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CAPÍTULO 1 – METODOLOGIA

1.3 Escola “SÃO JOSÉ”

A escola na qual esta pesquisa se realizou é pública, municipal. Funciona em três períodos, das 7h às 23h. Oferece a Educação Básica nas modalidades: Ensino Fundamental Ciclo I e Ciclo II (Regular e EJA). Possuía 13 salas de aula de manhã; 14 no período da tarde e 10 no noturno em 2011. Havia aproximadamente 900 alunos e 80 professores. A equipe gestora é

13 Entrevista realizada em 08/10/2011. 14

Em 2011, estivemos lá, meus alunos e eu, para assistirmos a peça do próprio grupo, Os olhos de Nebul. Achei que o teatro era muito bom por abrigar poucos espectadores por apresentação. Após a apresentação, os artistas, o diretor e a cenógrafa estavam disponíveis para conversar com os alunos a respeito da apresentação. Todos nós gostamos da atenção e do cuidado com que eles nos receberam. Eles fizeram uma brincadeira para nos integrar. Nesse primeiro momento, não consegui saber o que havia para além do palco. Depois foi possível verificar que o camarim fica logo após o palco; frente a ele está o banheiro, e o restante não foi possível observar, pois estava escuro. O camarim, para mim, é um dos espaços mais misterioso (o que as paredes teriam para contar sobre tudo o que se passa ali) de um espaço cultural. Esse era simples, porém cheio de conversas, risadas, choros, mistérios. Fiquei imaginando o que as paredes escondem... como prever tudo o que já aconteceu ali, suas histórias, o que tem de concreto é o figurino, como me disse Daniel. O figurino é a parte concreta de cada peça, que resiste e pode ser refeito, transformado para outra personagem ou apenas guardado para continuar sendo figurino.

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composta por direção, assistente de direção e coordenação pedagógica. Há dois tipos de funcionários: os que têm uma carreira, porque prestaram concurso para trabalharem no município, e os que são contratados por uma firma, ou seja, os terceirizados que atuam na limpeza e na merenda da escola.

A escola possui 16 salas de aula, uma sala de leitura, um Laboratório de Informática, sala de vídeo, dois banheiros, dois pátios (um interno e outro externo), uma quadra de esportes, uma horta, conjunto de salas onde funcionam, de um lado, a diretoria e a coordenação pedagógica, e do outro, a secretaria. Ainda há um jardim, uma cozinha e um palco.

Esses espaços são usados por pessoas que diariamente enfrentam momentos bons e ruins. A ocupação das pessoas nesses espaços se dá como se fosse numa fábrica, cada um no seu quadrado, sem a integração desejada, sem muitas vezes que um espaço saiba o que o outro faz. Exemplo desta situação é que não há uma ligação entre as ações desenvolvidas na sala de informática com o que acontece na sala de leitura. Os professores participam de reuniões semanais, mas parece que a aproximação, no dia a dia, não se concretiza. Pensar em uma ligação que envolva pelo menos dois a três espaços momentaneamente é uma tarefa difícil.

Uma visão oposta a essa apresentada no parágrafo anterior está presente nas atitudes dos alunos. Eles se apropriam dos espaços da escola e procuram transformá-los em locais de convivência e de encontro: isso pode ser constatado no uso do pátio, dos corredores, na quadra, nas salas de aula e nas salas-ambiente (informática e leitura).

Em relação à ação do professor, cabe a ele ensinar a matéria, selecionar os conteúdos, preparar as aulas, determinar a organização da sala de aula, visando, geralmente, as avaliações externas e para dar respostas a pais e à gestão escolar.

Dessa maneira, se percebe a alienação das pessoas na realização de suas atividades. Parece que a reflexão, a análise e a interpretação, como instrumentos para criar algo novo, sair do lugar comum, acabam perdendo espaço para as tarefas burocráticas. Assim se verifica que tanto os alunos

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quanto os professores e os gestores estão envolvidos em uma rotina que leva à alienação de suas atividades. Parece que sobra pouco espaço/tempo para o trabalho intelectual e criativo. Então, a ação realizada na escola não ajuda a pensar, estudar ou descobrir coisas novas, pois todos devem aprender a mesma coisa do mesmo jeito e ao mesmo tempo/no mesmo espaço, ainda que a escola possua vários locais.

