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A Resiliência toma como certo que, como outros impactos devem acontecer, é necessário estar alerta, preparado para mudanças na base de recursos, para responder e recuperar o mais rapidamente possível a normalidade ou alcançar uma posição menos vulnerável que a anterior ou mais desenvolvida. Desta forma, os estudos sobre resiliência indicam que a percepção do risco e as capacidades de flexibilidade, velocidade, visibilidade e colaboração são essenciais para atingir uma resposta mais rápida.

O presente estudo entende a percepção ao risco como um sinal de alerta, ora estruturado em gerenciamento de risco, ora em influências da mídia e fatores psicológicos oriundos de experiências anteriores, que influenciam a intensidade das demais capacidades, por isso foi considerado inclui-la em conjunto com as demais capacidades de resiliência mais analisadas pela literatura em cadeia de suprimentos.

Sabe-se que a resiliência da cadeia de suprimentos é considerada uma estratégia proativa de gerenciamento de riscos (JUTTNER; MAKLAN, 2011), no entanto, o conceito

capta os elementos reativos de resposta e recuperação para um estado melhorado de funcionamento. A capacidade de prever, monitorar e estabelecer alertas frente as diferentes fontes de riscos, influencia diretamente a velocidade de preparar-se, responder e recuperar se de impactos ou rupturas.

Nesta tese encontrou-se que a percepção ao risco é relevante para a resiliência, pois antecede a construção de capacidades de resiliência da cadeia de suprimentos que, por sua vez, permitem a execução dos processos necessários durante a preparação, resposta e recuperação.

Poucos estudos analisaram de forma teórica e empírica, o conjunto das capacidades de resiliência, isto é, mais que uma capacidade, como flexibilidade, velocidade, visibilidade e colaboração, de forma detalhada em um único contexto de ruptura (JUTTNER; MAKLAN, 2010). Além disso, o contexto da crise hídrica, por ser um fenômeno natural de ocorrência lenta, mas que provoca grandes impactos, representou uma oportunidade única para buscar evidências empíricas, que permitam a comparação com os fenômenos de início rápido (inundações, deslizamentos, terremotos, entre outros), que envolvem a maioria das pesquisas existentes na literatura.

A presente tese verificou que, no caso da crise hídrica, as empresas das cadeias estudadas sabiam da existência do risco (percepção ao risco), mas não investiram em tecnologias para aumentar sua visibilidade sobre o evento na cadeia de suprimentos e também para se preparar para situações de estiagens mais severas. As cadeias tiveram ações distintas para buscar flexibilidade durante a crise, primordial para alcançar a resiliência, contudo por falta de maior colaboração e visibilidade entre todos os membros da cadeia, a resposta ao evento foi lenta e não se pode assumir que as cadeias estudadas são resilientes, mesmo tendo afirmado que houve recuperação frente a crise hídrica.

Foram encontradas três possíveis razões para este paradoxo, conforme proposto por Wachinger et al. (2013): os respondentes entendem o risco, mas aceitam as condições de enfrentá-lo devido aos benefícios de estarem próximos a recursos hídricos, mercados consumidores, pontos logísticos, desvantagem de custos, entre outros; os respondentes não se sentem responsáveis por mitigar o risco, responsabilizando terceiros para atuar sobre o problema (ex.: Governo, Comitês de Bacias, Concessionárias, etc); não existem recursos suficientes para agir na prevenção e resposta (ex.: dificuldade enfrentada pelos produtores sem acesso a crédito após quebra de safra, custos altos para irrigação).

Esta tese mostra uma relação entre as capacidades de resiliência. Com a capacidade percepção ao risco desenvolvida, as empresas investem mais fortemente em tecnologias que

permitam um maior conhecimento sobre o fenômeno a que estão expostos, evidenciando a capacidade de visibilidade de um evento ao compartilharem estas informações e experiências entre as empresas de um mesmo grupo, ou entre compradores-fornecedores, ou no nível estudado nesta tese, na cadeia de suprimentos.

A partir deste conhecimento, é possível adotar estratégias de preparação, tais como aumento de flexibilidade e redundância, como as evidenciadas nos casos estudados. A colaboração é importante para a visibilidade, não somente no sentido de compartilhar informações, mas em relação a qualidade e utilidade das informações trocadas para gerenciar crises e rupturas, aumentando assim a velocidade nas ações durante as fases de resiliência. A agilidade (visibilidade e velocidade) precisam ser desenvolvidas especialmente na fase de resposta e recuperação, evitando lentidão nos processos de busca da normalidade e alcance de patamares menos vulneráveis, como também melhor utilização dos esforços conjuntos e investimentos dedicados.

No entanto, a análise dos dados levantados mostrou que estas capacidades não estão presentes em todos os elos das cadeias de suprimentos estudadas, nem em todas as fases. As capacidades de resiliência foram principalmente encontradas entre os processadores e compradores (cooperativas e grandes compradores), revelando que o elo mais fraco são os produtores. Desta forma, pode-se concluir que ainda há um caminho a ser percorrido pelas cadeias de suprimentos voltadas ao agronegócio para alcançarem a resiliência. Para isso, é necessário o fortalecimento dos elos entres produtores, processadores e compradores, especialmente os elos mais fracos.

A percepção ao risco merece atenção especial, porque após o entendimento que houve recuperação frente a crise, ainda há necessidade de alertas e protocolos para preparação contra futuros impactos. As cadeias de suprimentos estudadas estão a caminho da resiliência, por meio de capacidades que podem ser iguais, mas obtidas de forma distinta.

Sugere-se a realização de estudos futuros em outras regiões brasileiras, que enfrentaram a crise hídrica nos anos subsequentes ao estudado nesta tese, para avaliar como as estruturas criadas para enfrentamento do risco de crise hídrica e fatores climáticos têm sido tratados em casos de novas unidades agroindustriais e diferentes empresas das representadas neste estudo. Além disso, recomendam-se estudos futuros para explorar o gap relacionado a capacidade de medir resistência e robustez em uma cadeia de suprimentos a partir do ponto de vista prático (COLICCHIA; STROZZI, 2012, p. 414).

Outra recomendação para futuras pesquisas trata-se da elaboração de casos de ensino que envolvam resiliência em cadeia de suprimentos frente a crise hídrica, por meio de jogos

de empresas semelhante ao “beer game” (STERMAN, 1984; LEE et al. 1997), no qual a meta dos componentes da cadeia (varejista, atacadista, distribuidor e fábrica) consiste em minimizar o custo total, tanto individualmente como para o sistema. Neste caso seria reduzir o uso de água e estabelecer processos ou criação de recursos para desenvolvimento das capacidades de flexibilidade, velocidade, visibilidade e colaboração ao menor custo possível e obtendo o máximo de valor para cadeia de suprimentos.