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Considerações dos participantes sobre as atividades do grupo

CAPITULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS

5.1.13 Décimo Nono Encontro

5.2.1.1 Considerações dos participantes sobre as atividades do grupo

As respostas dos participantes às perguntas da entrevista possibilitaram levantar aspectos da estrutura do grupo que modificaram a concepção dos participantes sobre as atividades propostas e, também, sobre sua formação como pesquisador.

O primeiro ponto salientado da organização do grupo foi em relação à dinâmica das atividades, como apontou a participante A01:

A01: Eu esperava um ensino mais formal, não sei por que eu tinha essa noção. Eu achava que a gente ia chegar aqui, sentar numa carteira e vocês iriam ficar falando, falando, falando, e eu, sei lá, absorvendo, absorvendo, absorvendo, sabe?

A01: E eu achei, melhor desse jeito, percebi que, pra mim funciona melhor.

Pela fala de A01, pode-se perceber como o modelo dos cursos de graduação reflete nas concepções dos alunos sobre atividades de estudos.

A proposta do grupo de desenvolver atividades nas quais os alunos eram incentivados a discutirem e questionarem os estudos propostos foi apontada por A01, como sendo uma proposta interessante. Ainda sobre a proposta do grupo, pode-se perceber que o GPEB teve papel de contextualizar os conhecimentos estudados no curso de graduação, como salientado por A11:

A11: Mudou, eu passei a pensar sobre vários pontos da biologia que eu não pensava, igual eu falei, a biologia que eu fiz é uma biologia bastante conteudista, então faltava integrar esses conteúdos e pensar sobre eles, pareciam todas coisas fragmentadas. Então, eu passei a ver uma relação melhor entre algumas coisas da biologia.

Foi possível, também, perceber como as discussões do grupo desenvolveram nos participantes a capacidade crítica de analisar o conhecimento científico e a construção da ciência, como apontam as participantes A01 e A02:

A01: Ah, eu achava que era tudo verdade, assim, tudo. Se o professor falasse pra mim: “O céu é azul porque tal, tal, tal.” Eu ia acreditar, assim, nossa, acreditar mesmo, era com se fosse uma religião. Não, tá certo o que ele tá falando, sabe, é um dogma mesmo, nossa. Eu não achava que a biologia se construía

A01: Com a biologia, assim, ... . Então, ficava muito: “Não, se ele tá falando que é assim é porque é.” E eu não achava que tinha esse negocio, igual falava, Darwin escreveu “A origem das espécies.” Eu

achava que tudo que era feito na biologia era apenas um gênio lá, que, não sei, muito genial mesmo, que conseguia enxergar o que as outra pessoas não enxergavam e fazia. Eu não achava que tinha milhões de colaboradores pra fazer uma certa pesquisa. Nossa, eu tinha uma visão totalmente deturpada mesmo.

A02: Mas eu gostei bastante das discussões, ajuda a gente abrir bastante a cabeça, mesmo que a gente não entenda algumas vezes. Depois que a gente participou do grupo, a gente aprende a não ter uma visão tão fechada de que é aquilo daquele jeito que te ensinaram sempre, você nunca contestar o porquê, se está certo ou errado.

Para os alunos, o contato com as atividades de estudo e pesquisa desenvolvidas no grupo possibilitaram uma mudança da concepção sobre a área de ensino e pesquisa em História e Filosofia da Ciência e Ensino de Ciências:

A13: Ocorreu uma mudança total de concepção antes e pós o grupo, porque, antes do grupo eu tinha uma visão totalmente errada do que era educação, do que era ensino de ciências, do que era pesquisar no ensino de ciências. Tinha uma ideia totalmente errada. Porque é assim, o pessoal que chega aqui acha que vai aprender a dar aula. A8: Nossa, muita coisa. Sem o grupo meu trabalho não sairia, porque, para consegui escrever esse trabalho, conseguir ter as ideias, eu precisava de uma bibliografia, de discussões, eu precisava entrar nesse conhecimento e eu nem sabia que isso existia antes de fazer parte do grupo. Então, não sabia da biologia teórica, não sabia da pesquisa em educação, não sabia que isso existia. Então, o grupo, no primeiro momento, ele serviu pra isso, pra eu escrever o meu trabalho. Depois, pra ir amadurecendo as ideias, para eu poder, desenvolvendo algumas ideias mais críticas a respeito da ciência, o que é ciência, o que é ser pesquisadora, que até em tão eu não tinha e eu acho que se não tivesse feito parte do grupo não teria também.

Outra concepção associada à ciência foi salientada por A13 quando afirma que as atividades do grupo possibilitaram a ideia de que a construção da ciência é um processo contínuo e inacabado:

A13: E ai, tanto que eu comecei a participar do grupo, e eu comecei a ver que não era isso, que tinha uma pesquisa atrás disso, que tinha ideias diferentes, que nunca se tem consenso, não, nunca não, que muitas vezes não se tem um consenso e várias ideias podem perdurar por um tempo, algumas pessoas entenderam de uma forma, outras pessoas entenderam de outra e que isso convive na ciência muito bem, até que novas tecnologias são encontradas e outras visões são incorporadas. E essa visão que foi a grande mudança pra mim.

Por fim, outro ponto salientado pelos alunos foi sobre como as atividades do grupo e, também, sobre modelo de estudos em grupo possibilitou o desenvolvimento de suas pesquisas individuais:

A11: Contribuiu bastante pra eu pensar sobre a minha pesquisa, ou mesmo a forma com que vocês atuavam com os outros participantes do grupo, a forma com que eu precisava atuar na minha pesquisa para ela ser fiel, para dar credibilidade para minha metodologia, que a gente abordou metodologia em algumas aulas.

A14: Eu aprendi a fazer pesquisa no grupo, então, foram as discussões que me fizeram começar a pensa em formas de pesquisa, em o que eu poderia trabalhar, e as discussões com os colegas, com o pessoal. Então o meu TCC foi fruto unicamente do grupo e, a mesma coisa, eu iniciei o mestrado justamente porque eu continuei a linha, pensando da mesma forma, indo, e o meu projeto lá seguiu também as discussões que a gente tinha no grupo.

Por essas considerações dos participantes, pode-se considerar que as atividades do grupo geraram modificações nas concepções dos alunos sobre os processos da construção da ciência e do conhecimento científico. Fica evidenciado pela fala dos sujeitos que as atividades do GPEB surgiram como um diferencial para formação como pesquisadores.