CAPÍTULO V – SÍNTESE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2 Considerações finais
Esta pesquisa revelou que é possível trabalhar com projetos de aprendizagem, pois eles fazem com que os estudantes adquiram uma progressiva autonomia em função da ação que lhes é possibilitada.
Piaget nos lembra o tempo todo que o aluno aprende através da sua ação. Por isso, considero que este aspecto é relevante, pois a flexibilidade mostrou- se um fator possibilitador da ação dos alunos e a sua imersão nos diferentes espaços da escola a fim de atender ao que o estudante desejava pesquisar. No entanto, esta flexibilidade não será um fator suficiente se os professores que atuarem mais diretamente com o aluno, não tiverem uma postura condizente com a dinâmica que se evidencia no trabalho com os projetos de aprendizagem. Do mesmo modo, há que se reconhecer que esta mudança não acontece de uma hora para outra, já que os
educadores de um modo geral também necessitam, assim como os alunos, de um tempo para se apropriar das mudanças e reformular o seu fazer pedagógico.
Observa-se que a grande preocupação dos educadores está voltada para o cumprimento dos conteúdos. Porém, o fato do aluno reter os conteúdos que lhes são transmitidos pelo professor, não significa, na concepção deste estudo, que o estudante apresente condutas cognitivas que reflitam a sua autonomia e criatividade.
As práticas dos professores calcadas na transmissão de informações aliadas à forma tradicional de encarar os conteúdos, priorizando-os, constituem-se em posturas que não condizem com a possibilidade do aluno alcançar a sua autonomia e criatividade.
O trabalho com projetos de aprendizagem vem sinalizando isto na medida em que se observa que é a postura do professor, ao se colocar como parceiro e orientador do aluno, que faz com que este tenha independência para fazer as suas escolhas de forma refletida e seja capaz de inovar.
Do mesmo modo, a postura de orientador do processo é facilitada quando o professor adota a prática do trabalho colaborativo, pois se verifica que é através deste que o aluno consegue agir com mais liberdade e as trocas se efetivam.
Assim, um trabalho que possibilite a imersão dos estudantes em diferentes ambientes pode contribuir, não somente para a colaboração, como também para o desenvolvimento da autonomia. A idéia de um processo de aprendizagem onde o sujeito interage com o meio de forma dialética, pode ser vista a partir do trabalho com os projetos de aprendizagem. Isto aconteceu no decorrer deste trabalho.
A pesquisa mostrou que as posturas tradicionais dos professores também se refletem no uso da tecnologia.
Considera-se que a tecnologia não pode ser encarada como algo que se ensina. Apropriamos-nos dela à medida que as necessidades vão surgindo e que vamos agindo em função das mesmas. Por isso, o trabalho com projetos de aprendizagem também se mostra como uma proposta interessante, pois no momento em que os alunos têm autonomia para fazer e realizar, a apropriação da tecnologia acontece de forma natural no decorrer do processo.
Portanto, é fundamental que o professor tenha esta compreensão e reflita constantemente sobre a sua prática de modo a criar situações que possibilitem que o aluno crie, colabore e se torne um indivíduo autônomo.
Diante do exposto, conclui-se que as posturas dos professores podem influenciar as condutas cognitivas dos estudantes.
A pesquisa revelou que as posturas transformadoras dos professores acarretam condutas cognitivas igualmente transformadoras por parte dos alunos. Do mesmo modo, as posturas tradicionais se traduzem em condutas cognitivas correspondentes.
Acredita-se que esta contribuição seja relevante para valorizar e introduzir, cada vez mais, a proposta de trabalho com os projetos de aprendizagem como uma alternativa interessante para desenvolver a criatividade, a colaboração e a autonomia e propiciar a apropriação das tecnologias por parte dos alunos.
A pesquisa conseguiu alcançar os objetivos respondendo ao problema proposto, na medida em que se pode verificar que o trabalho com projetos de aprendizagem, dentro da perspectiva de integração dos ambientes escolares é possível e promove a autonomia, a colaboração e a criatividade. No entanto, para que isto aconteça é fundamental que as mudanças nas concepções tradicionais dos
professores também ocorram fazendo com que estes adotem posturas transformadoras.
Esta é, na minha opinião, uma das principais limitações para a implantação desta proposta. Porém, a forma de utilização dos espaços e a compartimentalização das disciplinas em tempos de aula se constituem igualmente em entraves para a realização do projeto porque impedem que os professores consigam ter uma visão global dos conteúdos e os afastam do trabalho colaborativo que deveria acontecer na comunidade escolar. Estes são, portanto, os principais entraves que dificultam a implementação de uma proposta inovadora como a dos projetos de aprendizagem.
Apesar das dificuldades apontadas e de ainda termos no Município do Rio de Janeiro poucas experiências dentro desta proposta, acredita-se que o trabalho com projetos de aprendizagem é viável.
Contudo, os resultados obtidos com esta pesquisa se constituem numa pequena semente, porém fecunda, com grandes possibilidades de vir a florescer, frutificar e se espalhar pelos espaços escolares através das oportunidades de disseminação do trabalho nas capacitações de professores nos Núcleos de Tecnologia Educacional do Rio de Janeiro e nas visitas da equipe às escolas da rede municipal, em oficinas e seminários promovidos pela Divisão de Mídia Educação da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e na sua divulgação através dos canais existentes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, F. J. & FONSECA JUNIOR, F. M. Projetos e Ambientes inovadores. Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED/ Proinfo – Ministério da Educação, 2000
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Prática pedagógica e formação de professores com projetos: articulação entre conhecimentos, tecnologias e mídias. Boletim Salto para o futuro. Série Pedagogia de projetos e integração de mídias, Tv Escola. Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED. Ministério de Educação, 2003
ASSMAN, Hugo. Reencantar a educação : Rumo à sociedade aprendente. Vozes, 1999. BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2003
BOGDAN, Roberto C., BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação. Portugal: Porto Editora LDA, 1994.
