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DAS EMPRESAS DO SETOR ELÉTRICO DESDE A SEGUNDA METADE DOS

ANOS 1990

Vamos procurar analisar segmentos dessa massa de pessoal que saiu do setor. Em um processo de contração de quadro de pessoal, os segmentos não foram contraídos de forma homogênea. Se considerarmos variáveis como faixa salarial, faixa etária, tempo de permanência no emprego, grau de instrução, poderemos ter uma imagem mais mitigada, inclusive com segmentos onde os vetores foram inversos.

No que tange à faixa etária, temos dados que possibilitam comparar o ocorrido no SEB de 1996 a 1999. No início, a maior parte dos 157,3 mil empregos formais estava distribuída homogeneamente na faixa etária de 30 a 49 anos (77.3%), seguida pela faixa de 18 a 29 (12.2%) e depois pela faixa de 50 ou mais (9.9%). No decorrer deste período, o SEB perdeu 44.6 mil empregos formais (cerca de -28%). A faixa de 30 a 49 anos diminuiu sua participação para 75.3%, a faixa de 50 ou mais diminuiu para 7.6% e a faixa de 18 a 28 anos aumentou sua participação para 16.6%. Ou seja, houve uma tendência a diminuir a participação do pessoal acima dos 30 anos no setor e a de aumentar a do pessoal de 18 a 29 anos (tabela 5, Anexo I).

Em 1995, a maior parte dos empregados formais do SEP estava distribuída homogeneamente na faixa de 30 a 49 anos (76%); a segunda maior parte estava na faixa de 18 a 29 (13.9%); e, por fim, a grande maioria dos restantes estava na faixa acima de 50 anos

(10.4%). De 1995 até 2002, o SEP perdeu cerca de 48.4% deste pessoal, seja, 19.9 mil. Por um lado, a maior parte da diminuição absoluta e relativa ocorreu nas faixas acima de 30 anos. Na faixa de 30 a 49, a perda foi de 47.7% (cerca de 16350) levando essa faixa a representar 70.2% do quadro em 2002. A faixa acima de 50 anos perdeu 40.2% (cerca de 2110) e passou a figurar como 8.6% do quadro. Por outro lado, a faixa de 18 a 29 anos, ainda que tenha perdido 16.7% (cerca de 950), aumentou sua participação relativa no quadro para 22.4% (tabela 06, Anexo I). Ou seja, repete-se no nível estadual a mesma tendência observada no parágrafo anterior, com um pouco mais de intensidade.

No que tange à EC, não temos dados para comparar a evolução do quadro etário dos funcionários durante os anos da segunda metade dos anos 90. Temos, que em 1996, cerca de 81.4% do seu pessoal estava nas faixas acima dos 30 anos, aquelas que, como vimos acima, no decorrer dos anos subseqüentes seriam as mais atingidas pelo processo de diminuição de postos no SEP (tabela 07, Anexo I).

No que tange ao tempo de permanência no emprego, temos dados sobre as variações no SEB de modo contínuo durante o período de 1996 a 1999. Entretanto, não podemos fazer afirmações porque muitas empresas foram cindidas, e as novas empresas incorporaram os “velhos empregados” como novos, causando uma inflação nos dados da faixa dos mais novos e uma deflação nos dados das outras faixas. As mesmas considerações valem para o SEP, isto é, desde 1995 houve aumento progressivo, relativo e absoluto, do pessoal na faixa de até 4 anos de casa. Esse aumento é devido, em parte, aos desdobramentos das cisões das empresas e, em parte, à queda nas outras duas faixas. Quanto à EC, não temos dados que possibilitem alguma análise da variação no perfil do tempo de casa dos seus empregados numa série temporal que incluiria os efeitos dos diversos planos de desligamento que foram realizados após sua privatização. Da mesma forma que as empresas do SEB (69.%) e do SEP (64.5%),

em 1996, a EC tinha um quadro em que a maior parte dos funcionários (65.6%) estava na faixa dos “10 anos ou mais” de permanência no emprego (tabelas 08, 09 e 10, Anexo I).

