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A. Situação brasileira – análise do ambiente externo

A.2 Contexto industrial

Nesta variável são apresentadas as dimensões tecnológica e jurídica e os indicadores a elas relacionados.

• Dimensão tecnológica

Produção e fornecimento de matéria-prima. As ostras cultivadas em Florianópolis são as denominadas Crassostrea Gigas, também conhecidas como ostras do Pacífico. Por tratar-se de uma espécie exótica, o processo produtivo inicia com a produção em laboratório das sementes deste molusco (VINATEA, 2000, p. 89). O Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina atende o fornecimento da matéria-prima para os ostreicultores (MARIANO e PORSEE, 2005, p. 258). Este laboratório é o único no Brasil a produzir regularmente sementes de ostras do Pacífico, atendendo produtores de Santa Catarina e de outros Estados brasileiros (FERREIRA et al., 2006).

Registros disponibilizados eletronicamente indicam a entrega de 46 milhões de sementes de ostras aos maricultores na safra de produção 2005-2006. Duas estruturas de laboratório atendem os pedidos, uma localizada na Barra da Lagoa e a outra em Sambaqui (LCMM, 2007)

Tipo de ostras:Três tipos de ostras são comercializados pelos ostreicultores: a) ostras baby: tamanho entre 7 e 8 centímetros; b) ostras médias: tamanho entre 9 e 10 centímetros; c) ostras master: tamanho superior a 11 centímetros.

Fornecimento de equipamentos. No município e Estado a rede de fornecedores de equipamentos está se estruturando. Desenvolvimento de protótipos e adaptações é feito por universidades como UFSC e UNISUL.

Em grande parte das fazendas marinhas, o trabalho é realizado com reduzida utilização de equipamentos. O mais freqüente é o uso de hidrolavadoras para a higienização das ostras e estruturas que as contêm. Em algumas fazendas marinhas há lavadoras tubulares, utilizadas para lavar as ostras, e equipamentos para auxiliar na classificação delas. Os equipamentos são compostos por lanternas com malhas de diferentes calibres, baldes vazados, caixas-berçário, peneiras, medidores, cutelos, apoios de madeira.

Em grande parte das fazendas marinhas, a experiência construída no cotidiano é a sustentação para as manutenções necessárias. Predomina a manutenção corretiva, realizada em algumas ocasiões no momento em que os equipamentos serão utilizados e utilizando os recursos disponíveis.

Órgãos técnicos de apoio e assessoramento. De acordo com Lins (2002), a maricultura expandiu-se na década de 1990 sustentada por uma rede institucional onde se destacam a Universidade Federal de Santa Catarina, com o Laboratório de Moluscos Marinhos, e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI, vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, no desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e difusão de técnicas de cultivo nas comunidades.

Através de ações desenvolvidas pelo Centro de Desenvolvimento da Aqüicultura e Pesca e pelo Projeto Maricultura e Pesca, a EPAGRI trabalha promovendo o conhecimento e desenvolvimento da atividade, através da assistência técnica para a produção, cursos e treinamentos pré-instalação e pós-colheita, difundindo técnicas para formas de beneficiamento, conservação ou apresentação dos moluscos. Atua ainda apoiando o ordenamento da atividade, a organização e adequação dos sistemas de produção à legislação reguladora e buscando alternativas de comercialização e mercados para o produto, visando o desenvolvimento sustentável (ABREU, 2006).

Da UNIVALI, Universidade do Vale do Itajaí, o setor recebe o aporte de informações oceanográficas e o monitoramento de algas tóxicas. A UNIALI forma profissionais ligados a atividades marinhas e mantém um Centro Experimental de Maricultura. A UNISUL, Universidade do Sul de Santa Catarina, gera conhecimentos em trabalhos acadêmicos e de extensão sobre vários aspectos, entre eles o aproveitamento e destinação de resíduos e estudos sobre condições de trabalho.

A Prefeitura Municipal de Florianópolis, através do Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis - IGEOF, promove um Seminário Técnico durante a FENAOSTRA - Feira Nacional da Ostra. Este evento ocorre anualmente em Florianópolis e nele, técnicos, pesquisadores e maricultores trocam experiências e discutem temas relativos à maricultura, consolidando intercâmbios de apoio tecnológico para o desenvolvimento do setor. A FENAOSTRA valoriza a cultura açoriana e cria espaços para o consumo e comércio de produtos provenientes da maricultura.

Na formulação de políticas para o setor, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP, no ordenamento da atividade incluem-se a Fundação de Amparo à Tecnologia e Meio Ambiente - FATMA, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

(IBAMA), o Ministério de Meio Ambiente, Ministério da Marinha e a Secretaria de Patrimônio da União - SPU.

• Dimensão Jurídica

Legislação. Com relação às áreas de cultivo, no Brasil, as atividades da aqüicultura, e por extensão, da maricultura, são relativamente recentes e a legislação está em estruturação. Um quadro sintetizando alguns marcos legais para a atividade encontra-se no ANEXO A.