CASTRO, Amélia Domingues de, CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (Org). Ensinar a ensinar: Didática para a Escola Fundamental e Média. Cap.2. p.33 a 51 e Cap. 7 p. 125 a 139. São Paulo: Pioneira Thompsom Learning, 2002.
CHAVES, Eduardo O. C. Tecnologia e Educação. Coleção Informática para a mudança na Educação. Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED/Proinfo – Ministério da Educação, 2000.
COULON, Alain. Etnometodologia e Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1995(p.118- 146/cap.4,5,6)
DEMO, Pedro. Conhecer & Aprender, Sabedoria dos limites e desafios. São Paulo: Artes Médicas, 2000.
Diários. Projetos de Trabalho. Cadernos da TV Escola. PCN na escola. Nº 3 Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED. Ministério da Educação e do Desporto, 1998
FAGUNDES, Lea da Cruz, SATO, Luciane Sayuri, MAÇADA, Débora Laurindo. Aprendizes do futuro: as inovações começaram! Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED/ Proinfo – Ministério da Educação, 2000
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 37ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1970. GOLDBERG, Míriam. A arte de pesquisar 6a Ed., Rio de Janeiro: Record, 2002.
LA TAILLE, Yves de. (Org) Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
MONTOYA, Adrian Oscar Dongo. Piaget e a criança favelada: epistemologia genética, diagnóstico e soluções. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
MORAN, José Manuel. MASETTI, Marcos T. BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação pedagógica. Capítulo 2 Campinas, SP: Papirus, 2000
______. José Manuel. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento. Revista Tecnologia Educacional. P.25-31 – v. 25 (132/133) Set/Out/Nov/Dez, 1996. PARRAT-DAYAN, Silvia, TRYPHON, Anastásia. (Org) Sobre a Pedagogia / Jean Piaget: Textos inéditos; Introdução. Tradução de Cláudia Berliner. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
PERRENOUD, Philippe, Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação?Tradução de Ivete Braga. 13.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996.
______. Jean. 1896-1980. Seis estudos de Psicologia/ Jean Piaget: tradução Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva – 24 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
______. Jean. Criatividade. In VASCONCELLOS, Mário Sérgio (Org). Criatividade: Psicologia, Educação e Conhecimento do Novo. São Paulo: Moderna, 2001. p. 11-20. ______. Jean. O trabalho por equipes na escola. Notas psicológicas. Tradução de Luiz G. Fieury in Revista de Educação. São Paulo: set/ dez 1936.
ROMEIRO, Alice, AMARAL, Ana Lúcia, PONCE, Jurema Branca et all. Um olhar sobre a escola. Um olhar sobre os projetos de trabalho. Salto para o futuro: Série de Estudos de Educação à Distância. Brasília: Secretaria de Educação à Distância – SEED. Ministério de Educação, 2000
VÍDEOS
Piaget. Série: Nós da escola - Programa 14 RJ: MULTIRIO
Dominique Colinvaux. Série: Educação e Trabalho – Programa 15 RJ: MULTIRIO As teorias e a Pedagogia. Série: Escola Tamanho do Mundo – Programa 03 RJ: MULTIRIO
WEBGRAFIA
Paradigma Epistemológico e o Ambiente de Aprendizagem Logo disponível em http://www.nuted.edu.ufrgs.br/~rosane/mead/metodo.htm acessado em 29/07/02 PIAGET, Jean. A representação do mundo na criança. Disponível em:
http://e-proinfo.proinfo.mec.gov.br/Upload/ReposProf/Tur00195/img_upload/ Acessado em 22/10/2002
Fundamentação teórica – Parte 1: As teorias cognitivas e os conceitos de autonomia e cooperação disponível em http://www.eps.ufsc.br/teses96/edla/index acessado em 08/12/2004
Cooperação e aprendizagem. Cadernos de Formação Acime Nº 3 disponível em http://www.acime.gov.pt/docs/Publicacoes/Entreculturas/Coop_Apredizagem.pdf Acessado em 01/05/2005
Páginas dos alunos dos grupos pesquisados:
http://www.geocities.com/malletmonica/index.html
http://www.geocities.com/malletmonica/trabalhoanimais.htm http://www.geocities.com/malletmonica/therezinha/index.html
DOCUMENTOS CONSULTADOS
MULTIEDUCAÇÃO: Núcleo Curricular Básico. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. SME/RJ: 1996
SME RJ. Diretrizes de Informática Educativa da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1995
SME RJ. Departamento Geral de Educação. Divisão de Mídia-educação, Resolução SME Nº 560, de 11 de Janeiro de 1996. SALA DE LEITURA Retrospectiva Legal. RJ: Setembro/ 2001
SME RJ. Departamento Geral de Educação. Divisão de Mídia-educação. Organização e funcionamento dos laboratórios de Informática: Orientações Gerais. RJ: Outubro/2004 Lei 1934/96 de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira