• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – Os resultados estritos do programa saúde da família

1. Perfil dos municípios estudados

Os municípios estudados tem algumas particularidades importantes para compreendermos melhor como funciona o PSF dentro dos sistemas de saúde, por isso selecionamos as principais informações em termos de localização e de características da rede de serviços de saúde, para que possamos compreender um pouco melhor os dados que serão apresentados adiante.

QUADRO 4 - Perfil dos municípios participantes do estudo

Características Localização Distância

da capital

Área IDH* População

estimada Municípios de pequeno porte

Acari Microrregião do Seridó

Ocidental

210Km 608,57Km2 0,698– 11.035 hab

Taipu Microrregião do litoral

nordeste

52Km 352,82Km2 0,583- 11.836 hab

Canguaretama Litoral Sul 67 Km 245,53 Km2 0,60- 30.916 hab

Santa Cruz Borborema Potiguar 111km 624,4 Km2 0,655 35.797 hab

Municípios de grande porte

Mossoró Mesorregião do Oeste

Potiguar

285Km 2.11,21 Km2 0,735 259.815 hab

Natal Litoral Oriental ---- 170,30 Km2 0,787 803.739 hab

* Índice de Desenvolvimento Humano.3 Fonte: IBGE, IDEMA, 2012.

No Quadro 4, é importante destacar que os municípios encontram-se localizados nas diversas regiões do Estado, com diferentes valores para o Índice de Desenvolvimento Humano, tendo aqueles de grande porte os melhores resultados. Sobre o IDH é interesse colocar que em pesquisa intitulada Saúde da Família no Brasil – uma análise de indicadores da atenção básica no período de 1998-2004, analisou-se a evolução de alguns indicadores de saúde segundo estratos de cobertura do PSF considerando o IDH. O que se observou foi que quanto mais elevado o nível de cobertura de PSF do estrato, maior a proporção de municípios com IDH baixo (ou seja, menor que 0,7), e onde os estratos tem menor cobertura de PSF, apresentam as maiores proporções de municípios com IDH mais favorável (acima de 0,8). Ficando a diferença entre os estratos de cobertura do PSF nas faixas extremas de IDH (<0,7 e >0,8). Para o Ministério da Saúde, esse resultado reflete uma maior equidade, uma vez que o Saúde da Família tem maior cobertura em municípios de IDH mais baixo e estes, estão conseguindo aproximar os indicadores desses com os de outros municípios de IDH mais alto, reduzindo a brecha existente entre esses dois grupos de municípios. (BRASIL, 2006).

No que se refere à rede de serviços, o Quadro 5 apresenta algumas características importantes sobre o total de estabelecimentos no município e a representatividade do PSF nesse sistema.

3

O IDH é um indicador síntese que combina três componentes considerados básicos do desenvolvimento humano: a longevidade, medida pela esperança de vida ao nascer; a educação, medida por uma combinação da taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos níveis de ensino fundamental, médio e superior; e a renda, medida pelo poder de compra da população, baseado no PIB per capita ajustado ao custo de vida local para torná-lo comparável entre países e regiões. (BRASIL, 2006).

QUADRO 5 – Características da rede de serviços dos municípios pesquisados

* Total de estabelecimentos: Federal, Estadual, Municipal e Privado

**PSF por área: zona urbana e zona rural. Nos municípios de Mossoró e Natal não tivemos o detalhamento desta informação.

*** Total de famílias por equipe: apresenta a média de todas as equipes do municípios e as equipes que apresentaram maior número de famílias e menor número de famílias.

**** Os municípios de Mossoró e Natal nos informaram apenas o total de equipes e famílias por equipe, sem dizer se seriam de área urbana ou rural. A informação referente ao total de estabelecimentos municipais difere acentuadamente do quantitativo de equipes de PSF por que as unidades que representam 01 estabelecimento municipal e abrigam em torno de 3 a 4 equipes nos municípios de grande porte.

Fonte: IBGE, Secretarias Municipais de Saúde, 2012.

De acordo com os dados mostrados anteriormente, observamos que, quanto menor o município, menor a quantidade de estabelecimentos de saúde e maior a importância do PSF enquanto lócus de atendimento para estes usuários. Nos municípios de pequeno e médio porte, o PSF tem grande representatividade dentro do sistema de saúde, representando nos municípios de pequeno porte em torno de 40% da oferta de serviços, nos municípios de médio porte representam mais de 60% dos serviços públicos de saúde e nos municípios de grande porte representam menos de 30% dos serviços municipais de saúde oferecidos à população.

Quanto ao número de famílias por equipe, observamos que a média de famílias por equipe nos municípios está dentro do proposto pelo Ministério da Saúde, que é de 600 a 1000 famílias por equipe em áreas urbanas, sendo preconizado um número menor de famílias por equipe em áreas rurais, por considerar a grande extensão desta área e a distância entre as localidades4, ou mesmo entre as casas. No entanto, algumas equipes ainda possuem valores bem acima desse patamar, como é exemplo nos municípios de grande porte que possuem mais de 1000 famílias por equipe. E, em geral, segundo os

4 Ao invés de utilizarmos o termo comunidade, que remete a interação e objetivos comuns, optamos por utilizar a expressão localidade por considerarmos mais apropriado.

