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Terapia Cognitiva de Aaron Beck

No documento As faces da dor (páginas 40-44)

2.3. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

2.3.1. Terapia Cognitiva de Aaron Beck

A formulação do modelo terapêutico iniciado por Aaron Beck ocorreu a partir de 1956. Era o seu interesse em “localizar a configuração psicológica precisa da depressão para desenvolver uma forma de psicoterapia breve voltada especificamente para o alívio desta psicopatologia focal” (1997, p. 7).

As conclusões dos estudos realizados por Beck (1997, p. 7) relacionados aos achados de pesquisa anômalos, o levaram a perceber: “de fato, as manipulações ambientais indicaram que os pacientes deprimidos tendiam mais do que os não deprimidos a evitar comportamentos evocadores de rejeição ou desaprovação em favor de respostas evocando aceitação e aprovação dos outros”.

A partir dos fatos expostos, a busca de Beck por explicações para o comportamento do paciente deprimido, que segundo ele, “pelo menos na superfície, parecia refletir uma necessidade de sofrer (1997, p. 7), o levou a desenvolver uma formulação psicológica precisa sobre a depressão, a fim de desenvolver uma abordagem psicoterapêutica breve, voltada para o alívio desta psicopatologia de caráter focal.

Os estudos desenvolvidos por Beck também voltaram-se para as observações dos sonhos “masoquistas” (base de seu estudo original), que tinham como foco principal a busca de explicações alternativas para os temas freqüentes do sonhador deprimido. A partir destes dados, os achados demonstraram a presença nos pacientes deprimidos, de construtos negativos de si mesmos e de suas experiências de vida, semelhantes às imagens apresentadas nos sonhos que pareciam expressar distorções da realidade. Somando-se a isto, estudos sistemáticos adicionais que objetivavam o desenvolvimento e a testagem de instrumentos para validação da hipótese que o paciente deprimido tendia a distorcer de forma sistemática a realidade, contribuíram para a continuidade do desenvolvimento da teoria cognitiva da depressão. Com isso, o pressuposto de que o paciente apresentava uma tríade referente à visão negativa global que apresentava sobre si mesmo, sobre o mundo externo e o futuro (tríade cognitiva da

depressão), deu origem ao entendimento da depressão e posteriormente a compreensão de outras psicopatologias neuróticas.

De acordo com Beck, como pode ser observado em sua afirmação (1997, p.7):

À medida que as evidências acumularam para apoiar o papel proeminente de distorções cognitivas negativas, eu concomitantemente tentava aliviar a sintomatologia depressiva do indivíduo desenvolvendo técnicas para corrigir suas distorções através da aplicação de lógica e de regras de evidência, e ajustar seu processamento de informações à realidade.

Os experimentos de Beck demonstraram o papel desempenhado por uma série graduada de sucessos em atingir uma meta tangível. Assim, a terapia cognitiva considera que as experiências facilitam/ possibilitam a reversão do autoconceito e expectativas negativas, produzindo efeito direto de forma a atenuar a sintomatologia depressiva. Pode-se afirmar que estes estudos demonstram a aplicabilidade do uso de experimentos reais para testar crenças errôneas ou negativas. “Esta noção de testar hipóteses em uma situação de vida real, cristalizou-se no conceito geral de empirismo colaborativo”. (1997, p. 9)

Para este modelo de psicoterapia, as experiências de vida do paciente, constituem um campo de testagem para verificação do funcionamento cognitivo disfuncional. Desta forma, tais experimentos representam uma oportunidade potencial para testar previsões e interpretações negativas, daí o conceito de ‘autoterapia estendida” referente ao conceito de experimento na TC.

Segundo Beck (1997), a Terapia comportamental contribuiu substancialmente para o desenvolvimento da TC.

Uma variedade de técnicas e estratégias cognitivas e comportamentais são utilizadas na TC. Em resumo, as técnicas cognitivas objetivam delinear e testar os construtos errôneos e as pressuposições mal-adaptativas do paciente. Já as técnicas comportamentais utilizadas funcionam não apenas para modificar o comportamento, mas também para extrair cognições que se associam a comportamentos específicos. Segundo Beck (1997), as técnicas comportamentais são geralmente utilizadas no início do tratamento, ou seja, “(...) o paciente geralmente requer estas técnicas mais ativas no início do tratamento... (...)” (Beck, 1997, p. 6). Sendo assim, é possível afirmar que o trabalho na TC focaliza

inicialmente o sintoma apresentado pelo paciente (os comportamentos desajustados) para então iniciar o trabalho cognitivo propriamente dito, que objetiva a reestruturação das cognições disfuncionais, iniciando pelo acesso aos pensamentos automáticos disfuncionais (pré-consciente cognitivo), em seguida às crenças intermediárias (pressupostos, regras e atitudes) para então chegar ao objetivo final da reestruturação cognitiva que são as crenças centrais apresentadas pelo paciente. Assim, o trabalho cognitivo ocorre na psicoterapia do nível mais superficial para o mais profundo de cognição, a partir da principal estratégia do terapeuta cognitivo que é o questionamento socrático.

Figura 2: Processamento esquemático de informação. Fonte: Beck, 1997. Organização Cognitiva (componentes estruturais) Esquemas específicos História de Aprendizagem (componentes experienciais) Experiências anteriores relacionadas ao esquema Situação Atual Crença Preexistente Comportamento Processamento Esquemático (de Significado) Interpretação da situação em termos de esquemas específicos

Ativação de Sistemas Ativação de formas dentro de sistemas cognitivos, afetivos, e motivacionais

Interpretação Consciente ou

Sobre a noção cognitiva de personalidade, Beck (1997, p. 33) afirma que:

A definição cognitiva de personalidade inclui processos esquemáticos individuais, que teoricamente determinam a operação dos principais sistemas de análise psicológica (p. ex. motivação, cognição, emoção, etc). A perspectiva cognitiva enfatizaria padrões característicos do desenvolvimento e diferenciação de uma pessoa e sua adaptação a ambientes sociais e biológicos. Estes padrões são compostos de organizações de esquemas relativamente estáveis, que respondem pela estabilidade de sistemas cognitivos , afetivos, e comportamentais através do tempo. Estes sistemas de esquemas especializados são conceitualizados como os componentes básicos da personalidade.

A respeito do processamento cognitivo automático, a psicologia cognitiva contemporânea utiliza o termo “inconsciente cognitivo” para descrever estruturas e processos mentais que não estão acessíveis à consciência fenomenal, porém determinam pensamentos e ações conscientes. Segundo Beck (1997, p. 27) “não há razão teórica para que os processos cognitivos relevantes à psicopatologia devam operar inteiramente dentro da percepção fenomenal consciente”. A partir da seqüência: situação – crença – interpretação – afeto – comportamento, pode compreender que as estruturas ou os esquemas de crenças existentes são ativados pelas circunstâncias do ambiente e o significado (processamento esquemático consciente ou inconsciente) gera uma interpretação que leva ao afeto que é seguido pelo comportamento que modifica a situação original. (Beck, 1997).

Para resumir o que foi exposto anteriormente, Beck (1997) afirma que a Terapia Cognitiva ou Cognitivo-comportamental se diferencia da Terapia Comportamental no sentido de apresentar maior ênfase sobre as experiências internas (mentais) do paciente, tais como os pensamentos, emoções, desejos... Diferencia-se também de outras escolas de psicoterapia por “sua ênfase sobre a investigação empírica dos pensamentos automáticos, inferências, conclusões e pressuposições do paciente” (Beck, 1997, p. 7)

No documento As faces da dor (páginas 40-44)