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Conhecimento sobre o programa e sua valorização pela população (integralidade/ acessibilidade)

CAPÍTULO V – Avaliação dos Efeitos e Impacto do Programa Saúde da Família

1. Efeitos do Programa Saúde da Família

1.4 Conhecimento sobre o programa e sua valorização pela população (integralidade/ acessibilidade)

Conhecer o programa, seus objetivos e funcionamento são mecanismos indispensáveis para a boa utilização do serviço (acessibilidade). Uma vez que, assim, os usuários são capazes de compreender as limitações e procurar o serviço certo para atender às suas necessidades. Os resultados são apresentados no quadro 12 a seguir:

QUADRO 12 – Conhecimento dos usuários sobre o PSF

Conhece o PSF.

Categorias:

Acari 11% Programa para atender todas as necessidades de saúde das famílias;

Programa para assistir aos mais pobres e/ou as comunidades mais distantes;

Programa de saúde para resolver problemas simples Programa que o médico visita a casa da família

Taipu 43%

Canguaretama 17% Programa que tem o agente comunitário de saúde; Programa para ajudar as famílias

Programa para atender todas as necessidades de saúde das famílias;

Programa que atende os problemas de saúde mais simples;

Programa que cuida das famílias a partir de grupos específicos

Mossoró 12% Programa para acompanhar a saúde das famílias Programa que tem o agente comunitário de saúde

Programa que faz visitas nas casas das família pelo agente de saúde e profissionais;

Programa que ajuda a diminuir a demanda dos hospitais Programa voltado a populações mais carentes

Programa para atender todas as necessidades de saúde das famílias;

Programa que visa a prevenção das doenças

Natal 12%

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

Dos participantes que afirmaram saber o que é o PSF, o município de Taipu foi o que obteve o maior percentual de afirmativas. Observamos que, no geral, a compreensão do Programa em nenhum município se dá a contento, mas nos municípios maiores a população já consegue associar o PSF às ações preventivas.

Aos profissionais, perguntamos se eles faziam alguma atividade no sentido de esclarecer a população sobre o que era e como funcionava o PSF. Nos municípios de pequeno e médio porte, eles foram enfáticos ao responder que não. Nos municípios de grande porte, observamos em equipes isoladas e de uma forma descontínua um trabalho voltado para esclarecer a população em algum momento do processo de trabalho. Comumente, no início da implantação do Programa no local.

Se associarmos estas informações, vamos perceber que pouco tem sido realizado no sentido de esclarecer a população sobre o que é o Programa, e isso pode ser percebido pelas respostas dadas pelos usuários a esta questão. Se pensarmos o quanto é difícil, muitas vezes, para os próprios profissionais compreenderem como funcionam os serviços e para quê, vamos perceber que para as pessoas, de modo geral, que não acompanha os processos de mudanças na saúde de forma consciente e participativa, essa compreensão é ainda mais difícil.

Falas dos usuários dos municípios de pequeno porte:

Tem atendimento, entrega de medicamentos de graça, pré-natal... Tem essas coisas...Ajuda o povo que precisa, né? (Q.01.52)

São consultas simples, quando é doença grave a médica já envia para outro médico. (Q.01.32) Ele atende de tudo por que ele é clínico geral. O programa é assim, se eu preciso eu já vou ser atendida de um tudo. (Q.06.48)

O que o povo pedir eles dá, é ultra, é endoscopia... Eu vou mais no posto para pedir uma ultra, para pedir meus exames... (Q.06.29)

Eu acho que é assim... é o Programa Saúde da Família que é o PSF, eu acho que é assim para beneficiar as famílias que necessitam e que muitas vezes não tem..., devido a questão da distância, por exemplo, a distância de Taipu, para se deslocar nem todo mundo tem transporte para ir para lá e o PSF,

esta é uma unidade do PSF, não é? Então o PSF vai para essas comunidades para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Acho que é um acolhimento que a pessoa faz. (Q.06.31)

É o programa que acompanha as famílias tanto em casa como no posto. Acompanha de perto. Eu não sei se é assim... Aí tem cardiologista, nutricionista, fonoaudiólogo. (Q.06.55)

O programa saúde da família ajuda as famílias que precisam. Ajudam com consultas, remédios, acompanhamentos, e às vezes, eles também visitam o idoso quando não pode ir até o PSF eles trazem o médico na casa da pessoa. (Q.06.69)

Os usuários ainda se reportam muito ao Programa como uma ajuda para os mais pobres, os mais necessitados. A saúde, enquanto direito, ainda se configura muito distante da vida destas pessoas.

Fala dos usuários dos municípios de médio porte:

Eu sei que aí é um médico para tudo. E isso é errado. Deveria ser um médico para cada tipo de coisa (Q.02.72)

Eu acho que é uma coisa onde é tudo misturado. Faz de tudo. (Q.02.78)

É para os agentes de saúde pegar o material e ir para a visita nas casas. Saber como é que o povo tá... (Q.05.77)

É para consulta mais simples, mais grave assim vai para o hospital. (Q.05.53)

É para cuidar da família inteira da criança até o idoso. O que acontece? Prioridade criança e idoso. Pelo meu ponto de vista, aqueles que não conseguem ir até lá, deve vir dar prioridade a eles em casa... Eu acredito que é assim... (Q.05.46)

Compreender o que é o Programa é também uma forma de minimizar possíveis barreiras de acessibilidade, uma vez que conhecer melhor como funciona ajuda a utilizar de forma consciente os serviços que lá são oferecidos. Contudo, percebemos que há um grande desconhecimento que gera insatisfação em relação ao médico generalista e a forma como a atenção à saúde é prestada, principalmente por que difere do modelo ao qual a população estava acostumada.

