• Nenhum resultado encontrado

Para se inserir no mundo humano, o homem precisa incorporar as características que o diferenciam das demais espécies. De acordo com Boufleuer (2006), isso significa que, para se estabelecer como sujeito do tempo atual cada indivíduo precisa incorporar a experiência histórica da espécie humana através da aprendizagem. Essa aprendizagem acontece porque existem gerações anteriores já

aprenderam, ou seja, ela ocorre como seguimento de uma geração para outra, apesar de não acontecer sob a forma de simples repetição. Cada geração irá aprender em perspectiva própria. Essa possibilidade do ser humano aprender se deve ao desenvolvimento de uma competência pedagógica. E é por isso que se pode afirmar que o ser humano faz parte de uma espécie que se constitui pedagogicamente. O homem distingue-se pela capacidade de se expressar pela linguagem, diferenciando os seus atos das outras espécies, permitindo que ele atribua significado a suas ações.

Savater (1998) afirma que surgimos para a humanidade, ou seja, não nascemos prontos como as outras espécies. Nós nos constituímos como humanos através da convivência com outros humanos. [...] “A condição humana é em parte espontaneidade natural, mas também deliberação artificial: chegar a ser totalmente humano – seja humano bom ou mau – é sempre uma arte” (p. 31). A sociedade humana se constituiu graças à habilidade de aprender que desenvolveu na interação com os outros. Por conseguir aprender, os indivíduos não apenas se adaptam, mas interagem, transformando e acrescentando algo. É isso que nos diferencia das demais espécies, pois estes já [...] “nascem sendo definitivamente o que são, o que serão irremediavelmente, aconteça o que acontecer” (p. 30).

O aprendizado pedagógico é efetivado na e pela influência de quem veio antes no tempo e na cultura. Deste modo, a educação tem como função ensinar aos novos aquilo que foi aprendido por quem veio antes. Savater (1998) destaca que o homem se torna homem através do aprendizado, mas ele não é apenas um ser que aprende. Se assim fosse [...] “bastaria aprender a partir de sua própria experiência e do trato com as coisas. Seria um processo muito longo, que obrigaria cada ser humano a começar praticamente do zero” (p. 39). O simples fato do homem aprender não é o mais incrível da espécie humana, mas o instruir-se com os outros homens, o ser informado por eles. Por isso o referido autor atesta que ensinar significa instruir aquele que não conhece.

Neste sentido,

A vida humana consiste em habitar um mundo no qual as coisas, além de serem o que são, também significam; o mais humano de tudo, porém, é compreender que, embora o que a realidade é não dependa de nós, o que a

realidade significa é, sim, competência, problema e, em certa medida, opção nossa. E por significado não se deve entender uma qualidade misteriosa das coisas em si mesmas, mas a forma mental que nós, humanos, lhes damos para relacionarmos uns com os outros por meio delas (SAVATER, 1998, p. 41).

Libâneo (2005) afirma que um dos acontecimentos mais significativos dos processos sociais contemporâneos é a ampliação do conceito de educação e a diversificação das atividades educativas, levando, por decorrência, a uma diversificação da atuação pedagógica na sociedade. Nos vários domínios da prática social, por meio das categorias de educação informais, não-formais e formais, é expandida a produção e a disseminação de conhecimento e [...] “modos de ação (conhecimentos, conceitos, habilidades, hábitos, procedimentos, crenças, atitudes), levando a práticas pedagógicas”(p. 2-3).

O referido autor destaca que aos que se ocupam da educação escolar, das escolas, da aprendizagem dos alunos, é solicitado que façam escolhas pedagógicas, ou seja, adotem um posicionamento e que tenham clareza dos seus fins ao promover a aprendizagem dos sujeitos [...] “inseridos em contextos socioculturais e institucionais concretos” (LIBÂNEO, 2005, p. 2). De acordo com Libâneo, refletir e agir no campo da educação, enquanto prática de humanização das pessoas, implica responsabilidade de dizer não apenas o quê, mas o como fazer. Isto envolve necessariamente uma tomada de posição pedagógica.

Libâneo (2005, p. 2) explica que

... o que fazemos quando tencionamos educar pessoas é efetivar práticas pedagógicas que irão constituir sujeitos e identidades. Por sua vez, sujeitos e identidades se constituem enquanto portadores das dimensões física, cognitiva, afetiva, social, ética, estética, situados em contextos socioculturais, históricos e institucionais. Buscar saber como esses contextos atuam em processos de ensino e aprendizagem de modo a formar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos indivíduos com base em necessidades sociais, é uma forte razão para o cotejamento entre o “clássico” da pedagogia e as novas construções teóricas lastreadas no pensamento “pós-moderno”.

Mas o que entendemos sobre o que denominamos como prática educativa? Para Libâneo (2005, p. 8), a [...] “educação compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas e ações que intervêm no desenvolvimento humano na sua relação ativa com o meio natural e social, visando a formação do ser humano”. Assim, a educação é uma prática humana que modifica os sujeitos nos seus estados

físicos, mentais, espirituais, culturais, produzindo uma configuração da vida humana individual e grupal.

Para adquirir a condição humana o aprendizado com os semelhantes é um processo necessário, uma vez que a constituição dos sujeitos acontece na perspectiva de continuidade e de renovação, incentivando o desenvolvimento da inventividade no ato da aprendizagem. Dessa forma, de acordo com Savater (1998), a educação desvenda duas características essencialmente humanas. A primeira é o fato de não sermos únicos, [...] “que a nossa condição implica intercâmbio significativo com outros parentes simbólicos que confirmam e possibilitam nossa condição” (p. 48). A segunda, é que não somos iniciadores da nossa ascendência. Nascemos num mundo em que a marca humana já está registrada e existe uma tradição histórica da qual fazemos parte e na qual também vamos nos desenvolver.

Diante disso, os responsáveis pela educação devem ensinar às novas gerações aquilo que é considerado tradição sem impor as suas marcas, mas permitir com que os novos criem a sua própria realidade, sem abandoná-los. A incumbência da educação é revelar o caminho já percorrido pelas gerações amadurecidas, isto é, inserir os mais novos naquilo que compõe o legado histórico e cultural da humanidade. Dessa forma, a escola tem como papel constituir sujeitos pensantes, críticos e atuantes, e a aprendizagem passa a ser entendida como um processo interativo, dinâmico entre sujeito/sujeito e sujeito/conhecimento (SAVATER, 1998, p. 50-55).