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GÊNERO SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO NO MARANHÃO

A educação feminina no Brasil, desde os tempos coloniais, tem desempenhado uma função conservadora, reproduzindo os mecanismos de controle da sociedade paternalista, a fim de legitimar a submissão da mulher e restringir seu espaço à esfera privada do lar. Fato esse que aconteceu também no estado do Maranhão, cuja capital é São Luís (SALES, 2010).

Fundada em 1612 pelos franceses em sua empreitada colonizadora na América do Sul, a cidade de São Luís foi apenas três anos mais tarde tomada por Portugal. A ocupação holandesa nos anos 1600 também durou três anos, até ser restaurado o domínio português. No século XIX, São Luís havia se tornado a quarta maior cidade do Brasil e abrigava a terceira maior população negra do país (ABRANTES, 2004).

De acordo com Abrantes (2002), ao longo do período Colonial e Imperial, o Maranhão esteve muito mais atrelado a Portugal, do qual dependia econômica e geograficamente e, até mesmo, em relação à educação. Até o século XVIII, constituiu-se como um Estado Colonial próprio, diretamente subordinado a Lisboa. Logo, a condição feminina no Maranhão não era muito diferente do restante do país, prevalecendo a mentalidade conservadora que destinava às mulheres uma educação meramente doméstica.

Assim, a educação feminina no período colonial destacava-se por meninas que eram ensinadas a serem mães e esposas e sua educação limitava-se a aprender a cozinhar, bordar, costurar, ou seja, tarefas estritamente domésticas e, no período Imperial, apenas algumas “mulheres de família” mais abastadas eram educadas em casa e essa educação continuava se restringindo às prendas domésticas, à leitura de livros morais e a rudimentos de escrita (SALES, 2010).

Ainda para a mesma autora, durante a Primeira República, assim como no Brasil, ocorreu, no Maranhão, a expansão de oportunidades de instrução e profissão para mulheres. No entanto, esse momento da história foi acompanhado por discursos conservadores que procuravam mostrar que a prioridade da mulher era o lar.

O escritor maranhense Catulo da Paixão Cearense, em sua obra “Alma do Sertão”, apresentou algumas opiniões masculinas (fictícias) sobre a mulher moderna que destacavam a

resistência dos homens aos novos espaços que elas alcançavam e a concorrência que começavam a lhes fazer.

Vejo que a mulher de hoje não vale a mulher do passado. A de hoje só quer ser doutora, professora, funcionária pública, aviadora, eleitora, senadora, deputada [...] o diabo a quatro, enquanto a outra era a doutora da casa, a funcionária da cozinha e a deputada do seu marido. Que saudade do passado, meus caros amigos! A mulher há de tornar a ser mulher, no dia em que deixar o atropelo da moda, a vaidade de ser doutora, e voltar pois, assim como vai, há de chegar um tempo em que ela não será mais nem homem nem mulher! Meus senhores: quereis a opinião de um rude sobre as mulheres? (CEARENSE, 1928, p.144/145).

Destarte, o escritor maranhense retratava de forma clara o sentimento da população masculina em relação à mulher, demonstrando o processo discriminatório já enraizado por longos anos. Para Sales (2010), a educação feminina foi entendida com cautela pelos contemporâneos e, algumas vezes, divulgavam que a mulher adquiriria um aspecto ‘masculinizante’ por meio do estudo excessivo e perderia a sua ‘essência’ e função, pois, por intermédio da instrução, poderia ocupar cargos dantes preenchidos apenas por homens.

No âmbito desse contexto histórico, Machado (2005) afirma que, no século XIX, no Maranhão, continuaram ainda existindo enormes impedimentos para o acesso das mulheres a todos os níveis de ensino, principalmente, o nível superior e o confinamento destas na formação somente para o magistério a educação estava perpassado por valores que definiam os papéis sociais dos indivíduos, sendo que a legislação educacional previa um ensino diferenciado para homens e mulheres.

Ainda para a mesma autora, enquanto os homens eram preparados para um ofício, e para o ensino superior que os tornava aptos para as funções de gerenciar, as mulheres eram moldadas para as funções de esposa e mãe. Na prática do magistério também havia a distinção entre os sexos, cabendo às mulheres o ensino do nível primário às meninas, especialmente no ensino público.

Conforme Sales (2010), as professoras na cidade de São Luís recebiam um salário inferior ao dos professores e não ensinavam níveis mais elevados. Durante o século XIX, as autoridades maranhenses tentaram a criação de uma “Escola Normal” para formação dos docentes, especialmente para qualificação da professora do feminino considerada mais carente de uma boa formação. Lentamente, as mulheres foram ocupando o ensino das séries iniciais da educação primária, ocorrendo uma feminização do magistério.

Abrante (2002) acrescenta que esse avanço não era visto como uma ameaça para a ordem social, uma vez que o magistério feminino era entendido como uma extensão da função materna e, por essa razão, podendo até ser trabalhado de maneira melhor por uma mulher.

Na segunda metade do século XIX, a cidade de São Luís contava com dois estabelecimentos para a Educação das meninas desvalidas, mas também frequentados por filhas de famílias abastadas: era o “Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios” e o “Asilo de Santa Teresa”. A educação recebida nesses estabelecimentos era dividida em três modalidades de ensino: primeiro, na doutrina cristã e deveres morais, leitura, princípios gerais da gramática, escrita e aritmética, até frações; segundo, nos trabalhos de agulha e; terceiro, na prática de trabalhos de economia doméstica, como cozinhar, lavar, engomar e demais trabalhos domésticos (COSTA, 2008).

No século XX, em sua maior parte, em São Luís do Maranhão, também ocorreu a segregação da educação das mulheres em relação à educação dos homens, o que gerou como consequência situação desigual de gênero na educação na maior parte do século, sendo revertida no final do século, momento em que as mulheres ultrapassaram os homens em anos de estudo (MACHADO, 2005)

No entanto, apesar do avanço da situação das mulheres em relação à educação, em São Luís, elas ainda estão em desvantagens em relação aos homens no que se refere ao salário, refletindo nas diferenças entre homens e mulheres.

Na última década, as mulheres, que já são maioria na capital maranhense, aumentaram seu poder aquisitivo e se tornaram chefes de família, sendo as principais responsáveis pelo sustento dos filhos. Em São Luís, elas somam 539.842 pessoas e representam 53,19% da população, um número superior à média nacional, que é de 51,03%, segundo último relatório do Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre aquelas que chefiam as famílias, representam 36,78% (IBGE, 2013).