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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1.1 Contexto histórico e definições

Antes do surgimento das leis ambientais, o meio físico (ar, água e solo) era encarado como sendo livre e disponível para receber os resíduos advindos das atividades humanas (antrópicas). Nessa época, as abordagens de gestão ambiental inexistiam, sendo a postura adotada pelas empresas caracterizadas pela omissão, uma vez que se limitava a diluir e dispersar os poluentes gerados (BULCHHOLZ, 1998).

As primeiras leis que visavam enfrentar a temática da poluição surgiram em países industrializados a partir de meados do século vinte e focavam primordialmente o controle de emissões de poluentes, sendo, dessa forma, de caráter notadamente corretivo (SÁNCHEZ, 2001). Em reação aos padrões de emissão estabelecidos pelas leis ambientais, as empresas passaram a tratar e dispor seus resíduos em concordância com esses padrões, caracterizando a abordagem conhecida como fim-de-tubo.

Amplamente difundida entre as décadas de 70 e 80, essa abordagem implica na instalação de caros e sofisticados filtros em chaminés e a construção de volumosas estações de tratamento de resíduos líquidos, agregando, dessa forma, novos custos ao processo produtivo, o que redunda em aumento do custo final do produto (LEMOS, 2000). Sob o ponto de vista dos impactos ambientais, esse tipo de abordagem reativa não apresenta resultados satisfatórios, pois o que se verifica é a troca de um tipo de poluição por outra como (BARBIERI, 1997).

A década de 80, marco no aumento em escala planetária da consciência ambiental marca também substancial mudança no comportamento das empresas no tocante ao gerenciamento dos impactos ambientais causados pelas suas atividades. Como fruto do aumento da consciência ambiental dos cidadãos, as leis ambientais tornam-se mais rigorosas, tornando as tecnologias que suportavam a abordagem de “fim-de-tubo”6 até então utilizadas insuficientes para atender aos padrões de emissão mais rigorosos, elevando ainda mais os custos associados ao tratamento dos resíduos. A essa altura, a visão que predominava entre as empresas era que conduzir seus negócios de forma ambientalmente consciente afetava negativamente o desempenho econômico, pois demandava maiores investimentos em produtos e processos.

No entanto, a partir de meados dessa década, os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não primordialmente como custos, mas sim como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva (CALLENBACH et al, 1993). Além dos aspectos legais, essa mudança de atitude deve-se, também, à constatação dos reais custos associados à tradicional abordagem de fim-de-tubo. Por de trás dos custos usualmente contabilizados com tratamento e disposição, há custos relacionados (e não usualmente contabilizados) com, por exemplo, perda de matéria prima, água, energia, não conformidades legais e normativas e aqueles relacionados à imagem da empresa (BIERMA, 1998).

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Abordagem de gestão ambiental de empresas orientada à conformidade legal e cujas ações típicas envolvem tratamento e disposição dos dejetos industriais (resíduos sólidos, emissões gasosas e efluentes líquidos)

Sobre esse viés econômico, segundo dados do Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (UNEP), tipicamente, para cada dólar contabilizado com tratamento ou disposição de resíduos, há de dois a três outros dólares “escondidos” ou simplesmente ignorado, sendo essa constatação válida inclusive para grandes e bens gerenciadas empresas (UNEP, 2004).

É nesse contexto que algumas indústrias passaram a adotar, no final da década de 80, abordagens de gestão ambiental que visavam reduzir a quantidade de resíduos gerados por meio de técnicas de reutilização, reciclagem (interna ou externa ao processo) e recuperação de materiais, como ilustrado na Figura 7.

Figura 7: Reutilização, reciclagem, recuperação (BISHOP, 2000)

Ainda assim, tanto a reutilização quanto a reciclagem e a recuperação, embora contribuam para a minimização da geração de resíduos, constituem-se em soluções paliativas, pois partem do pressuposto de que o resíduo existe e também porque geram subprodutos e envolvem gastos de energia e outros custos operacionais. Dessa forma, as empresas passam a adotar, a partir do final da década de 80 e início da de 90, abordagens de gestão ambiental visando a minimização dos resíduos gerados em seus processos produtivos e, conseqüentemente, conciliação entre ganhos econômicos e ambientais.

Exemplo dessa postura é o programa denominado Pollution Prevention Pays (3P) empreendido pela americana Minnesota Mining and Manufacturing (3M) o qual, em seus primeiros anos de existência, envolveu mais de 2.500 mudanças de processos, levou a uma economia de mais de US$ 500 milhões além de outros US$650 milhões resultantes da economia de energia (LEIGHTON, 1992).

