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CAPITULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS

5.1.2 Segundo Encontro

Para este segundo encontro foi definido que as discussões seriam orientadas a partir de textos previamente lidos pelos participantes do grupo. Com o objetivo de iniciar as discussões sobre a Epistemologia da Biologia, neste primeiro momento foram escolhidos o capítulo primeiro “Ciência e Ciências” e o capítulo segundo “Autonomia da Biologia” do livro Biologia, Ciência Única de Ernest Mayr (MAYR, 2005).

Buscou-se, a partir desses dois capítulos, orientar as discussões sobre os conhecimentos acerca da ciência Biologia, a partir do reconhecimento da fragilidade de alguns conceitos oriundos da física e da compreensão de alguns pontos que tornam o conhecimento sobre os fenômenos estudados pela Biologia próprios desta Ciência.

No primeiro capítulo o autor faz breves considerações sobre o desenvolvimento das Ciências Naturais e a influência das concepções, conceitos e teorias da Física sobre o conhecimento biológico, caracteriza também os momentos históricos de desenvolvimento das diferentes ciências desde o século XVI e chega à problematização

sobre o que caracteriza a Biologia como uma Ciência diferente, em especial da Física e da Química, esta problematização encaminha o leitor para a leitura do segundo capítulo que apresenta algumas questões que devem ser consideradas para o entendimento da Biologia como uma ciência autônoma.

Mayr (2005) considera que foram necessários duzentos anos e a ocorrência de três conjuntos de eventos para que a Biologia fosse reconhecida como a ciência do mundo vivo:

(a) A refutação de certos princípios equivocados como o vitalismo e a teleologia; (b) A demonstração de que certos princípios básicos da Física não podem ser

aplicados a Biologia como o essencialismo, determinismo, reducionismo e a ausência de leis naturais universais em Biologia;

(c) Concluí o capítulo apresentando a necessidade de se perceber o caráter único de certos princípios básicos da Biologia: a complexidade dos sistemas vivos, a necessidade de um conhecimento histórico sobre os fenômenos biológicos, o papel do acaso e a limitação dos pressupostos biológicos ao mesocosmos.

Para os participantes do grupo esse foi o primeiro momento de leitura sobre Epistemologia da Biologia e, no começo da atividade foi feita uma discussão sobre como eles haviam interpretado essa leitura e o quão diferente das atividades da graduação o texto abordava o conhecimento biológico:

CP: então dá para entender que é um conversa que ele faz com a filosofia.... uma conversa que ele faz com outras linhas de pesquisa... uma conversa com outras ciências já construídas, né? E isso é um trabalho filosófico mesmo, né? Um especialista, ele fica muito preocupado com alguma parte do seu trabalho e não pensa como que esse conhecimento está se organizando. Ele está fazendo um debate, eu acho que ele vai colocar o lado que interessa, porque o texto tem o interesse de que está escrevendo, então ele vai tentar conversar com a filosofia e procurando enxergar a Biologia.

P1: .... Vocês acham que essa forma como os temas foram apresentados no texto, vocês veem isso na graduação?

Todos: não

A11: não, tanto é que eu achava que não tinha como estudar Biologia de forma perfeita, sem dúvida que ela era uma ciência, eu tinha essa noção.

CP: Porque não tinha dúvida, porque você tinha certeza que Biologia é uma Ciência?

P11: era lógica, pelos experimentos, pelas práticas, pela construção mesmo das disciplinas, era uma coisa lógica... não sei, nunca tinha

colocado para mim a possibilidade de um dia a Biologia tivesse enfrentado tantas dificuldades como esse texto mostrou que tem.

Em relação à como essas discussões não são contempladas ao longo do curso de graduação pode-se perceber que os alunos já apresentaram considerações, que surgiram após a leitura do texto:

P2: e porque que vocês acham que não se trabalha dessa forma como o texto apresenta? Porque na graduação não tem?

A01: Porque eu acho que na graduação eles estão preocupados com a parte prática mesmo porque eles não ficam pensando na Biologia... porque isso aconteceu. Para chegar até hoje, sabe? Eu acho que a maioria das pessoas tem ideia de que essa matéria é história....

P1: qual seria a implicação para a formação?

A01: ah, eu acho que seria bom porque você se torna uma pessoa mais pensante mesmo, não fica sempre olhando tudo de um lado só, né? Que eu acho que é o curso da graduação mesmo.

