• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS

5.1.3 Terceiro Encontro

Neste encontro, iniciou-se a discussão do primeiro capítulo do livro A Tripla Hélice (LEWONTIN, 2002) intitulado: “Gene e Organismo”. O autor apresenta um breve histórico sobre os estudos do desenvolvimento dos organismos desde uma visão genecêntrica até a compreensão do desenvolvimento pelas interações entre diversos níveis de organização.

O autor apresenta duas concepções da Biologia pré-moderna sobre o desenvolvimento: a pré-formacionista e da epigênese e, como que em momentos recentes da história do conhecimento biológico o desenvolvimento dos organismos é compreendido. Segundo Lewontin

A moderna biologia do desenvolvimento é totalmente concebida em termos de genes e organelas celulares, cabendo ao ambiente apenas o fazer as vezes de cenário. Considera-se que os genes no ovo fertilizado determinam o estado final do organismo, enquanto o ambiente em que o desenvolvimento ocorre é tão somente um conjunto de condições propícias a que os genes se expressem” (LEWONTIN, 2002, p 11)

Entretanto, a partir do desenvolvimento da teoria evolutiva de Darwin, além da compreensão do desenvolvimento dos seres vivos por meio de uma teoria transformacional, há também a necessidade de se avaliar o modelo variacional da mudança.

Ao longo do texto, o autor, por meio da análise de normas de reação em características de plantas e animais, discute a importância de se compreender que o

material genético interage com o ambiente e que este, por sua vez não é um mero cenário para que os genes expressem as informações que trazem sobre os organismos, mas sim, que as potencialidades providas pelos genes, as interações entre diferentes níveis de organização dos organismos e do ambiente originam as variabilidade dos organismos.

O autor também discute os erros conceituais da relação entre gene e organismo ou ambiente, salientando que as variações das características dos organismos podem ser resultado de um ruído do desenvolvimento, “resultantes de eventos aleatórios no interior das células, no nível das interações moleculares” (LEWONTIN, 2002, p. 43).

Assim, o autor conclui o capítulo:

O organismo não é determinado nem pelos seus genes, nem pelo seu ambiente, nem mesmo pela interação entre eles, mas carrega uma marca significativa de processos aleatórios. (LEWONTIN, 2002, p. 45).

Buscou-se nesse texto iniciar com os alunos uma discussão sobre o material genético que considerasse diferentes processos que interferem no desenvolvimento de organismos ou fenômenos biológicos, comumente marcados pela visão determinista do material genético como fonte de toda a informação dos seres vivos.

Neste encontro, as discussões do grupo ocorreram, em grande parte, pela fala das pesquisadoras, pois para os alunos o texto gerou alguns obstáculos, como: compreender como que os processos aleatórios interferem nos organismos:

A01: ele fala que só os processos aleatórios são importantes. (....)

A01:- Eu acho que não é só isso, eu acho que o gene determina sim, o ambiente também, eu acho aleatório está no código do gene e pode acontecer um erro e codificar outra proteína ...

Alguns alunos confirmavam a consideração de A01 enquanto outros consideraram que existe a participação dos processos aleatórios, mas apenas como uma afirmação. Os alunos 01, 02, 03, 05 ainda salientaram que sentiram alguma dificuldade conceitual pelo fato de ainda não terem cursado a disciplina de genética.

A discussão seguiu buscando instigar o grupo sobre qual o papel do gene nos processos biológicos, como questionado por P1:

P1: Então, nós queríamos que vocês explicassem de que forma os genes ‘determinam’ o fenótipo de um organismo. Como que a gente poderia explicar isso?

A07: O gene interage ... . E o gene não anda sozinho, então é um conjunto ... .

P1: Mas qual será o papel do gene nisso? Qual a parte do gene numa característica?

A06: Eu não estou entendendo, que eu acho que é .,. o gene, primeiro em um contexto celular, e de um contexto celular você tem um contexto de ... , você tem um contexto de organismo ... para poder falar de uma característica. ... eu acho.

P2: você está falando de níveis de organização.

CP: Então o nível de organização seria assim, então nós estamos no fígado, uma célula do fígado ... , as células do fígado, quando elas encontram a superfície da outra, ela vai formar o tecido e vai parar. Daí tem a função do fígado. Então esse conjunto todo ... pra fazer essa função. Essa função, ... . é expressão fenotípica daquele conjunto de gene. ... . A pergunta é: Quanto do gene é responsável por essa expressão toda?

A11: Não dá pra mensurar.

CP: por exemplo, eu posso dizer o seguinte: Eu tenho duas pessoas que fizeram um teste e tem um gene para câncer, uma desenvolve e a outra não. Por quê?

A13: aí tem outros fatores. Não dá pra ter certeza que é só o gene. CP: O que?

A13: É um fator externo.

Percebe-se que para alguns alunos, entende-se que existem outros fatores que interferem nos processos de desenvolvimento, entretanto, mais uma vez, aparecem apenas afirmações e não explicações ou exemplos.

Neste encontro, pode ser considerado que o fato dos alunos não ter cursado a disciplina de genética as problematizações apresentadas pelos textos caracterizaram-se como obstáculos para a reflexão sobre o tema.

Quadro 4. Síntese de Significação III

PRINCIPAIS CONCEPÇÕES

Dificuldade de reconhecer o papel dos processos aleatórios no desenvolvimento dos organismos; Considerações iniciais sobre diferentes processos externos ao gene;

Dificuldade de relacionar o material genético com os diferentes processos no desenvolvimento dos organismos;

Pouco conhecimento de genética caracterizando-se como um obstáculo para a compreensão das discussões propostas pelo texto.