No entanto, existe nessa ação escolar uma contradição, ou seja, ela abriga projetos, embora não tenha o envolvimento de todos. É o caso do projeto de recuperação em Português e Matemática e da horta. No momento da aplicação do questionário, a escola realizava o projeto de ação solidária com os alunos da EJA. Esse projeto visava a produção de objetos como bolsas e bijuterias a partir da técnica do fuxico. À medida que as pessoas “fuxicavam”, também produziam artefatos cuja renda era revertida para os integrantes do grupo, como mais uma fonte de renda.

Destaca-se, nesta escola, a modalidade EJA do Ensino Fundamental Ciclo II, que há mais ou menos três anos tinha a grande maioria dos alunos com mais de 30 anos e hoje tem 50% deles com menos de 20 anos. Consequentemente, os desafios para a escola e os professores, tais como a indisciplina e a intolerância gerada pelo conflito de gerações na relação aluno-aluno e aluno professor, passaram a fazer parte do cotidiano. A diversidade etária também trouxe em seu bojo um aumento no número de alunos que desistem do curso por ter de trabalhar o dia todo, o que também desafia gestores e professores para solucionar problemas cotidianos.

Como dizer de um menino popular, que se „saiu mal‟ na aplicação e certa bateria de testes, que não tem senso do ritmo, se ele dança eximiamente o samba, se ele cantarola e se acompanha ritmando o corpo com o batuque dos dedos na caixa de fósforos? (FREIRE, 2001, p.42)

Os dados que compõem a Tabela 1 foram fornecidos pela própria escola “São José” e mostram o número de alunos matriculados, de

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transferidos, de desistentes, de aprovados e de retidos somente nas classes das 4ªs Etapas – lembramos que a escola recebe alunos das 3ªs Etapas

também.

4ª Etapa Matriculados Transferidos Desistentes Retidos Promovidos

A 53 --- 14 15 24 B 54 3 16 12 24 C 54 2 11 16 24 D 53 -- 18 11 24 E 55 3 25 12 15 F 54 2 25 9 18 TOTAL 323 10 109 75 129 Tabela 1

Os dados da Tabela 1 mostram que dos 323 estudantes que fizeram matrícula na 4ª Etapa, apenas 129 concluíram o Ensino Fundamental Ciclo II e estão habilitados a prosseguir os estudos no Ensino Médio.

O número de aprovados é de 129 – considera-se que é menos de 50% dos matriculados.

O número de desistentes é de 109 – considera-se que seja alto, pois, se os estudantes retornam à escola, pode indicar que os mesmos motivos determinam o seu abandono novamente. Vale apena mencionar a afirmação de Freire (2001), a respeito da desistência ou evasão da escola:

As crianças populares brasileiras não se evadem da escola, não a deixam porque querem. As crianças populares brasileiras são expulsas da escola – não, obviamente, porque esta ou aquela

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professora, por uma questão de pura antipatia pessoal, expulse estes ou aqueles alunos ou os reprove. É a estrutura mesma da sociedade com os outros, de que resultam obstáculos enormes para que as crianças não só não cheguem à escola, mas também, quando chegam, nela ficarem e nela fazerem o percurso a que têm direito. (p.35)

O número de retidos é de 75, e também pode ser considerado alto, mas, no cotidiano escolar, esses alunos desistem nos últimos meses do 2º semestre. É muito rara a reprovação só por conceito, geralmente a reprovação é por conceito e frequência.

De qualquer forma, somando o número de desistentes ao de reprovados tem-se um total de 184, o que se torna um problema grave, pois revela o fracasso. Mas fracasso de quem: dos alunos, da escola, do sistema educacional? Para mim, tanto a escola quanto o sistema educacional fracassaram, pois não conseguem planejar ações que possam favorecer o desempenho desses alunos.