Fala dos usuários dos municípios de grande porte:

Do programa o que eu tenho conhecimento é da visita dos agentes. A agente de saúde sempre

vem aqui”. (Q.03.130)

Visita as casas para saber como é que estão os pacientes, fazer o trabalho de prevenção ... Deveria ter mais visita do agente... (Q.04.22)

É aquele programa que o médico vai na casa. Sei que eles vão na casa dos idosos, não sei mais não... (Q.04.73)

É um programa que ajuda os grandes hospitais para não haver lotação. (Q.04.27)

Um programa que veio dá auxílio aos hospitais implantando nos bairros os postos de saúde. (Q.04.182)

É um programa que tem posto de saúde nos lugares mais pobres. (Q.04.32) É um programa de prevenção de saúde. Grupos específicos. (Q.04.122)

Os dados revelam informações fragmentadas, em alguns momentos representando concepções errôneas, como por exemplo, um programa para pobres, para

oferecer serviços aos que não podem pagar, para dar remédios, para “ajudar” aos mais carentes etc. Esse “ajudar” também pode representar uma visão distorcida, haja vista os programas de cunho assistencialista oferecidos pelos governos à populações carentes. Estando localizado, prioritariamente, em áreas desprovidas de serviços de saúde e de intensa pobreza, oferecendo gratuitamente acesso a medicamentos e etc, estas situações podem levar o usuário a perceber o PSF como mais um programa assistencialista. É importante acrescentarmos que não houve mudanças significativas entre os municípios no que corresponde à descrição do que é o programa pelos usuários. Apenas houve uma alusão às ações preventivas nos municípios de grande porte.

Outra forma equivocada de ver o Programa é considerar que ele deve atender de um tudo. Essa visão que os usuários tem de que o médico tem que atender de tudo, tem que resolver “tudo” foge completamente dos objetivos do Programa. Nessa visão do usuário, o “tudo” não possui especificidades, o que não é correto, pois o médico generalista, não é aquele que atende “tudo”, mas aquele que possui condições de avaliar o sujeito como um todo, dentro de um contexto plural e perceber quais as suas necessidades de saúde, sabendo orientar o que deve ser procurado em termos de especialistas e o que pode ser resolvido a partir daquele nível do sistema. A visão do profissional generalista, ainda é muito turva para a população e isso pode gerar insatisfações e incompreensões que poderão por em cheque a aceitação do programa pelos mesmos.

Não saber dos limites do mesmo, da especificidade do seu atendimento, leva os usuários a não ter credibilidade pelos serviços oferecidos. Tais concepções pode favorecer o uso incorreto dos serviços pela população, assim como gerar demandas que fogem completamente ao escopo do Programa, gerando barreiras organizacionais e culturais para o acesso.

O impacto que poderia ter sido provocado pelo Programa, pode ter tido seu potencial diminuído em virtude do pouco conhecimento dos usuários sobre o que é e a que se destina o PSF.

De forma sucinta podemos afirmar que os efeitos observados sobre o princípio da universalidade revelaram que a porta de entrada para os municípios de pequeno e médio porte é o PSF, porém apresenta efeitos indesejáveis relacionados às dificuldades de oferecer o serviço de acordo com a demanda apresentada pela população. Já nos municípios de grande porte o PSF e as AMEs representam a porta de entrada para a

população coberta pelo Programa. Ou seja, o efeito do Programa nestes municípios é mais limitado.

No tocante à acessibilidade observamos efeitos positivos em todos os municípios quando os mesmos estabelecem dias pré-agendados para atendimento dos grupos prioritários, porém quando se refere ao atendimento da zona rural observamos um efeito negativo (municípios de pequeno e médio portes) e efeitos indesejáveis para todos os municípios quando referem-se ao não cumprimento da carga horária de trabalho prevista, limitação da oferta de consultas resultante da carência de profissionais e horários limitados.

Quanto à integralidade observamos efeitos positivos, em todos os municípios, no que se refere à realização de grupos educativos principalmente com gestantes, crianças e idosos, além de atividades em sala de espera, ainda que as mesmas aconteçam quase sempre de forma esporádica e sem continuidade, porém não há participação dos médicos e de outros profissionais no trabalho educativo, e muitas vezes, esses ainda utilizam de metodologias pouco participativas.

No que concerne à relação profissional-usuário observamos em todos os municípios que não identificamos os efeitos esperados pelo Programa no que se refere ao atendimento do médico, uma vez que a prática deste profissional ainda é centrado na doença, sem demonstrar interesse por conhecer outros problemas de saúde, e o tempo da consulta, em geral, não possibilita a realização de um atendimento integral. Quanto aos enfermeiros observamos efeitos desejados e positivos no que se refere a ser uma prática voltada a conhecer outros problemas de saúde e realizar mais recomendações de cuidados com a saúde.

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