• Nenhum resultado encontrado

Garantiu-se a confidencialidade dos nomes das mulheres no estudo, conforme preconiza a Resolução do Conselho Nacional de Ética n° 466/12. Para isso, foi enviado um termo de compromisso (APÊNDICE B) ao SIM - Sistema de Informação de Mortalidade da cidade de São Luís, elucidando-se os objetivos da pesquisa.

6 RESULTADOS, DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados expostos a seguir se basearam-se na análise preliminar de 106 assassinatos de mulheres, dos quais 73 foram classificados como femicídio e, portanto, válido para esta pesquisa. O estudo aqui apresentado foi elaborado no âmbito de uma perspectiva quantitativa. Os resultados apresentados em forma de números absolutos, proporções e coeficientes, dizem respeito aos 73 femicídios, ocorridos em São Luís, no Estado do Maranhão, no período de 2008 a 2012. A pesquisa foi realizada nesse período, levando-se em consideração os anos mais recentes e elegendo o quinquênio anterior ao ano de 2013, com o objetivo de obtenção de dados mais atualizados sobre a temática.

A apresentação dos resultados respeitou a seguinte ordem: prevalência de femicídio nos anos de ocorrência; perfil sócio-demográfico das mulheres vítimas de femicídio; associação do grau de escolaridade com as variáveis sócio-demográficas, criminais e de motivação do crime; autor do femicídio relacionado à motivação do crime e registro de denúncia prévia da violência de gênero que gerou o femicídio em DEAM - Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Buscou-se conhecer a distribuição dos casos de femicídio ao longo dos cinco anos estudados, por meio dos dados distribuídos sob a forma de tabelas e gráfico, favorecendo a análise objetiva.

Tabela 1 - Distribuição da prevalência de femicídios.

Ano homicídio feminino+femicídio femicídio Prevalência de femicídio 2008 18 11 61.1 2009 15 12 80.0 2010 24 16 66.7 2011 26 18 69.2 2012 23 16 69.6 2008-2012 106 73 68.9

A tabela 1 ilustra a prevalência dos femicídios ocorridos no quinquênio 2008-2012 em São Luís no Estado do Maranhão. Observou-se uma linha de tendência crescente nos cinco anos, sendo que o ano 2009 apresentou maior taxa de prevalência.

Os resultados apontam que, na cidade de São Luís, o femicídio é a causa mais comum de morte violenta de mulheres. Esse fenômeno reflete a expressão perversa de um tipo de dominação masculina sobre as mulheres, ainda fortemente cravada na cultura maranhense. O femicídio é a própria expressão dessa dominação, sendo a última instância de controle da

mulher pelo homem, inclusive pelo controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, através da fragilização da autoestima da mulher, tornando-a mais frágil e mais controlável. Bordieu (2007) afirma que, nessa relação de dominação o homem se sente na situação de senhor e dominador da mulher, detendo-lhe a posse e propriedade, tratando-a como objeto, violando-se um direito humano feminino de liberdade sobre seu corpo, seus atos, sua vida e de ser tratada como ser humano e não como propriedade.

Saffioti (1987), em seu livro “O Poder do Macho”, observa que: “Calcula-se que o homem haja estabelecido seu domínio sobre a mulher há cerca de seis milênios. São múltiplos os planos da existência cotidiana em que se observa esta dominação (p. 47)”.

Portanto, para Saffioti, o homem apresenta-se na posição de dominador, detentor da força e de um poder absoluto sobre tudo e todos, inclusive o poder de dominação sobre as mulheres e, nessa relação de dominação do homem sobre a mulher, o privilégio ao homem aparece como algo natural. Ao longo do tempo, a sociedade deu aos homens papéis importantes e respeitados, restando às mulheres, em princípio, as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos e, num segundo momento, a execução de papéis menos significativos para a sociedade, tidos como uma própria extensão do lar, aliados à baixa remuneração e nenhum poder.

A violência de gênero, como causa de morte em mulheres nos últimos anos, tem ocasionado impacto social e econômico no Maranhão. Uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência. Segundo Abrantes (2002), com a presença da violência na vida da mulher, acontecem várias interferências. No contexto do trabalho, tem ocorrido através da diminuição de permanência no emprego (absenteísmo/seguridade social) e ritmo de trabalho (diminuição de produtividade) e, no contexto dos filhos, se expressa por baixo rendimento escolar, condutas violentas (redução e reprodução de modelos de comportamentos violentos no cotidiano social e familiar), representando um verdadeiro desafio. Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento no ano de 2012 estimou que o custo total de violência contra a mulher oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país.