WEENEN, 1995 afirma que as abordagens de gestão ambiental voltadas aos processos produtivos têm preferência sobre aquelas de caráter reativo (fim-de-tubo), destacando que, gradualmente, tem sido aceito que as abordagens orientadas ao ciclo de vida dos produtos são ainda mais atrativas do que aquelas orientadas ao processo.

Estima-se que entre 60% a 80% de todos os impactos causados ao longo de todas as fases da vida de um produto são determinados nas fases iniciais de seu projeto (GRAEDEL; ALLENBY, 1995). Além dos aspectos ambientais7, também os financeiros são amplamente definidos durante as fases iniciais do processo de desenvolvimento de produto, onde se estima que 85% do custo final do produto é determinado (FABRYCKY, 1987 apud SROUFE ET AL, 2000). A partir dessas constatações, inúmeras abordagens para auxiliar empresas na adoção de abordagens de gestão ambiental segundo a perspectiva da integração dos aspectos ambientais no processo de desenvolvimento de produto têm sido desenvolvidas, principalmente através da abordagem denominada ecodesign (MAXWELL; VAN DER VORST, 2003).

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Segundo a ABNT NBR ISO 14001:2004, aspecto ambiental é “um elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”. É importante destacar a relação de causa-efeito existente entre aspectos e impactos ambientais.

O ecodesign apregoa que os impactos ambientais observados ao longo do ciclo de vida dos produtos sejam considerados de forma sistemática durante as fases iniciais do Processo de Desenvolvimento de Produtos. Com o objetivo final de reduzir os impactos ambientais causados pelos produtos, o ecodesign implica na introdução de requisitos de desempenho ambiental ao PDP, o que não deve comprometer critérios essenciais ao sucesso comercial do produto, tais como desempenho, funcionalidade, segurança, estética, qualidade, tempo de desenvolvimento (time to market) e custo. Dessa forma, o ecodesign visa conclicar ganhos econômicos com ambientais (ecoeficiência), podendo ser encarado tanto como uma abordagem de PDP que se alinha ao conceito do desenvolvimento sustentável como uma estratégia de gestão ambiental de empresas pró-ativa (a qual voltada suas ações às causas da geração dos impactos ambientais em detrimento à mitigação de suas conseqüências) que integra as funções gestão ambiental e desenvolvimento de produtos. (FIKSEL, 1993, VAN WEENEN, 1995; BREZET; VAN HEMEL, 1997; MAXWELL; VAN DER VORST, 2003, HAUSCHILD; JESWIET; ALTING; 2004; BYGGETH; HOCHSCHORNER, 2006; GIUDICE; LA ROSA; RISITANO, 2006, pg.18; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; GUELERE FILHO; PIGOSSO, 2008 pg 160).

O ecodesign Integra as questões ambientais no design industrial relacionando o que é tecnicamente possível com o que é ecologicamente necessário e socialmente aceitável, face à percepção crescente das necessidades de salvaguardar o ambiente num contexto de desenvolvimento sustentável (VAN WEENEN, 1995; JOHANSSON, 2002;).

A terminologia para o conceito mudou durante as últimas décadas. O termo original, green design, foi substituído por design ecológico, design ambientalmente

sensitivo ou ecodesign (BREZET; VAN HEMEL, 1997), design para o ambiente (design for (the) environment) (EHRENFELD; HOFFMAN, 1993) e design ambientalmente responsável (DERMODY; HANMER-LLOYD, 1995). É interessante notar que o uso das terminologias varia de continente para continente. Enquanto o termo “design para o ambiente” é mais utilizado nos Estados Unidos da América, o termo ecodesign é mais adotado no continente Europeu (BAUMANN; BOONS; BRAGD, 2002).

São sinônimos de Ecodesign (LAGERSTEDT, 2003 apud JESWIET; HAUSCHILD, 2005, HAUSCHILD et al, 2005): Design for environment;

Environmental product design, Green design; Sustainable design; Environmental conscious design; Life cycle design; Clean design.

Deve-se ressaltar, no entanto, que embore o ecodesign vise reduzir o impacto ambiental dos produtos, esse conceito não questiona os padrões de consumo.

De certa forma, o ecodesign acaba por justificar a manutenção do insustentavel padrão de consumo mundial, o qual poderia ser mantido intacto desde que os produtos em si causem menos impacto ambiental.