• Nenhum resultado encontrado

CONTEXTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA

A história da empresa Alfa remonta à década de 1980, quando Pedro – nome fictício do fundador - decide abrir uma empresa de treinamento corporativo de informática. No fim da década de 1970, quando escolheu seu curso na Universidade de São Paulo, Geologia era uma das profissões mais bem remuneradas no início da carreira. Entretanto, quando se formou no início dos anos 1980, o jovem se deparou com um mercado de trabalho pouco animador (L_01). Conforme discutido anteriormente, esta época foi um período de grande recessão econômica no Brasil, com poucas oportunidades para profissionais de geologia, dentre outras profissões. Assim, depois de uma breve e frustrada experiência de trabalho no ramo, o jovem geólogo decide mudar de profissão. No ano de 1984, ele realiza um curso de seis meses, de Análise de Sistemas em um banco e consegue seu primeiro trabalho na área, dando início a sua trajetória no mundo da informática (L_01).

Após alguns anos trabalhando na área de informática em diferentes empresas e atuando paralelamente como instrutor em cursos e faculdades, o jovem profissional de tecnologia percebeu que havia uma demanda de treinamento de informática para profissionais de TI. Essa necessidade de treinamento surgiu devido

à chegada de novas tecnologias no mundo corporativo - na época, os mainframes, que são computadores de grande porte com capacidade de processamento de um enorme volume de dados. Diante dessa oportunidade, em 1987, aos 26 anos de idade, ele funda a empresa Alfa, cuja proposta inicial era oferecer treinamentos corporativos de informática. No momento de sua fundação, a empresa Alfa era um pequeno negócio, que funcionava da casa de seu fundador (S_01).

Na década de 1990, com o Plano Collor, a empresa começa a também atuar na área de serviços de TI. É nessa época que, devido à situação econômica nacional e o surgimento de outras demandas no mercado, como o boom da terceirização, a organização precisou direcionar seus esforços ao desenvolvimento e manutenção de sistemas, atuando nos segmentos de outsourcing e fábrica de

software. Esses serviços eram prestados para grandes e médias empresas. Ainda

nessa época, a empresa também passa a atuar com desenvolvimento de softwares por encomenda, bem como, com consultoria para sistemas de outras empresas, realizando parcerias com grandes multinacionais de software (D_01).

Após o primeiro ciclo de crescimento em 1995, a empresa começa sua expansão geográfica, abrindo escritórios em outras três cidades da Região Sudeste e Sul. Em 1996, a empresa dá o primeiro passo em direção à expansão internacional ao abrir uma filial na Argentina. Entretanto, é a partir dos anos 2000 que o crescimento internacional toma impulso com a empresa se dedicando ao processo de internacionalização com a abertura de filiais nas Américas. Em 2000 são abertos escritórios no México e Chile e em 2001, é a vez do Peru, Colômbia e Estados Unidos. Nos anos posteriores, a empresa avança para os países europeus; em 2003 ocorre a abertura das primeiras filiais europeias na Espanha, Portugal e Itália e em 2006, no Reino Unido e depois na Índia (L_01). Ao contrário de muitas empresas brasileiras de TI que buscam se tornar atrativas aos olhos de compradores estrangeiros, a empresa Alfa seguiu uma estratégia de grande empresa global (STAL; MORGANTI, 2011).

Ao longo dos anos, a organização conquistou uma série de certificações, por vezes, sendo pioneira no setor. Em 1996 foi a primeira empresa de serviços de tecnologia do Brasil a conseguir a ISO 9001 que atestava a qualidade de seus serviços, o que na época foi um diferencial de mercado, em termos de marketing

(L_01). Destaca-se, ainda, a conquista do CMMI6 nível 5, em 2005, sendo a primeira

empresa brasileira a adquirir tal certificação (L_01).

Em 2007, a empresa anuncia a intenção de abertura de capital por meio de IPO (Public Initial Offering ou oferta pública inicial); era uma forma de crescer e conseguir capital a um custo mais baixo. Entretanto, a crise econômica que estava por vir mudou os planos da companhia. O projeto de IPO foi adiado e desde então, a empresa permanece de capital fechado, porém com perspectiva de fazer a oferta pública em um momento mais oportuno, segundo seu fundador (D_01).

Até 2010, a base de crescimento da empresa Alfa se caracterizou como orgânica. Isto é, até esse período, o crescimento da organização ocorreu por meio de abertura de novas filiais. Após esse período, a empresa passa a realizar aquisições de outras companhias, em paralelo com o crescimento orgânico para alavancar seu crescimento (L_01).

No final do ano de 2010 e início de 2011, inicia-se uma nova fase de internacionalização. Aproveitando o fortalecimento do Real, a organização realiza sua primeira aquisição internacional - uma empresa norte-americana global, com operação em diversos países e listada na bolsa de Nova Iorque. Em 2011, realiza mais duas aquisições no exterior – uma empresa norte-americana e outra colombiana (L_01). A partir desse momento, a empresa experimenta um grande crescimento, em que suas operações no exterior passam de 10% para 50% do faturamento nos anos mais recentes. Grande parte deste faturamento do exterior vem dos Estados Unidos, segundo maior mercado da companhia, após o Brasil (V_01).

