• Nenhum resultado encontrado

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A transferência de tecnologia formalizada das universidades públicas no Estado de São Paulo tem crescido em todos os casos. Isso ficou claro a partir do desempenho em patenteamento e comercialização observados ao longo da descrição de cada universidade. Obviamente que qualquer variação no número de patentes depositadas em um ano específico não representa retrocesso na magnitude desse movimento, tendo em vista que o surgimento de inventos a serem patenteados não é algo que se possa prever ou mesmo planejar de forma objetiva. Ademais, em alguns casos, como o da USP, razões administrativas podem também gerar um estancamento momentâneo de depósitos, os quais são depositados nos anos subseqüentes.

Mais especificamente, as universidades estão se estruturando para uma gestão da propriedade intelectual mais adequada aos desafios da transferência de tecnologia. Neste sentido, a comercialização de tecnologias utilizando contratos que incluem a propriedade

intelectual mostrou-se presente na realidade dos ETT’s das universidades. Com exceção da Unesp, todas as universidades já possuem dados organizados acerca do tema e atendem a demanda acadêmica quanto à solicitação da proteção de tecnologias. Os ETT’s da USP e da Unicamp se mostraram mais estruturados em termos de pessoal, já os ETT’s da UFSCar e da Unifesp possuem uma estrutura mais enxuta tendo em vista serem universidades com um número menor de docentes/pesquisadores.

O caso da USP evidenciou uma disparidade em relação às outras universidades quanto à norma legal sobre propriedade intelectual. Com início desta prática em 1988, reza na USP a norma que assegura aos inventores e à USP responsabilidades mútuas sobre as patentes. Deste modo, os pesquisadores devem arcar com 50% dos custos do patenteamento e, por outro lado, terão direito a 50% dos benefícios resultantes da exploração de patentes. Entretanto, essa prática pode desestimular a iniciativa pelos pesquisadores quanto à proteção do conhecimento devido aos custos implicados. Quanto ao repasse dos proventos econômicos aos inventores, a Unifesp pratica 30% e as demais universidades praticam a proporção de 1/3, conforme consta na Lei de Inovação Federal como percentual máximo para este repasse.

Notadamente, foi observado em todos os casos que a elaboração e implementação de parcerias para a transferência de tecnologia envolvendo universidades e empresas têm experimentado algumas mudanças no sentido de valorizar devidamente o conhecimento gerado nas universidades por meio da formalização e remuneração às instituições acadêmicas. De outro lado, a profissionalização da gestão tecnológica nas universidades tem aumentado e o seu aprimoramento permanece como um desafio.

Essas transformações têm ocorrido desde um momento anterior à Lei de Inovação regulamentada em 2005, confirmando que o movimento do governo brasileiro em direção ao marco legal para a área de propriedade intelectual e transferência de tecnologia, a despeito de possíveis aspectos específicos, tem, como um todo, aderência à realidade das universidades públicas instaladas no Estado de São Paulo.

A Lei de Inovação foi indicada notadamente como tendo papel de auxílio na promoção da cultura de propriedade intelectual, com particular contribuição para o deflagrar de muitas potenciais cooperações com o setor produtivo que estavam, de certo modo, atravancadas pela falta de diretrizes internas às instituições. Desse contexto mais amplo, espera-se um incremento da comercialização de tecnologias das universidades que já se iniciou nos últimos 3 anos.

Tem-se como grande avanço o crescente uso pelas universidades de contratos com empresas, os quais prevêem remuneração pelo uso de quaisquer resultados do projeto e

não apenas de patentes. Isso ganha importância no contexto de uma situação contemporânea nos casos em que a empresa, por opção estratégica, pode não desejar o depósito da patente. Neste caso, qualquer uso de resultado do projeto deverá gerar royalties independentemente dos mesmos serem patenteados ou não.

