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DESENVOLVIMENTO DOS TERRITóRIOS: ALGUNS ELEMENTOS DE SíNTESE

No documento PARTE I para o desenvolvimento? (páginas 57-68)

Pedro Costa

ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa / DINAMIA’CET

1. ENQuADRAMENTO

Este livro traz-nos um conjunto muito interessante e rico de contributos, natu- ralmente muito diversos nas suas perspectivas, mobilizando enquadramentos teórico-conceptuais e ideológicos distintos, bem como abordagens relativamente diversificadas sobre a relação entre cultura, território e desenvolvimento. É certo que daqui resultarão portanto importantes estímulos para pensar as políticas culturais para o desenvolvimento e para (re)pensar a ARTEMREDE e a sua actuação estratégica futura, em particular num quadro, desejável, de desenvolvimento territorial integrado.

Não é ambição deste texto fazer um sumário ou uma reprodução de todas as ideias veiculadas nos diversos contributos reunidos nesta publicação, mas apenas, de

1. EQUACIONAR AS POLíTICAS CULTURAIS ENQUANTO POLíTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

O objectivo deste livro é discutir as “políticas culturais para o desenvolvimento”, no nosso contexto actual. Foi esse o pano de fundo da conferência realizada em Almada, e o mote que conduziu à elaboração desta publicação. Esse tema surge de um processo de reflexão estratégica, bastante longo e consistente, activamente delineado e coordenado, o qual apontou essa reflexão como premente.

Tal como seria natural, a discussão, de resto, sempre bastante apaixonada, em torno deste tema, leva-nos a diversas outras, com ela inter-relacionadas. Discutiu- -se a política cultural em geral, discutiu-se a cultura, nos seus vários sentidos, discutiram-se as mutações e transformações estruturais por que as actividades culturais passam nos dias de hoje, bem como aqueles aspectos que sempre mar- caram, e continuarão a marcar, a fruição e a criação cultural, desde sempre. Mas o que estava aqui em foco era a relação entre cultura e desenvolvimento, e em particular a sua relação com os desafios do desenvolvimento territorial. Importa, como é amplamente referido e assumido politicamente ao longo das páginas deste livro, distinguir esta perspectiva da mera actuação no âmbito da política cultural, e estabelecer as diversas pontes que ela requere, seja intersectorialmente, seja interinstitucionalmente, quer ainda com os territórios concretos e as comunidades a quem ela se destina e com que ela se pode construir quotidianamente. Essa relação entre cultura e desenvolvimento passa por um conjunto de desafios nos dias de hoje, que serão aliás reforçados e ampliados ao considerarmos a rele- vância da dimensão territorial desse mesmo desenvolvimento (cf. Costa, 2002). Não entrando agora nestas questões a fundo, gostaria no entanto de deixar aqui um alerta e direccionar a atenção para três questões que importa não perder de vista ao situarmo-nos neste debate, e que de uma forma ou outra, resultam claramente também da discussão tida ao longo deste livro.

relativamente bem documentada, à qual se junta ainda todo um outro conjunto de referências, no campo mais pragmático do apoio ao desenho e à formulação de políticas públicas, incluindo, por exemplo, Santos (2005), Babo e Costa (2006, 2007); Costa (2009,2010); Mateus (2005, 2010); ou Garcia (2014).

É no entanto no campo mais específico da relação das actividades culturais com o território e com o desenvolvimento territorial que se inserem em grande parte as questões que nos interessa ver aqui discutidas. E neste quadro particular vários contributos se destacam: desde a relação mais genérica da cultura com a cidade e com os espaços urbanos (Silva, 1995; Lopes, 2000, 2000a; Fortuna e Silva, 2001, 2002; Costa, 2002, 2007), até ao equacionar da relação com as políticas territo- riais e o desenvolvimento local (Costa, 2002, 2007, 2007a, 2015; Costa e Babo, 2007; Babo 2010; Marques e Portugal, 2007; Seixas e Costa, 2010; Silva, 2007; Albuquerque. 2012; ou Silva et al, 2013, 2015) e a sua avaliação (Rato et al, 2010), ou até ao aprofundar da relação entre dinâmicas criativas e desenvolvimento territorial, nas suas diversas vertentes (Costa et al, 2007, 2008, 2011; Costa, 2008; 2011; Costa e Lopes, 2011, 2013).

