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VIOLÊNCIA DE GÊNERO: DIREITOS HUMANOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, introduziu uma concepção ampla de direitos humanos ao considerar todas as pessoas titulares de direitos iguais, independentemente de sua condição social, sexo, credo político ou religioso, raça / etnia (ONU, 1948).

No entanto, de acordo com Pitanguy; Miranda (2006), embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 tenha deixado claro quanto aos direitos humanos, independentemente do sexo, ainda assim, na atualidade, as mulheres têm sido privadas do exercício pleno de direitos humanos e submetidas a abusos e violências, tanto em espaço público como privado. Aliás, em muitas circunstâncias, é-lhes negado até mesmo o direito ao corpo, o direito de decidir sobre uma gravidez indesejada, o direito ao trabalho etc.

Vale destacar que, em alguns países, as mulheres têm seus direitos totalmente negados e, muitas vezes, são violentadas e mortas sem qualquer comoção por parte dos homens, dependendo da cultura em que elas vivem. Um exemplo disso dá-se em países como o Irã onde o Código Penal iraniano autoriza a morte por apedrejamento de homens e mulheres, sendo que, a cada dez execuções realizadas, oito são de mulheres (PITANGUY; MIRANDA 2006).

Comumente, a mídia internacional vem demonstrando casos de violação dos direitos da mulher. De forma exemplificativa, cita-se o caso da jovem defensora da Educação para meninas, a paquistanesa Malala Yousafzai, que foi baleada pelos talibãs quando seguia em um ônibus para a escola, em outubro de 2012. O ataque chamou a atenção do mundo para a campanha de Malala a favor de mais oportunidades de estudo para as meninas e mulheres, visto que, no Paquistão, estas são proibidas de estudar. É importante destacar que, após recuperar-se dessa tentativa de assassinato, Malala foi indicada ao prêmio Nobel da Paz, proferindo discurso na sede da ONU para líderes jovens de mais de 100 países, em julho de 2013. Na ocasião, ela pediu uma luta global contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Pertence a ela a frase: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo” (MALALA, 2013).

Sabe-se que a luta pela defesa da igualdade de direitos e oportunidades para as mulheres não é recente. Ao longo da História ocidental, sempre houve mulheres que se rebelaram contra sua condição, que lutaram por liberdade e, muitas vezes, pagaram com a própria vida. Entretanto, como já discorrido, a luta pela conquista dos direitos das mulheres se fortaleceu pela ação dos movimentos feministas.

Segundo Azambuja; Nogueira (2008) em todas as épocas históricas, sempre houve mulheres que se posicionaram contra as injustiças e desigualdades com reivindicações, e que, essas reivindicações trouxeram à tona questões políticas, até então, consideradas pertencentes à vida privada.

Destaca-se que essas lutas foram manifestadas pelos movimentos feministas que são movimentos políticos cuja meta é conquistar a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Como afirma Drião, Toneli e Maluf (2011), o movimento feminista foi relevante para a conquista dos espaços e, certamente que os adquiridos na atualidade são consequência da organização das mulheres para reivindicação de seus direitos.

Dessa forma, a história do movimento feminista apresenta três momentos importantes, sendo o primeiro no século XIX, motivado pelas reivindicações dos direitos democráticos, como, por exemplo, o voto, a educação, o trabalho e o direito ao divórcio. O segundo momento ocorreu no final da década de 60 e foi marcado pela liberação sexual. No terceiro, já no final da década de 70, destacou-se a luta sindical (MADERS; ANGELIM, 2010).

No Brasil, o movimento feminista conquistou, nas últimas décadas, a ampliação dos direitos da mulher e sua participação foi decisiva para tentar articular o caminho da igualdade entre os gêneros. Entretanto, Drião; Toneli e Maluf (2011) enfatizam que, embora esses

avanços tenham acontecido, os direitos das mulheres, no Brasil, ainda não são garantidos na sua totalidade.

