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CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÒRICO

2.2 Os métodos

2.2.1 Os métodos ativos

Apesar de não ser o foco central da obra de Piaget, segundo Parrat-Dayan e Tryphon (1998), a reflexão epistemológica do autor exerceu influência na questão pedagógica.

Embora as pesquisas psicológicas acerca do desenvolvimento da inteligência e das estruturas cognitivas tenham progredido, Piaget afirma que elas permanecem distribuídas em três direções cujos significados são bastante diferentes no que diz respeito às aplicações pedagógicas. Uma delas continua orientada para um associacionismo empirista, reduzindo o conhecimento a uma aquisição exógena, a partir da experiência ou das exposições verbais ou audiovisuais dirigidas pelo adulto. A segunda influenciada pelo lingüista Chomsky5, se caracteriza por um retorno inesperado

aos fatores de inatismo e maturação interna. Desse modo, a educação se resumiria em grande parte no exercício de uma “razão” já preformada de saída (endógena). A terceira direção, em cuja posição Piaget se encaixa, é de natureza construtivista, isto é, ocorre por contínuas ultrapassagens das elaborações sucessivas. Do ponto de vista pedagógico, essa idéia nos leva a dar toda ênfase às atividades que favoreçam a espontaneidade da criança. (PIAGET, 1996)

Apesar do inatismo e do empirismo estar em oposição, Becker (2003) afirma que ambos têm em comum a passividade do sujeito. Enquanto isso, a epistemologia genética situa na ação do sujeito o núcleo a partir do qual se originam as sucessivas estruturas cognitivas.

Considera-se que o papel da educação não pode se resumir à simples instrução fazendo com que os alunos se tornem receptáculos de conhecimento. Por esse motivo, para Piaget (1996) é necessário reajustar as formações escolares às exigências da sociedade a partir da revisão dos métodos e do espírito de todo o ensino em todos os níveis.

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Noan Chomsky nasceu na Filadélfia de famíla judia ucraniana. Desde cedo se aproximou das idéias libertárias de pensadores judeus como Martin Buber, Gershom Sholene da tradição dos imigrantes anarco-sindicalistas. Professor do MIT(Massachussetts Institute of Tecnology, aos 30 anos já era internacionalmente famoso pelas suas pesquisas em lingüística e suas teorias revolucionárias sobre estrutura da linguagem: a gramática generativa.

Dessa forma, segundo Parrat-Dayan e Tryphon (1998) Piaget considerou a importância dos métodos da escola ativa, visto que estes destacam os princípios de liberdade, de atividade e de interesse da criança com o objetivo de favorecer seu desenvolvimento natural através do trabalho em grupo.

O trabalho por equipes conjuga, segundo Piaget (1936), os fatores sociológicos característicos do mundo adulto com os aspectos psicológicos presentes nas crianças e adolescentes.

O método do trabalho por equipes nasceu, por um lado, das ideologias políticas que levaram os educadores a introduzir a vida social em classe e, por outro, da concordância dos mesmos baseada nos dados da psicologia infantil de que a criança, a partir de certo grau de desenvolvimento, tende à vida coletiva.

Embora a concepção tradicional do papel da escola delegasse a esta a função de abastecer a memória do aluno considerando sua estrutura mental idêntica a do homem feito, três observações acabaram por impor a necessidade de colaboração dos alunos entre si.

Inicialmente percebeu-se que o verbalismo concebido como o principal instrumento educativo, constitui-se no grande obstáculo à compreensão da criança. Daí a dificuldade do professor fazer-se compreender.

Assim sendo, a recepção passiva supõe o isolamento intelectual do aluno, ao passo que a pesquisa acarreta a colaboração e o intercâmbio.

Outro ponto importante a considerar é que se observa que a razão, longe de ser inata no indivíduo, se elabora pouco a pouco, bem como, implica um elemento social de cooperação.

Outra questão relevante é a descoberta de que a vida do grupo se constitui no meio natural da atividade intelectual. Neste caso, a cooperação é o instrumento necessário para a formação do pensamento racional.

Portanto, o trabalho por equipes possui três características essenciais. Em primeiro lugar, o indivíduo em sua perspectiva inicial de natureza egocêntrica, só se descobre quando aprende a conhecer os outros. Desse modo, a formação da personalidade a partir da tomada de consciência do pensamento próprio se constitui no primeiro efeito da cooperação.

Em segundo lugar, a cooperação é necessária para conduzir o indivíduo à objetividade, pois esta supõe a coordenação das perspectivas.

Em terceiro lugar, a cooperação é fonte de regras para o pensamento e estas não são inatas.