Não importará aqui estar a revisitar todos estes contributos, nem sequer apro- fundar o debate sobre eles neste quadro específico. Ficam como sugestões para quem tiver interesse em fazê-lo. Importa aqui apenas, eventualmente, remeter antes para um conjunto de ideias-chave de síntese, de certa forma enquadradas e contextualizadas em pontos de partida anteriormente explorados nesta bi- bliografia, mas que decerto são, em grande parte, retomados neste processo de reflexão agora empreendido, e que estão subjacentes a muitos dos contributos apresentados e à discussão efectuada neste livro.

2. ALGuMAS IDEIAS-CHAvE

Fará portanto sentido elencar antes aqui então um conjunto de cinco pontos, que me parecem ser um conjunto de ideias-chave fundamentais que ficam após este debate e que importará ter em conta e realçar após este processo.

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à UE -, à escala local - das agendas xxI para a cultura às práticas de planeamento estratégico mais transversal). No entanto, a reflexão efectiva sobre a noção de desenvolvimento, e sobre o desenvolvimento territorial que se pretende, e sobre o que fazer para lá chegar, não parece ainda ter assumido a centralidade pretendi- da, e a relevância que pode ter, inclusivamente, nos próprios processos e práticas de criação e fruição artística. É verdade que discutimos aqui o desenvolvimento, e assumimos a sua multidimensionalidade, mas também é certo que ele conti- nua em muitas agendas e em muitas mentes dominado ainda pela mera noção de crescimento económico, e isto não obstante há muitas décadas as próprias instituições internacionais assumam o desenvolvimento em várias dimensões que, apesar de tudo, não são apenas retórica. Obviamente que à noção da eficiência económica se vieram juntar progressivamente as questões da coesão social, da participação cívica, da qualidade ambiental, mas também a questão da expressão cultural e identitária. A dimensão cultural é portanto uma componente intrínseca do desenvolvimento, e a assunção dessa componente, de lógicas de promoção do desenvolvimento que veiculam e utilizam a cultura como um fim em si mesmo e não como apenas um meio para atingir os outros fins do desenvolvimento, será algo de muito importante a nunca deixarmos de ter em conta neste debate, seja qual for a posição que assumamos nesse campo, dos criadores e artistas aos produtores culturais, dos políticos preocupados com a intervenção social aos técnicos de planeamento, dos públicos culturais aos vereadores da cultura. E será portanto importante nós discutirmos a fundo o papel e a relevância intrínseca da cultura quando discutimos o desenvolvimento, também.

1.2. Assumir a dimensão “política” das políticas

Há uma segunda vertente fundamental, quando se fala desta questão das po- líticas culturais para o desenvolvimento, que importa realçar. Ela foi bastante discutida na conferência em que se baseia este livro e está presente em diver- sos dos contributos aqui apresentados. Mas penso que será importante voltar a salientá-la. É a questão de que estamos a falar de uma dimensão política, e esse facto, a necessidade de uma dimensão política na actuação, ou seja, a assunção da dimensão política em toda a sua plenitude, que reflicta uma efectiva consciência 1.1. Problematizar conceitos

A primeira dessas questões relaciona-se com a necessidade de problematização dos conceitos que aqui estão subjacentes. Isso tem sido feito, e bem, mas importa não perder de vista a utilidade de o continuar a fazer, em permanência. Ao longo dos diversos capítulos aqui apresentados eles são de certa forma questionados e são-nos colocados em perspectiva. A noção de cultura, por exemplo, é bastante problematizada, bem como a sua evolução ao longo do tempo e os vários tipos de entendimentos que sobre ela se foram afirmando ao longo da história, bem como as várias perspectivas com que hoje podemos olhar para a noção de cultura e os desafios que isso nos coloca (vejam-se em particular os textos da parte II, de Holden, Barbieri ou Ribeiro, mas também os da secção III, por exemplo).