A partir de 2012, a empresa inicia a implementação da transformação digital, passando a concentrar seus esforços na aquisição de startups focadas em serviços digitais e inovação. Foram mais de vinte aquisições e participações em pequenas empresas de alta tecnologia nesses últimos anos (M_45). Durante toda sua trajetória, a organização não obteve prejuízo, experimentando crescimento em todos os anos (D_01). Financeiramente sólida, seu crescimento foi financiado com capital

6O CMMI (Capability Maturity Model Integration) é um conjunto de melhores práticas

globais de diagnóstico e avaliação de maturidade do processo de desenvolvimento de softwares, sendo o nivel 5 o mais alto da certificação (CMMI INSTITUTE, 2010).

próprio (L_01). A tabela 5 apresenta, de forma objetiva, a linha do tempo com os principais eventos da história da empresa Alfa.

TABELA 5 – LINHA DO TEMPO DA EMPRESA ALFA

Ano Evento

1987 Fundação

1989 Abertura do 1º escritório

1990 Início do desenvolvimento e manutenção de sistemas

1994 Desenvolvimento de soluções customizadas para sistemas e aplicativos 1995 Expansão nacional nas regiões sul e sudeste

1996 Certificação ISO 9001 e expansão internacional (Argentina) 2000 Expansão internacional (Chile e México)

2001 Expansão internacional (Peru, Colômbia e EUA) 2003 Expansão ineternacional (Espanha, Portugal e Itália) 2005 CMMI nível 5

2006 Expansão ineternacional (Reino Unido e Índia) 2008 Expansão internacional (Canadá)

2009 Certificação MPS.BR nívl A e aquisição de empresa de inovação. 2010 Primeira aquisição internacional (EUA)

2011 Aquisições (EUA e Colômbia) e faturamento anual atinge 1 bilhão de reais 2012 Início da transformação digital

2013 Aquisição de empresa norte-americana 2014 Obtenção da ISO 27.001

2015 Expansão internacional (Cingapura) 2016 Aquisição de empresa colombiana

2017 Aquisição de empresa de marketing digital 2020 Aquisições de empresas de tecnologia digital

FONTE: Elaborado pela autora com base nos dados coletados (2021).

Atualmente, com 33 anos de história, a Alfa é uma das maiores empresas multinacionais brasileiras, segundo ranking da Fundação Dom Cabral (FDC, 2018). Possui 70 escritórios distribuídos entre o Brasil e mais 40 países: África do Sul, Alemanha, Angola, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Dinamarca, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, França, Grécia, Hungria, Índia, Itália, Malásia, Marrocos, México, Moldávia, Países Baixos, Panamá, Peru, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Singapura, Suécia, Suíça, Tailândia, Uruguai e Venezuela. A empresa possui aproximadamente 25 mil funcionários, sendo cerca de 13 mil lotados no Brasil e 12 mil no exterior (S_01).

A organização está dividida em cinco unidades de negócios: a operação Brasileira; a da América Latina sem o Brasil; América do Norte e Ásia Pacífico; Europa e Oriente Médio; e a divisão de ventures ou novos negócios. A organização

segue prestando serviços tecnológicos tradicionais, tais como Service Desk, Field

Service e terceirização, porém mais recentemente tem focado na oferta de produtos

digitais, com tecnologias voltadas não só para negócios, mas também para o setor de TI, como por exemplo, automação, cloud, Internet das Coisas (IoT), automatização, inteligência artificial e User Experience (UX) (S_01). Atuando em diversos segmentos do mercado como educação, finanças, governo, indústria, marketing, saúde, telecomunicações e varejo, em 2019, a Alfa teve um crescimento médio anual de 30% ao ano, com um faturamento global de 3,3 bilhões de reais (M_20).

Apresenta-se no próximo capítulo, a descrição e análise dos dados com o detalhamento do processo de formação e desenvolvimento de capacidades dinâmicas na empresa Alfa ao longo do tempo, e como a organização interpreta o passado para desenvolver suas atividades de sensing, seizing e reconfiguring no presente.

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa empírica na organização escolhida para o estudo de caso: a empresa Alfa. Sua estrutura encontra-se subdividida nas seções de descrição dos dados e análise dos dados. Na parte de descrição de dados são apresentados os dados primários e secundários.

Para preservar o anonimato dos participantes dessa pesquisa, os dados primários relatados de forma direta e indireta são identificados por meio do código do informante. Similarmente, para a identificação dos dados provenientes de fontes secundárias, são apresentados os códigos dos documentos, conforme relação presente no apêndice 4 (p.189).

Na parte de análise dos dados é realizada a discussão dos dados apresentados na seção de descrição à luz do referencial teórico e dos objetivos de pesquisa. Em um primeiro momento, é feita uma análise acerca do surgimento e evolução das capacidades dinâmicas da Alfa, buscando-se discutir as atividades de

sensing, seizing e reconfiguring (SSR) realizadas pela empresa ao longo do tempo.

Em um segundo momento, realiza-se uma análise aprofundada em relação às atividades de SSR no evento da transformação digital, buscando-se compreender como a história fundamenta o desenvolvimento das capacidades dinâmicas. Ao final da seção, com o intuito de avançar na análise, apresenta-se as contribuições da pesquisa.