No que tange às faixas salariais, temos que, no SEP, de 1995 a 2002, houve uma nítida diminuição absoluta do pessoal que ganhava acima de 10 salários mínimos (SM) e um aumento absoluto dos que ganhavam de 2 a 10 SM, cerca de menos 18.9 mil e mais 514, respectivamente. A primeira faixa representava cerca de 74.4% do pessoal e passou a representar em torno 55.2%, enquanto a segunda faixa passou de cerca de 20.3% para cerca de 41.7%. Em termos percentuais relativos, o pessoal que perdeu participação foi o que recebia remuneração de 15 a 20 SM (-3.4%) e acima de 20 SM (-19.7%). O pessoal das outras faixas aumentou a participação relativa, e o que mais aumentou estava na faixa de 5 a 7 SM (6%) e na faixa de 7 a 10 SM (9.7%) (tabela 12, Anexo I).

De modo geral, as empresas do SEP saíram de um quadro onde a tendência era de concentração do pessoal em torno das duas faixas salariais mais altas — de 15 a 20 SM (15.6%) e de mais de 20 SM (39.7%) — e passaram para um quadro de nítida tendência de diminuição do pessoal nessas faixas (-23%) e de concentração em torno das faixas imediatamente inferiores. A faixa de 7 a 10 SM foi a que mais aumentou em termos percentuais, como se fosse a “ponta de lança” do sentido preferível (tabela 12, Anexo I).

Este sentido enceta uma tendência à nivelação do salário dos empregados formais do SEP com o praticado no restante da economia brasileira. O pessoal da faixa de 5 a 10 SM no total da economia brasileira era de 22.8% em 1999 — as 2 faixas abaixo representavam 58%, e as 3 faixas acima, 15.6% (DIEESE, 2001: 10) (tabela 11, Anexo I). Mais adiante, no decorrer deste trabalho, a partir de dados das entrevistas, veremos que, de fato, uma política de “nivelação como o mercado” (Engenheiro, ex-funcionário do alto escalão110 — alto clero) era uma política deliberada da EC, assim como de algumas congêneres.

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No que tange ao grau de instrução, temos duas tendências percentuais nítidas no nível nacional no período de 1989 a 1999. Uma é a diminuição progressiva do pessoal nas faixas de escolaridade até o 1º grau completo (-21.9%) e outra é o aumento progressivo do pessoal com 2º grau e nível superior completo (21.8%) (tabela 13, Anexo I). Em geral, no SEP a tendência foi a mesma que a descrita sobre o SEB. O que destaca é o maior aumento proporcional do pessoal com 2º grau completo (16.5%) vis-à-vis ao pessoal com superior incompleto e superior completo (0.4 % e 1.8 %, respectivamente) (tabela 14, Anexo I). No que tange à EC, temos o dado de que, em maio de 1997, a maior parte de seu pessoal (74.7%) tinha pelo menos o 2° grau completo — 34% tinha o 2° grau completo; 7.22%, o superior incompleto; e 33.44%, o superior completo (Tabela 15, Anexo I).

Recordando os dados apresentados acima, temos que os agentes da modernização, de modo geral, em sua maioria, estavam na faixa etária de 30 a 49 anos que, por um lado, era a maioria do pessoal do SEP e, por outro, foi a que mais perdeu participação percentual de 1995 a 2002. Nossos dados atestam que 73.9% dos 111 agentes da modernização que eram funcionários da EC em 1996 estavam desligados dela em dezembro de 2003; todos os do 1º

plano, 73.9% dos do 2º plano, 75% dos do 3º plano e 72% dos do 4º plano.

Proporcionalmente, os agentes da modernização foram os mais atingidos pelos processos de desligamentos que ocorreram na empresa até meados de 2001. Se, no período de 1997 a 2001, a EC perdeu 45.6% de funcionários, a saída de 73.9% dos agentes da modernização até o final de 2003 certamente significa que proporcionalmente eles perderam mais postos. O número de 2003 é bem próximo do número de 2001, pois foi em meados desse ano que ocorreu o último plano de demissão voluntária e incentivada, quando de fato saiu todo o pessoal que “tinha que

sair” (Engenheiro, funcionário do alto escalão111 — alto clero) no “último ajuste que a

empresa fez” (Ex-funcionário do alto escalão112 — alto clero).

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Idem nota n° 35.

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