O mesmo podemos dizer em relação à concepção de comunidades e à forma como as noções de públicos da cultura e de práticas culturais foram evoluindo para uma crescente articulação com a ideia de comunidade (e do seu enquadra- mento territorial) e da ideia de comunidades para uma noção de multiplicidade de comunidades, que colocam desafios muito estimulantes às lógicas de criação artística e de intervenção nesses territórios (de, com, para as comunidades...), aos mecanismos de fruição e recepção cultural, e às práticas de intermediação, gatekeeping e construção de reputações (vejam-se sobretudo a este propósito os textos da parte III, Porto, Costa, Paiva, mas também os da parte II, Ribeiro, Barbieri, Holden, e, também, mais na prática, em certa medida, os contributos reunidos na parte IV).

No entanto, eu diria que sinto a falta, no final deste percurso, de discutirmos mais o terceiro vértice deste triângulo cultura – territórios - desenvolvimento. Apenas pontualmente, e essencialmente nos contributos respeitantes à parte IV do livro, mais na vertente política (bem como no debate tido na conferência, no mesmo painel) esta questão foi aflorada com um pouco mais de profundidade. Faltará eventualmente os agentes culturais entrarem mais neste debate e aprofundarem o conceito de desenvolvimento. É certo que a cultura entrou nas agendas do desenvolvimento (desde a escala global, das grandes instituições internacionais - das diversas instituições e programas das Nações Unidas à OCDE, à OMC ou

discussões sobre as actividades culturais e criativas ao longo dos últimos anos. Como sempre, serão debates acesos, os que são suscitados pelas discussões sobre a instrumentalização da cultura. Eu não quereria entrar neles aqui. Desejo apenas alertar para os múltiplos riscos da instrumentalização. Por um lado, os vários riscos da instrumentalização que todos conhecemos, em que a cultura (e os artistas, e os seus projectos, e as suas vontades) é assumida como algo de útil e meritório, mas na senda de outros objectivos da actuação pública (seja a criação de valor económico e de emprego, seja a inclusão social, seja a expressão da multicultu- ralidade e da participação plena ou da cidadania, seja o seu papel nas lógicas de regeneração ou de revitalização urbana, etc.). Esta perspectiva, recorrentemente defendida ao longo das últimas décadas, face à evidente realidade dos factos, e ao peso político de algumas das retóricas associadas à “economia criativa”, não deixa de ser aqui também plenamente sublinhada. É clara, portanto, para todos nós, a perspectiva de como a cultura é, ou pode ser, instrumentalizada. Mas, não o esqueçamos, haverá também o risco contrário, ou seja, de o desenvolvimento também poder ser instrumentalizado pela cultura (com vários dos diversos outros objectivos e fins do desenvolvimento e da actuação em torno das comunidades ser apropriada e instrumentalizada pela criação e produção artística, em nome do desenvolvimento desses territórios, sem efectivo retorno para as comunidades envolvidas no processo) e, portanto, de termos aqui potenciais instrumentaliza- ções, a vários níveis, para as quais será importante estarmos alerta e que será interessante discutir.

Será portanto fundamental ter a noção de que há riscos de instrumentalização. Naturalmente que haverá. Será fundamental combatê-la; obviamente que sim; mas será também fundamental não ficarmos paralisados por isso, mas conse- guirmos em vez disso aproveitar o potencial e as oportunidades que, por exemplo, os actuais quadros de financiamento permitem (em particular no âmbito do financiamento da União Europeia e no âmbito do Quadro Portugal 2020), para a promoção do desenvolvimento territorial e das actividades culturais. Aproveitar portanto as hipóteses de genuínas colaborações que as partes, conscientemente, entre si estejam interessadas em explorar, conjugando motivações e interesses específicos em torno de oportunidades de colaboração comuns que satisfaçam, e priorização desta questão na agenda das instituições, é fundamental. Isso

