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CONSTRUIR CIDADES COM EMOçõES!

No documento PARTE I para o desenvolvimento? (páginas 50-53)

Amélia Pardal

Vereadora das Obras, Planeamento, Administração do Território, Desenvolvimento Económico e Arte Contemporânea,

Câmara Municipal de Almada

As Cidades são o espaço onde tudo acontece! O que é hoje planear as cidades?

O que é hoje construir as cidades ?

Quais são os maiores desafios que se nos colocam hoje nas cidades que governa- mos, que gerimos, onde vivemos?

As cidades são organismos vivos, em constante mudança, muito diversos. Nas cidades vivem e convivem homens e mulheres muito diferentes entre si, com origens geográficas, culturais, sociais e económicas muito diferentes, histórias e percursos de vida completamente distintos.

Existem e coexistem comunidades muito diferentes nas suas múltiplas dimensões. A cidade é um puzzle com muitas cidades…que vivem de formas e ritmos diversos.

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oferece, com territórios, comunidades e pessoas que estão longe destas realidades! Sabemos que a transformação, a qualificação, a regeneração e coesão territorial e social se assumem como factores estruturantes do desenvolvimento harmo- nioso e sustentável das cidades;

Estamos convictos que só com políticas locais, regionais e nacionais concertadas será possível intervir de forma sistemática, multidimensional e com efeitos reais na melhoria da qualidade de vida das comunidades e das pessoas.

Mas o desafio é …

Responder todos os dias aos problemas, necessidades, desejos, conflitos, pro- jectos e realizações das comunidades e dos cidadãos que habitam e constituem a(s) cidade(s) e em simultâneo pensar estrategicamente a cidade, o futuro… de forma criativa, inovadora, com todas as possibilidades que o conhecimento e a acção humana nos permitem.

Pensamos que a construção da cidade implica sempre uma comunidade informada, participativa, envolvida, uma comunidade comprometida com a sua própria vida e a do território que habita, ao qual pertence e é seu!

Para quem assume responsabilidades na governação e na gestão da cidade, a interrogação, a inquietude, a insatisfação, a capacidade de ouvir o outro, as suas razões, os seus problemas, os seus sonhos, os seus projectos são atitudes indispensáveis, estruturantes e de alguma forma determinantes para a acção que tem que concretizar!

É perante a tensão, o conflito, a diferença no estar, no fazer, no sentir de cada um/uma, de cada comunidade, de cada realidade, de cada homem e cada mu- lher que mostramos ou não ser capazes de ouvir, debater, reflectir, incorporar o que os outros nos podem dar, nos podem fazer pensar, avaliar e reformular propostas e projectos, é também a capacidade que temos de dar aos outros o que transportamos em nós!

Tem espaços urbanos bem planeados, com qualidade construtiva e estética, com escala à dimensão humana, onde as pessoas gostam de estar e de viver;

Tem o estuário do Tejo, a Costa Atlântica, a Paisagem Protegida, tem espaços verdes de recreio e lazer, parques com elevados níveis de fruição, como o Parque da Paz à entrada de Almada, tem projectos para o presente e o futuro…tem pla- nos estratégicos para o desenvolvimento do turismo e para a frente ribeirinha e costeira, tem o Plano de Urbanização Almada Nascente - Cidade da água. Mas com esta realidade coexistem outras:

Há uma importante área do território em processo de reconversão urbanísti- ca, resultado de um processo de urbanização e construção de génese ilegal com assinalável dimensão e relativamente à qual é necessário continuar a intervir para também aqui “fazer cidade”.

Há o território consolidado, os centros históricos que se foram desertificando e degradando, há um conjunto de áreas industriais desactivadas junto ao Rio, com particular relevo para a zona da antiga Lisnave – Margueira, para o Caramujo-Romeira e para o Ginjal.

Há os bairros degradados, deprimidos, onde continuam a existir habitações sem qualquer condição digna para as pessoas que ali têm que habitar, onde não existem infraestruturas básicas capazes de responder a necessidades básicas como o aquecimento das habitações ou a iluminação adequa- da para as crianças e jovens estudarem… as vias de circulação são más e a higiene e salubridade estão muito longe de satisfazer as necessidades destas comunidades.

