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A Matriz Analítico-Criativa de Design Estratégico para indústrias maduras apresenta três propósitos: a prospecção, a criação e a disseminação de conhecimento com base na noção de inovação endógena, na racionalidade da estratégia de rejuvenescimento de indústrias no estágio de maturidade do ciclo de vida e na lógica de acumulação criativa para apoiar processos de reação à obsolescência e de geração de conhecimento. Os dois primeiros propósitos foram alcançados nas experimentações, mas o terceiro não.

Como um mapa de navegação, a matriz orientou a realização de pesquisas de modo organizado e estruturado favorecendo o fluxo de dados e de ideias no espaço de referência da indústria Madura em questão, mas também em espaços desconectados com a indústria têxtil. Como uma ferramenta estratégica de análise e de criação para fases anteriores ao projeto de design, a matriz permitiu estabelecer relações dialógicas com outras tecnologias como a eletrônica, digital, nanotecnologia e biotecnologia, bem como apontou princípios culturais emergentes, como o encapsulamento, a mobilidade e a desterritorialização.

Portanto, o estudo de caso permitiu identificar a utilização do princípio absortivo da matriz por associar conhecimentos internos e existentes na indústria com conhecimentos novos provenientes de fora dela. A sua aplicação permitiu indicar possibilidades para áreas de concentração de esforços gerenciais e estratégicos da Indústria Brasileira de Tapetes e Carpetes, tais como: a hibridização de materiais e a sinergia entre princípios culturais tradicionais e emergentes.

A integração de conhecimento novo e existente associado à indústria madura foi obtida, mas nem todos os princípios orientadores da matriz foram reconhecidos durante o processo. A propósito, a processualidade do modelo matricial de modo geral funcionou, na medida em que as duas fases foram realizadas e as dimensões projetuais foram utilizadas em uma fertilização cruzada

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com as partições temporais. Sendo assim, identificou-se a utilização do princípio multidimensional da matriz. Na fase analítica, foram executadas pesquisas com dois perfis, conforme proposto na matriz.

A pesquisa contextual manteve vínculo explícito com a indústria em questão e contou com a investigação de funções do produto (o carpete) e do espaço do produto (a casa), posicionamento, processos de fabricação e matérias-primas dominantes, princípios culturais tradicionais relativos ao habitar, referências quanto a experiências de usuários e não usuários do produto no passado e no presente, bem como a expectativa deles quanto a como seria a casa do futuro.

Na mesma fase, foram executadas pesquisas do tipo Blue-sky, buscando informações onde não havia um vínculo óbvio com os tópicos anteriores. Desse modo, foram realizadas pesquisas exploratórias sobre setores industriais disruptivos e sobre movimentos subculturais associados a novos modos de ocupar os espaços. Dados secundários foram obtidos em diversas fontes: registros de eventos técnicos; publicações acadêmicas; sites da internet; e revistas especializadas. Todas elas associadas a áreas de alto envolvimento com o design e o propósito da investigação, como tecnologias, processos e materiais; consumo e comportamento social; vestuário, moda e estilo; arquitetura e design de interiores; esportes radicais e veículos de transporte, entre outras.

Os dados coletados sobre o contexto emergente foram analisados, interpretados e sintetizados também por meio de um dossiê de referências essencialmente visuais, organizadas em painéis semânticos por similaridade e conexão com o tópico de análise, conforme propõe a matriz com base no princípio tangível. As referências visuais contribuíram na estruturação do pensamento, que levaria à segunda fase da matriz – a criativa.

Contudo, pode-se considerar que a elaboração dos painéis semânticos, assim como a experimentação material, embora sejam ações localizadas na fase analítica, possuem componentes de natureza criativa, evidenciando algum grau de ambiguidade na estruturação da matriz. Entende-se que, nesse caso, a escolha da alocação das duas ações na primeira fase da matriz correspondeu à percepção de uma predominância da análise sobre a criatividade, embora se reconheça o caráter imaginativo implícito em ambas.

Durante a fase criativa conforme estabelecido na matriz, experimentou-se a criação de duas visões e seus respectivos cenários por meio da convergência entre

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as características geradas na primeira fase pela combinação de partições temporais com dimensões projetuais. Tais cenários, compostos por conceito-síntese, narrativa textual e expressão visual finalizaram a experimentação da matriz, permitindo percorrer as diversas instâncias da proposta e evidenciando um exercício de pensamento estratégico. E, assim, de modo holístico observou-se a implementação do princípio analítico-criativo da matriz. Tal princípio vincula o conhecimento construído por pesquisas contextuais e Blue-sky à criação de situações diferentes e, de certa forma, utópicas. Isso porque se nota uma intenção de conciliar pares de princípios culturais muitas vezes incompatíveis quando manifestados no uso de bens de consumo no ambiente doméstico, como higiene e conforto, sustentabilidade ecológica e autonomia, segurança e liberdade.