é referido em diversos dos contributos aqui sistematizados e, inclusivamente, foi aqui institucionalmente assumido pela ARTEMREDE, reivindicando uma assunção política desta dimensão e a inserção da cultura, de forma mais holística e transversal, na agenda política. Agora, essa inserção da cultura na agenda passa, entre outras coisas, por aquilo que é a assunção de uma visão. E esse assumir de uma visão não poderá ficar apenas, como muitas vezes tem acontecido, pela retórica, mas tem de consubstanciar a assunção de uma visão partilhada entre os vários decisores políticos que fazem parte de uma instituição (seja um município, um governo, uma rede, ou uma organização que faça a gestão de um financiamento comunitário, por exemplo), que a coloquem efectivamente no centro da sua acção quotidiana. Na maior parte das instituições, será dos agentes que são responsáveis pelo sector cultural, de uma vereação cultural, de um departamento cultural, que eventual- mente este esforço de articulação terá de partir. E, neste quadro, a questão das agendas mais “fracas” e mais “fortes”, nos contextos de crise contemporâneos e face às actuais lógicas de governança é fundamental, como bem refere João Ferrão no seu texto, e será portanto fundamental para esta inscrição da dimensão política dentro de cada uma das instituições. Eventualmente estaremos todos de acordo ao dizer que a dimensão política e a inserção da Cultura na agenda será uma questão unânime. Será certamente ao nível da retórica, mas poderá não o ser efectivamente na prática, sendo importante trabalhar, dentro de cada instituição, para criar os mecanismos, formais e informais, que contribuam para essa assunção prática, associando-a a uma visão para o desenvolvimento de um território, para o desenvolvimento de um espaço comum, para o desenvolvimento de uma comunidade, em torno de projectos e acções comuns, mas que não façam perder de vista a especificidade da actuação no campo cultural.

1.3. Estar atento à(s) intrumentalização(ões)

Uma terceira vertente que eu gostaria de destacar, ainda dentro desta questão das políticas para o desenvolvimento, é a questão da instrumentalização. Natu- ralmente, é sugerida por diversas vezes ao longo dos textos apresentados neste livro, como não poderia deixar de ser, tal como tem sido hábito nas diversas

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a. Combater a sectorialização das intervenções

O primeiro e mais imediato nível de articulação é o sectorial, isto é, entre as diversas lógicas sectoriais institucionais que enformam a actuação dos diversos agentes (a “cultura”, o “planeamento”, a economia”, o urbanismo, a intervenção social, a educação, etc.). A ARTEMREDE, claramente, no seu Plano Estratégico está a assumir isso como prioridade, e o facto de termos tido aqui, em torno deste livro e deste processo, duas vereações diferentes, dentro da mesma Câmara, associadas a esta iniciativa, é um bom sinal. Mas para além deste exemplo, importa pensar o mesmo a todos os níveis da Administração Pública, de forma a termos claramente um debate e uma concertação de actuações entre a Cultu- ra, a Economia, o Turismo, o Planeamento Urbano, a Inclusão Social, a Educação, a Promoção do Desenvolvimento, e tantos outros.

b. As escalas de actuação

O segundo nível de articulação refere-se às diferentes escalas de análise e de interven- ção sobre os problemas: as escalas territoriais. Não foram aqui tão faladas, embora te- nham sido referidas em alguns textos, mas são inequivocamente fundamentais, e são- -no em particular quando falamos especificamente da ARTEMREDE, para além disso. É fundamental a concertação e articulação das actuações às diversas escalas e a compatibilização de lógicas de política e estratégias de governança que concertem os diferentes interesses territoriais, e os compatibilizem, às escalas distintas: seja ao nível da articulação institucional dentro daquilo que será o nível mais local (municípios, freguesias, mas também actuação no seio das associações intermunicipais ou áreas metropolitanas), seja ao nível da articulação da actua- ção local com a Administração Central, seja ainda no campo daquilo que são as políticas da União Europeia e a definição de políticas transnacionais, seja também (e sobretudo...) com os níveis não institucionalizados administrativamente. E estes níveis não institucionalizados, exigindo esforços suplementares de negociação e concertação, podem ser muito relevantes, e serão-no claramente no caso de uma rede de municípios que nasceu numa base territorial regionalmente marcada, como a ARTEMREDE, mas que se move e colabora num espaço territorial que envolve um conjunto de municípios de três “regiões” estatístico-administrativas distintas (Lisboa, Centro, Alentejo), na actual configuração formal que condiciona estas simultaneamente esses diversos interesses. Na prática, isso traduz-se em apro-

veitar aqui sobretudo a questão de termos consciência de que apesar de existirem (natural e legitimamente, aliás...) agendas múltiplas, que serão a expressão dos diferentes interesses e motivações (uns económicos, outros culturais, outros associados à requalificação e revitalização urbana; outros à inclusão social ou ao fomento da cidadania, etc.) dos diversos agentes no terreno, temos, efectiva- mente, oportunidades que podem ser exploradas, com vantagem para as diversas partes, sem sacrificar (antes pelo contrário) os objectivos específicos da actuação de cada um, sejam estes artísticos, sociais ou outros.