De acordo com Maders; Angelim (2010), os movimentos feministas eram compostos por mulheres de classe média alta e mulheres intelectualizadas, e apresentavam um caráter mais político no sentido de buscar a equidade nas relações de gênero e, portanto, abordavam temas que envolviam política, direito sobre o corpo, economia etc. Já os movimentos de mulheres, no Brasil, foram formados por mulheres dos movimentos populares, estando ligados às pastorais sociais das Igrejas e ocuparam-se mais com demandas voltadas para a melhoria das condições de vida das famílias, a exemplo de saneamento básico, direito à saúde, à alimentação e à habitação.

Gonçalves (2009) acrescenta que, da aliança feita com o movimento de mulheres e com o movimento feminista, houve muitas conquistas e que, foi a partir da união dos dois movimentos, feministas e de mulheres, que ocorreu a inclusão em sua agenda política da luta pela conquista da plena igualdade entre homens e mulheres, nos espaços públicos e privados, e que apontou a necessidade de leis e Políticas Públicas que concretizassem a cidadania das mulheres, com o reconhecimento e o acesso aos direitos até então negados, dentre eles o direito a uma vida sem violência.

Dessa forma, a violência de gênero direcionada à mulher passou a ser objeto de denúncias e reivindicações dos movimentos feministas e de mulheres desde o final da década de 70 no Brasil, trazendo à luta das mulheres (ROCHA, 2005).

Assim, na década de 80, foi criado o “SOS Mulher” para atender às vítimas de violência. Segundo Farah (2004), o SOS Mulher surgiu em 1981, no Rio de Janeiro, cujo objetivo foi construir um espaço de atendimento às mulheres vítimas de violência, além de ser um espaço de reflexão e mudanças das condições de vida das mulheres. Essa iniciativa também foi adotada em outras capitais. Ainda na mesma década, no ano de 1983, ocorreu a Criação dos primeiros “Conselhos Estaduais e Municipais de Direitos da Mulher”, reconhecidos como Conselhos da Condição Feminina, que são espaços no Poder Executivo para elaborar, deliberar, fiscalizar e implementar as políticas públicas para mulheres.

Farah (2004) informa que o Conselho Estadual da Condição Feminina foi criado pelo Decreto n. 20.892, de 4/4/1983, e institucionalizado pela Lei n. 5.447, de 1/12/1986. Integrado por representantes da sociedade civil e do Poder Público, o órgão contribui para a formulação e faz o acompanhamento das Políticas Públicas referentes aos direitos da mulher. O Conselho tem entre suas atribuições formular diretrizes e estimular, em todos os níveis da

administração direta e indireta, atividades que combatam a discriminação contra a mulher e promovam sua plena integração na vida socioeconômica e político-cultural.

Nesse contexto, não se poderá deixar de pontuar que, em 1984, ocorreu um marco importante: a assinatura da Convenção sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher - CEDAW, aprovada pela ONU em 1979. Sousa (2009) aponta que a CEDAW, aprovada pela Assembleia Geral da ONU, constituiu-se um marco histórico na proteção internacional ampla aos direitos das mulheres. O Brasil, que se faz presente na ONU desde 1945, assinou e ratificou a CEDAW, pelo qual se obrigou a eliminar a discriminação contra as mulheres no seu território.

Para Farah (2004), a CEDAW é o único tratado internacional que aborda, de modo amplo, os direitos das mulheres. Esta autora destaca que essa foi uma das grandes conquistas dos movimentos feministas e de mulheres, na medida em que é o único tratado que versa sobre algumas espécies de direitos das mulheres, como políticos, civis, econômicos, sociais, culturais, entre outros.

No ano de 1985, também ocorreram eventos importantes como a Criação do Conselho Nacional de Direitos das Mulheres - CNDM, e das Delegacias Especializadas no atendimento às vítimas de violência - DEAMs. De acordo com Amorim (2011), as DEAMs foram criadas com o objetivo de assegurar atendimento digno à população feminina, vítima de violência doméstica e familiar. O serviço é oferecido por meio das atividades de investigação, prevenção e repressão aos delitos praticados contra a mulher. A criação deste tipo de estrutura especializada surgiu da necessidade de romper com os preconceitos presentes nas outras delegacias consideradas gerais.