Características da rede de serviços Total de estabelecimentos* PSF por área**

Total de famílias por equipe***

F E M P ZU ZR Média de famílias < n de famílias por equipe > n de famílias por equipe Municípios de pequeno porte

Acari 00 01 10 01 04 01 677,2 576 820

Taipu 00 00 15 01 02 03 576,6 470 757

Municípios de médio porte

Canguaretama 00 01 17 01 05 08 616 475 816

Santa Cruz 01 00 13 04 10 02 832,41 559 1160

Municípios de Grande Porte

Mossoró**** 00 04 43 68 61 889,24 246 1526

profissionais de saúde, o atendimento fica comprometido pelo número exorbitante de beneficiários do Programa.

Os municípios estudados possuem algumas particularidades também no que se refere à área em que as equipes atendem e merecem ser destacadas. Os de pequeno porte possuem uma zona rural (Acari e Taipu), que apresentam, via de regra, uma realidade semelhante, com uma equipe de PSF para mais de 4 localidades rurais. Em Taipu, as equipes da zona rural são a maioria, e possuem, cada uma, mais de 8 localidades rurais, o que gera uma singularidade também nas queixas trazidas pelos usuários: o fato da equipe estar na localidade apenas uma vez a cada 8 ou 15 dias. Essa realidade é muito comum nas equipes que estão na zona rural, no entanto, considerando que dentre estes municípios, Taipu é aquele que possui mais equipes no campo, essa realidade ficou mais evidente na fala dos usuários. Neste município, a população rural é de 7.752 pessoas e a urbana de 4.084 pessoas.

Outra característica destas equipes da zona rural, é a precária infraestrutura para o atendimento dos usuários. No geral, as equipes atendem em unidades, ou em escolas ou outros espaços públicos, realizando suas atividades educativas em “qualquer espaço”, geralmente cedido pelos moradores, como casas, embaixo de árvores etc. Em Acari, das 5 localidades atendidas pela equipe da zona rural, em apenas uma não tem unidade de saúde. No entanto, mesmo quando tem a unidade, elas não tem as condições necessárias para a realização de todos os atendimentos do PSF, como, por exemplo a consulta ginecológica ou o dentista, o que gera a necessidade destes usuários se deslocarem para lugares como Centro de Saúde (Acari), ou para o centro do município (Taipu).

No município de Canguaretama tivemos uma particularidade, todas as equipes da zona rural que participaram do estudo tinham unidade na localidade atendida, e eles atendiam apenas a um local, à exceção de apenas uma equipe que atendiam em dois. Assim, os profissionais ficavam todo o tempo naquela área, não tendo que ir cada dia para um lugar diferente.

No que se refere às equipes da zona urbana, Taipu também possui outra particularidade. As equipes da zona urbana dividem a mesma unidade de saúde, junto também com a Secretaria de Saúde do Município e outros serviços especializados como Fisioterapia, Fonoaudiologia e Exames de Média Complexidade (endoscopia, eletrocardiograma etc.). Este espaço é uma residência alugada pela prefeitura e que se situa no centro da cidade. Essa realidade, gera nos usuários dificuldades para

compreender o que é PSF dentro dessa rede de serviços que se localizam no mesmo lugar.

Nos municípios de médio porte, observamos duas realidades diferentes. Em Canguaretama as equipes da zona urbana possuem sede própria, ou casa alugada para o atendimento das ações do Programa. Em geral, são espaços limitados, com consultórios, recepção, banheiros e cozinha, e em alguns casos, arquivos e sala para os agentes. Mas a maioria não possui espaço próprio para a realização de trabalhos em grupo. De uma forma geral, as unidades de saúde possuem estrutura física limitada e equipamentos e materiais ainda insuficientes para o trabalho a ser realizado no dia-a-dia. Em Santa Cruz todas as equipes possuem unidades com sede própria, com amplos espaços, ventilação e iluminação, com aporte frequente de materiais e equipamentos.

Nos municípios de grande porte existe outra situação específica: as unidades, em geral, possuem mais de uma equipe de PSF e isso tem repercussões para a localidade, principalmente quando falta médico em uma das equipes. Assim, parte da população tem acesso a esse profissional enquanto outros não. A maioria das unidades localizam- se em sedes próprias, com uma estrutura física bastante semelhante, ainda que seja limitada para o número de equipes que a ocupam. Geralmente são duas equipes por unidades, mas chegamos a encontrar 3 ou 4 equipes na mesma unidade. A limitação do número de salas e os demais espaços físicos são perceptíveis, além da carência de materiais e equipamentos mínimos, assim como a oferta limitada e sempre insuficiente de medicamentos. As unidades não possuem estrutura adequada para o desenvolvimento de atividades em grupo, o que leva os profissionais a realizar estas ações em equipamentos sociais do bairro, como é o caso das escolas e igrejas. Nas visitas realizadas observamos poucos profissionais nas unidades, carência de médicos em algumas equipes e um trabalho bastante desarticulado dentro das equipes, muitas vezes relatado pelos próprios profissionais.

Observamos em Natal algumas dificuldades que lhe são particulares: unidades de saúde em processos de reforma há mais de três anos e sem previsão de conclusão, obras inacabadas, profissionais de saúde sendo deslocado para atendimentos em outras unidades, tendo de dividir um espaço cada vez menor e com maior número de profissionais e usuários, carência de médicos em quase um terço das equipes, sensação de “abandono” pelas equipes por parte da gestão, Programa sem prioridade na pauta da saúde municipal.

Outline

Documentos relacionados