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Propriedade intelectual na USP: estrutura e avanços na transferência de

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1.2 Propriedade intelectual na USP: estrutura e avanços na transferência de

do antigo Código da Propriedade Intelectual de 1971. Uma das primeiras universidades brasileiras a definir regras básicas quanto à proteção de criações intelectuais, em especial inventos passíveis de serem patenteados, prescreveu a Resolução 3.428/1988. A criação de uma estrutura para apoiar essa atividade adveio da instauração dessa Resolução. O Grupo de Assessoramento ao Desenvolvimento de Inventos (GADI), surgiu em 1986 por meio da Portaria GR 2.087, objetivando efetuar todos os procedimentos necessários para o depósito dos pedidos de patentes resultantes de trabalhos desenvolvidos na USP junto ao INPI.

Tendo sido exarada em 1988, e, portanto, anterior à nova legislação concretizada em 1997 – Lei de Propriedade Industrial, a resolução se mostra hoje com uma abrangência bastante restrita, se referindo apenas aos inventos e tratando das relações de direito e obrigações em patentes, sendo que os programas de computador, cultivares e direitos autorais não constam dessa legislação. No entanto, a estrutura administrativa responsável foi assumindo gradativamente, à medida da demanda, o andamento dos processos de todas as espécies de proteção à propriedade intelectual.

A fim de reorganizar esforços e dar um caráter mais dinâmico à gestão da propriedade intelectual e transferência de tecnologia no contexto da cooperação da USP com organizações externas, foi criada a Agência USP de Inovação por meio da Resolução 5.175/05. Este órgão cumpre o papel do Núcleo de Inovação da Universidade, conforme previsto na Lei de Inovação, além de desenvolver outras atividades adicionais dentro dos objetivos propostos para sua atuação.

A Agência USP de Inovação incorporou as atividades do GADI. Como um órgão diretamente ligado à Reitoria da Universidade, foi resultante de um Grupo de Trabalho (GT) criado pela Portaria do Reitor Nr. 1514 em outubro de 2003. Seu propósito foi a criação de um canal de aproximação com o setor privado instalado no país, tendo por prioridade o alcance de inovações em produtos e processos. Oficialmente criada e operante em abril de 2005, a Agência iniciou suas atividades com a missão de promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural produzido na universidade em prol do desenvolvimento sócio-econômico do Estado de São Paulo e do país. Seu objetivo geral é o de identificar, apoiar, promover, estimular e implementar parcerias com o setor privado, governamental, terceiro setor e centros de pesquisa, na busca de resultados para a sociedade. Até este momento, pode-se observar uma ampliação das atividades da estrutura de

propriedade intelectual, deixando um posicionamento de apoio técnico para ganhar a dinâmica de um ETT voltado para o relacionamento com o meio externo.

Atualmente, a estrutura da Agência assume a figura dos Pólos USP Inovação, a saber, uma Unidade de atendimento em cada campus da USP (São Paulo, Ribeirão Preto, São Carlos, Piracicaba, Bauru, Pirassununga e Lorena). O Pólo da Capital assume um papel central nas atividades e diretrizes estratégicas da Agência. Em cada um desses campi existe a figura de um Coordenador do Pólo, designado, quando da formação da Agência, pelo Coordenador Geral.

Além disso, os Pólos são integrados aos Presidentes das Comissões de Pesquisa e de Cultura e Extensão Universitária visando facilitar a penetração da Agência nas atividades dos campi. Em termos de pessoal, trabalham diretamente com as áreas de propriedade intelectual e transferência de tecnologia cerca de 22 pessoas distribuídas pelos Pólos e com diferentes vínculos empregatícios. Somando pessoal administrativo e de comunicação o número é de cerca de 30 pessoas.

Retomando a norma legal base na USP, a Resolução 3.428 de maio de 1988 deliberada em Conselho Universitário dispõe sobre patentes de invenção resultante de pesquisas realizadas na USP e sobre a participação do inventor em direitos e obrigações nessas patentes de invenção. Os principais aspectos por ela estabelecidos, tendo em vista o artigo 1º, onde se declaram suscetíveis de pedido de patente os resultados de pesquisas realizadas na Universidade, são mencionados a seguir:

A USP deve figurar sempre como requerente em pedidos de privilégio de invenção, sendo o pesquisador o inventor. O mesmo pode indicar outros membros da equipe, docentes ou não, que participaram do invento, como co-titulares9 da patente, indicando o percentual a que fazem jus (artigo 2º). Cabe esclarecer neste ponto que não há uma instância definida para julgar o mérito de um invento no sentido de indicá-lo à proteção por patentes. Via de regra, o professor solicita à Reitora por meio da Diretoria de sua Unidade, tendo o ciente da Chefia do Departamento sobre o depósito de patente do invento, anexando os documentos necessários que comprovem as relações entre os participantes na pesquisa e os respectivos dados pertinentes. Quando do processo de patenteamento, que inclui entrevistas de docentes com funcionários da Agência USP de Inovação, pode ocorrer de ser verificada a

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O termo “co-titulares” utilizado pela Resolução se refere ao quadro de inventores do pedido de patente. O uso desse termo pode causar confusões, já que, co-titulares se refere, geralmente, às instituições requerentes ou pessoas do pedido de patente. Consultado o Diretor de Transferência de Tecnologia da USP, foi dito que trata-se de engano o uso do referido termo, sendo que na prática o entendimento deste artigo é como inventor.

não conveniência do depósito, entretanto, é comum que a maioria dos inventos sejam depositados.