Outro marco de grande relevância ocorreu na Constituição Brasileira de 1988. Naquele momento, a atuação dos movimentos de mulheres foi fundamental para garantir a igualdade de gênero, no inciso I do artigo 5º - “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”, e a inclusão do § 8º no artigo 226: “O Estado assegurará assistência à família, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (BRASIL, 2011).

Em 1992, a Câmara dos Deputados constituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI, para investigar a violência contra a mulher e, em 1993, o Brasil participou da Conferência Mundial dos Direitos Humanos, em Viena. Essa Conferência reconheceu que a violência contra as mulheres e meninas é uma violação dos direitos humanos.

Segundo Blay (2008), o documento produzido na Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, em seu parágrafo 18, afirma categoricamente: “os direitos humanos das mulheres e das meninas são parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos

universais”. Foi nessa conferência que se reconheceu a violência contra a mulher como violação dos direitos humanos das mulheres, constituindo mais um ganho de repercussão mundial.

Ademais, em 1994, aconteceu a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida no Brasil como Convenção de Belém do Pará, adotada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos – OEA em 1994. Lavorenti (2009) diz que a convenção constituiu de um marco histórico internacional na tentativa de coibir a violência contra a mulher. O Estado brasileiro ratificou a Convenção de Belém do Pará em 1995, pela qual se obrigou a incluir em sua legislação normas específicas para o trato do problema.

Ainda para Lavorenti (2009), a Convenção de Belém do Pará representou grande avanço na proteção internacional dos direitos das mulheres, quer por reconhecer que a violência atinge um elevado número de mulheres, transcendendo todos os setores da sociedade sem distinção de classe, etnia, cultura, religião, idade, ou outra particularidade; quer por reconhecer que violência limita total ou particularmente a mulher no exercício dos seus direitos humanos; quer por reconhecer que o respeito irrestrito a todos os direitos das mulheres é indispensável para a existência de uma sociedade mais justa, solidária e pacífica; quer por reconhecer que a violência ofende a dignidade humana e revela uma manifestação de poder historicamente entre os homens e as mulheres.

Logo depois, em 1995, o Brasil assinou a Declaração e a Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijin. Segundo Barsted; Pitanguy (2011), em Beijing, na China, reuniram-se mulheres do mundo inteiro para a mais importante manifestação feminina do século, com cerca de quarenta mil pessoas representando cento e oitenta e nove países do mundo. Ali foram definidas as bases norteadoras de novas políticas e novos direitos para as mulheres.

Ademais, convém elencar a formação de um Consórcio de entidades feministas que ocorreu no Brasil, tais como ADVOCACY, CEFEMEA, AGENDE, CEPIA, CLADEM dentre outros. O objetivo dessas entidades é comum quando se tratam da prevenção, punição e erradicação da violência doméstica. A SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (2009) explica que:

a) O ADVOCACY é parte de um processo que envolve a busca de mudança de uma situação que se considera injusta ou inadequada; mudança de uma política; mudança de uma condição. Inclui um conjunto de atividades como promoção e participação em eventos, divulgação na mídia dos direitos das mulheres, assessoria

técnica para a elaboração de projetos de lei, capacitações, articulações nacionais e internacionais, todas tendo como objetivo melhorar a situação das mulheres no Brasil;

b) O CEFEMEA, sigla do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, é uma organização não governamental sem fins lucrativos, cujo objetivo é promover a igualdade de direitos e a equidade de gênero na legislação, no planejamento e na implementação de Políticas Públicas;

c) A AGENDE é uma organização feminista da sociedade civil criada em 1998, sediada em Brasília. Atua no âmbito nacional e internacional e tem por missão firmar a perspectiva feminista na agenda política para promover o fortalecimento da cidadania e da democracia. Busca a formulação e implementação de Políticas Públicas para a igualdade entre mulheres e homens, para a promoção da igualdade racial, bem como o cumprimento dos compromissos firmados nos tratados e conferências internacionais. Sua forma de atuar é caracterizada pela adoção da perspectiva de gênero, raça e dos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais, bem como a utilização de pesquisas para as suas análises e ações de Advocacy; d) A CEPIA é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, voltada para a