É importante ressaltar que, na região Nordeste, a violência praticada contra a mulher possui aspectos históricos determinados pela cultura machista que considera a mulher como uma propriedade do homem, fato esse ainda evidente na atualidade. Embora em São Luís, assim como em outras capitais brasileiras, tenham ocorrido avanços em relação aos direitos

das mulheres, ainda assim inúmeros episódios são registrados na mídia local relacionados a situações machistas que desvalorizam a mulher maranhense.

De acordo com Garcia (2013), as diferenças regionais observadas podem representar padrões diferentes dos femicídios, relacionados à aceitação cultural da violência contra a mulher, legitimando a violência. Portanto, o machismo do homem nordestino já é praticamente reconhecido como uma característica da cultura e até mesmo naturalizada, nele há todo um sistema especializado em separar o mundo entre homens e mulheres e atribuir valores melhores ou piores a ambos. Não se trata de uma força isolada, mas de um grande e complexo sistema que subjuga o feminino. Em estudos realizados por Andrade (2006) sobre o homem nordestino, na cinematografia nacional, afirma-se que, quando ele não constitui o machão, o viril e rude, aparecerá como o malandro ou o esperto. Dessa forma, as mulheres nordestinas necessitam de uma maior atenção em relação às Polícias Públicas, tendo em vista a maior situação de vulnerabilidade em que elas se encontram.

Outro ponto relevante volta-se pela reavaliação do tipo de Educação recebida pelo homem nordestino, visto que o comportamento machista é um elemento aprendido primeiramente no seio familiar e depois na escola. Os papéis ensinados desde a infância fazem com que meninos e meninas apendam a lidar com as emoções de maneira diversificada. Os meninos são ensinados a reprimir os sentimentos, como amor, delicadeza e estimulados a expressar outros como raiva, agressividade, ciúmes, enquanto que as meninas devem ser meigas, carinhosas. Entretanto, essas manifestações são tão aceitas que, às vezes, acabam por contribuir para atos violentos, quer seja na infância, quer seja na vida adulta.

O crescimento na taxa de femicídio, em São Luís do Maranhão, coincide com o encontrado no último levantamento divulgado pelo Mapa da Violência 2012, o qual evidenciou que a capital maranhense ocupa a 8ª posição no ranking das cidades brasileiras com 6,6 mulheres mortas para cada 100 mil. Porém, vale destacar que o aumento nos números de feminicídios também ocorreu em outras capitais do Nordeste do Brasil que, embora possuam Políticas Públicas de prevenção à violência contra a mulher, não apresentaram redução em suas taxas, a exemplo de Fortaleza, Salvador e Recife (WAISELFISZ, 2012).

Dentre as regiões do Brasil, a região Nordeste foi a que expressou maior crescimento de assassinato de mulheres na última década, registrando aproximadamente 1.100 casos em dez anos. Os maiores índices foram apresentados nos Estados do Maranhão, Ceará e Bahia, este último com mais de 200 vítimas no período (MELO, 2012).

O Estado do Maranhão, assim como sua capital, possuem uma rede expressiva de atuação na área de Políticas Públicas de prevenção à violência contra a mulher, das quais pode-se destacar:

- SEMU - Secretaria de Estado da Mulher; - Delegacia Especializada da Mulher - DEAM; - Conselho da Condição Feminina;

- Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Estadual de Políticas para as Mulheres 2013-2015, instituído pelo Decreto Nº 29.764, de 17/01/14, sendo que no Maranhão, 35 municípios já possuem Planos Municipais de Políticas para as Mulheres, 33 dos quais elaborados com assessoramento técnico direto da Secretaria de Estado da Mulher;

- Biblioteca especializada em gênero, denominada “Biblioteca Maria da Penha Maia Fernandes”, inaugurada em maio de 2013, pela própria Maria da Penha e que está inserida na estrutura da Secretaria de Estado da Mulher do Maranhão, com um acervo composto por livros, revistas, cartilhas, relatórios, arquivos de imagem e som, dissertações e teses;

