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Tempo de percepção e resposta frente a Crise Hídrica

3.6 Triangulação, Validação dos Constructos, Validação Externa e Interna

4.4.3 Tempo de percepção e resposta frente a Crise Hídrica

O tempo de resposta foi lento na opinião da participante da ONG responsável pelo consórcio de empresas e municípios para conservação de áreas de proteção permanentes e

mananciais. Foram necessários cinco meses entre o alerta dado após ato simbólico ao lado do reservatório de abastecimento da cidade de São Paulo, em dezembro de 2013, e o início da redução das retiradas de água. Para formalização da restrição foram necessários 12 meses. Contudo, para a participante as mudanças efetivas somente começaram em 2015, contribuindo para o aumento da dificuldade pela morosidade na resposta.

Já a Gerente de Sustentabilidade da Cooperativa 1, principal compradora de açúcar, afirma que a resposta foi rápida, devido trabalho preparatório realizado seis meses antes, que facilitou uma ação mais rápida quando houve o período mais crítico.

Do lado dos compradores que acreditam que a resposta foi rápida, o participante Comprador da Rede de Alimentos também comenta que a cadeia estava preparada para este tipo de evento e alguns protocolos que levariam mais cautela para serem executados, tiveram que ser realizados com mais agilidade.

“A gente sempre se preocupou, sempre tivemos uma diretriz e uma política de meio ambiente, contudo, a esse nível que demandou com a crise, a gente teve que melhorar, a gente teve que detalhar, e de certa forma ela foi em velocidade media, moderada, precisou ser feita rapidamente, contudo ela

foi media, moderada em virtude da situação, da preparação que os nossos fornecedores, a nossa cadeia estava preparada para isso” (REDE

DE ALIMENTOS COMPRADORA AÇÚCAR).

A Usina 3, que representa uma rede formada por 11 unidades agroindustriais também aponta que a resposta foi rápida e houve aceleração de investimentos. A Usina 2 que possui três unidades agroindustriais também buscou tecnologias para enfrentamento de forma rápida e “forçou” investimentos. Neste caso da Usina 2, a velocidade pode ser obtida pela robustez ou flexibilidade adquirida por meio dos investimentos.

“Acho que em relação à crise hídrica a gente atuou de uma forma bem rápida no que a gente poderia fazer. Então a gente já trouxe o assunto

no... A gente começou a tratar o assunto em 2013 e o resultado disso é apresentado em março de 2014, que a gente fez aquele diagnostico da

situação de todas as usinas e tal, foi um trabalho que começou um semestre antes, que eu acho que realmente foi um pouco antes de ser o pior momento (grifo da pesquisa). (GERENTE DE SUSTENTABILIDADE COOPERATIVA 1).

Pesquisador - Como ocorreu o processo entre perceber e começar a tomar algumas ações em relação à crise hídrica? Esse processo foi rápido, foi demorado? “Acho que sim, foi rápido (...) (...) exatamente. Conforme você não tem a crise, tem os protocolos e tal, mas você vai administrando com os outros investimentos que você tem que fazer. No caso de uma crise como essa, você acelerou alguns investimentos (grifo da pesquisa). “ (SUPERINTENDENTE DE OPERAÇÕES USINA 3).

“Para trás. Como eu te falei, não tem muita ação a ser tomada... acho que foi razoavelmente rápido. A gente parou o plantio fora de época, achar essas

tecnologias acabou sendo rápido, nos forçou para isso, mas foi rápido (grifo da pesquisa). “ (DIRETOR DE OPERAÇÕES USINA 2).

O Processador de Laranja de Grande Porte afirma que a crise hídrica serviu como catalizador para os investimentos em parcerias para testar produtos e soluções para situações de stress hídrico, contudo concorda com a respondente Gerente Técnica da ONG e o Produtor de Cana de Pequeno Porte, contrariando os demais, ao afirmar que houve demora para agir.

“Acho que nós não tínhamos vivido uma experiência como aquela, nós

demoramos a reagir (grifo da pesquisa). Hoje não, acho que toda empresa,

algumas instituições de apoio como universidades que a gente buscou ajuda, como a gente já passou pela experiência, hoje se ela voltar a sinalizar que vai acontecer, acho que a crise foi o próprio catalisador (DIRETOR AGROINDUSTRIAL PROCESSADORA DE LARANJA).

Não, teve demora porque no primeiro ano teve a seca, mas fica aquela

esperança que a chuva vem (grifo da pesquisa). Não é uma coisa normal

na nossa região essa estiagem, então vai se protelando até sentir mesmo que a coisa estava feia, virar tudo noticia que realmente muita região estava sem água, sem abastecimento, daí caiu a ficha um pouco tarde na verdade (PRODUTOR DE CANA PEQUENO PORTE)

O respondente da Destilaria de Grande Porte também acredita que foi moroso, e credita a lentidão ao “jeitinho brasileiro” de prorrogar as decisões relacionadas ao meio ambiente e questões regulatórias trabalhistas. Com a fiscalização todos tiveram que apressar para cumprir com estas exigências que existiam, mas não eram seguidas.

Na opinião da participante da Destilaria de Grande Porte, a disponibilidade de informações no tempo certo é fundamental para evitar a recorrência de futuras crises hídricas. Ressalta a dificuldade que o setor enfrentaria para se adaptar, pois a velocidade para implantação de irrigação não teria o ritmo necessário para superar as rupturas decorrentes de uma estiagem mais severa.

O respondente Gerente Técnico da Rede de Restaurantes, a qual é compradora de suco de laranja da Processadora de Pequeno Porte também participante desta pesquisa, comenta que seria complicado depender da estrutura de fornecimento via caminhões-pipa, pois as informações não estão muito claras e teriam um longo processo para regulamentação: conhecer se a empresa fornecedora de água é outorgada pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), documentos que atestem a higienização do reservatório, assinados por químicos, biólogos, etc. Para ele seria uma possível barreira para enfretamento da crise hídrica.

Outro ponto refere-se a precisão das informações recebidas da própria concessionária. Por exemplo, citou o caso da pressão da água, percebida como bastante reduzida. Daí, mesmo como cliente corporativo, o respondente afirmou na ter clareza e que “a impressão de que a

verdade não é contada inteira, por total”. Estes fatores somados impedem uma tomada de decisão rápida.

Já outro respondente da Cooperativa 1 ressalta que neste momento, no Brasil, as organizações estão atuando apenas na área de mitigação, que são necessárias mais ações voltadas para adaptação e ações mais rápidas para o tema da Água. Segundo ele, há necessidade de mecanismos de governança para tratar a questão do clima.

Sobre a resposta a Crise Hídrica, o respondente Comprador da Rede de Refrigerantes 1 comenta que houve ajuste no processo para regulação do consumo de água em cada planta, sendo que aquelas que não tinham processo de descarte ou reutilização da água da melhor forma, tiveram que ser desenvolvidas rapidamente.

Ainda sobre resposta do lado dos compradores, outro respondente da Rede de Alimentos 1comenta que houve a necessidade de adotar os procedimentos padrões elaborados a partir da resposta utilizada nas fábricas mais críticas da rede.