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Um segundo passo para o alto clero realizar o segundo projeto de modernização era arregimentar os funcionários que necessariamente iriam fazer a parte de levantamento de dados, de detalhamento dos processos correntes e de redesenho dos novos processos, enfim, a parte de execução: enfileirar o baixo clero, os agentes executores da modernização. De modo geral, eles foram convocados por seus gerentes superiores, basicamente os gerentes regionais e os gerentes de departamento (cap. 5). Para esse rol de agentes, o Conselho de Representantes do Empregados também indicou representantes que participaram de cada uma das iniciativas e dos grupos de apoio. Entretanto, eles não entram em nossa seleção. A maioria

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do baixo clero não tinha participado do primeiro projeto de modernização, somente os 3 que colocamos no grupo do alto clero (cap. 03).

Os funcionários do baixo clero deixaram seus postos de trabalho na empresa, inclusive a cidade de origem, e restaram dedicando-se exclusivamente ao segundo projeto de modernização, morando em hotéis e pousadas na cidade da sede da EC, assim como nas cidades circunvizinhas. Por conta disso, também se nomeavam e eram nomeados de “full

time”. Eles foram simplesmente convocados, como já dissemos, e como os trechos de

entrevistas abaixo esclarecem:

“Nós tínhamos primeiro um grupo de gerentes que eram de mudança; você tinha assessores meus que cuidavam disso, você tinha gerentes que eram tinha um grupo pequeno de decisão de gestão e dessas pessoas [baixo clero] nós tiramos os 120” (Engenheiro, ex-funcionário do alto escalão100 — alto clero).

“Em meados de 96 criou-se […] um andar inteirinho para fazer o [segundo projeto de modernização]. Meados de 96 eu vinha aqui e via e não fazia muita idéia do que estava acontecendo. De repente foi divulgado. Aí o gerente regional me chamou lá: olha você está sendo convidado para ser o líder da iniciativa […] e colocou a relação do grupo que viria trabalhar comigo. Tinha o nome de todos, tava tudo indicado” (Engenheiro, ex-funcionário do alto escalão101 — alto clero).

Além desses agentes executores full time, outros mais foram convocados ao longo da realização da modernização, de meados de 1996 até 2001 pelo menos. Alguns foram convocados esporadicamente e temporariamente para realizar algum trabalho específico, por exemplo, para levantar e fornecer diversos tipos de dados quantitativos (a) ou para descrever algum processo de trabalho (b). Outros mais foram convocados para trabalhar permanentemente e esporadicamente em novas iniciativas que foram sendo criadas sucessivamente até o ano de 2000, quando o grosso da modernização foi implantado (d). E, no limite, outros que já tinham se desligado da empresa em 2001, na ocasião do último grande plano de demissão voluntária, foram contratados para atuar em iniciativas de reestruturação de

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Idem nota n° 35.

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algumas atividades. Nesse caso, de atividades que já tinham sido reestruturadas até 2000. Esse abrangente rol de agentes executores que, em alguma medida, participaram da modernização, realizou tarefas ou trabalhos tais como: organização e fornecimento de documentos e dados administrativos, contábeis e econômico-financeiros (a); descrição detalhada de determinadas atividades (b); pequenas reestruturações mais localizadas (c-); e mesmo de resolução de problemas de processos que já tinham sido reestruturados até 2000 (d). Vejamos os exemplos:

(a) “Eu não cheguei a me desligar do departamento para fazer isso [dedicação exclusiva ao segundo projeto de modernização], mas a gente diretamente preparava muitos papéis e documentos que esse pessoal precisava. A gente preparava porque tinha uma consultoria internacional que estava ajudando nesse trabalho. Então, […] ajudei na separação de documentos, de tabulação de dados que eles precisavam […]. Eles trabalhavam muito com dados de energia: consumo de energia, número de consumidores, perfil de dívidas em moeda estrangeira, em moeda nacional. Como eu estava ligado mais à área de balanço, eu preparava mais dados ligados à área de balanço” (Economista, administrador, ex-funcionário — presidente sindical).

b-) “De uma célula eu participei […] da parte de manutenção/operação de sistema elétrico […]. O que eles faziam nesses trabalhos era sistematizar todos os trabalhos, metodologias. Então, a gente ia a campo, inclusive acompanhar a manutenção, e tinha que descrever todos os passos e pari passu da manutenção; de equipamento por equipamento. Então, cada equipamento da subestação que era feito manutenção, tinha que descrever o passo a passo da manutenção. Depois ia para o grupo e lá na célula eles faziam isso por escrito. Tinha pessoas que ‘micravam’ isso aí na época e montava toda uma metodologia de trabalho” (Engenheiro, ex-funcionário — diretor da Associação dos Engenheiros da EC).

c-)“Eu fui para o projeto só para ajudar a reestruturar como ficaria a área de segurança dos Recursos Humanos […]. Eu fui com mais um engenheiro lá […]. Depois [de 6 meses] voltei para a mesma área […]. Quando foi implantado aí houve a redução tipo só para você ter uma idéia, antes do redesenho nós éramos em 12 engenheiros de segurança, após o desenho ficaram 4. Nós éramos em 30 técnicos de segurança, ficaram 15. Então, o novo desenho deu uma enxugada violenta (Engenheiro, funcionário — dirigente sindical e do CRE).

d-) “Apesar de o projeto ter sido implantado […]. Alguns processos começaram a criar alguns problemas […]. Com a mudança da estrutura o atendimento passou a ser centralizado em [nome de cidade] via telefone. A [EC] passou a receber algumas críticas e o pessoal percebeu que alguns processos não estavam … alguns processos precisariam mudar algumas coisas. Então, neste período de setembro [2000] até abril, eu fiz parte de um grupo de pessoas […] eu fiquei para poder redesenhar os novos processos […]. Ficamos ligados direto ao novo diretor” (Engenheiro, ex- gerente de divisão — baixo clero).

Apesar do número incontável de funcionários que certamente participaram como agentes executores do projeto, analiticamente, vamos centrar nossa análise nos agentes do baixo clero, como explicamos acima.

Em conclusão, esclarecemos que, analiticamente, vamos trabalhar com o fato de que os agentes da modernização da empresa são os do alto e do baixo clero, conforme pode ser visualizado na coluna da direita do Quadro 07. Esclarecemos que em conjunto, em dezembro de 1996, esses agentes, salvo os dois da SEESP, representavam cerca de 1.6% do total de funcionários da EC e eram o presidente, os diretores, os gerentes, assessores, engenheiros, administradores, etc. Eles eram dos segmentos que a EC classifica de “gerentes” e “universitários”. O dado fundamental da equivalência entre estes segmentos, e que os diferencia dos outros, é a posse de escolaridade superior. Desta forma, os agentes da modernização pertenciam a dois segmentos que juntos representavam cerca de 24.7% do pessoal da EC. E eles, por sua vez, representavam cerca de 6.5% desses segmentos.