- Adesão ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres com o programa “Mulher, viver sem violência”, lançado em março/2013 pela presidente Dilma Roussef e que inclui, entre outras importantes ações, a implantação da Casa da Mulher Brasileira. O Maranhão aderiu ao programa em outubro/2013. O programa “Mulher, viver sem violência” é um dos mais recentes no combate à violência de gênero no Brasil. Esta iniciativa visa a integralização do atendimento às mulheres vítimas de violência, reunindo os serviços especializados em um só local e contará com uma central de transportes que possibilitará a integração da Casa com os serviços externos (hospitais e IML).

Entretanto, embora haja essa expressiva rede de atenção à violência contra a mulher no Estado do Maranhão, ainda assim as taxas de femicídios em São Luís não têm apresentado redução. Um dos aspectos que provoca reflexão se refere à Lei que protege a mulher da violência, Lei Maria da Penha. Vale acrescentar que, ao contrário do que se pensava, teve impacto nulo sobre a mortalidade de mulheres por agressões, o chamado femicídio em São Luís, assim como em outras capitais brasileiras.

Isso se comprova através de um estudo inédito "Violência contra a mulher: femicídios no Brasil", apresentado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o qual aponta que não houve redução das taxas anuais de mortalidade, comparando-se os períodos antes e depois da vigência da lei. As taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período de 2001 a 2006 (antes da lei) e de 5,22 de 2007 a 2011 (após a lei). No período de

2009 a 2011, no Brasil, foram registradas 16,993 mortes, resultando na taxa de mortalidade de 5,82 por 100 mil mulheres.

A pesquisa esclarece que a expressão máxima da violência contra a mulher é o femicídio. Esses crimes são geralmente perpetrados por homens, principalmente parceiros ou ex-parceiros, e decorrem de situações de abusos no domicílio, ameaças ou intimidação, nas quais a mulher tem menos poder ou menos recursos que o homem. E esse é o “retrato” evidenciado no Maranhão. Assim, os resultados em São Luís destacam a necessidade de reforço às ações previstas na Lei Maria da Penha, bem como a adoção de outras medidas voltadas ao enfrentamento da violência contra a mulher.

Tabela 2 - Distribuição de frequência das variáveis sócio-demográficas das vítimas de feminicídio.

Variável n % Variável n %

Idade Escolaridade (anos)

10 a 20 3 4.1 Nenhuma 4 5.5 21 a 30 34 46.6 1 a 3 21 28.8 31 a 40 21 28.8 4 a 7 23 31.5 mais de 40 15 20.5 8 a 11 16 21.9 12 ou mais 9 12.3 Estado civil Casada 10 13.7 Solteira 30 41.1 Ocupação

União estável 31 42.5 Do lar 28 38.4 Divorciada

2 2.7 Empregada doméstica 13 17.8

Raça cor Desempregada 9 12.3

Parda 40 60.3 Estudante 5 6.8 Preta 19 26.0 Autônoma 3 4.1 Branca 10 13.7 Outras 15 20.5 Total 73 100.0 Total 73 100.0

Na tabela 2, apresentam-se a frequência do femicídio relacionando-o às estatísticas descritivas de caracterização das vítimas, na cidade de São Luís, no Estado do Maranhão.

De acordo com análise da tabela no quesito idade da mulher vítima de femicídio, o estudo demonstrou que 46,6% das mulheres estavam na faixa etária de 21 a 30 anos, seguido de 28,8 % na faixa etária de 31 a 40 anos e 20,5% das mulheres estavam com mais de 40 anos. Somando os percentuais das mulheres de faixas etárias de 21 a 30 anos com as de 31 a 40 anos alcança-se um percentual de 75,4%.

Dessa forma, os resultados confirmaram que as mulheres vítimas de femicídio, em sua maioria, eram jovens, em plena atividade produtiva, com anos potenciais de vida perdidos, evidenciando as perdas em produtividade devido à morte prematura. E isso, certamente, é um fator que interfere no IDH do Estado do Maranhão, prejudicando, ainda mais, o seu desenvolvimento.