execução de projetos que contribuam para o conhecimento, a ampliação e a efetivação dos direitos humanos, em especial, nas questões da violência de gênero, da saúde sexual e reprodutiva e do conjunto de direitos de cidadania;

e) O CLADEM, Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres, tem por missão articular o esforço de pessoas, grupos, movimentos sociais, instituições públicas e privadas para a promoção, vigilância e defesa dos direitos humanos interdependentes e integrais das mulheres no Brasil, a partir de uma perspectiva feminista social e jurídica de gênero, com ênfase voltada para temas de discriminação, violência, direitos sexuais e reprodutivos, em uma dinâmica que interconecta os planos nacional, regional e internacional, visando contribuir para a promoção, defesa e pleno exercício dos direitos humanos das mulheres no Brasil.

Com a criação desse consórcio, surgiram mais espaços para a discussão dos direitos humanos das mulheres e de forma mais estruturada. Todavia, apesar desses avanços, Barsted e Pitanguy (2011) enfatizam que o Estado brasileiro não conseguiu melhorar a situação da

maioria das mulheres brasileiras, especialmente das mais pobres, rurais, negras e indígenas, que continuam a experimentar exclusão social e violência.

Bandeira (2010) destaca que, em 2003, foi criado a SPM, órgão vinculado diretamente à Presidência da República, que tem como principal finalidade assegurar a perspectiva de gênero. Para a autora, cabe à secretaria, entre outras funções, elaborar o planejamento na área das relações de gênero que contribua para a ação do Governo Federal e demais esferas de governo. De acordo com Cunha (2011), com a SPM, as ações para o enfrentamento à violência contra as mulheres passam a ter um maior investimento e a política é ampliada no sentido de promover a criação de novos serviços para a assistência às mulheres em situação de violência.

Seguindo essa mesma visão histórica das Políticas Públicas para as mulheres, Lavorenti (2009) afirma que, em 25 de novembro de 2004, o executivo encaminhou um Projeto de Lei ao Congresso Nacional que recebeu na Câmara dos Deputados o número PL 4.559/2004, sendo que esse projeto foi aprovado no Plenário da Câmara e no Senado e deu origem à Lei Maria da Penha. Em todas as instâncias, o projeto foi aprovado por unanimidade e sua tramitação no Congresso durou cerca de 20 meses. No dia 7 de agosto de 2006, em cerimônia no Palácio do Planalto, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Lei Maria da Penha.

Em vigor desde setembro de 2006, a Lei de n° 11.340, reconhecida como Lei Maria da Penha, tem representado expressivo avanço no combate à impunidade da violência contra a Mulher. O nome Maria da Penha deu-se em virtude da farmacêutica cearense, Maria da Penha, que, em seu relato de luta, foi mais uma das vítimas da violência doméstica neste país: por duas vezes, seu então marido, professor universitário, tentou matá-la. A primeira tentativa com o uso de arma de fogo; a segunda, por eletrocussão e afogamento. O mais chocante é que esses episódios causaram lesões irreversíveis à saúde de Maria da Penha, tornando-a paraplégica. Tais fatos aconteceram em 1983, em Fortaleza - Ceará (LAVORENTI, 2009).

De acordo com Coutinho (2011), a Lei Maria da Penha aborda uma das mais frequentes formas de manifestação da violência de gênero, que é aquela cometida contra a mulher no âmbito de suas relações domésticas e familiares. No seu Art. 5º, a lei estabeleceu o que se configura violência doméstica e familiar contra a mulher como: qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Estabeleceu, ainda, o campo de abrangência: a violência passará a ser doméstica quando praticada: a) no âmbito da unidade doméstica; b) no

âmbito da família; ou c) em qualquer relação íntima de afeto, independente de orientação sexual.