Independentemente do vínculo do docente com a Universidade e seu regime de trabalho, é assegurada a divisão em partes iguais dos proventos de qualquer natureza que advenham da utilização ou cessão da patente (artigo 3º). Da metade que cabe à USP, 50% são alocados na Unidade a que pertence o inventor, para serem utilizados exclusivamente pelo Departamento em que está lotado (artigo 4º). Caso a pesquisa tenha sido contratada por algum ente jurídico externo a ela ou desenvolvida conjuntamente, mediante cláusula de contrato expressa acerca de eventual pedido de patente, há divisão em partes iguais da titularidade entre a USP e a organização externa, na maioria das vezes empresas (artigo 5º).

As obrigações inerentes ao pedido de patente são divididas solidariamente entre a USP e o inventor, inclusive a de custear os gastos com o processo de patente (artigo 6º), sendo que a Universidade cobrará a parte do inventor por meio de desconto da exploração econômica da patente se houver, ou após o período de vigência da propriedade incluindo correção monetária (artigo 7º). Este aspecto da legislação da USP é o mais polêmico, sendo que na maioria das universidades, os custos do patenteamento correm por conta da universidade, mesmo porque os direitos de propriedade do invento são inteiramente dela.

Complementando o aspecto da divisão de proventos oriundos da utilização ou cessão de patentes da USP, os resultados financeiros obtidos pela Universidade advindos dos contratos são distribuídos da seguinte forma: 50% para os inventores a título de incentivo, 40,5% para o departamento origem da invenção para aplicação preferencial em pesquisa, 4,5% para a Unidade acadêmica de origem e, por fim, 5% para a Reitoria.

No âmbito das pesquisas realizadas em cooperação com terceiros, é necessária celebração de convênio, no qual são expressas cláusulas de direitos e obrigações das partes, aspectos gerais e de propriedade industrial. Nesses termos, a Resolução 4.715 de outubro de 1999 estabelece que os gastos de patenteamento serão suportados pela organização contratante (artigo 7º.) Posteriormente à exploração comercial da propriedade industrial se esta ocorrer, parte proporcional dos custos poderão ser deduzidos do valor a ser repassado para a universidade.

O desempenho da USP até 2005 quanto às atividades de patenteamento pode ser visto conforme na figura 6.1. e na tabela 6.1 com maior detalhamento.

1 1 1 1 0 17 11 15 17 9 9 6 6 3 0 10 9 9 8 9 19 30 26 35 30 13 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 1982 19 84 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 Pedidos de Patente

Figura 6.1 – Evolução temporal do número de pedidos de patente depositados pela USP junto ao INPI. Fonte: Dados da pesquisa concedidos pela Agência USP de Inovação em 05/2007.

Tabela 6.1 – Caracterização dos pedidos de patente declarados pela Agência USP de Inovação em 05/2007.

Ano de depósito Comercialização

Caracterização dos pedidos 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Total 99-07 LEP* PNL*1 Patentes de invenção 9 8 9 19 29 26 35 30 12 177 Modelos de utilidade 0 0 0 0 1 0 0 0 1 2 9 7 Internacionais (PCT)*2 0 0 2 0 6 0 11 0 0 19 NI*3 NI*3

* Licenças de exploração de patentes (LEP).

*1 Processos de negociação de licenças de exploração de patentes (PNL). *2 Pedidos de patente com extensão internacional de proteção.

*3 Não informado (NI).

Conforme pode ser observado, houve um notável crescimento dos pedidos de patentes depositados no ano de 1987, após o que seguiu-se uma queda não regular até 1996. Após 1997, o número de pedidos depositados cresce de forma marcante, alcançando em 2005 o número de 35 depósitos. Na seqüência uma queda para 30 pedidos foi explicada em função de problemas na contratação de profissionais redatores de patentes, gerando uma fila de espera de pedidos. Esses dois momentos indicados, em que houve um aumento expressivo de depósitos correspondem provavelmente, no primeiro caso, à criação do GADI em 1986 e, no segundo caso, em 2005, ao inicio da operação da Agência USP de Inovação.

Quanto ao licenciamento e transferência de tecnologia até 2007, foram 9 licenciamentos de patentes e 2 licenças de software, estando em processo de negociação no período corrente 7 pedidos de patente, 1 de marca e know-how e 1 de marca e desenho industrial. O fato destes licenciamentos terem sido realizados, em grande parte, após o ano de 2003, indica uma atividade crescente de comercialização de tecnologia no âmbito da USP.