Um estudo epidemiológico, realizado por Silva (2011), objetivando calcular os anos potenciais de vida perdidos por mulheres vítimas de homicídio na cidade do Recife, no quinquênio 2003-2007, revelou que houve 12.120 anos potenciais de vida perdidos, no período, por mulheres jovens, negras (88%), de escolaridade desconhecida (78,2%), solteiras (80%), e que foram assassinadas com uso de arma de fogo, no próprio domicílio. Os 43,3 anos de vida perdidos por cada vítima refletem, entre outros aspectos, as características do município, relativas ao nível de pobreza, desemprego, densidade populacional, instabilidade residencial, desigualdade social, que expõem seus habitantes a crises sociais, crimes e violência.

Para o professor na Faculdade de Sociologia da USP, Gustavo Venturi, um dos organizadores da pesquisa “Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado", da Fundação Perseu Abramo, lançada no final de 2013, a violência contra a mulher permeia toda a sociedade, seja qual for o recorte, idade, renda, cor, escolaridade, religião ou outro fator. Os resultados da pesquisa em São Luís também demonstraram que o risco de uma mulher morrer por consequência da violência de gênero está presente em todos os recortes, inclusive nas diversas faixas etárias, embora as mulheres mais jovens sejam as mais atingidas.

Os dados encontrados em São Luís são similares aos achados pelo IPEA em 2013, pesquisados por Garcia (2013) o qual demonstrou que, no Brasil, as mulheres mais jovens foram as principais vítimas de femicídio, sendo que 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos, ou seja, mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. Outro estudo realizado pelo Mapa da Violência de 2012 também revelou uma maior frequência de mulheres jovens com as maiores taxas de vitimização de mulheres no intervalo entre 15 e 29 anos, com ascendência para a faixa de 20 a 29 (WAISELFISZ, 2012).

Outra variável investigada em São Luís foi a escolaridade das mulheres mortas por femicídio. Na análise desta, observou-se que 5,5% não sabiam nem ler e nem escrever, 28,8% possuíam apenas 1 a 3 anos de estudo e 31,5% tinham somente 4 a 7 anos de estudo. Quando somados os percentuais de 1 a 3 anos com os de 4 a 7 anos de estudo, encontra-se um quantitativo de 60,3%, demonstrando que, embora a maioria das mulheres tenha estudado um pouco mais, ainda assim, não completaram sequer o ensino fundamental. Outro resultado

evidenciado foi que somente 12,3% do universo de 73 mulheres possuíam 12 anos ou mais de estudo, ou seja, a pesquisa evidenciou que, quando a escolaridade aumentou, diminuiu a frequência do femicídio em São Luís.

Contudo, cumpre ressaltar que a pesquisa em São Luís demonstrou que todas as mulheres, independentemente do grau de escolaridade, estão expostas ao risco de sofrerem a violência de gênero, sendo que essa violência ocorre pelo simples fato de ser mulher. Entretanto, o estudo apontou que é nas mulheres com menor escolaridade que esse tipo de violência apresenta o seu desfecho final (femicídio) em maior frequência.

Outro aspecto importante, também, motivo de reflexão, é que mulheres com escolaridade mais elevada possuem um reconhecimento maior da violência, desde a psicológica até a física. E, de posse desse reconhecimento, certamente, essa mulheres terão maior capacidade de quebrar o ciclo da violência.

Em um estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo, lançado no final de 2013, evidenciou que a violência física atinge 19% das mulheres com curso superior ou mais, contra 25% das que têm só o ensino fundamental, comprovando o fato de que nenhuma mulher estará protegida da violência de gênero.

Em pesquisa realizada por Prates (2007) em São Paulo, junto a 2.128 mulheres, apontou-se que possuir poucos anos de estudo poderá ser um fator de risco para a geração e permanência da violência de gênero, visto que a mulher com baixa escolaridade terá mais dificuldade de reconhecer esse tipo de violência e, consequentemente, romper o ciclo. Prates afirma também que, por outro lado, quanto maior a escolaridade da mulher em situação de violência de gênero, por menos tempo ela admitirá a violência.

A baixa escolaridade também foi apontada por alguns autores Adeodato et al. (2005); Rabello; Caldas Júnior (2007); Blay (2008) como um dos fatores que contribui para a geração de violência. Para as referidas autoras e autores, em mulheres com mais escolaridade podem acontecer que, antes mesmo que a situação de violência as coloque em situação de risco de vida, estas têm maiores condições de quebrar o ciclo da violência.

