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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1.4 Dificuldades, fatores de apoio e discussões

Tomando como pressuposto que os três principais agentes envolvidos no processo de transferência de tecnologia foram: o inventor, o responsável pelo processo na Universidade e a empresa, os mesmos foram indagados acerca de elementos de destaque na cooperação U-E, procurando identificar dificuldades e fatores de apoio observados no processo particular do licenciamento de patente.

É pertinente destacar alguns aspectos-chave observados no processo de transferência de tecnologia da USP. Primeiramente, a disseminação da cultura de propriedade intelectual tem se mostrado lenta, principalmente devido ao fato de se tratar de uma instituição grande e de articulação pouco mais dificultada. Embora se conheça sobre a possibilidade de patenteamento, a preocupação com este assunto ainda é pequena, de acordo com a percepção dos entrevistados. No caso em específico, a aluna pesquisadora é que sugeriu, primeiramente, patentear a tecnologia e, em conjunto com a docente, procuraram o ETT.

Como forte fator de desestímulo, possivelmente, ampliando o foco para o conjunto dos relacionamentos com universidades, a empresa mencionou o longo prazo para assinatura de contrato. Conforme relato, iniciar uma parceria em que a negociação poderá se estender por 1 ou 2 anos milita contra a cooperação entre essas instituições, cabendo um

Empresa identifica pedido patente e solicita licença. Abertura de licitação pública. ETT- USP. Empresa vence licitação pública. Negociação de cláusulas contrato USP-Empresa. Celebração de contrato USP - Empresa de exploração de patente. Patenteamento ETT – USP. Geração de royalties para a universidade. Pesquisa USP. Geração de tecnologia Invento.

esforço por parte da universidade em minimizar a burocracia interna e equilibrar segurança jurídica e modelo de negócio. Adicionando a essa perspectiva, na visão da empresa, a definição de cláusulas propostas pelas universidades utilizam, de certa maneira, um pressuposto de fraude na relação, gerando morosidade nos trâmites necessários.

A Empresa A enfatizou que a qualidade do documento de patente depositado pela universidade ora em questão é excelente. A abrangência da proteção mencionada, a correta descrição das reivindicações do documento e a afinidade da linha de pesquisa, decididamente, conduziram a empresa a procurar a universidade e solicitar a licença da proteção intelectual e a aproximação formal com a USP.

Como fator de apoio a todo o processo foi incluído o fato de que, tecnicamente, os conhecimentos da empresa e da inventora da universidade eram bastante alinhados, sugerindo uma facilidade acerca da segurança do relacionamento tomado em seus aspectos de transparência e confiança no conteúdo das informações trocadas. Para a empresa foi muito boa a relação mantida com a universidade, tendo a mesma avaliado como uma “feliz coincidência” a universidade possuir know-how na mesma área técnica específica de interesse dela. Contudo, de forma genérica, a maturidade da relação entre empresa e universidade, conforme opinião da empresa, necessita avançar, pois ainda existem preconceitos quanto à atuação e foco de ambas. O indicativo para esta situação é de avanço, mediante as relações crescentes estabelecidas, segundo o executivo da Empresa A, incluindo a menção de que a empresa também não está devidamente preparada para a negociação.

Para elaboração e diretrizes do contrato estabelecido entre as partes, a remuneração foi apontada como uma dificuldade no sentido da mensurar o valor da tecnologia da universidade. O percentual de royalty deve viabilizar o negócio da empresa. Nesse caso, o ciclo de vida do produto como apresentado pela empresa é de apenas 3 anos. Este aspecto traz implicações para a definição dessa remuneração, o que tem de ser melhor desenvolvido no contexto das parcerias entre universidades e empresas. Acerca desse elemento e outros pertinentes a contratos de P&D conjunto e transferência de tecnologia, a empresa mencionou que o estabelecimento dos ETT’s nas universidades, conforme estabelecido pela Lei de Inovação sob a denominação NIT, é um grande avanço para a profissionalização da área.

A interação técnica relativa ao licenciamento da tecnologia se limitou à troca de materiais escritos, não tendo havido reuniões ou desenvolvimento conjunto da tecnologia. Cada ator ficou dentro da sua realidade, entretanto, o objeto central do negócio foi alcançado já que a licença permitiu a empresa lançar o produto e comercializá-lo sendo monopolista no mercado. No âmbito da interação para gestão do contrato, a empresa demonstrou alta

rotatividade de pessoas que geriram esse processo, porém, não houve problemas significativos quanto a isso no relacionamento com a universidade.

Conforme relato do responsável pela transferência na universidade, a empresa está bem posicionada no mercado e zela por sua imagem, de modo que não eram esperados qualquer tipo de comportamento ou tratativas da empresa de cunho oportunista ou anti-ético no processo, o que de fato se confirmou. Não houve qualquer queixa sobre aspectos de cumprimento de prazos, aplicação de recursos, ou ainda, no relacionamento interpessoal. Foi destacado pelo entrevistado da universidade o fato de que o licenciamento propiciou a extensão da proteção da tecnologia para outros países tendo a empresa realizado o custeio. De outra forma não ocorreria a extensão da proteção. Esse fato também deve ser visto como um benefício à universidade no contexto dessa parceira.

O quadro 6.1 sintetiza as principais dificuldades e fatores de apoio mencionados pelos entrevistados no caso da USP.

Agentes do processo de transferência de

tecnologia

Dificuldades Fatores de Apoio e Estímulo

Inventor (docente USP)

- Tempo e prazos para efetivação dos objetivos da parceria:

a ) Na universidade quanto aos colegiados acadêmicos e área jurídica;

b) Na empresa, incluindo o tempo de lançamento do produto no mercado pela empresa.

- Alta disposição das partes para efetivar a parceria, incluindo o descobrimento dos caminhos para realizá-la na modalidade desejada;

- Existência de ETT universitário para orientar, administrar e legalizar o processo.

ETT (À época GADI).

(Atual: Agência USP de Inovação)

- Modelo de comercialização fechado, não flexível pró-negociação em virtude da licitação pública;

- Valoração da tecnologia. Mensurar aspectos financeiros envolvidos com a remuneração no contexto da parceria

- Como estímulo, o desejo de transformar o conhecimento em algo útil à sociedade. Nesse sentido, tecnologia de aplicação mais direta pode favorecer;

- Possibilidade de remuneração para o pesquisador e para a universidade; - Disseminação da universidade como colaboradora direta do desenvolvimento econômico e social

Empresa A

- Burocracia jurídico-administrativa da universidade resultando em prazo estendido para assinatura de contrato; - Pouca maturidade de ambas as

instituições em relação à parceria. Pouca tradição na interação.

- Existência de órgão na universidade que entenda a empresa e administre a parceria; - Inegável mérito científico, tecnologia e conhecimentos de alta qualidade, incluindo a patente.

Quadro 6.1 – Dificuldades e fatores de apoio observados pelos agentes do processo de transferência de tecnologia da USP.