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CAPITULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS

5.1.13 Décimo Nono Encontro

5.2.1.3 Definição de gene

Ao elaborar a questão “o que é gene?” para o roteiro da pesquisa, buscou-se compreender qual seria a respostas dos participantes em relação à pluralidade conceitual que este termo apresenta atualmente. Compreende-se que essa pergunta apresenta problemas, em se considerando a problemática que esse conceito está envolvido, entretanto, ela torna-se pertinente ao se considerar que os sujeitos da pesquisa estão em

um curso de formação de professores e que essa pergunta é recorrente no Ensino de Biologia na Educação Básica. Não foi objetivo da pergunta direcionar as respostas para uma definição correta sobre o gene.

Pela análise das respostas dos sujeitos, pode-se perceber que duas participantes considerando o gene como o material que determina as características dos organismos:

A14: Nossa, gene, parece que é um, uma coisinha, eu vou falar assim bem como eu penso, tá?

A14: Uma coisinha bem pequena que controla tudo.

A14: É, então, eu acho que é expressa, controla, modula algumas características, algumas funções.

A02: Não, é que é uma resposta presa, é um conjunto de nucleotídeos que vai, numa sequência específica, RNA ou DNA, que têm as características, vai determinar uma proteína.

A02: É, uma característica, o gene têm sequências ativas, que são os íntrons, que determinam uma característica, a produção de uma proteína e tem áreas inativas, que a gente chama de éxons, que não vão determinar uma proteína.

Mesmo considerando que o gene tem papel de modulação, controle e expressão de algumas características, nas respostas da aluna A14 não se pode inferir que existe a concepção do gene como um elemento dos processos de desenvolvimento dos organismos. Na concepção da aluna A02 fica evidente a visão determinista que ela apresenta em relação ao material genético.

Das respostas dos sujeitos A01, A08, A11 e A13, pode-se perceber que ao se referirem ao gene, há a preocupação em não caracteriza-lo como uma estrutura física e estática:

A8: Eu acho que gene seria um fragmento de DNA que caracteriza uma, que vai gerar uma característica do indivíduo, mas que não é algo estático, ele pode sofrer alterações de acordo com o ambiente, seja o ambiente externo ao indivíduo ou o ambiente interno ao indivíduo.

A11: Eu ia explicar que não se tem uma definição certa sobre gene, que sabe que ele tá relacionado com a informação genética do indivíduo, com a expressão da informação genética do indivíduo, mas que não tem uma definição de uma constituição física em si.

A resposta de A01, mesmo sendo considerada confusa pelos termos utilizados, possibilita inferir que ao tentar explicar o que é gene a participante considera as estruturas formativas do DNA bem como os processos de interação desse material:

A01: É, mesmo tendo discutido milhões de vezes “o que é o gene” até hoje eu não tenho, assim, uma definição, um conceito.

A01: Que eu lembro que eu aprendia que o gene era um pedaço do DNA. Assim, pontualmente, eu acho que essa definição até que serve pra algumas coisas, dependendo do que você tá fazendo, realmente, é um pedaço do DNA. Só que eu acho que não aborda tudo que é o gene ainda.

A01: Só que eu não sei, não saberia falar qual é a melhor definição de gene, além de ser um pedaço de DNA. Eu acho que era importante quando falar de íntron, éxon, que dá a impressão que é uma coisa super certinha, divididinha, sei lá.

A01: Sei lá, falar em mensura de outra maneira sei lá, esses dois primeiros centímetros é o gene tal, os outros quatro centímetros é, não serve pra nada, é um DNA lixo. Daí, depois outros cinco centímetros é outro gene “X”. E era assim que a gente via e, na graduação, e agora eu acho que não é mais assim porque tem toda uma interação entre, sei lá, esse gene “X” de cinco centímetros e o primeiro gene, de dois centímetros, que um interfere muito no outro e que, eu não acredito mais que ele, que aquele pedacinho de DNA ali do meio que eles falam que é lixo, eu não acho que é lixo, sei lá, eu acho que ele, não sei não que tenha alguma função, uma finalidade, eu também não acho que as coisas tenham sempre uma finalidade, mas eu acho que eles partem de uma coisa que a gente ainda não sabe, que os nossos meios de, de pesquisa, nossos instrumentos tecnológicos ainda não deram conta daquilo tudo aquilo, mas eu acho que ele faz alguma coisa.

A resposta dado pelo aluno A13, apresenta um explicação de gene que o considera como um material que carrega informações para o desenvolvimento das características, mas em um sentido dinâmico e não determinístico:

A13: O que é gene? A minha visão, depois de todo o tipo de discussão que a gente teve é que são, ah, componentes celulares dinâmicos, quer dizer, não tem uma identidade fixa, é, que podem ser alterados conforme..., que carregam características, mas que não necessariamente vão levar a um fim óbvio. Então ele vai ser alterado conforme as mudanças, ele faz ... extra-núcleo ou até o próprio núcleo, o ambiente dele, vai propiciar forma algum tipo de conexão e isso vai formar uma característica.