Portanto, segundo Piaget (1936), parece-nos que a cooperação é verdadeiramente criadora ou constitui a condição indispensável para a completa formação da razão.

O autor afirma que o trabalho por equipes é essencialmente ativo, isto é, fundado não em pressões exteriores, mas sim nos interesses intrínsecos ou que recebem o inteiro assentimento interior da personalidade. (PIAGET, 1936)

Segundo o autor, a utilização dos métodos ativos, com especial destaque à pesquisa espontânea da criança ou do adolescente de modo a exigir que toda verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou pelo menos reconstruída e não simplesmente transmitida, constitui-se de suma importância. Piaget acrescenta que, as experiências realizadas até agora nesse sentido, revelam, por um lado, o receio de que se anule o papel do professor e, por outro, para que a experiência tenha êxito, talvez seja necessário deixar os alunos totalmente livres para trabalhar ou brincar de acordo com os

seus desejos. Contudo, ele reforça que o educador continua indispensável, a título de animador, para criar situações e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra-exemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções demasiado apressadas. (PIAGET, 1996)

Em resumo:

(...) não seria possível constituir, com efeito, uma atividade intelectual verdadeira, baseada em ações experimentais e pesquisas espontâneas, sem uma livre colaboração dos indivíduos, isto é, dos próprios alunos entre si, e não apenas entre professor e aluno. (PIAGET, 1996, p.15)

O autor coloca que o princípio fundamental dos métodos ativos só se pode beneficiar com a História das Ciências que, desse modo, assim se resume: [...] compreender é inventar, ou reconstruir através da reinvenção. Por isso, ele considera que, se queremos moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir, é necessário priorizar as suas necessidades. (PIAGET,1996, p.17)

Acredita-se que o educador consciente do seu papel orientador e estimulador tem plenas condições de perceber as necessidades dos seus alunos favorecendo assim o seu desabrochar através da disponibilização dos meios necessários que tornem o ambiente de aprendizagem propício a investigação pela ação do educando.

Piaget acrescenta que conquistar por si mesmo um certo saber, com a realização de pesquisas livres, e por meio de um esforço espontâneo levará o aluno a reter mais o conhecimento, possibilitando, sobretudo, que ele adquira um método que lhe será útil por toda a vida. Isso aumentará permanentemente a sua curiosidade e fará com que a memória deixe de prevalecer sobre o raciocínio levando-o a aprender a fazer por si mesmo e assim construir livremente suas próprias noções. (PIAGET,1996, p.54)

La Taille evidencia isso ao afirmar que quanto melhor um método de ensino, mais ele se afasta de um livro de “receitas”, de regras simples e de aplicação mecânica,

e mais, ele exige do professor criatividade e autonomia. (LA TAILLE apud BECKER, 2003, p. V)

Acredita-se que o professor terá oportunidade de se tornar cada vez mais criativo e dinâmico, na medida em que ele oferecer ao aluno condições de se desenvolver de forma autônoma, pois ambos estarão contagiados por esse ambiente onde se pode experimentar livremente.

Desse modo, considera-se relevante a idéia da conquista do processo de aprendizagem pelo próprio aluno, uma vez que esta pode se refletir por toda a sua vida, de tal forma, que ele consiga buscar os seus próprios caminhos na direção do conhecimento seja qual for a situação que se lhe apresente, através do livre exercício da sua autonomia.

No entanto, pode-se constatar o quanto o professor tem dificuldade em permitir que o aluno extravase os seus anseios e motivações, de tal modo, que ele tenha plena liberdade de experimentar a fim de caminhar no sentido da construção do seu conhecimento.

Isso ocorre porque, conforme nos diz Piaget (1996), nada é mais difícil para o adulto do que saber apelar para a atividade real e espontânea da criança ou do adolescente. Porém, ele reforça que somente essa atividade, orientada e incessantemente estimulada pelo professor, mas permanecendo livre nas experiências, tentativas e até erros, pode conduzir à autonomia intelectual.

Contudo, Piaget afirma que:

Qualquer que seja o domínio em que se estenda a educação moral, o método ativo busca sempre: 1º _ não impor pela autoridade aquilo que a criança possa descobrir por si mesma; 2º _ em conseqüência, criar um meio social especificamente infantil no qual a criança possa fazer as experiências desejadas. (PIAGET, 1896-1980 apud PARRAT-DAYAN & TRYPHON, 1998, p. 46)

Resumindo, entende-se que os métodos ativos permitem que o sujeito desenvolva a cooperação e que o indivíduo estando imerso num ambiente que lhe possibilite fazer experimentações, venha a alcançar a sua autonomia.