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Os benefícios trazidos pelos métodos consensuais de resolução de conflitos estão além do mero desafogamento do Poder Judiciário ou da Administração Pública como um todo. As técnicas utilizadas permitem que as partes envolvidas em um litígio participem de forma efetiva da construção das soluções, alcançando assim resultados mais satisfatórios para todos os envolvidos.

O presente trabalho dedicou-se a analisar o instituto da mediação aplicado no âmbito da Administração Pública sob a ótica regulamentadora, debruçando-se sobre a Lei 13.140 de 26 de junho de 2015 para estabelecer as particularidades das modalidades de mediação, qual seja a judicial e a extrajudicial. Além de analisar o que dispõe a lei acerca da atuação dos mediadores atuantes nessas duas modalidades.

O primeiro capítulo do desenvolvimento destinou-se a verificar a constitucionalidade deste procedimento na seara pública, haja vista ser, o Estado, parte do litígio e considerando a (in)disponibilidade dos direitos envolvidos em algumas situações.

Considerou-se também as diversas prerrogativas inerentes à Administração Pública, de modo a verificar se a utilização da mediação nos conflitos envolvendo o Poder Público fere a Constituição da República.

Para tanto verificou-se a conformidade dos procedimentos autocompositivos com a Lei Maior, especialmente a mediação, levando em conta a sua supremacia perante as demais normas integrantes do ordenamento jurídico brasileiro.

Constatou-se, a partir deste estudo que não há vedação quanto a utilização de métodos consensuais de resolução de conflito no âmbito da Administração Pública. Como qualquer procedimento realizado na seara pública, com a devida observância do princípio da legalidade, deve estar em consonância com a Constituição da República, é de se esperar que a mediação, para ser utilizada na Administração Pública, esteja também em consonância com os princípios e regramentos extraídos do texto constitucional, bem como a lei que disciplina o procedimento autocompositivo em comento.

Para fundamentar a possibilidade compositiva de litígios, utilizaram-se, ainda no primeiro capítulo do desenvolvimento, os fundamentos e princípios da dignidade da pessoa humana, do acesso à justiça, da eficiência e da cidadania, como ferramentas garantidoras do envolvimento dos administrados nos atos da vida pública e de conscientização acerca das repercussões que tal envolvimento pode trazer para o mundo jurídico.

Acerca da dignidade da pessoa humana, o presente estudo demonstrou ser um dos fundamentos de existência da coisa pública. Isso por que a finalidade da estrutura normativa pátria e a circunstância sócio-política do Poder público ocorrem em razão da dignidade do ser humano. Todas as políticas públicas existem para, primeiramente, garantir a dignidade da pessoa humana. Assim, mesmo diante de todas as prerrogativas inerentes à Administração Pública, a mediação deve ser considerada também em homenagem à dignidade da pessoa humana.

Quanto ao acesso à justiça concluiu-se que este não se resume necessariamente em acesso ao Poder Judiciário, tampouco em integrar um dos polos da relação processual jurisdicional, mas é, antes de tudo, proporcionar para o problema uma solução apropriada para todos os envolvidos. Nesse diapasão, a mediação, se bem trabalhada, constitui ferramenta adequada para o atingimento da justiça mesmo no âmbito da Administração Pública.

No que tange ao princípio da eficiência restou evidenciado que este não se resume a obter uma administração proba, correta e eficaz, mas principalmente obter uma administração que seja capaz de responder aos anseios da população de forma adequada e célere. Diante disso, devem-se considerar os procedimentos autocompositivos como ferramentas capazes de proporcionar aos administrados a tão desejada eficiência da Administração Pública, possibilitando que suas questões sejam solucionadas de forma rápida e satisfatória para todos os envolvidos.

Finalmente, a cidadania enquanto fundamento constitucional foi apresentada como algo que transcende sua definição literal. Indo além do mero direito ao exercício do sufrágio universal para ser a garantia da prevalência dos direitos fundamentais do cidadão em detrimento do Estado, de modo que as políticas públicas cumpram o disposto na Lei Maior envolvendo os cidadãos na gestão

pública, inclusive no que se refere a mediação de eventuais conflitos que envolvam Administração e administrado.

Portanto, uma vez que a mediação, quando de sua aplicação na Fazenda Pública, respeite os princípios constitucionais como um todo e em especial aqueles aplicáveis à Administração, não há por que não se utilizar tal procedimento, de modo a oferecer aos administrados e ao Poder Público soluções mais satisfatórias e céleres.