Segundo Charlot (2000) não existe fracasso escolar, o que existe são “alunos em situação de fracasso”:

O fracasso escolar não existe; o que existe são alunos fracassados, situações de fracasso, histórias escolares que terminam mal. Esses alunos, essas situações, essas histórias é que devem ser analisados, e não algum objeto misterioso, ou algum vírus resistente, chamado fracasso escolar. (p.16)

O autor acrescenta que “o aluno é um sujeito confrontado com a necessidade de aprender e com a presença, em seu mundo, de conhecimento de diversos tipos” (2000, p. 33).

Os dados acima mostram a fragilidade que apresenta essa modalidade de educação, pois mantém o círculo vicioso que oferece acesso a poucos, permanência de alguns e desistência de muitos. Relacionamos alguns motivos: tempo gasto, local, acolhimento desses alunos, currículo, atendimento de expectativa, ou seja, estudantes de 15 a 25 anos pensam e querem coisas

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diferentes de estudantes de 30 a 50, como integrar e organizar uma ação educativa e criativa. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “há uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho há uma pedra, uma pedra há no meio do caminho”.

Quando se trata do tempo, é importante enfatizar que ele deve ser gasto de maneira criativa na escola, senão poderá fazer pouco sentido ir à escola para adquirir novos conhecimentos. O tempo se constitui um fator importante para os alunos da EJA, já que, no geral, esses alunos procuram na modalidade uma possibilidade de terminar os estudos mais rápido do que no curso regular. O tempo pode interferir no desempenho dos estudantes, se considerarmos que eles faltam à aula por terem de conciliar várias atividades ao mesmo tempo. Se a modalidade EJA só é oferecida no período noturno, quem passa a trabalhar à noite deixa de estudar ou tem de procurar o CIEJA (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos).

Outro fator que pode afastar o aluno da EJA é o espaço onde ocorre a aprendizagem. Alguns estudantes não aceitam que fora da sala de aula há aprendizagem. Para eles, as atividades extraclasse não têm sentido, são perda de tempo. Por isso, a escola deve apontar a importância dos vários conhecimentos que podem ser adquiridos fora da sala de aula e mesmo dos espaços não escolares.

No que se refere à avaliação, faz-se necessário refletir e considerar que os estudantes devem ser avaliados, como afirma Freire (2001), a partir do respeito aos valores, à sabedoria, à linguagem, o padrão cultural de classe.

Os dados em relação à aprovação apontam que 129 são heróis e heroínas, pois superaram suas limitações e a adversidade oferecida pela própria modalidade.

Até 2011 a modalidade EJA funcionou com a seguinte matriz curricular distribuída durante as cinco noites: Língua Portuguesa (5 aulas semanais); Matemática (5 aulas semanais); História (3 aulas semanais), Geografia (3 aulas semanais); Arte (3 aulas semanais), Ciências (4 aulas

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semanais) e Inglês (2 aulas semanais). Em 2012, a modalidade participa do Projeto da Secretaria Municipal de Educação, tornando-se EJA Modular, dividida em Etapas, com as seguintes denominações: Alfabetização, Básica, Complementar e Final.

Cada Etapa tem a duração de um ano. A Etapa Final é composta por quatro Módulos, de frequência obrigatória: Módulo de Língua Portuguesa (50 dias letivos com 3 horas/aula por dia), Módulo de Arte e Língua Inglesa (25 dias letivos com 3 horas/aula por dia), Módulo de Matemática e Ciências (25 dias letivos com 3 horas/aulas diárias) e Módulo de História e Geografia (25 dias letivos com 3 horas/aulas diárias).

A parte diversificada do currículo – facultativa para os alunos – é denominada Enriquecimento Curricular e composta por dois módulos: Qualificação Profissional e Atividades Complementares. Cada um desses Módulos tem 90 minutos diários. O módulo que trata da Qualificação Profissional é composto de três cursos: Informática, Inglês e Agente Cultural. O módulo que trata das Atividades Complementares abrange as ações de recuperação, revisão, reposição de aulas e projetos oferecidos pelos professores, dependendo da disponibilidade de cada escola, já que ela pode escolher outros cursos do interesse da comunidade.

Segundo a Secretaria Municipal de São Paulo, a EJA Modular tem por objetivo facilitar a continuidade e o término dos estudos dos jovens e adultos, pois cada módulo concluído com êxito será eliminado.

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CAPÍTULO 2

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