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CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÒRICO

2.2 Os métodos

2.2.2 Projetos de aprendizagem

A grande maioria das metodologias educacionais, de acordo com Fagundes (2000), vem se mostrando ineficientes para desenvolver no aluno a capacidade de pensar, refletir e criar com autonomia soluções para enfrentar os problemas.

A autora mostra que a solução para resolver esse impasse se encontra na passagem de uma visão empirista, que prioriza o treino e a prática através do controle e da manipulação do comportamento do aprendiz, para uma visão construtivista de solução de problemas com ênfase na interatividade, na autonomia para formular questões, na busca de informações contextualizadas, na comprovação experimental e na análise crítica.

O advento da Informática e da Telemática, segundo Fagundes(2000), pode trazer possibilidades de enriquecimento aos ambientes de aprendizagem e a criação de comunidades de aprendizagem e desenvolvimento. Para ela, o Brasil apresenta condições favoráveis para esse trabalho uma vez que, em primeiro lugar, existe uma política de garantir o acesso da escola pública à Informática e, em segundo lugar, há uma proposta no sentido de que os professores utilizem esses recursos calcados em modelos construtivistas.

Acredita-se que o trabalho com projetos pode possibilitar o atendimento às necessidades e interesses dos estudantes, viabilizar o desenvolvimento da capacidade de pensar e o alcance da autonomia, bem como desenvolver nos estudantes a capacidade de

investigação científica tão necessária nos dias de hoje em virtude da sua proposta de investigação e pesquisa.

Fagundes (2000) declara que a atividade construtiva de elaborar projetos se constitui numa etapa fundamental de toda pesquisa que pode conduzir a uma série de interrogações acerca do mundo que nos rodeia. Sua proposta evidencia a diferença entre “ensino por projetos” e “aprendizagem por projetos”.

Pesquisas relativas ao desenvolvimento da inteligência e ao processo de aprendizagem, na área da Psicologia Genética, revelam que pode haver ensino sem aprendizagem; que aprendizagem latu sensu se confunde com desenvolvimento e que este resulta em atividade operatória do sujeito que, em interação com o meio, com outros sujeitos e com os objetos, constrói conhecimento.

O ensino por projetos coloca em destaque a atuação do professor, pois ele parte essencialmente deste, ou seja, depende das suas decisões. Nesse caso, considera-se como autor do projeto, o próprio professor.

A aprendizagem por projeto traz à tona a idéia de cooperação e de autoria, uma vez que alunos e professores individualmente e, ao mesmo tempo em parceria, podem exercer esta função.

O contexto em que se insere o ensino por projetos advém de critérios externos e formais, enquanto que, na aprendizagem por projetos é fundamental que a questão a ser pesquisada parta da curiosidade dos alunos. Logo, o seu foco se dá na motivação intrínseca do indivíduo.

Fagundes (2000) considera que o ser humano tem como característica natural a indagação e, sendo assim, a criança tão logo aprende a falar, começa a fazer inúmeras perguntas aos adultos demonstrando a sua curiosidade e capacidade de pensar.

Um projeto para aprender tem sua origem nos conflitos e nas perturbações do sistema de significações do indivíduo. Esses conflitos são inconscientes a princípio, porém, são acessados através do levantamento de questões feitas pelo próprio estudante.

A autora destaca que o aluno se torna capaz de formular e equacionar problemas na medida em que ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas.

Desse modo, segundo Fagundes (2000), é fundamental que na construção de um projeto que considera as necessidades do aluno, se respeite e oriente a sua autonomia a fim de que ele possa decidir os critérios de escolha de um determinado contexto; buscar, localizar, selecionar e recolher informações; definir, escolher e inventar procedimentos para identificar a relevância das informações; organizar e comunicar o conhecimento construído.

Por outro lado, se os projetos de aprendizagem têm como autor o próprio aluno, é importante considerar que nem todos pensam da mesma forma, assim como não têm os mesmos interesses, necessidades e condições. Desse modo, os projetos de aprendizagem tendem a se diversificar numa turma. Isso acarreta a necessidade de se ter na escola um currículo por projetos que, por sua vez, faz com que os alunos não precisem estudar os mesmos conteúdos ao mesmo tempo. Contudo, de acordo com Fagundes (2000), o que pode garantir o cumprimento do conteúdo curricular é a característica interdisciplinar do projeto que faz com que ele atenda a essa necessidade através da transversalidade dos temas.

No desenvolvimento dos projetos de aprendizagem, Fagundes (2000) também destaca a importância da interatividade proporcionada pelos meios telemáticos para que o professor possa gerenciar espaços e tempos diferentes mantendo a identidade dos sujeitos na interação, seja ela coletiva presencial ou à distância, pois, segundo ela,

se não é possível trazer toda a vida para a escola, é possível enriquecer o seu espaço com objetos digitais.