No último item do capítulo 2, a mediação foi analisada enquanto método autocompositivo, apresentando-se alguns conceitos relevantes para este estudo, como o que seria o conflito e sua correlação com outras expressões, além da aplicabilidade do processo mediativo enquanto promovedor da consensualidade, considerando os princípios da Supremacia e Indisponibilidade do interesse público. Mas, principalmente, buscou analisar de que maneira a mediação, enquanto método consensual de resolução e conflitos, pode possibilitar a boa Administração Pública, de modo a promover cidadania e maior participação social.

Neste contexto, verificou-se que as normas que dispõem sobre o funcionamento da Administração Pública não devem ser utilizadas como mecanismo engessador da própria administração. Utilizou-se como exemplo o que dispõe o artigo 2º, caput, da Lei 9.784/99. No referido texto legal consta que o processo administrativo deverá obedecer aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Contudo, uma análise simplista pode levar a interpretação de que sempre deve prevalecer a vontade da Administração, eliminando qualquer possibilidade de consenso entre as partes envolvidas em um litígio.

Considerando que as formas autocompositivas, como é o caso da mediação, prezam pela isonomia entre as partes, a interpretação rígida do referido artigo pode levar a ideia de que a mediação, assim como os demais procedimentos consensuais de solução de conflitos, é incompatível com a Administração Pública, o que não é verdade, uma vez que na própria Constituição da República encontram-se preceitos

fundamentadores da prática da mediação, bem como defesa da importância da conciliação de ambos os interesses na finalidade de satisfação coletiva.

Destarte, recusar de forma imotivada e injustificada à celebração de acordos, sob a justificativa de respeito à Supremacia e Indisponibilidade é postura autoritária, arbitrária e superficial.

No capítulo 3 tratou-se da correlação entre a boa administração pública e a mediação num contexto em que a atuação administrativa passa por uma mudança paradigmática. Essa mudança está relacionada com o princípio da eficiência no qual apoia a Administração Pública atualmente, bem como na maximização da qualidade dos serviços prestados à população.

Assim, a boa administração pública além de prezar pela probidade, eficiência e o bom atendimento às demandas sociais, deve promover o diálogo, incentivar a participação dos administrados nas discussões acerca das políticas públicas e garantir, ou pelo menos oportunizar, que os conflitos existentes sejam solucionados de forma pacífica e satisfatória, sem que pra isso deixe de se atentar aos princípios constitucionais inerentes a sua atividade.

O capítulo em análise trouxe ainda uma preocupação no que se refere a postura da Administração Pública na resolução dos conflitos. Em que pese o reconhecimento do interesse público que calca a Administração Pública para tomar decisões, é inerente a boa administração e, sobretudo, um direito do administrado, ser ouvido e participar da tomada de decisões para solucionar questões que lhe dizem respeito. É, inclusive, um dos pilares da mediação, como bem explicitado ao longo de presente trabalho, a isonomia processual entre as partes envolvidas. Não pode ser diferente no âmbito da Administração Pública.

Ainda no capítulo 3, abordou-se a importância de se fomentar a cultura da proximidade entre os administrados e o Poder Público. Nessa abordagem apontou- se a mediação como sendo uma catalisadora dessa aproximação. Para que essa aproximação se concretize é preciso afastar a visão da Supremacia e da indisponibilidade do interesse público como sendo um princípio absoluto, inflexível. Ao contrário, esses, bem como outros princípios da Administração Pública devem se coadunar com os princípios fundamentais, como os apresentados no capítulo 1.

No terceiro e último capítulo do desenvolvimento, intitulado Capítulo 4, tratou-se das especificidades da regulamentação do procedimento mediativo no qual a Administração Pública atua como parte. Neste ponto destacou-se a Lei nº 13.140/2015 por ser considerada um marco legal da mediação no Brasil, mas sobretudo por tratar do tema de forma geral e abrangente, tanto em relação aos conflitos entre particulares, como aqueles envolvendo o Estado.

A relevância dessa regulamentação pode ser justificada pela necessidade de diálogo, da existência de espaços colaborativos e profissionais mediadores capacitados para conduzir o procedimento. Assim, ter uma legislação que abarca todas essas questões no sentido de proporcionar o melhor cenário para promoção do consenso obtido de forma democrática é de deveras relevante.

Essa regulamentação também chama a atenção para o respeito a essa consensualidade, mesmo no Poder Público. Diante disso foram apresentados neste capítulo os princípios orientadores da mediação, que constam no artigo 2º da mencionada lei, destacando que este procedimento, juntamente com os seus princípios, são tranquilamente aplicáveis aos conflitos existentes no âmbito da Administração Pública.

