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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4 Integrando o ecodesign ao modelo unificado

4.3 Integração à macrofase de pré-desenvolvimento

4.3.2 Integração ao Planejamento do Projeto

O objetivo dessa fase é realizar o planejamento dos projetos de novos produtos previstos no portfólio.

O planejamento do projeto compreende os esforços para identificar todas as atividades, recursos e a melhor forma de integrá-los para que o projeto siga em frente com o mínimo de erros. O resultado é o plano de projeto do produto, que compreende informações relevantes para a execução do projeto.

É importante notar logo de início que caso a empresa não tenha tomado as decisões estratégicas sobre e ecodesign durante o PEP e caso elas não estejam consolidadas na(s) minuta(s) do(s) projeto(s), o planejamento de projetos “ignorará” essas questões. No entanto, caso tenham sido definidas no PEP, o planejamento dará suporte à materialização dos objetivos e metas ambientais.

Quanto à equipe de execução do projeto, poderia contar com especialistas da área ambiental para auxiliar nessas atividades, o que não é usual na maioria das empresas, onde os profissionais da área de gestão ambiental/ecodesign freqüentemente se ocupam apenas dos impactos ambientais gerados pelo processo de fabricação (modelo ISO 14001), não fazendo parte dos times de desenvolvimento. Assim, a definição dos interessados no projeto podeia contemplar profissionais da área ambiental que, caso não tenham se juntado à equipe durante o PEP, deverão fazê-lo nesse momento.

A definição do escopo do produto deverá consolidar os objetivos e metas ambientais estabelecidos para os produtos ecoeficientes durante o PEP, o que deve ser feito com base na minuta previamente elaborada. Caso durante o PEP tenham sido definidos apenas os objetivos, poder-se-ia definir as metas associadas nessa atividade de tal modo que o detalhamento do projeto contemple tanto os objetivos como as metas ambientais previamente estabelecidas.

Definidos os objetivos e metas ambientais, é necessário definir como alcançá- los, ou seja, por meio de quais projetos de desenvolvimento.

Como discutido na revisão bibliográfica sobre desenvolvimento de produtos, mesmo dentro de uma empresa específica, os projetos de desenvolvimento de produtos podem variar bastante em termos de complexidade e inovação, indo desde aqueles que envolvem pequenas variações de produtos existentes até projetos que geram uma nova categoria de produto podendo demandar, inclusive, o projeto de uma nova fábrica.

É nessa fase do Modelo Unificado que está prevista sua adaptação em função do tipo de projeto de desenvolvimento.

Segundo ROZENFELD et al, 2006, os projetos de desenvolvimento de produtos podem ser classificados (segundo o grau de mudanças que o projeto representa em relação a projetos anteriores) em:

• Projeto radical: envolvem modificações significativas no projeto do produto ou processo existente as quais resultam em um produto totalmente novo para a empresa e/ou para o mercado;

• Projeto plataforma ou próxima geração: resulta em um produto que não é totalmente novo para a empresa embora apresente mudanças significativas em sua concepção;

• Projeto incremental ou derivado: cria produtos e processos que são derivados, híbridos, ou com pequenas modificações em relação a projetos já existentes.

Quanto menor for o grau de inovação e complexidade do projeto de desenvolvimento, maior será a quantidade e a qualidade das informações disponíveis sobre o produto no início de seu desenvolvimento.

Esse seria o caso de um projeto do tipo incremental.

Considerando que 2/3 das atividades de desenvolvimento de produtos empreendidas pelas empresas consistem em melhorias de produtos existentes, empresas iniciantes em ecodesign concentram suas atividades no redesign de produtos existentes (ERNZER; OBERENDER; BIRKHOFER, 2002)

Esse tipo de projeto implicaria, por exemplo, em buscar a redução do impacto ambiental de um produto do portfólio da empresa que se encontra atualmente no mercado, diversificando, assim, o portfólio de produtos da empresa. Um projeto dessa natureza viabilizaria o uso de práticas de avaliação de impactos ambientais completas (ACV). Dessa forma, seria possível conhecer a priori os Environmental

Hot Spots49. Nessa situação, o time de desenvolvimento estaria em uma posição privilegiada para melhorar o desempenho ambiental do produto em desenvolvimento por meio de melhorias incrementais no produto existente, uma vez que poderiam voltar seus esforços aos Environmental Hot Spots já identificados e quantificados, os quais seriam candidatos naturais a serem os objetivos ambientais.

Essa é a situação de que trata a proposta feita por NIELSEN; WENZEL, 2002 (Figura 14). Analogamente, poderiam ser utilizadas práticas de avaliação ambiental simplificadas como MECO e MET (ambas descritas no ANEXO 3).

No outro extremo, para os projetos em que tanto o grau de inovação quanto o de complexidade são altos, a equipe de desenvolvimento não teria como saber, a priori, quais são os Environmental hot spots devido a pouca quantidade e qualidade das informações acerca do produto disponíveis nas fases iniciais de seu desenvolvimento.