A Instrução Normativa Interministerial n.1, de 10 de outubro de 2007 (DOU 11/10/2007) estabelece os procedimentos operacionais entre a SEAP/PR e a SPU/MP para a autorização de uso dos espaços físicos em águas de domínio da União para fins de aqüicultura, para cultivo por um período de 20 anos. A liberação acontece depois de processos seletivos realizados pela SEAP/PR e podem ser gratuitas quando destinadas a integrantes de comunidades tradicionais (BRASIL, 2007).

Segundo Diegues (2006), a obtenção do licenciamento de áreas onde se instalam os parques aqüícolas é complexa e exige consultas a diferentes órgãos públicos para efetuar as análises para verificação de ocorrência de impactos negativos sobre o ambiente costeiro. Uma articulação entre os órgãos responsáveis pelo estímulo à produção, principalmente a SEAP e os órgãos licenciadores, especialmente o IBAMA, poderia alavancar o desenvolvimento da aqüicultura.

Com relação ao produto. A legislação relativa a práticas de controle higiênico- sanitárias de produtos de origem animal utilizados em alimentação aplica-se aos moluscos. Há atualmente uma mobilização para instituir um programa nacional de controle higiênico-sanitário de moluscos bivalves, regulamentando toda a cadeia, da produção à comercialização, e possibilitando a rastreabilidade do produto (SEAP, 2007).

Cinco unidades de beneficiamento de moluscos de Santa Catarina possuem o SIF - Selo de Inspeção Federal, uma tem o Selo de Inspeção Estadual e duas unidades estão em processo de implantação do SIF (ACAQ, 2007).

No Ribeirão da Ilha, em 2002, havia uma empresa com o selo do SIF (MACHADO, 2002). Ao final de 2007, após a obtenção do SIF, a Cooperilha, poderá comercializar produtos de seus cooperados.

Um quadro sintetizando alguns marcos legais para o produto encontra-se no ANEXO B.

Com relação ao ingresso no setor, é exigido o registro como aqüicultor. A Portaria n° 95-N, de 30.08.1993, estabelece normas para o registro de aqüicultor junto ao IBAMA, e a Instrução Normativa n°03, de 12.05.2004 (BRASIL 2004), da SEAP, estabelece normas e procedimentos para operacionalização do registro geral de pesca, como aqüicultor, no âmbito da SEAP/PR.

Vinatea Arana (2000, p. 146) destaca que, em Santa Catarina (...) o aceite para o ingresso na atividade é dado, através de parecer prévio, pelas associações de maricultores, porém, antes de iniciar na atividade e para regularizá-la é necessário: a) Licenciamento ambiental; b) Parecer do Ministério da Marinha; c) Registro de Aqüicultor e autorização da Secretaria do Patrimônio da União para a utilização de águas públicas.

Os ostreicultores, como os demais trabalhadores do país, têm suas relações trabalhistas reguladas pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. O ostreicultor tem sua ocupação descrita no Código Brasileiro de Ocupações - CBO, 2002 (CBO, 2002). A profissão, no entanto, não está reconhecida e por essa razão não encontra amparo de legislação para questões trabalhistas como tal ou relativas à aposentadoria.

Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho podem ser aplicadas para analisar o trabalho do ostreicultor e as condições em que ocorre:

• NR 05 – Identificação de riscos ambientais, incluindo: físico, químico, biológico, ergonômico e de acidentes.

• NR 17 – Ergonomia. Visa estabelecer parâmetros para a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. • NR 31 – Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho na

Órgãos representativos do setor. No Estado, há uma federação de associações, a Federação das Associações de Maricultores do Estado de Santa Catarina - FAMASC, uma associação estadual, a Associação Catarinense de Aqüicultura – ACAQ, e associações municipais, quatro delas localizadas em Florianópolis, a Associação dos Maricultores do Norte da Ilha – AMANI, a Associação dos Maricultores do Sul da Ilha – AMASI, a Associação dos Maricultores Profissionais do Sul da Ilha – AMPROSUL e, formada mais recentemente, a Associação de Mulheres Aqüicultoras e Ambientalistas da Ilha de Santa Catarina – AMAQUAI. No Ribeirão da Ilha há também a COOPERILHA – Cooperativa Aqüícola da Ilha de Santa Catarina, estruturada para possibilitar a expedição e beneficiamento de produtos com o Selo de Inspeção Federal.

As associações são constituídas como sociedades civis, atuam sem fins lucrativos e objetivam a promoção cultural e social de seus associados, o apoio a pesquisas científicas que visem à implantação de tecnologias socialmente justas e ecologicamente adequadas, o incentivo de ações de preservação da cultura local, incentivo ao cooperativismo e a representação judicial e extrajudicial de seus associados (VINATEA ARANA, 2000, p. 124).