Apresentou-se também, no último capítulo do desenvolvimento, algumas características imprescindíveis para um bom procedimento mediativo, como a imparcialidade do mediador, a isonomia entre as partes envolvidas no conflito, a oralidade, a informalidade, a autonomia da vontade das partes, não devendo, portanto, o mediador impor sua vontade, uma vez que para isso sempre há o método heterocompositivo, a busca do consenso, a confidencialidade e, finalmente, a boa fé.

Além disso, foram apresentadas as câmaras de mediação e conciliação no Poder Público, enfatizando a sua função de promover a resolução consensual de litígios no âmbito da Administração Pública.

Não obstante o presente trabalho tenha como foco a mediação na Administração Pública, o final do Capítulo 4 deixou claro que isso não exclui a possibilidade da mediação se dá sob a tutela e organização do Poder Judiciário. Trata-se da Mediação Judicial, que é uma técnica autocompositiva realizada pelo

Poder Judiciário nas ações envolvendo a Fazenda Pública. Restou evidenciado, portanto, que o fato de existir uma ação judicial em curso, envolvendo a Administração Pública, não impede que as partes dialoguem e cheguem, em conjunto, a uma solução consensual para todos os envolvidos.

No decorrer do presente trabalho analisou-se de forma minuciosa a temática proposta, qual seja a aplicabilidade da mediação na Administração Pública, sobretudo nos litígios em que ela atua como parte. Com o objetivo de demonstrar não apenas essa possibilidade de aplicação, mas analisar os benefícios que a utilização da mediação pode trazer para a Administração Pública e para os seus administrados.

Como bem enfatizado ao longo do trabalho, não é apenas uma questão de reduzir o abarrotamento de ações as quais a Fazenda Pública enfrenta, mas principalmente de produzir soluções satisfatórias para todos os envolvidos, não obstante a celeridade processual ser um bônus que a Administração Pública, bem como o Poder Judiciário podem perfeitamente usufruir.

Concluiu-se ainda pela necessidade de mais pesquisas sobre o tema. Inclusive, a justificativa do presente trabalho foi principalmente fomentar a discussão sobre o tema no âmbito acadêmico, de modo a encontrar de forma conjunta soluções que melhorem e estimulem a utilização da mediação em diversos ambientes e situações, em especial no âmbito da Administração Pública. Desmistificando a utilização dos métodos consensuais e fortalecendo a cultura da negociação.

Vale dizer que a promoção de uma cultura de paz não é apenas dever do Estado, mas de toda a sociedade. Entretanto, focando na esfera pública, o compromisso pela busca do consenso democraticamente construído deve envolver todos os atores da administração e não apenas os procuradores a frente dos inúmeros processos envolvendo a Fazenda Pública. Deve envolver também gestores, servidores e administrados.

Por outro lado, é indiscutível o papel relevante que a Administração Pública possui diante da condução desse processo, de modo que é seu papel a iniciativa de buscar a melhor forma de solucionar os litígios que integra e incentivar a

composição, considerando as muitas vantagens que esta pode trazer comparada a justiça tradicional.

Um fator que pode ser identificado como um empasse para a concretização de uma composição consensual é a existência de divergências partidárias e costumes individualistas em algumas situações.

Neste sentido, é importante suscitar nos administradores públicos e nos administrados que disputas partidárias não devem se sobrepor a interesses coletivos. A existência de um Estado Democrático de Direito pressupõe o pluripartidarismo e o respeito às diferenças, ainda que um não concorde com o outro.

Por isso é importante que haja cooperação entre todos os envolvidos e comprometimento com o bem maior para que se faça jus à estrutura eventualmente criada para este fim. Caso contrário será irrelevante a existência de uma estrutura com câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos, capacitação dos diversos atores envolvidos, como da advocacia pública e demais servidores, se não houver comprometimento de todos com a promoção da pacificação social.

Superada a questão do comprometimento e disposição para o bem maior, prevalece a necessidade capacitação. Os administrados precisam ser ouvidos, os servidores precisam conhecer bem o seu papel, que não se resume a uma lista de atividades corriqueiras. Seu papel é, sobretudo, o de saber ouvir, de buscar soluções para as controvérsias, de servir ao público e atender as demandas da população.

É preciso incluir a sociedade nos processos decisórios, de modo a evitar problemas futuros, assim como o reconhecimento desses atores sociais enquanto agentes negociadores.

Por isso, todos os atores, desde o gestor público até o administrado, são imprescindíveis para o sucesso da mediação enquanto forma consensual de resolução de conflitos nos litígios envolvendo a Administração Pública.