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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento As faces da dor (páginas 88-93)

Esta pesquisa teve como principal objetivo avaliar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em hospital geral. Para tanto, foi realizado um estudo bibliográfico. Para responder ao objetivo geral desta pesquisa, considera-se que os objetivos específicos da mesma foram respondidos. Diante da literatura pesquisada, com base nos objetivos específicos deste trabalho, a fim de responder ao objetivo geral, pôde-se discutir alguns aspectos:

A dor é um fenômeno universal que acompanha a humanidade desde sempre e é uma das emoções mais precoces que freqüentemente experienciamos, de modo que a dor é uma conseqüência inevitável da condição humana. É essa proximidade entre a dor e a própria experiência de ser humano que faz com que esse fenômeno tenha tantos sentidos. O presente trabalho teve por objetivo, então, avaliar um modelo terapêutico que se propõe a diagnosticar e tratar esse fenômeno clínico tão amplo e complexo a partir de uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos publicados no meio virtual. Essa foi a metodologia escolhida para apresentar e analisar a singularidade das estratégias terapêuticas introduzidas pelo modelo terapêutico cognitivo comportamental no âmbito da racionalidade científica moderna.

Em relação aos objetivos específicos, cujo foco foi caracterizar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental no hospital geral e nos casos de dor, assim como identificar os resultados descritos na literatura a partir de procedimentos da Terapia Cognitivo Comportamental, cabe algumas observações que levaram à resposta dos questionamentos iniciais que esse trabalho se propôs a refletir:

Foi possível constatar através dessa revisão da literatura sobre a dor e o seu manejo terapêutico que as técnicas e estratégias cognitivo comportamentais, oferecem um aparato técnico e teórico que permite a presença do psicólogo no tratamento da dor, sendo ela aguda ou crônica.

Antes de mais nada, é necessário ressaltar que muitos dos impasses que se apresentam no trabalho do alívio da dor acontecem em função da complexidade do próprio fenômeno da dor. A disponibilidade de enfrentar os desafios desta prática de saúde implica na necessária compreensão dos aspectos relacionados à atitudes individuais, convicções, cognições e comportamentos apresentados pelo paciente enquanto limites para autoeficácia e ajustamento ao estado de doença. A aplicação dos pressupostos da terapia cognitivo comportamental pode conduzir à idéia de as pessoas são autônomas e ativas no seu processo de mudança, pois constroem ativamente as suas representações mentais, com a constante interação que estabelecem com o mundo externo. Daí a possibilidade de se adaptarem à dor a partir do desenvolvimento de estratégias funcionais de enfrentamento, bem como de respostas emocionais saudáveis, o que permite que mantenham uma vida relativamente ativa apesar da dor.

A compreensão da importância dos aspectos cognitivos (avaliação da situação, crenças, atitudes, expectativas, motivação, atenção) na vivência da dor, levou à incorporação dos preceitos da teoria cognitiva no manejo de pacientes com quadros dolorosos, podendo ser aplicados em atendimento aos pacientes hospitalizados.

As atitudes frente à dor influenciam na aceitação das propostas terapêuticas, no resultado e satisfação com o tratamento, e na capacidade dos indivíduos construírem uma vida ativa e satisfatória, apesar da dor. Observou-se que pacientes com maior disfunção psíquica, física e social podem apresentar algumas características próprias, tais como julgar-se sem habilidade para controlar a dor. A pesquisa possibilitou o conhecimento de um programa educativo em dor, associado à mudanças nas atitudes e crenças frente ao problema. Mudanças no modo de “ver” a dor, de se posicionar frente a ela, foram tidas como indicativas da melhora dos sintomas depressivos e do funcionamento físico.

Este programa citado anteriormente, na modalidade de grupo educativo, como conteúdo da parte cognitiva, propõe o desenvolvimento dos seguintes passos: oferecer informação atualizada e identificar as crenças e os pensamentos dos pacientes sobre dor, relacionar tais crenças e pensamentos aos comportamentos de evitação, de mudança na sensação dolorosa e auxiliar o paciente a buscar evidências que confirmem ou neguem suas crenças e a buscar explicações

alternativas. A ênfase do trabalho deve ser na melhora da funcionalidade e no alívio da dor. Em síntese, pode-se afirmar que o cunho educativo da Terapia Cognitivo Comportamental proporciona a aprendizagem de estratégias para o manejo da dor pelo paciente como já foi citado anteriormente no presente trabalho. Como exemplo destas técnicas, pode-se citar as de relaxamento, distração, resolução de problemas, entre outras e fundamentalmente a aprendizagem da principal estratégia de mudança da terapia cognitiva que é o questionamento socrático que possibilita ao paciente ao aprendê-lo, tornar-se autônomo na reestruturação de suas crenças disfuncionais (aqui, relativas à dor).

Desta forma, percebe-se que as técnicas descritas visam propiciar ao paciente uma melhora na sua sensação de eficácia e controle frente à dor e conseqüentemente frente a outras situações da vida em geral, permitindo a esse indivíduo retirar o fenômeno doloroso do foco central de sua vida, se expondo de forma mais saudável a uma variabilidade maior de contextos e estímulos

Na experiência cotidiana nas instituições de saúde, em especial nos hospitais, é necessário o conhecimento básico acerca das possibilidades de controle da dor. Daí a relevância profissional desta pesquisa, por caracterizar um tipo de intervenção psicológica com a dor e a partir disso, oferecer subsídios para a prática dos profissionais que atuam nesta área, avaliando a construção de estratégias terapêuticas de cuidado em saúde respeitando a singularidade envolvida no processo de adoecimento, aproximando-se assim das reais necessidades do paciente.