Das respostas apresentadas pelos participantes, nas explicações de A08 e A13, percebeu-se uma inconsistência em relação a interferência do meio no gene. Ambos participantes disseram que o meio pode modificar o gene. Não se pode afirmar que estas

falas representam como os alunos entendem os processos epigenéticos, entretanto, deve ser ressaltado essas considerações, pois, apareceram em mais de um momento no grupo. 5.2.1.4 Concepções sobre os processos de expressão gênica

Os participantes foram questionados, também, sobre como explicariam os processos de expressão gênica. Das respostas apresentadas, foi possível inferir que a compreensão sobre os processos de expressão gênica ainda caracteriza-se como um obstáculo para os alunos.

A aluna A14 não conseguiu responder a essa questão argumentando que ainda confundia expressão gênica com DNA e que tinha dúvidas de como esse processo poderia ocorrer:

A14: Não sei, eu não consigo. Porque, pra mim é difícil entender como é que uma coisa tem várias informações lá dentro, aí essas informações podem ser combinadas ou podem surgir outras informações diferentes, não sei entender como é que surge.

A aluna A02 disse ter dificuldade para responder a essa pergunta:

A02: É, ele vai formar uma característica que depois pode sofrer modificações pelo ambiente ou pode sofrer mesmo durante o processo de determinada característica, pode ocorrer mutações também, modificar essa expressão. E é isso, não sei exatamente.

A resposta de A02 apresentam elementos que fazem parte do processo de expressão gênica, entretanto, não é possível inferir se a aluna compreendeu o pape do ambiente e também das mutações na expressão das características dos organismos.

Nesta questão surgiram duas respostas sobre a expressão gênica características de explicações pontuais:

A11: A expressão gênica é uma mostra fenotípica de uma característica do indivíduo, seja essa característica física, comportamental, psicológica.

A08: É, tem o seguimento de DNA, tem varias bases, o pedaço que codifica uma característica seria o gene.

A08: Então, vem o RNA, o RNA faz a leitura desse gene, desse pedaço de DNA. Esse é o RNA mensageiro que leva essa mensagem pra fora do núcleo. E ai, depois, vem o RNA ribossômico, que faz essa leitura do RNA mensageiro, e forma um aminoácido. Esse aminoácido é

carregado pelo RNA transportador, que vai carregando vários aminoácidos e a união de vários aminoácidos forma uma proteína que seria a expressão desse gene.

As respostas de A11 e A08 não apresentam erro conceitual, entretanto, ainda não se pode inferir que as participantes compreendam o processo de expressão gênica por meio de uma rede sistêmica de interações, ou mesmo, que a expressão possa ocorrer por diferentes caminhos no processo da expressão do material genético.

Ao ser questionada sobre quais fatores poderiam interferir na expressão do gene, A08 diz:

A08: Ah, porque eu acho que isso é influenciado por fatores ambientais, né, que nem eu falei, internos ou externos ao organismo. A idade do organismo será que esse indivíduo tem um ano, se ele tem dez, se ele tem cinquenta, se tá no começo da vida, no fim da vida. Então, isso muda.

A08: Então, são as sequências dessas bases nitrogenadas no DNA e os genes, né? Os pedaços de DNA que expressam ou não uma característica. Então, isso seria influenciado pela quantidade de bases, pela sequência de bases, a quantidade de cromossomos. Então, eu acho que isso que determina, por exemplo, que uma folha é folha, e que uma bactéria é uma bactéria. Se, tem uma modificação nessa sequência, já gera uma característica diferenciada, e ai pode acabar promovendo algo diferente daquilo que seria comum pra espécie.

Mesmo apontando que fatores ambientais podem influenciar nos processos, acaba voltando sua explicação para o gene como uma estrutura física e estática que contem todas as informações que determinam os organismos.

As respostas de A01 e A13, entretanto, já apontam para uma compreensão da expressão gênica como um processo contínuo e sistêmico dos organismos:

A01: Ai, por exemplo, eu preciso de insulina agora, não sei, comi açúcar pra caramba e eu estou precisando de insulina. Daí, eu acho que tem alguns mediadores no meu corpo que percebem que eu estou precisando disso, eu acho que ele deve mandar alguma, assim, algum sinal para os meus genes e eles começam a forma insulina, mas, sei lá, eles começam a trabalha para forma-la.

A13: Eu vejo a expressão gênica como um processo que ele [organismos] tem no seu componente que ele carrega de caracteres que vem de pai e mãe, mas a forma como que ele vai ser expresso no organismo vai depender de cada organismo e da influência que esse organismo tem do meio ambiente. Então, essa expressão, é genômica, no sentido de expressar, naquele organismo, é diferente de outro organismo por causa da influência que ele tem do meio externo, a ele e ao próprio gene.

A resposta de A01, mesmo tendo se limitado a um exemplo que não nos permite inferir quais os fatores da expressão gênica estão sendo levados em consideração pela participante, pode ser considerada como uma concepção sistêmica, pois apresenta uma noção de interação dos sistemas de um organismo. Na resposta de A13, também, pode- se verificar que o participante considerou os fatores hereditários para elaborar sua explicação, associado à essa afirmação, A13 salienta que mesmo possuindo características herdáveis a expressão gênica sofre interferência de fatores ambientais em diferentes níveis.

No foi possível verificar, nas respostas dos sujeitos, considerações sobre o papel dos processos de auto-organização, ou seja, ao remeterem suas explicações sobre ao processo de expressão gênica às informações contidas nos genes, os participantes não consideraram os processos que ocorrem nos níveis superiores ao gene e que, também, fazem parte da emergência das características dos organismos.

5.2.1.5 Concepções sobre o papel do material genético nos processos evolutivos