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A. Situação brasileira – análise do ambiente externo

A.3 Contexto social e antropológico

Nesta variável apresentam-se as dimensões: socioeconômica, sociocultural e antropológica, bem como os indicadores que as compõem.

• Dimensão socioeconômica

Dados político-econômicos. Florianópolis é o segundo município com maior volume de PIB no Estado e ocupa a 9ª posição em relação ao PIB per capita, com um valor de R$ 11.071,00 (FIESC, 2007). O município concentra atividades econômicas ligadas aos setores de comércio (62,79%), serviços (23,65%), indústria (6,59%) e outros (6,97%)3.

Quanto ao número de trabalhadores por setor de atividade, no ano de 2005, de acordo com dados da FIESC, Federação das Indústrias do Estado de Santa

Catarina, o Estado apresentou maiores índices no setor de serviços (40%), seguido pelo setor de indústria (34%), comércio (21%), construção (3%), agropecuária, extração vegetal, caça e pesca (3%). Comparando-se com índices do Brasil, em igual período, observa-se que o setor de serviços também foi o que mais cresceu, seguido pelo setor do comércio e após da indústria (MTE, 2007).

Em Florianópolis, em janeiro de 2007, recebendo salário mínimo, o trabalhador compromete 108h para a aquisição da cesta básica, sexta colocação entre as dezesseis capitais brasileiras pesquisadas (DIEESE, 2007a). O salário mínimo nominal é de R$350,004 e seu valor deveria alcançar R$1.565,61, ou seja,

aproximadamente 4,5 vezes o salário atual, para atender despesas com alimentação, educação, saúde, moradia, higiene, vestuário, transporte, lazer e previdência social de uma família, como disposto no preceito constitucional. O cálculo baseia-se no custo mais elevado da cesta básica e para uma composição familiar incluindo dois adultos e duas crianças (DIEESE, 2007b).

Os dados disponibilizados a respeito do indicador emprego e renda na maricultura indicam que a maricultura, em Santa Catarina, gera 1.600 empregos diretos e 6.400 indiretos (ACAQ, 2007).

Em Florianópolis, a renda dos produtores de ostra é estimada em R$23 mil per capita ao ano (FGV, 2005). Embora haja essa estimativa, Rosa (1997, p. 133) salienta tratar-se de “uma atividade econômica onde não há um controle contábil formal”, atribuindo esta característica à cultura das populações tradicionais, como também se observa na agricultura familiar.

Estudo realizado por Machado (2002, p. 114), com maricultores do Ribeirão da Ilha, identificou que 50% vivem exclusivamente da maricultura.

Segundo Vinatea Arana (2000, p. 117), entre maricultores de Palhoça e no Norte da Ilha, grande parte dos maricultores emprega membros da própria família para a realização de atividades ligadas à manutenção, colheita e beneficiamento dos moluscos cultivados. Alguns empregam pessoas da comunidade para a manutenção dos cultivos. Há contratação de mão-de-obra diarista e mensalista, sendo esta mais freqüente em empreendimentos de maior porte, mais estruturados e mais produtivos e onde, habitualmente, o dono possui outra fonte de renda.

4 A partir de 01 de abril de 2007, o salário mínimo em vigor é R$380,00 por 220 horas mensais de

trabalho. Valor diário: R$12,67 e valor/hora R$1,73 (Medida Provisória 362, de 29/03/2007, DOU 30.03.2007).

A renda média mensal desses maricultores é de aproximadamente cinco salários mínimos mensais, porém exceções foram citadas pelo pesquisador. Alguns maricultores obtêm rendas superiores a quinze salários mínimos. Pessoas contratadas têm remuneração, quase sempre, de um salário mínimo e meio, entretanto, há empregados que recebem dois salários mínimos mensais. Dependendo do volume de serviço, o rendimento mensal dos diaristas é de cerca de um salário mínimo.

No Brasil, a produção de ostras está concentrada nos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Sergipe e Santa Catarina. Das 2.181,5 toneladas produzidas na safra de 2003, noventa e três por cento tiveram origem no estado catarinense (SEAP/PR, 2006).

Em Santa Catarina (Tabela 1), após uma safra expressiva em 2004, registrou- se uma queda de 22,7% no volume de ostras produzido em 2005. A queda foi provocada pelas temperaturas acima de 28°C por um longo período no ano, e pela ocorrência de um ciclone extratropical (SILVEIRA et al, 2007, p. 174). O crescimento da produção foi retomado em 2006. O Estado apresentou um crescimento de 62,36%, registrando 3.152,4 toneladas. As fazendas marinhas de Florianópolis foram responsáveis por 51,23% do volume de ostras cultivado no Estado, ou seja, 1.615,6 toneladas. Em conjunto com Palhoça, o volume produzido representou 90,9 da produção estadual (OLIVEIRA NETO, 2006, 2007; SILVEIRA et al., 2008, p. 188).

Tabela 1 - Produção de ostras em Santa Catarina e Florianópolis, 2004/2006 - em toneladas

2004 2005 2006

Santa Catarina 2.513,0 1.941,6 3.152,4 Florianópolis 1.542,4 1.056,4 1.615,6

Fonte: OLIVEIRA NETO, 2006; 2007

• Dimensão sociocultural e antropológica

Características culturais. Ribeirão da Ilha, onde estão localizadas as fazendas marinhas da Baía Sul5, é uma das primeiras comunidades de Florianópolis. Habitada

originalmente por índios carijós, foi colonizada por imigrantes açorianos e conserva as características originais dos casarios antigos (ROSA, 1997).

