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Capítulo 3 – A Coleção Instrumentos da Alfabetização e a abordagem sobre o

3.2 Breve descrição do contexto de formação, propostas e conteúdos dos

3.2.1 Contagem

No ano de 2005, todos os 980 professores do 1° ciclo do ensino fundamental em exercício da rede municipal de Contagem participaram do Programa Instrumentos da Alfabetização61 – curso de formação ministrado pelos profissionais

do Ceale com a Coleção Instrumentos da Alfabetização – viabilizado por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Contagem (SEDUC) e o Ceale da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG.

O curso foi ministrado por nove formadores62 do Ceale, entre os meses de agosto e novembro, na própria cidade de Contagem. Teve duração de 40 horas,

61 Em 2006, a capacitação teve continuidade: 1.040 educadores concluíram o curso Alfabetização e

Letramento, também desenvolvido pelo Ceale. Em 2007, como resultado dessas duas formações, é lançado o caderno Contagem: Proposta de Alfabetização e Letramento. Trata-se de uma proposta de ensino para professores do 1° ciclo do ensino fundamental. Além de abordar aspectos teóricos e metodológicos da alfabetização, o caderno traz relatos de experiências e depoimentos dos professores de Contagem, que participaram ativamente da elaboração do material.

62 Participei deste projeto de formação como formadora. Esclareço que a professora Rosa não

integrava meu grupo de trabalho, e meu primeiro contato com ela ocorreu no momento desta pesquisa.

sendo 10 encontros de 4 horas cada, realizados no próprio turno de trabalho do professor. As escolas elaboraram estratégias próprias para dar continuidade às aulas e atender as crianças dos professores ausentes da escola e presentes nesta formação.

O curso de Contagem abrangeu os cinco primeiros volumes63 da Coleção Instrumentos da Alfabetização. Para orientar os nove formadores havia um roteiro geral de atividades, contendo sugestões didáticas e materiais de apoio. Ao longo de duas semanas consecutivas com cada grupo de professores, foram desenvolvidas diferentes dinâmicas para exploração do material da Coleção, além do uso de outros fornecidos pelo Ceale, como power point, com apresentação do conteúdo dos volumes, jornal Letra A, do próprio Ceale, vídeos de temática educacional, por exemplo, “Programa alfabetização e letramento 2004 – Salto para o Futuro” e “Construção da escrita – Primeiros Passos”.

A partir do roteiro, pode-se apreender a ideia-chave de cada um dos encontros: (I) As condições de alfabetização do ponto de vista tanto da formação de cada professor quanto das práticas implementadas por eles; (II) Desafios atuais para a implementação de proposta de alfabetização para o ensino fundamental; (III) Valorização da cultura, escrita e oral, e apropriação do sistema de escrita pela criança; (IV) Apropriação do sistema de escrita (continuidade), produção de texto e leitura; (V) Relação entre as capacidades apresentadas no volume 3 e as respectivas atividades criadas pelos cursistas para exploração com as crianças; (VI) Avaliação diagnóstica da alfabetização, exposição dos descritores, respectivas atividades e formas de aplicação; (VII) Avaliação diagnóstica da alfabetização (continuidade), distinção das 18 capacidades e criação de novos instrumentos de avaliação; (VIII) Elaboração de quadros com as rotinas dos trabalhos diários dos cursistas, justificando as atividades, comparação entre o quadro de rotina apresentado na Coleção e o elaborado pelos professores; (IX) Sem temática prévia definida, cada formador trabalhou de acordo com a necessidade de aprofundamento específico de seu grupo; (X) Atividade de síntese da semana, discussão de possíveis desdobramentos da formação para: leitura dos cadernos, aplicação de instrumentos nas escolas, análises dos resultados, por exemplo.

63 No roteiro elaborado pelos profissionais do Ceale, os volumes da Coleção são identificados por

A professora Rosa mostrou-nos, em sua casa, as anotações que realizou, diariamente, no curso de formação: distribuídas em 19 folhas de papel A4, frente e verso, em páginas que numerou, escritas em caneta azul, com capricho, de aparência limpa, sem rasuras e cuidadosamente guardadas em um saco plástico.

As anotações são esquemáticas, apontam os temas trabalhados, as atividades propostas pelo formador, algumas de suas perguntas, cópia de fragmentos de slides, títulos de vídeos assistidos, bibliografia sugerida, dinâmicas realizadas pelas cursistas, seus agrupamentos para produção de atividades e os nomes destas atividades criadas por cada um dos grupos.

