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CAPÍTULO II — O AGIR MORAL NO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

2. Conteúdos e objetivos

2.2. Conteúdos a lecionar

O Programa de Educação Moral e Religiosa Católica - Ensinos básico e

secundário, de 2007, propõe-se um conjunto de conteúdos para a lecionação da Unidade

Letiva 4, que merecem uma crítica objetiva. Se excetuarmos os conteúdos que estão diretamente conectados com o perdão, tema abordado na perspetiva bíblica e documentado com textos do Antigo e do Novo Testamento215, todos os demais se circunscreveram ao estudo do mal e do pecado. Desde o início nos questionámos como se pode falar de concórdia, união, entendimento, harmonia, conciliação e paz, deixando de lado o bem e a virtude. Traspomos aqui os conteúdos referidos no Programa da disciplina, não como um mero exercício de transcrição, mas para análise crítica dos objetivos curriculares propostos:

• Significados da palavra «mal». • O mal moral.

• Mal moral e pecado.

• Manifestações do mal moral no mundo e na vida pessoal. • Perdoar o outro e recusar a vingança.

• Etapas para a superação do mal moral e dos conflitos que dele resultam. • Promoção da concórdia nas relações interpessoais216.

A semântica proposta pela Comissão Episcopal da Educação Cristã, que elaborou o Programa da disciplina, coloca a promoção da concórdia no termo do percurso. Deste modo, a concórdia surge como produto dos elementos antecedentes previamente encadeados, ou seja, como superação do mal e do pecado, através do exercício do perdão. Concordamos que esta proposta seja adequada para aplicação em situações de rutura, isto é, quando é necessário reatar uma concórdia interrompida, neutralizada ou fragmentada, por causa do mal ou do pecado. Nesse caso, o perdão atuaria como um bálsamo que repara alianças e transforma desacordos em acordos ou re-acordos. Planificar a Unidade Letiva unicamente com este rumo, demasiado focada nos aspetos negativos, dificilmente motivaria os alunos e as alunas e, além disso, seria uma abordagem limitada e restritiva, pois a concórdia deve ser apresentada como uma forma de viver socialmente em harmonia, como opção para a construção da cidadania.

215

O perdão no Antigo Testamento encontra-se documentado com o texto de Sir 28,1-7; e o perdão no Novo Testamento, com o texto de Mt 18,21-35, isto é, perdoar até setenta vezes sete e a parábola do rei misericordioso e justo: Cf. COMISSÃO EPISCOPAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Programa de Educação

Moral e Religiosa Católica - Ensinos básico e secundário, Lisboa: Secretariado Nacional da Educação

Cristã, 2007, 79.

216

Cf. COMISSÃO EPISCOPAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Programa de Educação Moral e Religiosa

Sem nos desligarmos destes pressupostos, pretendemos que a nossa planificação proporcione uma aprendizagem mais abrangente da temática, trabalhando a questão da concórdia a montante, isto é, antes de qualquer rutura, como via para alcançar uma convivência social harmoniosa, serena, pacífica e cívica.

Vejamos o elenco dos nove conteúdos que desenvolvemos na Prática de Ensino Supervisionada, em paralelo com os que são propostos pelo Programa de Educação Moral

e Religiosa Católica, para esta Unidade Letiva do 5.º Ano do ensino básico 217.

Quadro sinótico:

conteúdos a lecionar / conteúdos propostos Conteúdos a lecionar

para a Unidade Letiva 4:

Promover a concórdia

Conteúdos propostos no Programa da disciplina

para a Unidade Letiva 4:

Promover a concórdia

1 • Definição de «concórdia». —

2 • A importância da concórdia para a cidadania.

• Promoção da concórdia nas relações interpessoais.

3 • A liberdade de escolha. —

4 • O agir moral. —

5 • O exercício da vontade na tomada de

decisões. —

6 • Opções e suas consequências. —

7 • O mal natural, o mal moral e o pecado.

• Significados da palavra mal. • O mal moral.

• Mal moral e pecado

• Manifestações do mal moral no mundo e na vida pessoal.

8 • A importância do perdão para promover a concórdia.

• Perdão no Antigo Testamento. • Perdão no Novo Testamento.

• Etapas para a superação do mal moral e dos conflitos que dele resultam.

9 • A importância da paz para promover a

concórdia. —

Justifica-se a nossa proposta de desenvolvimento de conteúdos porque nos parece fulcral fundamentar o contributo que o bem e a boa ação devem ter para construir a concórdia entre pessoas e grupos. Se partíssemos unicamente do mal e do pecado, seria

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Este quadro sinótico encontra-se mais desenvolvido, com a descrição dos objetivos para cada um dos conteúdos, no Anexo 3 — Conteúdos a lecionar e conteúdos propostos, que compara os conteúdos a lecionar e os que são propostos no Programa de Educação Moral e Religiosa Católica, para a Unidade Letiva 4, Promover a concórdia, do 5.º Ano do Ensino Básico.

mais difícil levar os alunos e alunas a participar nas aprendizagens de uma forma empenhada e ativa. Por isso, a nossa opção tem, não só a virtude de permitir atingir uma definição mais completa da palavra concórdia, mas também e, sobretudo, de proporcionar estratégias para a sua operacionalização, em contexto de sala de aula.

Assim, mantivemos os principais conteúdos propostos pelo Programa, mas em articulação com outros, que nos parecem essenciais para cumprir o objetivo agora traçado, isto é, o de tratar o tema da concórdia na perspetiva de uma cidadania ativa. Nesse sentido, os conteúdos que propusemos estão relacionados com as boas práticas de cidadania e a construção de uma sociedade justa, baseada em valores como a liberdade, a igualdade, a tolerância, a autonomia, a responsabilidade, o respeito por si próprio e pelo outro, a não discriminação, a participação, a solidariedade, a justiça social, a democracia, o respeito pelas leis e regras, a paz, a cooperação e o compromisso social.

Temos consciência de ter reunido um acervo temático arrojado que, para ser desenvolvido devidamente, necessitaria de seis tempos letivos de 45 minutos. Como vemos, partimos do conceito de concórdia e desenvolvemos a sua relação com a cidadania, articulando com a disciplina de Saúde, Ambiente e Empreendedorismo218. Afirmamos a necessidade da liberdade para realizar escolhas. Destas surge o ato moral, como exercício de uma vontade livre. Alertamos os alunos para as consequências das opções de cada um. Só depois deste percurso enfrentamos os conteúdos propostos pelo Programa, pela mesma ordem e com a mesma profundidade com que foram fixados. A estes somamos o tema da paz, como conteúdo fundamental para promover a concórdia. Rejeitamos a definição de mal pela negativa, enquanto «o antónimo de “fazer o bem”»219, como prevê o Programa da disciplina. Frisamos a distinção entre mal natural, o mal moral e o pecado; e damos maior relevo ao texto bíblico neotestamentário proposto sobre o perdão, com uma representação teatral de mesmo.