A influência das culturas açorianas e carijós é ainda hoje evidenciada em muitos aspectos como linguagem oral, familiaridade com as técnicas de produção, culinária, valorização da medicina popular, construção de conhecimentos empíricos e intuitivos sobre meteorologia e astronomia. Na linguagem oral identifica-se pelo ritmo cantado, rapidez da produção da fala e em inúmeras expressões incorporadas no cotidiano.

A herança das técnicas de produção mostra-se na confecção de rendas de bilro, redes, esteiras, balaios, gaiolas e nos trabalhos em tear. Dentre as técnicas de construção está aquela das canoas de garapuvu6. Na culinária, transparece nos pratos feitos à base de peixes, moluscos, crustáceos, no uso da farinha de mandioca e, na medicina popular, pelas benzeduras e utilização de ervas medicinais (IPUF, 2004).

No século XVIII e XIX, a comunidade de Ribeirão da Ilha dedicava-se à agricultura: mandioca, cana, milho, feijão, café. Havia engenhos de cana, aguardente, mandioca, de pilar arroz e atáfonas de trigo (PMF, 2005).

Com a redução das atividades econômicas tradicionais, acontecem dois fluxos opostos. Uma parte da população migra para ao centro de Florianópolis em busca de emprego e, um grande número de pessoas migra para a comunidade em busca de tranqüilidade (ANTUNES, 1985). Segundo Rosa (1997, p. 22), a comunidade de Ribeirão da Ilha integrou-se à maricultura, implantando sistemas de cultivo de ostras e mexilhões em áreas marinhas da região, assim que ela foi introduzida no estado de Santa Catarina.

Vinatea Arana (2000, p. 191) identificou em estudo realizado em Palhoça e no norte da ilha, algumas características da população ligada à maricultura: a maior parte procede da pesca artesanal, atividade aprendida dos pais e avós e tem origem nas localidades estudadas. Ainda, “... possuem raízes açorianas que os mantêm unidos culturalmente com as tradições relacionadas à pesca e ao estilo dos homens do mar” e “...têm como finalidade ganhar a vida e/ou obter lucro, mediante a realização de cultivos intensivos que, em muitos casos, são vistos apenas como bons negócios”.

O autor cita que “os maricultores dependem, para a sua sobrevivência, da prática dos cultivos...”. Sobre a presença feminina, há o registro da participação tanto nas atividades de beneficiamento como nas de cultivo. Muitas mulheres são donas de empreendimentos, junto com seus maridos, e trabalham o dia todo no mar. O pesquisador levanta uma mudança no universo simbólico dos pescadores, onde as atividades ao mar eram tradicionalmente uma atribuição masculina.

Nível de escolaridade formal da população. O nível de escolaridade formal da população brasileira tem apresentado constante elevação através dos anos. Em 1976, 35% da população nunca haviam cursado um ano de escola. Este índice, em 2002, foi de 12%. A taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior, em 2004, foi de 86% (PNUD, 2006).

A média de anos de estudo no Brasil subiu de 5,7 anos, em 1996, para 7,2 anos, em 2006, porém, há variações acentuadas nas regiões. A maior taxa de defasagem escolar no ensino fundamental foi verificada na região Nordeste, 37,9%, e a menor, na região Sul, correspondendo a 15,5%.

Na correlação estabelecida pela pesquisa, entre rendimentos e escolaridade, verificou-se que entre os 20% mais pobres no Brasil a média de anos de estudo é de 3,9 anos. Entre os 20% com maior renda a média atinge 10,2 anos (IBGE, 2007).

Formação específica no setor. No Brasil, de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, a escolaridade exigida para os criadores de animais aquáticos, de forma geral, é de nível fundamental. Para os criadores de camarões, ostras, peixes e rãs, no entanto, o exercício pleno das atividades requer um ano de experiência. Qualificação profissional é exigida apenas para os criadores de mexilhões e peixes, que cursam até duzentas horas de formação profissional básica (CBO, 2002).

O sistema brasileiro de ensino proporciona reduzidas possibilidades de formação para o trabalho na maricultura. Para ingresso no setor, a EPAGRI ministrou curso aos primeiros ostreicultores.

Cursos técnicos e superiores em aqüicultura, pesca, produção aqüícola e pesqueira e agronomia trabalham módulos ou disciplinas relativos à ostreicultura.

Em Santa Catarina, há o curso superior de Engenharia de Aqüicultura, ofertado pela UFSC, o curso técnico em Aqüicultura de Nível Médio Seqüencial, oferecido pelo Colégio Agrícola de Araquari, o curso de Oceanografia da UNIVALI.

No município de Penha, a UNIVALI mantém o Centro Experimental de Maricultura (CEMAR) que desenvolve pesquisas relacionadas à maricultura.

Pesquisas realizadas em Santa Catarina oferecem um panorama sobre a escolaridade de maricultores. Machado (2002, p. 113) e Conceição (2002, p. 70), em pesquisa amostral com maricultores de Ribeirão da Ilha, identificaram que 82,22% e 76,66%, respectivamente, têm instrução declarada como igual ou superior ao ensino fundamental completo (equivalente a oito anos de escolaridade).

Cunha (2006, p. 44), com amostra de Penha, registrou um índice de 60,60% de maricultores com ensino fundamental completo e Abreu (2006), com estudo em Bombinhas, verificou que 86,84% de sua amostra possuem escolaridade equivalente a ensino fundamental incompleto. Tendência semelhante foi identificada por Rosa (1997, p. 52) com amostra incluindo mitilicultores do norte e sul da ilha, Enseada do Brito, G. Fora e Campo Grande, 75,48%.