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MAPA III CORPO COMO CARNAVAL: A BUSCA DO NOVO E A CONSTRUÇÃO DE UM DESFILE

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre o carnaval que desvirtua o corpo e por este é desvirtuado, fica a pergunta: onde vai (re)nascer o corpo folião? Um corpo folião que pode tanto desfilar na rua, pular em um baile, trabalhar em um barracão? Ou um corpo folião como este dos desfiles da liesv, que “brinca” com o “teocentrismo” do carnaval oficial. Quais outros mapas terá criado? Ou está criando neste momento?

A “travessura” de tirar o carnaval da rua e colocá-lo na Internet , nos coloca diante de uma revalorização da brincadeira que mesmo “invisivelmente” faz correr nas veias do país o sangue carnavalesco. Além de servir como questão para rediscutir a dicotomia instaurada entre ser oficial ou não que “esconde” o corpo multifacetado da cultura brasileira. Funciona também como “pretexto” para indagar sobre a inevitável metamorfose a que está sujeito um corpo. Antes mesmo de sua fecundação e vida uterina. Caso contrário, estaria o corpo condenado a morrer de

clichê?121 E o carnaval sem alterar-se estaria condenado à mesma sina?

E o carnaval é um útero fértil para mudanças. Sobre o “mito de criação do desfile de rua”, há uma história de que tenha sido fecundado no Estácio, e de lá ganhado a alcunha de “escola de samba”. Sobre isto nos fala Ismael Silva, em entrevista concedida a Sérgio Cabral:

“... E quem sugeriu o nome escola de samba?”.

- Fui eu. É capaz de você encontrar quem diga o contrário. Mas fui eu, por causa da escola normal que havia no Estácio. A gente falava assim: ‘ É daqui que saem os professores’. Havia aquela disputa com Mangueira, Osvaldo Cruz, Salgueiro, cada um querendo ser melhor. E o pessoal dizia: ‘ Deixa falar, é daqui que saem os professores’. Daí que veio a idéia de dar o nome de escola de samba. O prédio onde era a escola normal ainda continua lá, na esquina da Rua Joaquim

121

Palhares com a Rua Machado Coelho. Agora é uma escola primária.”

Cabral(1996:241)

Uma escola de samba pode mesmo “ensinar” muita coisa. Sobretudo para o corpo. Corpo em comunicação não somente pelas ruas da cidade. Se, conforme ensinou Ismael Silva, o samba seria ensinado de um lugar para outro, o samba pode também “entrar” em nossas casas, em nossos corpos, em um computador, pela inerente vocação para o movimento espacial incorporado às escolas de samba. Além de ser “ópera que sonha na rua” o desfile também pode “sonhar em casa”.

É visível que esta “ópera que sonha na rua” tem sido um palco que tem mostrado pouco o povo. Os carnavais oficiais exilam seus principais atores: o povo Mas quando a brincadeira “cai” em suas mãos, este mesmo povo parece recriar-se pelos sonhos do carnaval. Nossas mãos são interfaces que podem assinalar mudanças.

Isto ficou evidente nas mudanças da “cadência do samba”, quando “Ismael

criaria a onomatopéia ‘bum bum paticumbum prugurundum’, que encerrava o assunto, definindo o compasso inovador do samba criado pela turma do Estácio, remodelando o samba inicialmente amaxixado de Donga, Heitor dos Prazeres e companhia.” Souza (2003:33)

Sobre a mudança, Ismael diz:

“O estilo (antigo)não dava para andar. Eu comecei a notar uma coisa. O

samba era assim: tan tantan tan tantan. Não dava. Como é que um bloco ia andar assim? Aí a gente começou a fazer um samba assim: bum bum patcumbumprugurudum” Cabral (1996: 242)

Daí dizer que o carnaval muda pela diversidade inerente a cada mão que o “toca”. Redes de mãos e pés.

A “verdadeira” festa carnavalesca é difícil de ser apontada por que não há um único modo de compreender a festa. Não se trata de atribuir “fases” diferentes ao processo. Há a diversidade de brincadeiras, cada uma com sua lógica própria enredadas pelo desejo do corpo folião brincar.

Enredar é colocar em rede. É desafiar a lógica da inclusão e exclusão. Rede entre idéias divergentes e convergentes. A idéia do enredo em um desfile é justamente esta: criar uma rede entre diferentes pontos. Pontos que jamais imaginaram estar juntos, na história que será tecida. Ou melhor, que está sendo tecida. Com pontos e linhas de naturezas também diversas: de paetês aos pixels de um monitor eletrônico. Como cantou a Mocidade Independente de Padre Miguel, então em 1985, sonhando com o futuro:

“Deste mundo louco, de tudo um pouco eu vou levar para 2001

avançar no tempo e nas estrelas fazer meu ziriguidum nos meus devaneios quero viajar, sou a mocidade, sou independente vou a qualquer lugar

voa a lua e voa o sol

e vai a nave ao som do samba caminhando pelo tempo

em busca de outros bambas

quero ver, no céu minha estrela brilhar e estender meus versos à luz do luar vou fazer todo o universo sambar até os astros irradiam mais fulgor a própria vida de alegria se enfeitou está em festa o espaço sideral viva o universo hoje é carnaval

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CD’S

Samba enredo das escolas de samba do rio de janeiro

DVD’S

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JORNAIS

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• Corpos Imaginários. Organizado pelo Cisc, centro interdisciplinar de semiótica da mídia e da cultura. 1998

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