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O bairro: um pouco de história e possibilidades de aprendizagem

CAPÍTULO 1 – METODOLOGIA

1.1 CONTEXTO DE PESQUISA

1.1.1 O bairro: um pouco de história e possibilidades de aprendizagem

Quantos Bixigas...

O Bixiga é o coração de São Paulo Bixiga ou Bela Vista?

Bixiga ou Bexiga? Não tem uma resposta...

O Bixiga não consta nos mapas oficiais da cidade, não existe como um bairro ou distrito, mas está presente no imaginário e na fala das pessoas, seja para negá-lo, reafirmá-lo ou defendê-lo saudosamente. O bairro está entre a Av.Paulista e o centro, entre o popular e a classe média, entre o anônimo e o familiar, entre o religioso e o profano... Bexiga era como popularmente se chamava a varíola, e lugares ou pessoas que tinha contato com a doença recebiam o apelido pejorativo. Teria sido esta a origem do nome deste pedaço da cidade? Ou seria uma referência a Antônio Bexiga, um dos donos da chácara que deu origem ao bairro? Será Adoniran Barbosa o responsável por imortalizar o apelido, com seus sambas no Bixiga, onde pizza avuava junto com as braxola?

O Bixiga vai da avenida Brigadeiro Luís Antônio até a avenida 9 de julho, ou até a rua Paim... Vila Itororó é Bixiga ou Liberdade? Seu limite pode ser o Viaduto Major Quedinho, o Maria Paula, a rua Rui Barbosa ou 13 de maio. Há quem diga que Bixiga e Bela Vista são a mesma coisa. Há quem diga que Bixiga se refere à boemia, às cantinas italianas, ou aos teatros e à feira de antiguidades. ”Nóis era estranho no lugar e não quisemo se meter.” Melhor seguir Adoniran e deixar que aqueles que vivem no Bixiga, ou que por aqui passam determinem se estão no Bixiga ou na Bela Vista.5

Segundo registro histórico, bexiga é uma referência ao apelido dado à varíola – doença frequente no bairro na segunda década do século XVIII. Mas ficou Bixiga por conta da fala coloquial, principalmente dos italianos, que

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vieram para o bairro porque o loteamento dos terrenos era de valor imobiliário reduzido. Eles fugiam do período de guerra na Europa e procuravam um novo lar, novas possibilidades de trabalho, já que o Brasil, não podendo contar com a força escrava, adotou o sistema de assalariado e incentivava a imigração.

O bairro passou por mudanças no mercado imobiliário (principalmente nos anos 1960 e 1970), o que atraiu especuladores, investidores e também a prefeitura, que investiu nos cortiços do bairro nas décadas seguintes, culminando com a oficialização do nome “Bela Vista”.6

Foto 1 – Quadra da Escola de Samba da Vai-Vai

O novo nome dado ao bairro trouxe outros ideários políticos e econômicos, como a sobreposição dos empreendimentos carnavalescos com a criação da “Escola de Samba Vai-Vai”, originária do “Cordão Vai-Vai da

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Saracura” (1931), que durante três décadas se tornou referência do carnaval negro na cidade, com características artesanais nas fantasias e na forma de organização.

Até a metade dos anos 60, não era permitida a entrada de brancos nos desfiles e na sua organização – característica esta representante de mais uma das formas de manifestar que o discurso do país mestiço não era assimilado por seus integrantes, uma vez que, em seus cotidianos, eles enfrentavam diversas situações de discriminação. A mudança para o status de escola de samba implicava maiores gastos, aumento no número de componentes e complexidades de burocracia internas. Junto ao poder público, tais fatores demandavam o incentivo de novos integrantes, tornando-se um espaço de empreendimento carnavalesco. Assim, foi sendo criada a ideia de uma coletividade negra ligada à diversão (como música, samba e folclore), deixando de lado a história dos movimentos de resistência dos quatro séculos de opressão.

O samba está representado pela escola de samba Vai Vai, criada em 1928, e pelo Bloco dos Esfarrapados, criado em 1947e que desfila pelo bairro inteiro sempre na quarta-feira que antecede o carnaval.

O Bixiga não é apenas um reduto de filhos, netos e bisnetos de imigrantes italianos que se reúnem anualmente na tradicional Festa de Nossa Senhora Achiropita, cantando canções napolitanas. Ele se revela uma mistura de migrantes nordestinos e também, historicamente, de africanos que fugiam para esta região. “Além de verde e vermelho, o mapa das artes e ofícios desvela um Bixiga mais colorido. É italiano e também africano, japonês, e brasileiro: pernambucano, mineiro, baiano e paulistano...”7

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Foto 2 – Bixiga: casarões

“...era um palacete assobradado

Foi aí, seu moço, que eu, Mato Grosso e Joca Construímo a nossa maloca...8

O bairro carece de áreas de lazer, o que pode ser constatado pelos poucos jardins, área verde pública reduzida e quase 100% de área construída. Outro fator que interfere na sua paisagem é a especulação imobiliária e publicitária, o que reforça a existência de poucos espaços para área verde pública e gratuita.

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Foto 3 - Igreja da Nossa Senhora de Achiropita

Bem atrás da Igreja de Achiropita, familiares e amigos se reúnem em boteco para ouvir samba de raiz ao vivo. Um ateliê de tecidos e aviamentos, com máquinas antigas e supermodernas, é comandado pela engenhosidade da costureira que dá vida a uniformes de trabalho e a vestidos de festa com seus brilhos e decotes. Câmeras curiosas seguem o percurso de grupos de teatro, restauradores, blocos de carnaval, contadores de história. 9

Seu cotidiano é marcado pela gastronomia, boemia, cultura e ruas de lazer, além da convivência com diversos ritmos musicais, que vão do hip hop ao samba. É preciso andar pelas ruas, escutar as histórias de seus moradores e aprender a olhar para conhecê-lo.

O lugar comum onde pessoas se encontram para curtir samba, jogar capoeira, participar do teatro de rua, reunir-se na praça e no barzinho para papear, espairecer e celebrar a graça

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de se ter, ali mesmo, em pleno centro de São Paulo, um convívio amistoso de cidadezinha de interior ou de periferia de metrópole. 10

No bairro existem inúmeras ONGs, pontos de cultura, centro cultural, espaços culturais, teatros, escolas, cortiços, pensões, bares, cantinas, salões de cabeleireiros, mercadinhos, museus etc.

O Bixiga, por essa diversidade social e cultural, torna-se um espaço atraente e desperta curiosidade, o que contribuiu para esta pesquisa.

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