Estas são as cidades em que vivemos e sobre as quais agimos… traços comuns às cidades contemporâneas, metropolitanas de um país como o nosso...

Coexistem propostas, projectos, realidades, comunidades, pessoas que criam, fruem e usufruem do melhor e mais avançado que a contemporaneidade nos

de aumentar a morosidade e a inércia, concretizando projectos e programas com resultados muito positivos para a vida das populações.

Hoje planear as cidades é incorporar as diferentes sensibilidades, é pensar o edifício, as vias, os jardins, os arruamentos, os equipamentos, centrando-nos nas pessoas, nas comunidades, nas suas vivências, na sua diversidade social e cultural. Não basta ter uma cidade arquitectónica e esteticamente bela, é fundamental ter uma cidade mais capaz de proporcionar bem-estar, qualidade de vida, participação, envolvimento, compromisso cívico com o seu território.

Hoje a gestão da cidade é a que pensa nas actividades e dinâmicas humanas que existem e que se podem potenciar. Habitar ultrapassa hoje o conceito básico de abrigar para abranger todas as actividades das comunidades humanas.

Passou o período do grande crescimento urbano, …hoje precisamos de cozer, ligar, cerzir o território.

Estamos na fase de reutilizar a cidade. Hoje planear a cidade é reconverter, re- abilitar, regenerar, dar vida aos territórios, ter projectos e propostas capazes de transformar as diferentes realidades e com os quais as pessoas se identifiquem, dos quais se apropriem e deles usufruam. Isto implica uma relação próxima e permanente com as diversas comunidades que fazem a cidade, exige um intenso diálogo com as pessoas e a efectiva incorporação das suas propostas e das visões nos programas e projectos para a sua, nossa cidade.

Planear a cidade é hoje acompanhar a profunda alteração de paradigmas no que concerne ao território e entender, para melhor intervir, as novas dinâmicas e os outros actores que podem alavancar as transformações mais expressivas da cidade. Muito mais que fazer para as pessoas é preciso fazer com as pessoas!

Planear as cidades é um acto de cultura! Pensamos, pois, que esta é uma atitude primordial, fundamental, estruturante

para responder às questões das cidades do nosso tempo.

Por outro lado, precisamos de ter cada vez mais, equipas capazes de pensar e agir sobre os problemas e as questões que uma cidade multidimensional nos coloca! Se é verdade que segmentámos o conhecimento para melhor compreender as partes, também é verdade que o excesso de especialização nos impede de ver o todo complexo em que vivemos.

Ora, se a realidade em que actuamos é cada vez mais complexa, diversa, inter- dependente e multidisciplinar, também a nossa acção e os agentes dessa acção, sejam eles autarcas, dirigentes, técnicos, académicos terão que assumir cada vez mais competências interdisciplinares e interdependentes.

A realidade da cidade é muito mais que a soma das suas diferentes partes, a rea- lidade é uma teia em permanente construção… intervir nessa construção implica entrar na tecitura do território.

Por isso e para isso as nossas equipas devem caminhar progressivamente para integrar os diferentes saberes e o cruzamento, o caldeamento desses saberes. Hoje quando discutimos, p.e., a instalação de uma superfície comercial, a construção de uma escola ou um museu, a instalação de uma unidade hoteleira ou o desen- volvimento de um processo participado de arte pública, diversos são os técnicos, os académicos, os investigadores, as associações ou projectos comunitários que são chamados a intervir…fazer de forma diferente implica pensar de forma dife- rente o que é diferente e exige a participação diferenciada dos envolvidos, implica conhecer o que desconhecemos, estar disponível para aprender e reflectir, para fazer com o(s) outros aquilo que desconhecíamos ou não dominávamos tão bem. Existem experiências positivas e pioneiras, ao nível das intervenções locais, prota- gonizadas por equipas técnicas e autarcas, que com tenacidade e determinação conseguem resistir à multiplicação de instrumentos legais e regulamentares desarticulados, por vezes até contraditórios, que acabam por ter o efeito perverso

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No documento PARTE I para o desenvolvimento? (páginas 50-53)