De acordo com Fagundes, nos projetos de aprendizagem:

A proposta é aprender conteúdos, por meio de procedimentos que desenvolvam a própria capacidade de continuar aprendendo, num processo construtivo e simultâneo de questionar-se, encontrar certezas e reconstruí-las em novas certezas. Isto quer dizer: formular problemas, encontrar soluções que suportem a formulação de novos e mais complexos problemas. Ao mesmo tempo, este processo compreende o desenvolvimento continuado de novas competências em níveis mais avançados, seja do quadro conceitual do sujeito, de seus sistemas lógicos, seja de seus sistemas de valores e de suas condições de tomada de consciência..(FAGUNDES, 2000, p.24)

Os projetos de aprendizagem se iniciam pelo levantamento das certezas provisórias que são assim consideradas até que um elemento novo surja para ser assimilado através de um processo de regulação. Este processo se destina a restaurar no indivíduo o equilíbrio que nele se desencadeia. Assim sendo, para que um novo conhecimento possa ser construído, ou para que o anterior seja melhorado, expandido, aprofundado é necessário que o processo de regulação compense as insuficiências do sistema assimilador.

Portanto, admite-se que a intenção do projeto de aprendizagem é desequilibrar a estrutura cognitiva do sujeito para, posteriormente, dar suporte para a sua reconstrução.

Diante disso, as certezas provisórias envolvem as concepções do momento e podem levar o individuo a um novo equilíbrio, pois, o seu conhecimento aumenta e melhora em função da assimilação de uma novidade e, portanto, do processo de assimilação do sujeito.

Ao se levantar as certezas provisórias, os alunos identificam as suas dúvidas que são consideradas por Fagundes (2000) como temporárias, pois, ao elaborar dúvidas

a partir das certezas iniciais, o estudante pode se dar conta de que não tinha tanta certeza assim.

Da mesma forma, ao elaborar as questões que quer pesquisar, pode perceber que algumas de suas hipóteses (certezas provisórias) são concepções que já traz de sua história de vida.

Desse modo, pode-se dizer que esse processo de ir e vir é dialético no sentido de que suas certezas e dúvidas podem sofrer constantes modificações.

Em resumo, o conhecimento novo é produto de atividade intencional, interatividade cognitiva, interação entre os parceiros pensantes, trocas afetivas, investimento de interesses e valores. (Fagundes, 2000)

A escolha de um tema, a formulação de um problema e o seu desdobramento em questões consiste na problematização que é uma outra etapa importante que envolve o trabalho com projetos de aprendizagem, pois, a partir disso, o aluno constrói um quadro de referências que define: O que ele já sabe sobre a questão? O que ele deseja saber? Quais são as suas certezas? Quais são as suas dúvidas? Como se pode resolver os problemas que está levantando? O que buscar? Onde buscar? Como buscar?

Assim, na medida em que o aluno vai pesquisando e se envolvendo no trabalho, também elabora o seu registro, que pode ser feito na forma de portfólio, onde o estudante apresenta as suas contribuições e descobertas, bem como, as reflexões realizadas pelo aluno e pelo grupo.

Essa nova visão de projetos para aprender exime o professor da responsabilidade de ter que conhecer tudo.

Para ilustrar esta mudança de postura do professor no trabalho com projetos de aprendizagem, lembramos Freire (1996, p.27-28) ao afirmar que: Só na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar

certo. E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiadamente certos de nossas certezas.

Portanto, nesse paradigma de construção do conhecimento, o professor necessita assumir o papel de orientador e articulador adotando uma postura de intervenção construtivista que, de acordo com Fagundes, consiste em:

[...] apresentar situações de desafio para perturbar as certezas dos alunos, para provocar descentrações, para que eles sintam necessidade de descrever e argumentar, para dar-se conta de como pensam e cheguem a coordenar o seu próprio ponto de vista com o de outros. (FAGUNDES, 2000)

Isso equivale a dizer que cabe ao professor a função de ativação da aprendizagem que implica em promover a auto-estima e a alegria de conviver e cooperar e desenvolver um clima de respeito e auto-respeito, estimulando a expressão individual, promovendo a definição compartilhada de parâmetros nas relações, despertando a tomada de consciência, a busca pela pesquisa e a vivência de valores de ordem superior.

Sendo assim, o professor precisa ter habilidade para orientar os projetos de investigação dos alunos, estimulando e auxiliando na busca, organização e seleção de informações.

Contudo, para que um projeto de aprendizagem possa alcançar êxito, é fundamental que professor e alunos trabalhem como parceiros numa relação baseada na troca.