Dessa forma, a educação poderá ser um elemento essencial para redução dos níveis de violência. Para Moretti, é possível afirmar que “elevar o nível de escolarização (assegurando a formação no segundo grau, por exemplo) de 10% dos homens dos EUA acarretaria redução de 20% das taxas de homicídios e de prisões por lesões corporais” (MORETTI, 2005).

Grown; Gupta; Pande, (2005) afirmam que a educação das mulheres é um indicador importante e, embora a escolaridade não elimine a violência de gênero, ela terá o efeito de aumentar a chances de a mulher sair de um relacionamento violento, posto que, ao contrário,

quando a mulher possui baixa escolaridade, a possibilidade de conseguir um emprego formal é bem menor, contribuindo para a dependência econômica do parceiro, colocando, assim, a mulher numa situação de vulnerabilidade na relação social e até mesmo psíquica.

Na pesquisa do Data Senado (2013), constatou-se que mulheres que só estudaram até o ensino fundamental sentem-se mais desrespeitadas que as mulheres que concluíram o ensino médio e o ensino superior. Dentre as primeiras, 48% não se sentem respeitadas. Já no segundo grupo, que possui ensino médio ou superior, por volta de 32% não se sentem respeitadas, ou seja, 16% a menos. Os dados confirmam o efeito positivo que a educação tem sobre a autoestima da mulher.

Quanto à análise do estado civil das vítimas de femicídio em São Luís, o estudo mostrou que o grupo com maior frequência de femicídio foi o de mulheres solteiras (41,1%), seguido por mulheres em união estável (42,5%).

A pesquisa chama a atenção para o número de mulheres vivendo com o parceiro, mas não casadas, fato considerado cada vez mais frequente entre casais, coexistindo sob união estável, sem formalizar a união. De acordo com o Art. 1.723 do Código Civil, a união estável é reconhecida como entidade familiar entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura. Logo, não haveria tanta diferença entre casada no civil e não casada, porque, na verdade, ambas as categorias representam uma união.

Cumpre ressaltar-se que o número de mulheres em união estável poderá ser ainda maior do que o apontado no estudo em São Luís. Isso se explica pelo fato de, no ato do preenchimento da declaração de óbito pelo médico, o estado civil da mulher é perguntado à pessoa que a estava acompanhando, e que geralmente é um parente da vítima, e este poderá declarar que a morta era solteira, pois muitas que conviviam com os companheiros poderiam considerar-se solteiras simplesmente por não estarem civilmente casadas, enquanto que, na verdade, as mulheres possuíam parceiros, o que é considerado como união estável.

Em referência às mulheres casadas, o estudo em São Luís apontou um percentual de (13,7%). Entretanto, embora as mulheres solteiras e em união estável tenham aparecido em maior percentual, ser casada não constituiu um fator de proteção para o femicídio, uma vez que para a mulher entrar no grupo de risco violência de gênero e para o femicídio, observou- se que basta somente ela conviver com um marido ou ex-marido, companheiro ou ex- companheiro agressor, visto que o estudo demonstrou também que estes são os principais perpetradores.

Swain (2010) afirma que, na esperança de que um dia o companheiro mude e cessem as agressões, principalmente as mulheres casadas permanecem na relação. O problema é que,

com o tempo, a violência se banalizará e passará a ser vista como natural. A exposição continuada à situação de violência anulará na mulher a autoestima e a sua capacidade de pensar e reagir, sendo assim a esperança de mudança vai dando lugar ao conformismo, colocando essa mulher em risco de vida.

Lima (2009) acrescenta que algumas mulheres casadas que sofrem de violência preferem até mesmo deixarem-se ser surradas para protegerem os filhos ou pela permanência do status social de mulher casada. Como exemplo disso, na peça teatral adaptada a partir do livro autobiográfico de Vivianna Gómez Thorpe: “Não sou feliz, mas tenho marido”, a autora utiliza o bom humor para falar de um assunto árido: “casamento em crise”.

Thorpe (2006), em seu livro e peça teatral, conta a história do próprio casamento, que durou 27 anos e terminou quando o marido saiu de casa para viver com outra mulher cuja