Assim, a referida lei representou grande conquista dos movimentos feministas em busca da erradicação, prevenção e punição da violência contra a mulher. Para Cunha; Pinto (2011), com o advento da lei, foram retirados os delitos contra a mulher no ambiente doméstico e familiar dos Juizados Especiais Criminais, previstos na Lei 9.099/95, encaminhando-os para os Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e vetando a aplicação dos mecanismos de conciliação entre vítima e acusado e da transação penal.

A Lei assegura que, quando uma mulher for agredida, não importa como ou onde, esse ato passará a ser um problema para o Estado e não é mais da esfera privada, cujos encaminhamentos deverão ser providenciados. Daí a ênfase da Lei Maria da Penha nas estratégias preventivas. Também a nova legislação não remete mais ao pagamento de pena pecuniária pelo delito ocorrido; ao contrário, permitirá que o agressor seja preso em flagrante ou que tenha a prisão preventiva decretada.

De acordo com Voegeli (2011), o estopim para a criação da lei ocorreu pela repercussão internacional do caso Maria da Penha, quando, em 2001, após dezoito anos da prática do crime, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica e recomendou várias medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e em relação às Políticas Públicas do Estado para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres brasileiras. Destarte, por força da pressão internacional de audiências de seguimento do caso na Comissão Interamericana, em 2002, o processo no âmbito nacional foi encerrado e, em 2003, o ex-marido de Penha foi preso, porém cumpriu apenas dois anos de prisão. Com a Lei Maria da Penha, o nosso país passou a ser o décimo oitavo país da América Latina a contar com uma lei específica sobre os casos de violência contra a mulher.

É válido enfatizar que a Lei Maria da Penha por si só não resolverá o problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. Por essa razão, a própria Maria da Penha, em carta direcionada aos alunos e alunas de uma escola pública de ensino fundamental do Distrito Federal em 2013, apontou a necessidade de cada cidadã e cidadão exigir dos poderes públicos a devida implementação da Lei com os equipamentos previstos (delegacias da mulher, centros de referência da mulher, juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, casas- abrigo) com todos os operadores que façam parte da rede de enfrentamento desse tipo de violência, devidamente capacitados (PENHA, 2013).

Contudo, em pesquisa divulgada em setembro de 2013 pelo IPEA mostrou-se que as taxas de mortalidade de mulheres por violência de gênero foram 5,28 por cem mil mulheres no período 2001 a 2006 (antes da lei) e de 5,22 em 2007 a 2011 (depois da lei). Conforme o IPEA (2013) houve apenas um sutil decréscimo da taxa no ano 2007, imediatamente após a vigência da lei, mas depois a taxa voltou a crescer. Porém, o aumento do número de denúncias de violência contra mulher no País é fato.

Ainda para Voegeli (2011) em 2006, ano que a lei Maria da Penha entrou em vigor, foi criado o Ligue 180 pelo Governo Federal, embora criada desde 2003 por meio da Lei 10.714. A Central de Atendimento à Mulher “Ligue 180” é um serviço ofertado pela SPM com o objetivo de receber denúncias ou relatos de violência, reclamações sobre os serviços da rede e de orientar as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente, encaminhando- as para os serviços quando necessário. Destaca-se que esse serviço funciona 24 horas por dia, de segunda a domingo, inclusive nos feriados. A ligação é gratuita e o atendimento é de âmbito nacional sendo mais uma ferramenta para a mulher tornar efetiva a Lei Maria da Penha.

De acordo com os dados levantados pela SPM, de abrangência nacional, no período de 2006 até 2012, a Central de Atendimento à Mulher alcançou 3.058.392 atendimentos à população. Em 2011, foram 732.468 registros; 1.577% em relação aos 46.423, em 2006. Os relatos de violência cresceram 700% com 88.685 em 2012 contra os 12.664, em 2006. Dos 732.468 atendimentos ocorridos em 2011, 88.685 foram de relatos de violência física. Uma média de duzentos e quarenta e dois por dia e dez por hora. Considerando-se que, a cada vinte e quatro segundos uma mulher é agredida no país e duzentas e quarenta e três a cada hora; em apenas 4% dos casos as vítimas ou pessoas que convivem com elas procuraram o Ligue 180 (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2009).

Ainda conforme a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, outro avanço na área