Ao extrapolar a especialização do carpete e adotar uma perspectiva para o têxtil como categoria ampliada, destaca-se que o princípio associado à capacidade de tangibilizar foi identificado novamente na fase criativa da matriz ao facilitar o raciocínio por meio de expressão visual que cria significados e amplia a manifestação textual. Outro ponto a ressaltar é que a matriz – ao não especificar métodos e técnicas de pesquisa na realização de cada fase e de seus respectivos passos – deixou espaço para adoção de uma abordagem não usual na construção de cenários: o método de design orientado pelo material.

Mesmo sendo usado parcialmente, o método de design orientado pelo material permitiu identificar uma alternativa para abordar a complexidade envolvida em processos que envolvem produtos de indústrias maduras. Contudo, outros pontos poderiam ter sido aprofundados como a aproximação com a questão da controvérsia em produtos maduros, que aconteceu de maneira limitada e superficial na aplicação dos questionários on-line e desprezou agentes relevantes no âmbito da casa e seus bens de consumo, isto é, profissionais especificadores de revestimentos para arquitetura e design de interiores que atuam como líderes de opinião.

Resumidamente, os resultados da aplicação da matriz neste estudo de caso foram inconsistentes somente com dois princípios orientadores: o iterativo e o transdisciplinar.

Em relação ao princípio iterativo, foi possível identificar uma iteratividade parcial. No escopo restrito, houve uma simultaneidade na abordagem das diferentes dimensões projetuais da fase analítica da matriz, o que evidenciou um fluxo repetido na coleta e interpretação dos dados de cada uma delas. Porém, no

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escopo amplo, não houve um retorno da fase criativa para a analítica, representando o início de um novo ciclo.

Já o princípio transdisciplinar não foi colocado em prática porque não foram utilizadas redes colaborativas, nem codesign durante a experimentação da matriz. Essa é uma limitação da pesquisa, pois embora o método Design Science

Research admita o pesquisador como agente, nesse caso, a existência de uma

pluralidade de olhares e de interpretações teria sido benéfica para a investigação, minimizando o viés de um pesquisador único, principalmente na fase criativa. Nessa, as narrativas textual e visual dos dois cenários apresentados são somente manifestações de processos criativos da autora da tese. Porém, a subjetividade implícita na leitura das respectivas matrizes por outros agentes possivelmente permitiriam o surgimento de diferentes conceitos e representações.

A participação de outros agentes também poderia estimular a fertilização cruzada de conhecimento e reduzir a influência de agentes não colaborativos com indústrias maduras associadas a produtos controversos, como pareceu ser o caso do carpete.

Por tudo isso, considerando que o objetivo deste capítulo foi experimentar a Matriz Analítico-Criativa de Design Estratégico para indústrias maduras, compreende- se que essas limitações prejudicaram a análise, mas não a invalidaram, porque foi possível identificar outras duas contribuições potenciais. A primeira está relacionada à abordagem simultânea de recursos tangíveis e intangíveis associados à tecnologia e à cultura, já que ambos são orientadores de mudanças organizacionais e influenciam-se mutuamente. A segunda refere-se à revisão de conhecimento existente na indústria madura em foco e à absorção de know-how de outros domínios, compondo uma base de conhecimento única.

Contudo, não se pretende afirmar pelos resultados da experimentação da matriz que eles sejam efetivamente inovadores, ou mesmo que a inovação – independentemente do seu grau de magnitude – seja de fato atingível por meio dela, mas a realização de cada fase da matriz gerou conhecimento capaz de ampliar as possibilidades de desenvolver inovações, projetar conceitos e torná-los visíveis.

Generalizações para outros casos análogos seriam prematuras, mas pode-se dizer que é possível usar a matriz em outros setores industriais, uma vez que a sua construção partiu de elementos genéricos presentes em diferentes contextos de atuação do design. Fica evidente a necessidade de se realizar investigações abordando outras indústrias, princípios culturais diversos, bem como tecnologias

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distintas; incorporando a participação de agentes de outras áreas e, inclusive, considerando uma lógica circular, na qual se presume uma trajetória de retorno dos cenários em direção às variáveis iniciais da matriz. Porém, ainda é possível afirmar que a aplicação da matrizapresentou resultados da atividade de elaboração estratégica do design ao funcionar como uma plataforma conceitual para articular princípios culturais, tecnologias e produtos em diferentes camadas temporais e principalmente ao exercitar a formulação de hipóteses criativas e especular sobre cenários disruptivos em contextos de intensa complexidade.

Nessas articulações, não há garantias de evolução dos cenários para projetos conceituais, mas se reconhece o valor genuíno do pensamento analítico e da criatividade, assim como na iteração entre eles, não só ao imaginar o futuro de territórios do habitar, mas ao tentar especular sobre movimentos culturais e tecnológicos.

Outras ponderações acerca da aplicação da matriz ainda serão apresentadas no próximo capítulo, que abordará uma visão transversal que vai além da obsolescência e transfigura o óbvio e o automatismo, sem desconsiderar, no entanto, as responsabilidades de um design no nível estratégico.

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