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CAPÍTULO 1 – METODOLOGIA

1.2 Espaço cultural

O Espaço Casa da Gioconda11 foi criado em 2011 pela Companhia de mesmo nome, que já existia desde 1999. No início, a Cia de Teatro Gioconda era um grupo de teatro que não tinha espaço fixo para realizar seus ensaios e momentos de criação, e ficou assim por 10 anos. O grupo surgiu com estudantes que cursavam a Escola de Arte Dramática (EAD), na USP, com o objetivo de formar um teatro de grupo com uma dramaturgia coletiva e sem estilo definido. Após algum tempo, o texto dramático de Milton, diretor do grupo, deu um norte para o estilo do grupo, no caso, o realismo fantástico. Este estilo favorece, segundo Fontanelli, fazer um teatro de criança para adulto ou de adulto para criança, atraindo o adulto pelos temas e as crianças pelo som, pelo figurino, pelas imagens. O núcleo da Cia é formado atualmente por 4 pessoas: Milton, Daniel, Dani e Leandro. A Cia se apresentou no SESC e viajou para várias cidades do interior apresentando espetáculos infantis de autoria do próprio grupo de 2006 a 2010. Há espetáculos que o grupo tem de continuar representando muito tempo, por vários anos.

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Tirado do encarte da exposição Bixiga, artes e ofícios, em 23/08/12 a 31/01/13.

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Foto 4 – Espaço da Casa da Gioconda

A Cia tornou-se um Ponto de Cultura há 3 anos. Enquanto Ponto de Cultura, é patrocinado pelo Ministério da Cultura do Brasil (Minc), por meio do Programa Cultura Viva, e implementado por entidades governamentais ou não governamentais de ação e de impacto sociocultural nas comunidades.

O Ponto pode ser instalado em uma casa ou em grande centro cultural, onde se desencadeia um processo orgânico, agregando novos agentes e parceiros e identificando novos pontos de apoio: a escola mais próxima, o salão da igreja, a sede da sociedade amigos do bairro; grupos de praticantes de capoeira ou mesmo a garagem de algum voluntário.

A inserção do Grupo no Programa Cultura Viva favoreceu para que o grupo mantivesse a instalação e manutenção do espaço. A partir daí, a Cia sentiu necessidade de conhecer o bairro e – mais do que isso – pensar em como dialogar com ele para atingir seus objetivos, já que não pretendia ser apenas mais um grupo com atividades culturais no bairro. No geral, O Ponto de Cultura surge de associações que percebem a ausência de espaços e de atividades artísticas na comunidade e criam oportunidades para que isso aconteça. O bairro da Bela Vista – ou Bixiga – é um bairro conhecido pelos seus inúmeros espaços de cultura, como já foi mencionado, daí mais um desafio para a Cia. As atividades iniciais do Grupo para integrar-se à comunidade foram conhecer outras instituições que deram certo, como escolas

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e ONGs, para propor um trabalho diferente a partir da necessidade existente e divulgar a cultura do teatro; feira de artes plásticas; promoção do diálogo com todas as expressões artísticas: máscaras, cinema (intercâmbio); superação do teatro com o diálogo para teatro; criação do núcleo de cinema em casa (texto, improviso e filmagem). Em um momento posterior, a Cia sentiu necessidade de discutir o que cada componente do grupo devia fazer e também as questões artísticas e burocráticas que envolviam a existência do grupo. O resultado dessa discussão foi a divisão das tarefas em que cada componente do grupo assumiu uma função, também burocrática.

O Espaço é uma casa aberta às várias expressões artísticas, portanto não só para as artes dramáticas, mas para a dança, recitais de música, cinema, entre outras. As pessoas do bairro têm acesso livre e gratuito tanto para apresentar uma expressão artística quanto para assistir aos espetáculos promovidos diretamente ou indiretamente pelo Espaço.

Outras atividades, como alugar o local para outros grupos e estabelecer contatos com as ONGs que estão no bairro, constituem um dos objetivos do Espaço.

Apesar dos inúmeros convites, a comunidade não acredita que o espaço tenha sido criado para que ela tenha acesso à cultura de qualidade, não comercial. Até porque os integrantes da Cia não são famosos, nem estão na TV. Segundo Fontanelli12, as pessoas não aceitam a atração cultural, não

querem admirar a arte. Não veem a arte como um divertimento, portanto não a veem como um motivo para se arrumar e sair de casa. Parece que o mundo da arte não é o delas, como se o teatro fosse feito para as pessoas de teatro. Outras impressões de Fontanelli são percebidas:

As coisas você aprende dentro de sua casa, depois com os amigos no prédio, tem a escola que contribui. Hoje tem internet, onde você está todos os dias... a escola tem que diversificar trazendo teatro, dança, esporte. A igreja também tem um papel importante para as pessoas experimentar buscar

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e superar limites. Construir uma casa é preciso ter muitos conhecimentos. No entanto, ser pedreiro é muito difícil alguém falar bem desta profissão, é para pessoas que não têm uma qualificação/certificação. “Eu nunca fui instigado para a dança, mas para o futebol, no entanto me tornei artista. Minha irmã foi estimulada para a arte e tornou-se enfermeira. Acho que os responsáveis pelas crianças deveriam respeitar os talentos de seus filhos e incentivá-los... estar abertos para isso desde cedo, para não desperdiçar talentos”. Fala de Daniel em entrevista13

A entrada não parece um espaço cultural, lembra mais um casarão antigo do Bixiga. Passando-se por duas salas, um pequeno corredor, estamos no palco. Ele é pequeno, com capacidade para 50 espectadores. A vantagem é que todos estão tão perto, que tudo fica aconchegante. Parece que eles criaram um tipo de uma arquibancada para colocar as cadeiras. A oficina funciona nesta sala maior: o próprio palco. 14

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