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##SUMÁRIO FOLHA DE APROVAÇÃO 4

3   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 52

1.1 Contextualização do trabalho

Tido como um dos principais elementos propulsores da competitividade industrial, a inovação relaciona-se à inovação em produtos, processos (produtivos ou não), marketing e na organização, sendo a inovação em produtos associada à criação de valor por meio do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP).

Embora os produtos (e serviços) resultantes do processo de inovação guardem estreita relação com a qualidade de vida que usufruímos, as crescentes taxas com que são produzidos e consumidos causam a maior parte da poluição e esgotamento dos recursos naturais causados pela humanidade (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2001), o que coloca em risco não somente o sistema econômico (que é um dos subsistemas de nosso planeta, relacionado às atividades antrópicas), mas também inúmeras formas de vida conhecidas na Terra.

Nesse contexto, e em linha com o conceito do desenvolvimento sustentável, a criação de valor por meio do PDP deve considerar o desenvolvimento de produtos

ecoeficientes, que são produtos competitivos, com alto valor agregado e que causam menos impactos ambientais quando comparados com produtos tradicionais em uso.

Como o impacto ambiental1 de um produto é determinado pela soma dos impactos ambientais observados ao longo das fases de seu ciclo de vida (NIELSEN; WENZEL, 2001; BAUMANN; BOONS; BRAGD, 2002) e é determinado em sua maioria nas fases iniciais de seu processo de desenvolvimento (GRAEDEL; ALLENBY, 1995), a redução dos impactos ambientais causados pelos produtos passa necessariamente pela consideração dos impactos por eles causados ainda durante as fases iniciais de seu processo de desenvolvimento.

O ecodesign visa desenvolver produtos ecoeficientes e implica na introdução sistemática de requisitos ambientais às fases iniciais do PDP sem comprometer, no entanto, critérios clássicos tido como fatores de sucesso comercial dos produtos como preço, tempo de desenvolvimento, qualidade, custo, segurança e estética. O ecodesign pode ser encarado tanto como uma abordagem de PDP que se alinha ao conceito do desenvolvimento sustentável como uma estratégia pró-ativa de gestão ambiental de empresas que integra as funções gestão ambiental e desenvolvimento de produtos em uma visão holística sobre os impactos ambientais causados ao longo das fases do ciclo de vida de um produto (MAXWELL; VAN DER VORST, 2003, BYGGETH; HOCHSCHORNER, 2006; LUTTROPP; LAGERSTEDT, 2006; GIUDICE; LA ROSA; RISITANO, 2006, pg.18, GUELERE FILHO; PIGOSSO, 2008, pg.160 ).

1

Segundo a ABNT NBR ISO 14001:2004, impacto ambiental é “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização”. É importante destacar a relação de causa-efeito existente entre aspectos e impactos ambientais.

Segundo BAKSHI; FIKSEL, 2003, a prática de ecodesign é mais comum entre empresas que já reconheceram a responsabilidade ambiental como elemento vital de sucesso no longo prazo, pois promove vantagens como melhoria da reputação, menor geração de resíduos, redução dos custos diretos (matérias-primas e insumos) e indiretos (custo de tratamento e disposição de resíduos), diminuição dos riscos, geração de inovações em produtos e atração de novos consumidores. No entanto, são poucas ainda as empresas que percebem esse diferencial de competitividade e os benefícios comerciais da introdução do ecodesign ao PDP, sendo que a maioria dos executivos enxerga ainda os desafios derivados do conceito de desenvolvimento sustentável (dentre os quais, a redução do impacto ambiental causados pelos produtos) como um mal necessário que envolve regulações, custos e responsabilidades onerosas (AUSEN, 2002; HART; MILSTEIN, 2004).

Deve-se ressaltar que, uma vez que reduções de impactos ambientais relacionados aos produtos somente serão alcançadas se produtos que causem menos impactos ambientais forem bem sucedidos comercialmente, substituindo assim produtos atualmente disponíveis no mercado (HAUSCHILD; JESWIET; ALTING; 2004), é importante que a adoção do ecodesign seja feita sem comprometer critérios essenciais ao sucesso comercial dos produtos, tais como desempenho, funcionalidades, segurança, estética, qualidade, tempo de desenvolvimento (time to market) e custo.

A maior parte das pesquisas em ecodesign concentra-se no desenvolvimento de novos métodos e ferramentas em detrimento à avaliação e aperfeiçoamento daqueles existentes e sua inserção no contexto do desenvolvimento de produtos (BAUMANN; BOONS; BRAGD, 2002). Dessa forma, os profissionais diretamente envolvidos com ecodesign tendem a ver o sucesso de suas atividades como função

única do uso de métodos e ferramentas de ecodesign, desconsiderando o PDP como um processo de negócio crucial para a competitividade da empresa (MAGNUSSON, 2000 p.132; AUSEN, 2002; JOHANSSON, 2006). Como conseqüência, a visão de PDP inerente às pesquisas em ecodesign é limitada, pois usualmente aborda exclusivamente os impactos ambientais enquanto outros aspectos do desenvolvimento do produto são omitidos ou apenas brevemente discutidos (MAGNUSSON, 2000, p.132).

Essa visão limitada sobre o que venha a ser o PDP faz com que esse conceito não esteja integrado de forma sistemática a esse processo de negócio na maioria das empresas, não permeando, assim, as práticas, atividades e tarefas empreendidas regularmente pelas equipes de desenvolvimento de produtos (JOHANSSON, 2006, FITZGERALD, et al 2006, pg. 2). Assim, para que o ecodesign seja adotado por um número maior de empresas, é preciso que as pesquisas nessa área sejam orientadas a uma visão do PDP como processo de negócio, o que aproximaria esse conceito das pesquisas realizadas na área do desenvolvimento do produto facilitando sua integração no PDP das empresas. Ainda, como os fatores de sucesso para a integração do ecodesign ao PDP são, em sua grande maioria, os mesmos fatores de sucesso do PDP como um todo, empresas que gerenciam bem o seu processo de desenvolvimeno de produtos têm maiores chances de serem bem sucedidas na integração do ecodesign (JOHANSSON, 2002).

Pelo lado da gestão do PDP, a visão de processo de negócio é predominante, sendo que dentre as melhores práticas empreendidas pelas empresas está a adoção de modelos de referência para a estruturação e gestão desse processo de negócio (ROZENFELD et al, 2006; GIUDICE; LA ROSA; RISITANO, 2006, pg. 163).

Ao fazer uso de um modelo de referência, uma empresa define o processo padrão que guiará os projetos de desenvolvimentos de produtos construindo, assim, uma linguagem comum e a garantia de que certas práticas, métodos e ferramentas, serão aplicados em todos os projetos de desenvolvimento (ROZENFELD et al, 2006).

O que se observa atualmente é que o ecodesign não está integrado ao processo padrão de desenvolvimento de produtos da maioria das empresas, caracterizando uma lacuna nessa área de pesquisa.

Essa lacuna define o problema da pesquisa de que trata esse trabalho, qual seja, a não integração do ecodesign ao processo padrão de desenvolvimento de produtos da maioria das empresas.