, 5 ou 6 pessoas; 5 moram com 7 ou 8 pessoas e apenas 1 mora com mais de 8 pessoas, totalizando 86, pois 4 deixaram a questão em branco.

A predominância é morar duas a três pessoas (62%), o que causa surpresa, pois a ideia inicial era a de que os estudantes pertencessem a famílias numerosas. Na verdade, o resultado revelou que o núcleo familiar diminuiu – alguns desses alunos não moram com a família.

As questões de 3 a 7 mostram características do percurso escolar dos estudantes.

No Gráfico 3 estão expostos, em termos percentuais, os motivos que levaram os respondentes a abandonar os estudos em alguma época da vida.

0% 1% 62% 30% 6% 1% 0 - 1 2 a 3 4 a 6 7 a 8 mais de 8

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Gráfico 3-Motivos que levaram os participantes da pesquisa a abandonar a escola

Os dados brutos que deram origem ao gráfico foram: 12 alunos deixaram a escola por causa do casamento; 40 porque tiveram que optar entre estudo e trabalho; 9 mulheres por gravidez; 6 porque a escola era distante; 5 por serem arrimo de família; 5 porque na zona rural não havia ensino fundamental ou médio e 4 por problemas de saúde, totalizando 80 respostas.

0% 15% 49% 11% 8% 0% 0% 6% 0% 6% 5%

casamento opção entre trabalhar e estudar gravidez escola distante

medidas sócio-educativas abuso de drogas arrimo de família violência infantil zona rural problemas de saúde

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Quatro respostas apareceram por escrito, por iniciativa dos participantes, como: “Parei porque não encontrei vaga nas escolas”; “Repeti de ano”; “Mudei de cidade e na escola não tinha vaga”; “Nunca deixei a escola”, totalizando 84 respostas. Acrescente-se ainda que, nesta questão, o participante podia escolher mais de um item e que 24 estudantes deixaram a questão em branco.

Os itens medidas socioeducativas e abuso de drogas não foram assinalados, embora exista um número considerável de alunos em liberdade assistida recebidos pela escola, e há casos de uso de drogas por parte dos alunos – o que ocorre tanto na EJA quanto no ensino regular.

Verifica-se que os itens mais escolhidos pelos respondentes foram a opção pelo trabalho e pelo estudo (40) e pelo casamento (12).

Gráfico 4 -Tempo (em anos) que os participantes ficaram fora da escola

O Gráfico 4 se refere ao tempo que os respondentes ficaram fora da escola: 23 ficaram mais de 1 ano; 8 mais de 2 anos; 19 de 5 a 10 anos e 20

0% 33% 11% 27% 29% mais de 1 ano mais de 2 anos de 5 a 10 anos mais de 15 anos

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mais de 15 anos. Embora a questão fosse fechada, surgiram dois esclarecimentos adicionais: um aluno ficou afastado por um dia e o outro afirmou que nunca havia parado de estudar, totalizando 72 respostas. Dezoito dos participantes deixaram a questão em branco.

Verifica-se a variação de 1 a mais de 15 anos. A predominância é de um ano fora da escola (23) e mais de 15 anos (20). Os que não responderam à questão provavelmente nunca se afastaram da escola.

Entre os alunos que voltaram para a escola, nem todos permanecem, muitos desistem e vários são reprovados, principalmente pelo excesso de faltas, discussão que será feita mais à frente.

Gráfico 5 - Motivos apontados pelos participantes para o retorno à escola

O Gráfico 5, que trata do motivo de retorno à escola pelos participantes, aponta o seguinte resultado: 18 dos estudantes retornaram à escola para continuar os estudos; 13 por exigência do serviço e 57 pelo desejo de ampliar os conhecimentos; 1 respondeu que sempre estudou na escola,

0%

20%

15% 65%

continuidade dos estudos exigência do serviço

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totalizando 89 respostas. Alguns dos respondentes escolheram mais de um item e 15 dos entrevistados deixaram a questão em branco.

Verifica-se que a maioria, ou seja, 65% dos respondentes retornaram à escola pelo desejo de ampliar os estudos, apontando para a importância da escola na vida deles, independentemente de se fazer uma associação entre o que se aprende na escola e o resultado da aprendizagem lhes servir para vida profissional.

Isso aponta para uma limitação da escola, pois ela poderia auxiliar claramente seus estudantes na escolha das profissões, ou seja, dar um direcionamento para outros cursos técnicos e/ou universitários e de como atingir esse objetivo. Essa posição da escola poderia enriquecer sua relação com o aluno e aumentar os vínculos entre ambos.

Gráfico 6 - Tempo que os respondentes estudam na escola São José

O Gráfico 6 aponta os seguintes resultados: 44 estudam há menos de 1 ano; 41 há mais de 2 anos e 4 sempre estudaram na escola, totalizando 89 respostas. Apenas 1 dos estudantes não respondeu à questão.

0% 49% 46% 5% menos de 1 ano mais de 2 anos sempre estudei aqui

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Verifica-se a predominância de menos de um ano (49%) e mais de dois anos (46%). A maioria dos respondentes está na escola há pouco tempo, e voltou à escola para concluir o Ensino Fundamental Ciclo II, Etapa Final. Percebe-se aí o interesse dos alunos pela certificação do Ensino Fundamental Ciclo II e a possível continuidade para o Ensino Médio.

Quanto aos cursos realizados pelos alunos fora da escola, as respostas revelaram que 57 alunos fizeram cursos (66%) e 29 não (34%), totalizando 86 respostas. Do total, 4 deixaram a questão em branco.

Gráfico 7 - Cursos realizados fora da escola

Os cursos compreendem informática (33); idiomas (9); artes (4); instrumentos musicais (6) e outros (20). Em outros cursos (20), obteve-se o seguinte resultado: os ligados à profissão como: depilação (1), manicure (1), RH (2), secretariado (1), recepção e atendimento (1), modelista (1), administração e gerenciamento (3), panificação e confeitaria (1), gestão e negócio (1), curso de barista (1), artesanato (1), preparação para o mercado de trabalho (1), desenho (1); arte: dança (1), teatro (2); e novos idiomas: morou fora do país (1). 0% 46% 12% 6% 8% 28% 0% informática idiomas artes instrumentos musicais outros

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Observa-se a predominância de alunos que buscam ou buscaram outros cursos fora da escola para ampliar seus conhecimentos, mostrando que há uma preocupação com a formação profissional e geral.

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