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Para construir um futuro para os negócios no século XXI, exige-se inovação e capacidade de imaginar novas possibilidades (McBride, 2009). É preciso fazer perguntas mais difíceis e imaginativas na busca por abordagens alternativas.

No âmbito de tipologias espaciais, a expressão “casa do futuro” adquire expressão em graus de criatividade significativos, assumindo características de utopias urbanas em territórios do habitar. Por exemplo, pergunta-se: é possível morar em outro planeta? É viável projetar e construir a própria casa e seus artefatos utilizando uma impressora 3D? Essas e outras perguntas exploram o imaginário e podem parecer fora de propósito após a publicação deste texto, mas, no passado, outras perguntas também pareciam inapropriadas. Igualmente, em um passado nem tão remoto não se imaginava ser possível viver em um edifício com mil metros de altura; climatizar ambientes domésticos a ponto de se sentir frio durante ondas de calor; ou ainda se comunicar com alguém do outro lado do mundo enquanto se realiza simples atividades domésticas (Kushner, 2015). Ideias aparentemente descabidas e até estranhas para produtos inovadores, com o tempo e a familiaridade, podem ser aceitas pelo senso comum, transformando-se em algo ordinário. E, então, novas perguntas deverão ser formuladas em um círculo virtuoso de criatividade.

Sendo assim, sob a perspectiva de concluir a processualidade da Matriz Analítico-Criativa de Design Estratégico em um estudo de caso, esta subseção sintetiza as anteriores deste capítulo. Serão apresentados dois exercícios que apresentam resultados da atividade de elaboração estratégica do design. Tais propostas apresentam formas especulativas de habitar que incorporam materiais têxteis expressas por visões e cenários de espaços culturalmente múltiplos (porque abrangem princípios culturais tradicionais e emergentes) e tecnologicamente simbióticos (porque associam a tecnologia têxtil a outras criando uma relação em que ambas se beneficiam, mesmo que em proporções desiguais). O primeiro

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cenário sugere a perspectiva de se estar em casa, mas se sentir no mundo (Figura 22, página 164). O segundo aponta para o contrário, ou seja, estar em lugares públicos – até mesmo não lugares – e se sentir em casa (Figura 24, página 167). Ambos são elaborados com base na matriz, conforme indicado na Figura 20.

Figura 20 – Indicação da etapa da Matriz Analítico-criativa de Design Estratégico abordada na seção 5.4.

Fonte: Figura elaborada pela autora.

É importante destacar dois aspectos quanto à elaboração dos cenários por meio de textos e figuras. O primeiro diz respeito à utilização de dados e articulações possíveis obtidos na fase analítica da matriz, mas não levou em consideração aspectos pertinentes a uma etapa de detalhamento de viabilidade tecnológica dos conceitos propostos. O segundo refere-se à abordagem de espaços que extrapolam as fronteiras do ambiente doméstico. Isso se deve à identificação de princípios culturais emergentes na fase analítica de aplicação da matriz, o que evidenciou o estabelecimento de limites tênues entre espaços privados e públicos.

Cápsula têxtil

A Figura 21 (Página 163) representa a articulação entre as variáveis da Matriz Analítico-Criativa de Design Estratégico para indústrias maduras, apresentando a convergência entre as características geradas pela combinação de tecnologias, princípios culturais e produtos provenientes de diferentes partições temporais: contextos passado, presente e emergente.

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Figura 21 – Matriz Analítico-criativa de Design Estratégico aplicada ao projeto conceitual “cápsula têxtil”. Fonte: Adaptado de Bergmann & Magalhães (2017c).

Para a criação da visão denominada “cápsula têxtil”, a incorporação de componentes eletrônicos, a nanotecnologia, a biotecnologia e tecnologias digitais foram associadas a tecnologias têxteis; potencializando não somente os princípios culturais tradicionais como conforto, higiene, sustentabilidade ecológica e temporalidade, mas se alinhando com a mobilidade e a desterritorialização; e estabelecendo uma conexão entre as características da casa vestida e das casas móvel e interativa. Como resultado desse cruzamento, obtém-se o conceito-síntese de “cápsula têxtil” e a descrição do cenário a seguir, bem como a representação visual do cenário por meio da Figura 22 (página 164), que incorpora ícones e legendas sobre atributos que não são visíveis, pois são associados à natureza têxtil dos revestimentos.

A “cápsula têxtil” é descrita como uma casa itinerante – de uso permanente ou recreativo – que permite estar no mundo, mas se sentir em casa. Uma habitação móvel e portátil porque é transportada inteira, acoplada a diversos veículos de transporte adaptados a meios diferentes, incluindo a possibilidade de uma versão anfíbia. Contudo, também é um sistema modular de criação de ambientes, deslocável e desmontável em um número limitado de partes básicas impressas em 3D que compõem um exoesqueleto autoportante e reforçado. Membranas têxteis constituem o restante da estrutura revestindo-a com uma face externa e outra interna, ambas com múltiplas funcionalidades.

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Figura 22 – “Cápsula Têxtil”. Fonte: Elaborado pela autora.