Sob o ponto de vista do desempenho em proteção e transferência de tecnologia, desconsiderando as proporções de tamanho das comunidades acadêmicas, e considerando a experiência acumulada pela prática de transferência de tecnologia, a Unicamp é a instituição mais avançada no que se refere ao número de pedidos/patentes. Quanto à transferência dessas tecnologias, ela também se destaca com o maior número de contratos assinados. A USP manifestou grande reação ao contexto atual, vista a estruturação promovida em seu ETT, tendo também um estoque de pedidos/patentes significativo, porém com iniciativas de transferência de tecnologia mais recente.

A UFSCar demonstrou um grande salto nos últimos 3 anos quanto à estruturação e efetivação de registros de propriedade intelectual, tendo realizado 3 licenciamentos até o momento de uma carteira de patentes de aproximadamente 30 tecnologias. Esse índice de 10% remete aos verificados em universidades estadunidenses mais experientes nessa prática como a Universidade da Califórnia e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Entretanto, a escala do número de processos de proteção e de negociação entre essas instituições dos EUA e as instituições brasileiras são incomparáveis, seja no caso da UFSCar ou em todos os outros, reafirmando a incipiência dessa realidade no Brasil. Os dados de concentração de áreas no licenciamento e aplicação de recursos de royalties relatados por Graff, Heiman e Zilberman (2002) evidenciam a distância entre a experiência internacional de vanguarda em transferência de tecnologia para com as universidades estudadas.

A Unifesp tem levado a cabo iniciativas com foco no desenvolvimento de pesquisas conjuntas, sendo que na área médica os resultados da transferência de tecnologia tendem a ser maiores, porém em um prazo mais demorado. Por fim, a Unesp está estruturando seu ETT e buscando centralizar as informações e demandas de propriedade intelectual.

Concluindo, foram observados aspectos comuns entre os cinco casos das universidades no que tange aos desafios emergentes da intensificação da atividade de transferência de tecnologia. Em princípio, o aspecto da proteção do conhecimento está mais consolidado nas universidades, mesmo porque as ferramentas para sua gestão já estão mais difundidas. Podem ser destacados os seguintes desafios para todas as instituições estudadas:

• Proteção internacional da tecnologia: com o advento do mercado global e da existência de mercados promissores principalmente nos EUA, Europa e Japão, em muitos casos seria ideal a extensão da patente para esses territórios, porém não há recursos financeiros para tanto. As alternativas existentes são o pleito junto a agências de fomento e a realização de parcerias com empresas que arquem com os custos do patenteamento internacional;

• Quanto à gestão de recursos humanos, observa-se a necessidade de fixação de pessoal qualificado nos ETT’s, devido à escassez desse perfil de profissional e a alta rotatividade de mão-de-obra costumeiramente verificada;

• A morosidade dos trâmites internos às universidades mostrou-se como a mais recorrente queixa dos atores do processo de transferência de tecnologia. O desafio é sensibilizar os outros setores da universidade e promover uma reestruturação processual e jurídica para os casos de comercialização da propriedade intelectual; • A identificação de parceiros empresariais adequados para licenciamento de patentes

ou realização de P&D conjunto mostra-se uma tarefa para o ETT pouco desbravada, qual seja, a do marketing de tecnologia. Uma das alternativas é dar visibilidade para a tecnologia a fim de que empresas procurem o ETT; e

• A valoração de tecnologia, isto é, a mensuração econômica dos inputs (nesta caso capital financeiro e intelectual aplicados) de pesquisa, bem como de seus resultados necessita avançar em termos de metodologias mais confiáveis e objetivas a fim de permitir uma negociação mais profissional de tecnologias universitárias.

Ao final deste trabalho, cumpre dizer que seus resultados certamente contribuem para a formulação de estratégias de governo e institucionais no sentido de promover ações que desobstruam os gargalos identificados, bem como favoreçam o maior aproveitamento da pesquisa acadêmica para o desenvolvimento tecnológico brasileiro. Futuros estudos poderão analisar quaisquer dos aspectos dos desafios elencados acima, tendo como referência a teoria apresentada neste trabalho e os temas explorados durante a pesquisa de campo.