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O Maranhão, em diversos períodos, foi considerado o Estado menos violento do país. Entretanto, o crescimento na sua taxa de homicídios gerais nos últimos anos tem sido preocupante. Em 1999, o Estado possuía uma taxa de 4,6 homicídios em 100 mil habitantes, porém, no ano de 2010, praticamente quadruplicou, indo para 22,5 (WAISELFISZ, 2012).

Fato recente de violência extrema no Maranhão e divulgado por toda mídia nacional e Internacional, ocorreu no Complexo penitenciário de Pedrinhas, onde, somente em 2013, 64 homens foram assassinados pelos próprios companheiros de cela, sendo a maioria, decapitados. O caso foi tão agravante que representantes das Organizações Não Governamentais (ONGs), Justiça Global, Conectas e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos fizeram um pronunciamento em março de 2014, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), denunciando os casos de mortes e de outras violações de direitos humanos ocorridos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão (AGÊNCIA BRASIL, 2014).

Para Waiselfisz (2012), quanto ao assassinato de mulheres, o Maranhão ocupa o 24º lugar quando comparado a outras Unidades da Federação, com uma taxa de 3,4 homicídios em cada 100 mil mulheres. Já na capital São Luís, os níveis são mais elevados com 6,6 homicídios em cada 100 mil mulheres, ocupando o 8º lugar em relação a outras capitais, perdendo somente para Porto Velho, Rio Branco, Manaus, Boa vista, Belém e Palmas.

São Luís, na última década, tem apresentado aumento do número de crimes passionais contra a mulher, sendo que, muitas vezes, o agressor está bem próximo da vítima, envolvendo laço afetivo. Quase que diariamente a mídia ludovicense traz em suas páginas policiais noticiário desse tipo de crime:

Por volta das 20h, E. J. M., de 18 anos, foi morta a golpes de arma branca, pelo próprio marido, identificado como J. R.N. O crime passional aconteceu na Vila Magril. A motivação, de acordo com a polícia, seriam ciúmes. Após o crime, o suspeito foi preso em flagrante (IMIRANTE, 2013).

Contudo, no Estado do Maranhão, também é preocupante a sub-informação dos dados sobre violência de gênero e mortes relacionadas ao gênero, visto que não existem estimativas estaduais sobre a proporção de mulheres que são assassinadas por parceiros ou ex-parceiros. As informações são disponibilizadas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Contudo, o cálculo das taxas de mortalidade diretamente a partir dos dados do sistema é insuficiente para demonstrar a realidade (GARCIA, 2013).

De acordo com o último balanço oficial divulgado pela SPM, da Presidência da República, o Maranhão é o 9º Estado em número de denúncias de violência contra a mulher. Durante os primeiros sete meses de 2010, foram registradas 10.133 ligações na Central de Atendimento à Mulher, Ligue 180. O serviço telefônico gratuito, de utilidade pública, foi criado em novembro de 2005 para ficar em operação às 24 horas, inclusive nos finais de semana e feriados. No sistema são recebidas denúncias de qualquer tipo, como agressões físicas, psicológicas, violência sexual, assédio sexual no trabalho, atentado violento ao pudor, estupro, exploração sexual e tráfico para fins de exploração (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2013).

Na capital maranhense, o volume de denúncias, segundo o Centro de Referência de Atendimento a Mulheres em Situação de Violência, ainda é maior em casos de violência física, seguida da psicológica, principalmente na faixa entre 18 e 29 anos de idade. O Centro, que realiza serviços gratuitos garantidos através da Coordenadoria da Mulher da Prefeitura de São Luís, possui três anos de fundação. O órgão funciona como porta de entrada especializada para mulheres em situação de violência e que precisam de diagnósticos preliminares. Oferece atendimento psicossocial e jurídico e faz encaminhamentos à rede de serviços públicos com o objetivo de quebrar o ciclo de violência, fortalecer autoestima, autonomia e cidadania.

O Maranhão também dispõe de uma Secretaria de Estado da Mulher - SEMU que tem como propósito desenvolver planos e programas visando o enfrentamento das desigualdades e a defesa dos direitos das mulheres, bem como a articulação com setores da sociedade civil e órgãos públicos e privados, incorporando a transversalidade de gênero nas Políticas Públicas estaduais e municipais. No entanto, o Estado que possui 217 municípios apresenta uma rede de assistência à mulher bastante reduzida, concentrada na sua maioria na capital maranhense distribuídos da seguinte forma: dezenove Delegacias Especializadas da Mulher, quatro Centro

de Referência de atendimento à mulher em situação de violência, três serviços de perícia, duas casas-abrigo, duas varas especializadas, duas promotorias, um juizado, uma defensoria pública e uma ouvidoria (IMIRANTE, 2013).

Segundo o último Censo demográfico referente ao ano de 2010, a população feminina do Maranhão correspondia a 3.310.823 mulheres, sendo que, em São Luís, a população é de 539.842, demonstrando que a rede de atendimento disponibilizada à mulher em situação de violência ainda é pequena para atender todo o Estado (IBGE, 2010).

5 MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão da literatura de base documental, do tipo descritivo e exploratório com análise quantitativa dos dados, sobre o femicídio e violência de gênero sob o olhar da educação, na cidade de São Luís, Estado do Maranhão, no período de 2008 a 2012. A escolha do período ocorreu com o objetivo de obedecer ao último quinquênio, de modo a demarcar uma atualidade nos dados.

Nesta pesquisa, optou-se pela abordagem quantitativa, por ela estabelecer relações significativas entre variáveis, para avaliar os resultados que podem ser contados e expressos em números, taxas e proporções. Isso ocorre na medida em que se reconhece a importância dos estudos estatísticos na compreensão da questão de gênero, especialmente na tipificação dos crimes com morte cometidos contra as mulheres, bem como pelo conhecimento do perfil destas, objetivando, assim, uma melhor compreensão do fenômeno.

Para Tanaka; Melo (2001), a pesquisa quantitativa é definida como objetiva e tem como característica permitir uma abordagem focalizada, pontual e estruturada, sendo que as técnicas de análise são dedutivas, partindo do geral para o particular, tornando-se orientadas pelos resultados. Possibilita uma análise direta dos dados, possui grande facilidade demonstrativa dos achados, assim como permite a generalização pela representatividade e torna possível a inferência destes achados para outros contextos.

Segundo Queiroz (2008), o método quantitativo apresenta como vantagens a quantificação da realidade, o uso de técnicas estatísticas para análise com uma maior precisão nos resultados e uma menor distorção da análise e interpretação. Apresenta também maior margem de segurança, é comum em estudos descritivos e ideal para estudos de relação de causalidade entre as variáveis apresentando alta generabilidade (amostras representativas da realidade).

Turato (2004) acrescenta que o método quantitativo preocupa-se em medir a quantidade, na frequência e a intensidade, bem como em analisar as relações causais entre as variáveis nos estudos organizacionais, a pesquisa quantitativa permite a mensuração de opiniões, reações, hábitos e atitudes em um universo, por meio de uma amostra que o represente estatisticamente. Contudo, o mesmo autor enfatiza que o método quantitativo possui suas limitações. No caso dessa pesquisa, destacam-se as dificuldades em se identificar os significados dos sujeitos para seus atos de violência, ou ainda conhecer a história de vida e a família das mulheres vítimas de violência.

Um estudo similar relativo ao femicídio foi realizado no Estado do Ceará. Neste caso, a investigação dos elementos do estudo mostrou-se relevante para a pesquisa de caráter quantitativo (SCHIENBINGER, 2001).