Externamente, uma superfície sensível e aveludada – composta por cerdas em dimensões nanométricas que se movem em contato com a água e o vento – altera a estética da cápsula; facilita a higienização exterior; autorregenera-se ao sofrerpequenas avarias e, ainda, é impressadigitalmente com biopigmentos que

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reagem a estímulos cromáticos, criando efeitos miméticos. Em constante metamorfose, essa casa pilosa transita por diferentes lugares, de diferentes climas e relevos, e as necessidades de seus moradores mudam. Novas configurações podem ser projetadas e possibilitam o acoplamento de módulos componíveis menores e impressos com materiais locais em impressoras digitais transportadas juntamente com outros equipamentos de uso doméstico.

Internamente, a superfície da “cápsula têxtil” é composta por tramas que incorporam nanomateriais que regulam a temperatura ambiental, permitem a troca de gases e a liberação de odores; além de serem bordadas com fios condutores e circuitos eletrônicos para criar uma interface digital na superfície interna, como uma tela ampliada de dispositivos de comunicação móvel, capaz de mostrar chamadas por vídeo.

O diálogo com o ambiente externo está explicito, mas a comunicação digital de seus moradores – nômades contemporâneos – com o mundo exterior depende da geração autônoma de energia por meio de painéis solares instalados nas peças sólidas da cápsula-veículo; porém, nada fica aparente. Materiais condutores ficam embutidos diretamente em substratos têxteis impermeáveis.

Célula têxtil

A Figura 23 demonstra a convergência entre as variáveis da Matriz Analítico- Criativa de Design Estratégico para indústrias maduras, por meio de conexões estabelecidas entre as dimensões projetuais da fase analítica – tecnologias, princípios culturais e produtos – e os contextos passado, presente e emergente.

Figura 23 – Matriz Analítico-criativa de Design Estratégico aplicada ao projeto conceitual “célula têxtil”. Fonte: Adaptado de Bergmann & Magalhães (2017c).

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Para a elaboração da visão denominada “célula têxtil”, evidentemente a tecnologia têxtil foi utilizada, mas novamente ela foi integrada às quatro tecnologias emergentes; apoiando a tangibilização de princípios culturais tradicionais – autonomia, conforto, higiene, privacidade e sustentabilidade ecológica – em conjunto com os novos: encapsulamento, mobilidade e desterritorialização. Ainda, os atributos da casa vestida são associados ao da casa móvel, interativa e vestível. O cruzamento entre todas essas variáveis da matriz proporcionam a criação do conceito-síntese de “célula têxtil” e a descrição do cenário a seguir.

Esse cenário é construído por tecidos que criam um envoltório fibroso morfologicamente semelhante àqueles encontrados em espécies vegetais para armazenar e proteger sementes. No ambiente doméstico, trata-se de uma peça de mobiliário para descansar, dormir, mas também trabalhar, ou simplesmente estar. Em termos formais, em nada se assemelha a uma cama, cadeira, tampouco sofá. Leve e resistente, flexível e versátil. Amorfa, mais se parece com uma simples trouxa de pano. Ela mantém-se suspensa e flutuante pela ação de “drones” – miniaeronaves não tripuladas e comandadas por controle remoto, como é indicado na Figura 24 (página 167).

Não é uma peça vestível, mas está próxima à escala do corpo, pois é composta por filamentos ajustáveis e expansíveis ao volume e à forma do usuário. A abertura e o fechamento são acionados manualmente com um simples gesto, preservando a liberdade de movimento que se espera de roupas. Os fios que compõem o material têxtil são multifuncionais: são revestidos por camada manométrica que abre e fecha a trama autorregulando a ventilação no interior do objeto e são entrelaçados com rede de cabos condutores e sensores conectados a baterias miniaturizadas, que permitem o uso de dispositivos móveis de comunicação e de informação.

À malha têxtil que constitui a célula são incorporados micro-organismos geneticamente modificados, que são fotoluminescentes, iluminando o interior quando fechado e, simultaneamente, oferecem propriedades autolimpantes. Esses biotêxteis são compostos por culturas de micro-organismos inofensivos à saúde humana que geram três tipos de benefícios: primeiro, filtram o ar e liberam fragrâncias agradáveis por meio de nanomateriais incorporados aos fios; segundo, como realizam fotossíntese, produzem energia para acionar dispositivos luminosos

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Figura 24 – “Célula têxtil”. Fonte: Elaborado pela autora.

conectados a fibras óticas e diodos emissores de luz (leds); terceiro, são superfícies semivivas que se replicam e crescem, mas são biodegradáveis, dissolvendo-se com o tempo. A sua multifuncionalidade permite ampliar o uso do objeto, extrapolando o espaço doméstico para o espaço corporativo, para o espaço público e para o não

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lugar (seguindo o sentido horário da figura a partir da imagem no alto à esquerda). Assim como na representação visual da “cápsula têxtil”, novamente utiliza-se o recurso da incorporação de ícones e legendas para destacar a existência de atributos não visíveis associados à natureza têxtil dos materiais.

5.5.