2. COLOCAR O FOCO NAS ARTICULAçõES, NAS LIGAçõES, NA TRANSVERSALIDADE

A segunda grande questão que eu gostaria de realçar, e que é também de certa forma transversal aos diversos contributos apresentados neste livro, é a que se associa à necessidade de colocarmos o foco das nossas preocupações nas articulações entre os diferentes actores e as suas diversas formas de actuação. O foco nas ligações, o foco na transversalidade das acções, foi aqui referido por vários dos autores (vejam-se em particular os contributos da parte IV, Ferrão, Vaz Pinto, Pardal e Matos, mas também os da parte III, pela própria natureza dos trabalhos de mediação, naturalmente), e será decerto um elemento chave para o sucesso de uma actuação que se pretenda duradoura, resiliente e sustentada, tanto no campo cultural, como no campo do desenvolvimento dos territórios. Esta articulação pode ser vista pelo menos a cinco níveis distintos, os quais, mais do que aprofundar novamente, eu apenas gostaria aqui de elencar e sistematizar de seguida.

2.1. uma articulação múltipla, a várias dimensões

Conforme referia, esta necessidade de articulação, necessita de ser equacionada e pensada pelo menos a cinco níveis distintos:

e. Articulando indivíduos: políticos, técnicos e artistas

Um quinto e último nível de articulação, menos destacado nestes contributos escritos (e polarizada, na conferência que lhes esteve na base, essencialmente pela referência à maior ou menor presença dos artistas e dos criadores neste processo de reflexão), mas não de somenos importância, é o que se associa à articulação entre as diversas práticas e tradições que constituem o trabalho numa instituição ou em torno de um projecto concreto: a dimensão política, a dimensão técnica, a dimensão artística e forma como as pessoas em concreto, que fazem essa li- gação, conseguem articular as suas vontades e interesses. Esta ligação é muitas vezes esquecida (sendo bem relembrada no capítulo da vereadora Catarina Vaz Pinto), mas é uma dimensão que é fundamental, em termos do funcionamento, na prática, do que são estas interacções. Só trabalhando competências (e vontades) que permitam este diálogo entre saberes-fazer tão diversos e práticas epistemo- lógicas e heurísticas muitas vezes tão díspares se podem obter resultados que garantam uma actuação duradoura e bem sucedida nestes campos de fronteira.

2.2. Conjungando e mobilizando interesses em torno de ideias e projectos comuns

Na prática, o que nós teremos aqui é uma conjugação de interesses, individuais e colectivos, em torno de projectos concretos ou de actuações específicas. Con- forme é salientado em diversos dos textos apresentados, no campo da criação, no campo da mediação com as comunidades ou entre os agentes culturais, no campo da relação com os públicos, temos projectos concretos, que serão o resultado da conjugação de interesses particulares de cada actor ou instituição, decorrentes de uma sua visão estratégica sobre a sua acção. Mas esta é uma articulação que, na prática, para funcionar, tem de ser uma conjugação de motivações e de vontades de pessoas que queiram trabalhar em conjunto ou que tenham bases para dialogar e para estar em relação umas com as outras e que consigam portanto comunicar e trabalhar em conjunto. Terão de estar portanto, na prática, baseadas em motivações intrínsecas e não só em motivações extrínsecas, se queremos ter a pretensão que elas sejam resilientes e se afirmem em relações estáveis e duradouras, que possam contribuir para um desenvolvimento efectivo dos territórios onde se desenrolam. sub-regiões para diversos fins (entre eles, o acesso a financiamentos comunitá-

rios). Concluindo, num espaço fluído, de geometria cada vez mais variável, todos estes quadros se entrecruzam entre si, mais ou menos formalizados, tornando

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