A seguir, apresentamos um recorte das anotações feitas pela professora Rosa, nos dias 16 e 19 de agosto de 2005, correspondente ao 2º e 5º encontros da formação, pelo fato de que podem ilustrar mais de um dos itens apontados acima.

Em suas anotações que nos parecem registrar a fala da formadora, aqui exemplificadas com dados do dia 16, os conteúdos mais evidentes referem-se à análise das condições de alfabetização no Brasil, o papel da escola e do professor na formação de seus alunos e, especialmente, concepções de ensino e de aprendizagem, essas em registro mais longo e detalhado.

Neste dia, a indicação no roteiro, para a abordagem do caderno 1, são os o desafios atuais para a implementação de proposta de alfabetização para o ensino fundamental, cujas estratégias correspondentes são: Exposição em power point (formação de professores) da discussão sobre os problemas atuais da alfabetização; Estudo de casos: Débora (caderno 1 do antigo documento da Secretaria Estadual) e Paulo (caderno 1 da Coleção Instrumentos); Roteiro: refletir sobre o que cada criança tem em comum, a diferença entre as crianças e sobre como abordaria o caso como professor. E recursos anunciados Apresentação do vídeo: Programa 1 e alfabetização e letramento 2004 – Salto para o Futuro – fala de Magda Soares.

A criança aprende a ler, lendo e a escrever, escrevendo.

A criança é produtora de textos muito antes de aprender a ler e escrever. Ela participa de atividades praticas de leitura/escrita dentro e fora da escola.

Letramento Conjunto de conhecimentos, atividades e capacidades necessários para usar a língua em práticas sociais.

Como resolveremos?

Dados mostram que os livros mais solicitados ao MEC pelas escolas são os do princípio silábico.

O construtivismo alterou a concepção do processo de construção da representação a língua escrita pela criança.

A criança passa a ser sujeito ativo na construção do processo de língua escrita, interagindo com o objeto de conhecimento dentro do contexto de praticas sociais.

Romper com visão etapista da aprendizagem

Todos os métodos de alfabetização têm contribuições a dar ao processo de alfabetização.

A questão metodológica da alfabetização possui, assim, de fato, um peso importante no fracasso em alfabetizar.

Recortamos, também, de suas anotações, aquelas feitas no dia 19, 5º encontro de formação, em que a professora Rosa cita a capacidade abordada e sugestão de atividade. Prevista no roteiro a continuidade da apresentação do caderno 3, com síntese da discussão das capacidades, cujas estratégias correspondentes são: dividir os grupos por cada quadro de capacidades e solicitar lista de atividades para cada eixo, com justificativa para escolha de atividade; solicitar uma reflexão sobre a articulação entre os eixos.

Apropriação do sistema de escrita Capacidades:

 Dominar as relações entre fonemas e grafemas.  Dominar regularidades “ortográficas”

Usar – Travalíngua - poesia - texto - parlenda

Selecionar e fazer generalizações em relação às regularidades ortográficas

TAGARELA CORRIDA REMÉDIO AMOR

CARA BARRACA RISADA DOR

TIRO FORRÓ RETA COR

CARO CARO ROUPA FAZER

SIRI RUA PORTA

REDE

Classificar antes de trabalhar as regras – condicionadas à posição – os valores do R que irão variar de acordo com seu contexto dentro da palavra (valor sonoro).

Cruzadinha – caça-palavras – forca – texto lacunado.

A regra construída pela observação, a criança memoriza com mais facilidade, ela é internalizada.

Nos exemplos acima, destacamos dois principais conjuntos de dados apreendidos nas anotações da professora Rosa: (I) em relação à abordagem teórica, análise das condições de alfabetização no Brasil, o papel da escola e do professor na formação de seus alunos e, especialmente, concepções de ensino e de aprendizagem, essas em registro mais longo e detalhado e (II) em relação à prática, sugestão de atividades oferecidas tanto pela formadora quanto por suas colegas na apresentação de trabalhos em grupo.

Neste documento analisado, não há anotações nem em relação à condução da formação e ao conteúdo da mesma. Também não indicação de relação feita com a sua prática ou o destaque gráfico de algo que tenha chamado mais a sua atenção.

O que significa para a professora Rosa esse tipo de anotação? Ela aponta as ideias-chave para reforçar suas posições? Não há registro, na pesquisa feita, de que a professora tenha retomado tais questões. Também não prosseguimos com a análise dessas anotações porque não constituem nosso objeto específico de estudo, mas tais registros indicam que é a professora é investida, empenhada na formação e que acompanha as discussões por meio de sínteses que acha por bem registrar.