Dando início às discussões referentes ao conteúdo, os alunos foram questionados sobre o que o texto mais tinha chamado à atenção. O primeiro ponto a ser considerado pelos alunos foi a questão de se compreender o que significava “autonomia” da Biologia:

A13: então, o que eu entendo por ciência autônoma é assim, é aquela ciência que, por exemplo, a Biologia, independente de qualquer coisa, a gente sempre vai precisar da Física e da Química porque faz parte do conhecimento da Biologia também.

CP: Do grupo das ciências naturais, né?

A13: é, mas ciência autônoma ela consegue se explicar por ela, por exemplo, não tem como eu explicar a Biologia só pela física e nem só pela Química, ela mesmo se explica mostrando os conhecimentos próprios.

(...)

A11: é que só a Biologia consegue explicar, a Física não consegue a Química não consegue, tem que ser a Biologia. (...) é importante também saber que a Física é construída por leis e a Biologia por conceitos.

Concluindo esta questão sobre as leis, a Pesquisadora Coordenadora (PC) chamou a atenção para que, sobre conhecimento biológico, a única grande teoria é a da Evolução e desta questão houve uma discussão sobre se reconhecer as especificidades dos organismos vivos em relação á individualidade de características.

Em seguida, o grupo retomou a leitura do texto para que os termos reducionismo, determinismo e teleologia fossem explicados pelas pesquisadoras, desta discussão surgiu uma questão levantada por A13 sobre o pensamento teleológico:

A13: Deixa eu fazer uma pergunta professora, que talvez seja de mais alguém, o que eu percebo é que a evolução é vista de uma forma teleológica, isso tem intrínseco em teoria ou isso é coisa que foi passado junto com explicações?

CP: então por conta dos mesmos determinantes históricos, sociais e econômicos a ideia de que o melhor adaptado é o que sobrevive foi passada, foi usada como metáfora para outras áreas como para o darwinismo social então eles vieram falando o seguinte as oportunidades estão aí, só quem é melhor que enxerga que, consegue, vai para frente, não é? Porque você tem que evoluir, você tem que crescer então isso tudo foi sendo trazido da área como uma metáfora, mas usado com outro sentido, em um sentido da competição social enquanto que os conceitos são de competição biológica competição por espaço, competição por alimento.

P1: competição não intencional

Após as discussões sobre o texto as pesquisadoras questionaram aos alunos qual poderia ser o um eixo integrador para a aprendizagem sobre o conhecimento biológico que possibilitasse o conhecimento da Biologia e suas características. Para os alunos, a ecologia poderia ser um eixo integrador e, para alguns, a ecologia vinculada ao conhecimento sobre evolução:

A01: porque eu acho que é uma matéria que consegue integrar um monte de coisas, que sei lá, biologia vegetal, por exemplo, ela fala de vegetal, mas ecologia consegue falar de vegetal e animal, junto com vegetal, interagindo, com bioquímica.

P1: e evolução?

A01: é, de uma certa forma. P1: mas a evolução de que forma?

A01: em uma cadeia alimentar, um carnívoro, até chegar ao que ele é hoje, e continua evoluindo, acho que dá para relacionar com o ambiente.

P2: as interações assim? A01: é

P2: como?

CP: o próprio cerne da ecologia, ela matou a questão, porque a própria ecologia que foi a ciência que foi organizada a partir de outras ciências, né? E ela foi construindo e ela vem de áreas como a zoologia, como a botânica e... é, da questão de interação nos sistemas de energia em certos sistemas foi juntando e fez uma ciência integradora... agora a evolução sempre foi uma forma de pensar a Biologia.

(...)

Alguns alunos: ecologia poderia ser junto com evolução o eixo integrador.

Pode-se perceber que neste momento inicial os alunos apresentaram algumas considerações em relação à construção do conhecimento biológico, que até o momento, eles ainda não haviam refletido. O quadro abaixo apresenta a síntese de significação deste encontro.

Quadro 3. Síntese de Significação II

PRINCIPAIS CONCEPÇÕES

Os alunos consideraram que essa foi a primeira discussão epistemológica que tiveram; Houve considerações sobre o reconhecimento da Biologia como ciência autônoma; Dificuldade dos alunos em compreender alguns termos apresentados no texto; Compreensão da influência da teleologia sobre o pensamento biológico e social;

Considerações iniciais sobre o papel do conhecimento ecológico e evolutivo para o conhecimento sobre os fenômenos biológicos.