Nessa situação, a tarefa de reduzir o impacto ambiental do produto é mais complexa, e os envolvidos poderiam iniciar suas atividades lançando mão de práticas qualitativas (como as 10 Regras de ouro do ecodesign e as estratégias de ecodesign) e migrando para o uso de práticas de ecodesign de avaliação de impacto ambiental e comparativas à medida que a quantidade e qualidade dos dados sobre o produto em desenvolvimento vão aumentando.

Procedendo dessa forma, poder-se-ia ir avaliando se os objetivos e metas ambientais estão sendo atingidos.

Dessa forma, a adaptação do modelo em função do tipo de projeto de desenvolvimento deve estar alinhada com os objetivos e metas ambientais

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São os principais impactos ambientais causados pelo ciclo de vida de um produto segundo NIELSEN; WENZEL, 2002

estabelecidos anteriormente os quais, por sua vez, devem estar alinhados com o nível de inovação ambiental pretendido estrategicamente pela empresa.

É importante ressaltar que durante a atividade “Definir escopo do produto” o desempenho ambiental desejado para os produtos ecoeficiente poderia ser especificado de forma clara e objetiva e em função das minutas desenvolvidas na fase de pré-desenvolvimento.

O orçamento do projeto poderia contemplar previsões dos custos relacionados às atividades e recursos de ecodesign, como a compra de um software para avaliação e impactos ambientais ou a contratação de uma consultoria em ecodesign, por exemplo.

A análise de viabilidade do projeto poderia contemplar também o desempenho ambiental esperado para o produto. Dessa forma, deve-se definir indicadores ambientais e metodologia de avaliação de impacto ambiental a ser utilizada.

Os indicadores ambientais poderiam estar alinhados aos objetivos e metas estabelecidos anteriormente.

Quanto à metodologia para analisar a viabilidade ambiental pode ser tanto qualitativa (como um checklist para verificar o uso de materiais tóxicos, por exemplo) como quantitativa (como a ACV), dependendo dos objetivos e metas ambientais e do nível de controle desejado.

Isso não significa, em absoluto, que a análise da viabilidade econômico- financeira (estimando as perspectivas de desempenho financeiro do produto resultante do projeto) deva ser preterida.

No tocante ao estabelecimento de parcerias de desenvolvimento, desde os fornecedores de commodities até os parceiros de riscos devem estar alinhados com os objetivos da empresa voltados à redução de impactos ambientais de seus

produtos. Logo, o planejamento das aquisições deveria considerar também aspectos ambientais na identificação de fornecedores potenciais, os quais podem ser questionados ou mesmo auditados quanto às suas práticas ambientais. Essas práticas devem ocorrer em conjunto com aquelas empreendidas pela empresa no âmbito da Supply Chain Management.

Novamente cabe destacar a importância da definição de objetivos e metas no PEP, pois quer seja para o redesign de produtos existentes quer seja para o desenvolvimento de produtos novos, o plano de projeto contendo o escopo do produto e do projeto poderia contemplar os objetivos e metas de redução de impactos ambientais definidos anteriormente no PEP.

A definição do tipo de projeto de desenvolvimento afeta sobremaneira a introdução do ecodesign ao PDP. Assim, deveria-se guardar coerência entre os objetivos e metas pretendidos para os produtos ecoeficientes e a definição do tipo de projeto que será desenvolvido para se atingir tais objetivos e metas.

No Modelo Unificado fala-se somente em “Analisar a viabilidade financeira do projeto”, durante a fase de Planejamento do Projeto.

Logo, foi proposta uma nova tarefa denominada “Analisar a viabilidade ambiental do projeto” na atividade “Analisar a viabilidade econômica do projeto”, a qual passou, então, a se chamar “Analisar a viabilidade econômica e ambiental do projeto”.

Assim, a seguinte tarefa de ecodesign foi adicionada a fase de Planejamento do Projeto:

Ainda, as seguintes diretrizes foram criadas visando orientar atividades e tarefas já previstas no Modelo Unificado:

• D8: A definição dos interessados no projeto deve contemplar profissionais da área de gestão ambiental/ecodesign;

• D9: A definição do escopo do produto deverá consolidar os objetivos e metas ambientais estabelecidos para os produtos ecoeficientes durante o PEP, o que deve ser feito com base na minuta previamente elaborada;

• D10: A adaptação do modelo em função do tipo de projeto de desenvolvimento deve estar alinhada com os objetivos e metas ambientais estabelecidos anteriormente os quais, por sua vez, devem estar alinhados com o nível de inovação ambiental pretendido estrategicamente pela empresa;

• D11: O orçamento do projeto deve contemplar previsões dos custos relacionados às atividades e recursos de ecodesign;

• D12: Desde os fornecedores de commodities até os parceiros de riscos devem estar alinhados com os objetivos da empresa voltados à redução de impactos ambientais de seus produtos