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CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÒRICO

2.3 Professor e aluno: uma interação possível

Ao afirmar: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo”, Freire evidencia a importância de se considerar o professor e o aluno como sujeitos do processo educativo porque, segundo ele, o educador já não é o que apenas educa, mas, enquanto educa, também é

educado através do diálogo com o aluno que, ao ser educado, também educa. (FREIRE, 1970)

Portanto, para Freire (1996), “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Assim, para o autor, “o pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados pela realidade”. (FREIRE, 1970)

Esta idéia denota que a interação entre professor e aluno é fundamental. Porém, ao se analisar estas relações na escola, verifica-se que elas têm sido, segundo Freire (1970), fundamentalmente narradoras, pois implicam de um lado, um sujeito – o narrador, e do outro, objetos pacientes, ouvintes – os educandos. Segundo ele, esta característica dissertadora evidencia a “sonoridade” da palavra e não a sua força transformadora. E acrescenta que esta é uma realidade preocupante devido à sua configuração estática, compartimentada e muitas vezes alheia à experiência existencial dos educandos preenchida por conteúdos desconectados da realidade em que estão inseridos.

A esta educação essencialmente marcada pelo ato de depositar, Freire (1970) denominou de educação bancária, cuja visão distorcida anula a criatividade, a transformação e o saber que passa a ser considerado como uma “doação” tornando o educador o depositante e os educandos os depositários.

Em contraposição a esta idéia, Freire (1970) destaca que o educador humanista, revolucionário, identifica sua ação com a dos educandos através de uma reflexão que parte dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Esta é para Freire, a educação que ele denominou de problematizadora cujo ato cognoscente coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos, afirmando assim a dialogicidade entre eles.

Numa concepção problematizadora os educandos captam o desafio como um problema em conexão com outros, daí sua compreensão tornar-se cada vez mais crítica.

Nesse sentido, a tendência é que educador e educando estabeleçam uma forma autêntica de pensar e atuar, sem dicotomizar este pensar da ação.

Portanto, Freire afirma que:

O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 1996, p.86)

No entanto, o autor também acrescenta que:

Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele. (FREIRE, 1996, p.113)

Citando Sócrates6 nos Diálogos de Platão7, Chaves (2000) lembra que este

pensador ilustra a tese de que sua função não era ensinar, mas levar as pessoas a descobrir as coisas por si próprias. Segundo Chaves, o que Sócrates propôs foi que o professor seja um facilitador da aprendizagem do aluno e como tal, ele nunca vai dar a solução de um problema que o aluno, por si só, pode resolver.

Para Becker (2003), o maior desafio a ser vencido pelo mestre não é ensinar o aluno, mas aprender o deixar-aprender. E acrescenta que se o professor não tiver clareza de que o indivíduo aprende a partir de esquemas ou estruturas apropriadas, continuará insistindo na importância que o ensino tem em si, independentemente da aprendizagem. Desse modo, por falta de instância crítica à altura da nova prática, o

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Sócrates Nasceu em Atenas em 470 a.C e dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico. É considerado um marco divisório na filosofia grega por sua importância.

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Platão era discípulo de Sócrates e escrevia quase sempre em diálogos. Os Diálogos de Platão estão cheios de referências à competição dos jovens no atletismo.

professor não consegue dialetizar a relação ensino-aprendizagem em cujo processo está imerso.

Destaca-se que a função do professor é a de criar situações experimentais que leve o seu aluno a invenção. Sendo assim, o ensino precisa ser repensado com vistas a esta nova concepção de aprendizagem.

Por isso, o professor precisa adotar uma prática reflexiva e fundamentada em teorias que venham a auxiliá-lo a compreender o processo de aprendizagem. Daí a necessidade do seu aprimoramento constante.

Porém, esta prática reflexiva envolve mudanças de paradigma e a adoção de posturas condizentes com ela.

Por outro lado, observa-se que para se ter um aluno crítico e questionador é necessário que o professor também se coloque desta forma a fim de que ele se aproxime mais do educando e seja capaz de torná-lo um verdadeiro cidadão. Nesse caso, o papel do professor deve ser o de estimular os educandos a pensar, criticar e analisar o que lhe é apresentado possibilitando que ele aprenda segundo as suas próprias disposições.

Nesse sentido, para alcançar êxito, o professor precisa, antes de tudo, assumir o papel de orientador da aprendizagem e de parceiro do aluno. Por isso, entende-se que o seu maior talento não está no domínio de um conteúdo, mas sim na sua capacidade de interação com o educando.

Além disso, Moran destaca que, na relação professor/ aluno, a questão afetiva se constitui num componente básico do conhecimento, pois, para ele:

O afetivo se manifesta num clima de acolhimento, de empatia, inclinação, desejo, gosto, paixão, de ternura, da compreensão para consigo mesmo, para com os outros e para com o objeto do conhecimento. O afetivo dinamiza as interações, as trocas, a busca, os resultados. Facilita a comunicação, toca os participantes, promove a união. (MORAN, 1996, p.27)

Após vários estudos, McDermott8, concluiu que as aprendizagens que obtêm

sucesso são aquelas que se apóiam nas relações de confiança que o professor vai conseguindo estabelecer com os alunos.

Sendo assim, acredita-se que, para que o aluno aprenda é preciso que o educador se conscientize da necessidade de um envolvimento afetivo com o educando a fim de que este se sinta confiante e possa perceber o professor como um parceiro no processo de aprendizagem.

Contudo, Piaget (1996) entende que a questão primordial de todas as reformas pedagógicas em perspectiva está vinculada à preparação dos professores através da valorização ou da revalorização do corpo docente primário e secundário, bem como, da sua formação intelectual e moral.