• Nenhum resultado encontrado

O PROCEDIMENTO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL NAS CAUSAS EM QUE É PARTE O PODER PÚBLICO

4 ESPECIFICIDADES DA REGULAMENTAÇÃO DO PROCEDIMENTO MEDIATIVO EM QUE É PARTE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4.3 O PROCEDIMENTO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL NAS CAUSAS EM QUE É PARTE O PODER PÚBLICO

Ponto importante de ser ressaltado na mediação envolvendo a Administração Pública é a possibilidade desse método autocompositivo ocorrer sob tutela e organização do Judiciário. Não é porque foi interposta uma ação judicial e, consequentemente, construiu-se uma lide entre o particular e o Poder Público que se impede a prática da autocomposição e da utilização de procedimentos como a mediação de conflitos visando o atingimento desse objetivo. Para isso, embora não seja o maior foco do presente trabalho, se torna salutar a compreensão de alguns dispositivos relacionados à mediação judicial.

Nesse sentido, a mediação judicial é tratada na Lei 13.140/15 a partir da preceituação do artigo 24, segundo o qual os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. Ainda, a composição e a organização dos centros retratados acima, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo, serão definidas pelo respectivo Tribunal, observadas as normas da Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça.

Torna-se pertinente demonstrar, a partir do dispositivo supracitado, o posicionamento de Hale, Pinho e Cabral (2015, p.169), segundo o qual:

[...] os centros judiciários, por serem criados e mantidos pelo Poder Judiciário, devem exercer um papel coadjuvante na mediação. Do contrário, os interessados, com razão, acreditarão que apenas “mudaram de sala no Tribunal”, mas que continuam sob o pálio do Poder Judiciário. Essa “aura judiciária” mina o ambiente informal necessário para que os interessados se sintam confortáveis e à vontade para estabelecer um diálogo franco. É preciso, antes de mais nada, oferecer elementos concretos que assegurem aos interessados que a mediação consiste, genuinamente, em um método de solução dos conflitos diverso da jurisdição. Se essa premissa não ficar bem assentada, ficará comprometido o bom desenvolvimento da mediação. A crítica tecida decorre do fato do instituto da mediação não possuir a finalidade de ser um só um cabide apoiador de processos sob apreciação do Poder Judiciário, com a função meramente de diminuir o número de demandas existentes,

atuação conjunta de todos os envolvidos. Necessita-se de tempo razoável, cuidado e principalmente independência na realização dos atos nas sessões. Só assim é que se possibilitará um resultado proveitoso no procedimento, independentemente se for judicial ou não.

Com relação ao dispositivo 26 da Lei 13.140/15, é dito que os disputantes deverão ser assistidos por advogados ou defensores públicos, assegurando aos que comprovem carência de recursos, a atuação da Defensoria Pública, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo. Quanto ao falado, embora se perdure a ideia de dever/obrigação de representação constituída na pessoa do advogado ou defensor público, Fabiana Spengler (2017, p.187) relata que a previsão normativa é interessante, pois traz segurança e tranquilidade aos mediandos de que seus direitos estão assegurados. No entanto, salienta é que o protagonismo de atuação deve ser dos mediandos, devendo o advogado, dessa forma, possuir um papel secundário.

No que diz respeito à petição inicial preencher os requisitos essenciais e não ser o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designar audiência de mediação, nos termos do dispositivo 27 da Lei 13.140/15, duas considerações merecem ser expostas, tomando por base os comentários de Fernanda Tartuce (2015, p.269-270) e Fabiana Marion Spengler (2017, p.187).

A primeira é que não deveria ser utilizada a expressão “audiência”, já que esta é considerada um ato processual solene realizado na sede do juízo que se presta para que o magistrado tenha a possibilidade de colher provas, ouvir os procuradores das partes e proferir sua decisão. Já a “sessão” ou “reunião” de mediação é coordenada por um mediador e não obedece a ritos processuais tão rígidos quanto aplicados aos processos contenciosos da jurisdição, possuindo características próprias e indispensáveis ao procedimento, como é o caso da informalidade, por exemplo.

A segunda diz respeito ao fato de a mediação ser um procedimento voluntário, ao qual as partes aderem porque acreditam no processo e porque atribuem ao mediador competência para ajudá-las a lidar com o conflito. Dessa forma, não se torna interessante fazer imposições, mas sim fomentar o

procedimento, deixando de obrigar que as pessoas compareçam involuntariamente a mediação.

E por último, a Lei 13.140/15 se preocupou em estipular um prazo pelo qual o procedimento de mediação judicial deverá ser concluído, sendo este em até sessenta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo, requererem sua prorrogação, nos termos do artigo 28. Nesse sentido, relatam Hale, Pinho e Cabral (2015, p.183):

A princípio, o prazo de 60 dias nos parece razoável. Todavia, reconhecemos que a mediação comporta uma gama de matérias a serem examinadas, variando a sua complexidade e, portanto, o tempo necessário para que o acordo possa ser alcançado. A personalidade e os ânimos das partes, bem como o grau de esgarçamento das relações entre elas, também influem no prazo necessário para que o mediador possa desarmá-las e ajudar a estabelecer um ambiente construtivo de diálogo.

Compreende-se, dessa forma, que apesar do prazo expresso poder se mostrar inflexível e muitas vezes insuficiente para tratar o litígio de forma proveitosa, existe a possibilidade de prorrogação do prazo, no entanto, somente com a aceitação de ambos os litigantes. Destarte, caso a problemática requeira uma atuação mais complexa e detalhada, além de um maior tempo para se trabalhar o conflito, porém nenhuma ou somente uma das partes deseje o prolongamento do período, não será permitida, nos termos da lei, a elasticidade do tempo, o que contribui para dificultar a solução pertinente do problema.