A dor é geralmente útil, é um sintoma, um sinal claro de perigo. A dor crônica pode extrapolar sua utilidade; a mensagem foi enviada e foi recebida ao cérebro, mas continua a ser enviada sem ter um objetivo benéfico. A dor aguda tem freqüentemente uma fonte clara. A dor crônica é mais persistente e pode durar meses ou anos, e pode ou não ter uma causa óbvia.

Para diagnosticar a causa da dor, os médicos tentam normalmente determinar sua intensidade e qual a sua causa. Isto pode ser um desafio. Nenhum exame de laboratório pode provar que a dor existe, e descrever a dor em palavras pode ser difícil. Além disso, cada pessoa experimenta a dor de forma diferente.

O médico poderá fazer perguntas a respeito da história da dor. Ele pode lhe pedir que descreva sua dor usando uma escala. Uma vez o médico tenha determinado se a dor é aguda ou crônica, e descobre a fonte da dor, ele poderá saber a melhor maneira de tratá-la. Porém, os médicos freqüentemente começam a tratar a dor antes de identificarem sua causa, para diminuir o sofrimento do paciente.

O médico provavelmente irá optar por tratar a dor antes de diagnosticar sua causa. Muitos medicamentos são úteis, entretanto o quão bem eles funcionam depende do paciente e da natureza da dor.

Os tratamentos não medicamentosos podem ser especialmente úteis para pessoas com dor crônica. Em alguns casos, estes tratamentos podem estimular analgésicos naturais, chamados de endorfinas, que são criadas dentro do próprio corpo. Em outros casos, os tratamentos não medicamentosos (técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental) trabalham diretamente nos nervos para interferir na transmissão das mensagens de dor.

Dor significa que algum problema existe, e as pessoas toleram de diferentes graus diferentes tipos de dor. Pessoas com dor crônica podem passar por um período muito difícil. As fontes de dor podem ser difíceis de achar e de tratar, e a dor pode continuar até mesmo depois que sua causa foi diagnosticada. A dor crônica pode causar complicações como desordens do sono, perda de apetite e depressão. Quem sofre de dor crônica pode precisar aprender a conviver por muito tempo com a dor. Mudanças no estilo de vida e tratamentos não medicamentosos como as técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental poderão ajudar no dia a dia. Como o aspecto psicológico só é uma das diversas dimensões que permeiam o fenômeno doloroso, o psicólogo deve ser um dos profissionais envolvidos nesse cuidado, tornando indispensável o trabalho interdisciplinar para uma maior eficácia do tratamento.

A interdisciplinaridade é entendida como a articulação de diferentes saberes sobre a realidade, o espaço onde se criam estratégias, permitindo contemplar os múltiplos e complexos elementos que estão envolvidos em qualquer prática de saúde. O cuidado em saúde, em especial no caso do doente com dor, passa pela constituição de um projeto terapêutico que permita uma abertura para novas possibilidades de viver a vida.

Enquanto a investigação da dor como um fenômeno fisiológico é importante, a dor não pode mais ser reduzida a fisiologia. A dificuldade de falar sobre dor e compreender a dor de outra pessoa resulta de sua complicada origem como função de nosso corpo e de nossa identidade.

Cada indivíduo vivencia este momento de uma maneira diferente, de acordo com as significações que estabeleceu durante sua vida. Portanto, são padrões de vivência e comportamentos que juntamente com as expectativas do indivíduo, sustentam reações com manifestações na área cognitiva e afetiva.

A dor física é pessoal, intransferível e ninguém sabe como realmente é a dor do outro, quanta dor cada um sente. Pode-se dizer que cada dor é a dor da pessoa com sua história, sua personalidade, contexto e momento. A mesma dor, em diferentes situações, pode nem ser percebida ou ser muito forte, em decorrência da distração ou atenção oferecida a ela.

Este foi apenas um estudo, dos muitos já existentes na área de Psicologia e espera-se que possa contribuir aos muitos que ainda virão.

Contudo, mais pesquisas devem ser realizadas, especialmente as que dizem respeito à diversos fatores que desempenham um papel importante na experiência da dor: a atenção que se dá a dor, o medo associado a dor, a tristeza ou estados depressivos, pois a maioria das pesquisas na área referem-se à fisiologia da dor.

Para além de uma definição, e para além de sua fenomenologia, falar sobre a dor na sua dimensão psíquica, não apenas sob o ponto de vista de sua vivência, mas sobretudo procurar entender a origem, a finalidade da dor, é a melhor forma de se alcançar, penso eu, a compreensão da vivência psíquica do paciente que sofre a dor.

Acredito não ser uma tarefa fácil. Afinal, se por um lado, como diz Miguel de Cervantes, “todo mundo é capaz de suportar uma dor, com exceção de quem a sente”, mostrando aí sua dimensão subjetiva, por outro, querer “explicar a dor do outro é o início de toda imoralidade” (E. Levinás), por conta da assimetria existente entre meu universo e o do outro.

No documento As faces da dor (páginas 88-93)