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CAPÍTULO II — O AGIR MORAL NO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

3. A Prática de Ensino Supervisionada

3.7. O mal natural, o mal moral e o pecado

A experiência letiva na Educação Moral e Religiosa Católica diz-nos que não é alheio aos nossos alunos e alunas, mesmo do 5.º ano do ensino básico , o conhecimento de que, desde o nascimento até à morte, o ser humano padece diversos males e abundantes sofrimentos, que não são fáceis de explicar. Efetivamente, entre os enigmas que desafiam a compreensão humana, sobressai o escândalo do mal, não só pela sua difícil hermenêutica, mas sobretudo pela repulsa que suscita para todo o ser humano.

Todos os males, físicos ou morais, são causa de sofrimento. O mal físico compreende todo o mal experimentado pelo ser humano, as dores, os sofrimentos, as misérias. O mal moral designa todo o mal cometido pelos humanos258. Quando o mal procede do livre exercício da liberdade humana, tem a sua causa precisamente no exercício arbitrário, ou mesmo perverso, dessa liberdade. No entanto, outro mal pode ocorrer como resultado de processos naturais, tais como catástrofes, acidentes e outros acontecimentos inerentes às leis da natureza, por isso o designamos como mal natural. Este não pode ser imputável à vontade livre de um sujeito, embora tenha em comum com os outros a capacidade de causar sofrimento físico e psicológico.

Dois são os objetivos desta aprendizagem: compreender o significado da palavra mal e distinguir entre mal natural, mal moral e pecado. Como recurso retomámos o «Jogo da opinião livre», complementado pela apresentação de PowerPoint e os já conhecidos personagens Salomão e Salomé. A sua entrada em cena marcou a transição entre a revisão da lição anterior e o início das aprendizagens. Por isso, a Salomé começa por um reforço positivo ao grupo, dirigindo-se ao companheiro: «Olá, Salomão, já viste como estes alunos estão a fazer uma excelente revisão da aula anterior?!». Em seguida, questionam os alunos se ainda recordam a regra de ouro.

Para satisfazer a curiosidade do Salomão e da Salomé, o docente pede a ajuda do grupo para que digam a regra de ouro da moral. A resposta é livre, recaindo sobre um dos alunos que levantou o braço mais rapidamente: «Faz o bem e evita o mal».

À questão do bem havíamos dedicado três lecionações. Cabia agora tratar a questão do mal. Para implicar os alunos na resposta, começámos o «Jogo da opinião livre», colocando à consideração dos alunos e alunas as seguintes afirmações, formuladas em jeito de definição, mas nem todas verdadeiras: «Mal é provocar sofrimento nos outros ou em mim próprio»; «O mal é ser apanhado a copiar num exame»; «Mal é fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós». 10 minutos, foi o tempo previsto para a concretização

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PORÉE, Jérôme, Mal, sofrimento, dor, in CANTO-SPERBER, Monique, Dicionário de Ética e Filosofia

desta estratégia. À semelhança das aprendizagens anteriores, os alunos e alunas pronunciaram-se em relação a cada uma das questões, afirmando a concordância ou não, através da exibição da placa respetiva. Finalmente, após cada votação, o docente registava no quadro o resultado, e conduzia, em seguida, um breve debate, permitindo que cada um justificasse o seu voto. As votações foram bastante assertivas e as justificações dos alunos corresponderam ao esperado.

Quando planificámos este conteúdo, tínhamos noção de que o Programa da disciplina dava grande importância ao problema do mal, pelo que podíamos contar com bastantes recursos no Manual do Aluno. De entre os possíveis, selecionámos o texto «Manifestações do mal»259. Em articulação interdisciplinar com a disciplina de Português, a estratégia consistia em lê-lo e estudá-lo, considerando que 6 minutos seria o tempo suficiente para o fazer. Antes, porém, pedimos ao aluno com Necessidades educativas especiais, que recolhesse as placas e as guardasse na respetiva caixa, enquanto os colegas abriam os livros, o que serviu como momento de transição, que o grupo percebeu de imediato. O texto é bastante claro e conciso e mostrou se um excelente recurso para cumprir, no plano teórico, os dois objetivos que nos havíamos proposto. Foi lido por uma aluna e explicado pelo docente.

Figura 12: Mal moral / mal natural.

Partimos, em seguida, para um exercício prático, planificado para verificar se a aprendizagem estava consolidada. A estratégia consistiu em apresentar imagens de situações de mal e sofrimentos, pedindo aos alunos que as classificassem como mal natural ou mal moral (ver figura 12). Avaliámos o trabalho, a que dedicámos 7 minutos, como excelente. Os alunos mostraram ter a capacidade de identificar cada uma das situações, sem

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COMISSÃO EPISCOPAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ, Caminhos de encontro, Educação Moral e

hesitar. A interdisciplinaridade destes conteúdos fez-se com a disciplina de Saúde, Ambiente e Empreendedorismo, no que diz respeito à noção de riscos naturais.

Para cumprir os objetivos, faltava apenas um conteúdo: a explicitação do conceito de pecado e a sua equiparação a mal moral. Para isso, expusemos muito sucintamente o conceito de pecado, como um comportamento moral incorreto, enquanto desobediência à vontade e ao amor de Deus, que equivale a rejeitar a sua amizade e, por isso, tem como consequência o afastamento da presença de Deus. Em seguida, utilizámos uma estrutura paralela à anterior, isto é, um texto do Manual do Aluno e um acervo de imagens para serem criticadas e comentadas pelos alunos e alunas. O texto selecionado intitula-se «Mal moral e pecado»260.

Para a crítica das imagens criámos um grau de dificuldade suplementar. Cada uma delas correspondia a um mal moral e, em simultâneo, um pecado social. Os alunos participariam depois de levantarem o braço e de serem indigitados pelo professor. No entanto, depois de projetada a imagem, cada aluno só podia dizer uma única palavra. As imagens foram exibidas sem cor, uma vez mais para retirar qualquer aspeto de alegria, pois nos competia transmitir a noção de que mal moral e o pecado são motivo de tristeza para Deus e para a humanidade. Este conteúdo está em articulação interdisciplinar com a disciplina de Saúde, Ambiente e Empreendedorismo, especificamente no que diz respeito à noção de conflito e de violência e consequências da violência para quem a sofre.

A concluir devemos dizer que, apesar de corrermos o risco de deixar a aprendizagem ligeiramente incompleta, evitámos exibir imagens explícitas de situações de pecados pessoais, para o caso de, inadvertidamente estarmos a implicar algum dos alunos. As únicas imagens em que algum aluno se poderia rever, relacionadas com a violência física e verbal, foram exibidas sob a forma de desenhos.