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3.6 Triangulação, Validação dos Constructos, Validação Externa e Interna

4.2.5 Eliminação

A eliminação de um recurso intermediário B pode ser uma solução para viabilizar uma determinada opção C que não estava disponível inicialmente (BRADASCHIA; PEREIRA, 2015, p. 09). Este processo ficou bem notório na indústria sucroalcooleira após o protocolo firmado pelas usinas paulistas após antecipação dos prazos legais para eliminação da prática da queima de 2021 para 2014 nas áreas viáveis para mecanização e de 2031 para 2017 nas áreas sem possibilidade de mecanização (UNICA, 2016).

A Associação da Indústria da Cana-de-Açúcar destaca que se trata de um acordo pioneiro, que conta com a adesão de mais de 170 Usinas e 29 fornecedores, que juntos totalizam mais de 90% da produção em São Paulo. A colheita de cana sem queima já corresponde a 90% da área da safra (dados 2013/2014).

Diante disso, por trás deste processo de eliminação da queima da cana, pode se notar uma forte característica de colaboração, para criação deste movimento em prol do protocolo para antecipação das datas que já estavam estabelecidas, por meio de Lei Estadual 11.241, de 2002. Adicionalmente, o protocolo dispôs sobre outros temas de relevância como conservação do solo e dos recursos hídricos, proteção de mata ciliares e recuperação de nascentes. Mas, o impacto direto foi na mecanização e aumento do uso de tecnologia na lavoura.

Um dos respondentes comenta que a adesão ao protocolo também trouxe benefícios, por meio de investimentos na área industrial para melhoria do processo de reuso da água. Com a eliminação da queima da cana, também foi possível eliminar o uso da água na lavagem da matéria prima nas Usinas: “Lá atrás sinalizaram num protocolo que foi estabelecido em 2008, que estabeleceu que até 2023 as usinas já tinham que estar em torno de 1.0 m3 e até em 2023 tinham que chegar em 0.7 m3. Então isso aqui tinha que chegar em 0.7 m3 (SUPERINTENDENTE USINA 3).

A Destilaria de Grande Porte comenta que ainda adota a lavagem da cana em seus processos, mas também eliminou a queima. Ressalta ainda que a cana colhida após aumento da mecanização está trazendo dificuldades para entendimento neste primeiro momento, sobre as mudanças que a qualidade do produto com colheita mecanizada trará para o processo de produção.

Figura 23 - Dimensões da Capacidade de Flexibilidade na Cadeia da Cana e Laranja Dimensões da Capacidade

de Flexibilidade Cadeia da Cana Cadeia da Laranja

Reconfiguração Não ocorreu durante a crise hídrica. Cadeias ligadas ao agronegócio costumam ser lentas para realização de mudanças de configuração; Redundância Não foi apontada a necessidade de criação de estoques ou contingências

(buffers)

Alteração ou criação de processos/ recursos

Alteração de processos em algumas usinas para captação de água por meio de caminhões-pipa;

• Ampliação e inclusão de fornecedores de água por meio de caminhões pipa no elo dos compradores (serviços de alimentação);

• Desenvolvimento de novos fertilizantes em parceria entre fornecedores e processadores;

Disponibilidade

• Co-localização da empresa

compradora (Cooperativa) com o elo dos processadores (Usinas);

• Facilidade para escoamento da produção e infraestrutura logística

Facilidade para escoamento da produção e infraestrutura logística;

Robustez

• Possibilidade de produção de produtos voltados para mercado alimentos, bebidas combustíveis e energia;

• Forte contribuição para o PIB;

• Possibilidade de produção de produtos voltados para mercado alimentos, bebidas e ração animal; • Forte contribuição para o PIB e geração de empregos;

Priorização

• Investimentos em pesquisas e priorização pelo cultivo de mudas geneticamente modificadas mais resistentes ao stress hídrico;

• Novas técnicas de plantio por meio de mudas pre-brotadas e meiosi (dois tipos de produção, p.e. cana com amendoim) (Manejo de variedades e manejo de plantio);

Investimentos em desenvolvimento de novos produtos e equipamentos para fertilização e irrigação dos pomares (manejo de irrigação).;

Eliminação

Eliminação das queimadas para colheita da cana e da água para lavagem da cana que chega as Usinas para processamento, por meio de protocolo agroambiental

Não encontradas evidencias na cadeia da laranja;

Fonte: própria pesquisa

4.3 Capacidade de Visibilidade

As informações compartilhadas podem levar à uma amplitude de níveis de visibilidade, determinada pela quantidade de informações úteis compartilhadas, a qualidade percebida destas informações, e se as informações são confiáveis ou não. Estes fatores segundo Barratt e Oke (2007) podem levar a capacidade de visibilidade distintiva, a qual permitiria aquisição de uma vantagem competitiva sustentável.

Durante levantamento realizado em campo nas cadeias de suprimentos de cana e laranja, existem evidências da capacidade de alta visibilidade. Contudo, estas evidencias mostram que a alta capacidade de visibilidade ela limitada aos elos entre fornecedores- processadores (cadeia laranja) ou entre os elos de processadores-compradores (cadeia cana).

A Cooperativa 1, compradora prioritária do açúcar das Usinas associadas, possui tanto mecanismos permanentes de governança como auditorias, controles de qualidade, estrutura para gerenciamento de riscos, relatórios com informações relevantes sobre clima, qualidade, preços, entre outros, quanto também mecanismos semipermanentes de governança, promovendo encontros periódicos para debates e apresentações em reuniões ou workshops sobre estudos de casos em Usinas que estão com melhores práticas operacionais para gestão do meio ambiente e reuso da água.

O Processador de Grande Porte de Laranja comenta que foi necessário logo após superado o momento mais grave da crise, procurar seus fornecedores para cada tipo de insumo, como fertilizantes e equipamentos, para trabalharem em conjunto na realização de testes que possam servir para atividades de resposta a situações de stress hídrico. O intuito é conhecer previamente quais são os níveis toleráveis de redução de água na composição da “calda” para pulverização, por exemplo. Em ambos os casos a visibilidade é forte para a relação da empresa focal com os fornecedores de primeira ordem, mas não é estendida aos outros elos da cadeia. Rungtusanatham et al. (2003, p. 1087) afirmam que as empresas procuram adquirir e exercer controles tanto permanentes, quanto semipermanentes sobre os recursos que podem significar uma vantagem competitiva. Os mecanismos permanentes de acordo com framework proposto por Rungtusanatham et al. (2003, p. 1094) são aqueles capazes de serem criados, fortalecidos e protegidos (defensáveis), favorecendo alcançar uma vantagem competitiva sustentável. Por sua vez, os mecanismos semipermanentes são aqueles que permitem alcançar um recurso ou conhecimento que levam a uma vantagem operacional temporária, que pode ser copiada pelos demais concorrentes, por não ser protegida.

Devido ao fato das empresas exercerem diferentes tipos de controle sobre os diferentes tipos de recursos, elas poderão se distinguir das demais em relação ao conjunto, reconhecido pela denominação de “conjunto de recursos” (tradução livre para bundle of resources) (RUNGTUSANATHAM et al., 2003, p. 1087).