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Sugere-se retomar a proposição do design pendular, mas desta vez para reinventá-lo a fim de questionar os paradigmas do design em indústrias maduras.

No capítulo anterior, já havia sido mencionada a necessidade de se questionar estes paradigmas, isto é, reprodução de padrões, linearidade,

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estabilidade, inovação incremental e previsibilidade, ao considerar contextos contemporâneos de atuação do design caracterizados pelo oposto: criação de novos padrões (ou a rejeição deles), a instabilidade, a complexidade, a inovação radical e a imprevisibilidade. Porém, no capítulo anterior, não se abordava como isso seria possível.

Assim, neste capítulo, considera-se a possibilidade de reinventar o design pendular descrito até este momento porque são propostas forças capacitadoras para explorar alternativas existentes em ambientes complexos e dinâmicos, que se opõem à percepção de obsolescência inevitável. Possivelmente, novas abordagens e outras relações estabelecidas entre design, inovação e indústrias maduras permitam rever o caráter limitado de como esses elementos são descritos em quadros teóricos, tal como se observa nos Quadros 2 e 3 (páginas 31 e 36, respectivamente).

Por meio da proposição da Matriz Analítico-Criativa de Design, pretende-se responder como o design pode contribuir para a inovação em indústrias maduras, organizando recursos para maximizar o pensamento de design; estruturando o fluxo de informações; e combinando conhecimento novo e existente em perspectivas para o futuro. A matriz articula (1) o valor transformador do design no nível estratégico e o foco em inovação com (2) o valor coordenador do design no nível organizacional e o direcionamento para processos e liderança, ambos apontados no Quadro 1 (página 27).

Contudo, nessa ferramenta conceitual de processo de inovação dirigida pelo design, observa-se um protagonismo do primeiro nível porque o cerne da matriz se localiza nas pesquisas de Design Estratégico e suas especificidades. Uma vez que a matriz é uma síntese do capítulo e o objetivo dele é compreender as relações entre design, inovação e indústrias maduras, em retrospectiva, considera-se que as perguntas anteriores foram igualmente respondidas.

Sendo assim, a primeira força capacitadora remete à capacidade do design orientar processos de inovação. Nesse sentido, a liderança do design como vetor para a inovação é proposta como potencial força capacitadora do design no nível organizacional em indústrias maduras. Porém, ela se apoia em outras três forças capacitadoras no nível estratégico do design. A primeira força é a transdisciplinaridade apoiada na cocriação no nível estratégico por meio de redes colaborativas. A segunda é a inovação simultânea em múltiplas dimensões

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impulsionadas não somente pela interação entre agentes, mas pela tecnologia e cultura ao mesmo tempo. E a terceira é a criatividade e a geração de ideias baseadas na acumulação de conhecimentos.

Admite-se que as quatro forças capacitadoras do design aqui propostas possibilitam gerar conhecimento no âmbito da transitoriedade dos contextos contemporâneos para explorar o potencial de alternativas geradas pela combinação simultânea entre aspectos tecnológicos e culturais, conforme demonstrado na Figura 4 (página 109), que retoma a analogia com o Pêndulo Duplo.

A questão restante diz respeito à capacidade de indústrias maduras inovarem radicalmente. Por um lado, a interpretação do referencial teórico do campo da Administração e dos Estudos Estratégicos direciona a resposta para a inovação endógena baseada na acumulação criativa de conhecimentos novos e existentes. Por outro lado, resultados de pesquisas que abordam o design no estágio de maturidade e de outras que o tangenciam dirigem a argumentação novamente para a Gestão do Design nos níveis organizacional e estratégico. Portanto, presume-se que haja uma conexão entre o potencial de indústrias maduras inovarem de modo mais intenso do que a versão incremental e o potencial do design orientado para processos inovadores apoiado de modo holístico nessas forças capacitadoras.

Propõe-se que a inovação endógena e a acumulação criativa de conhecimento de indústrias maduras sejam apoiadas por processos de inovação orientados pelo design por abordagens holísticas que integrem transdisciplinaridade, multidimensionalidade e criatividade. Conjuntamente, compreende-se que todos esses aspectos potencializariam a capacidade de inovar de indústrias no estágio de maturidade do ciclo de vida, opondo-se, sob uma visão sustentável, aos paradigmas restritivos e obsoletos do design pendular.

Entretanto, existem desafios, especialmente quanto à concepção de redes colaborativas de design, vistas como uma estratégia para operacionalizar o conceito de acumulação criativa de conhecimento. Deduz-se que identificar e atrair agentes para indústrias maduras não seja tarefa simples diante da existência de dois fatores. Um deles é a possibilidade de a cristalização do monitoramento da obsolescência dificultar a percepção de que os agentes no entorno da indústria também se tornam ultrapassados, fazendo com que novos agentes com potencial inovador sejam negligenciados. O outro fator diz respeito a uma possível atitude não

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colaborativa, mesmo que sejam identificados agentes relevantes para a inovação. Isso porque significados com potencial controverso associados a indústrias e seus produtos podem suscitar reações negativas nesses agentes.

Figura 4 – Forças capacitadoras do design pendular nos níveis estratégico e organizacional Fonte: Elaborado pela autora.

Resumindo, a Matriz Analítico-Criativa é proposta como uma plataforma conceitual de mediação por meio do Design Estratégico para adaptar novos princípios culturais a mudanças tecnológicas e vice-versa. Mas, principalmente, pode ser útil no compartilhamento de conhecimento e na aprendizagem organizacionais, fatores

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necessários para se romper com premissas consolidadas, para exercitar a formulação de hipóteses e para especular sobre visões disruptivas. A matriz sugere articular transdisciplinaridade, multidimensionalidade e criatividade sob a liderança do design, todas as quatro como forças capacitadoras do design para criar conhecimento composto por novos inputs associados a dados existentes (mas possivelmente revistados e reinterpretados) e, consequentemente, criar uma base de conhecimento para inovar significativamente. Além disso, a matriz evidencia a utilização das Capacidades Dinâmicas baseadas em conhecimento – ver, rever, prever e fazer ver – para mapear mudanças ambientais, que, por sua vez, aumentam o potencial de indústrias maduras identificarem alternativas não exploradas.

Logo, a dimensão estratégica da matriz no âmbito de indústrias maduras pode ser associada à processualidade existente entre inovação e as capacidades particulares de um agir estratégico para o design – ver, prever e fazer ver (Zurlo, 2010) –, acrescidas do rever, modo de recuperar patrimônios valiosos e descartar dados desnecessários para o futuro. Todas elas são admitidas como Capacidades Dinâmicas baseadas em conhecimento porque são percebidas como essenciais para sustentar a noção de acumulação criativa de conhecimento em ambientes organizacionais caracterizados por práticas consolidadas. Ver, rever, prever e fazer ver propiciam o entendimento de que as relações entre diversos contextos são fundamentais para a inovação e apontam para a construção de um espaço de crítica, reflexão e criação em permanente mutação, no qual são articulados conteúdos originários do passado, presente e futuro.

O enquadramento teórico e as proposições apresentadas neste capítulo evidentemente não desconsideram os aspectos condicionantes das conexões entre design, inovação e indústrias maduras. As restrições tecnológicas continuam sendo relevantes, considerando ativos imobilizados e o investimento em maquinários, equipamentos, processos e outros recursos existentes nas indústrias maduras. Contudo, sugere-se ir além do óbvio e questionar paradigmas. No próximo capítulo, tudo isso será discutido sob outra perspectiva: a de um estudo de caso.

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