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Contexto social e político em que se inserem as ações afirmativas na

No documento Ações afirmativas e o pricípio da igualdade (páginas 114-118)

5 AÇÕES AFIRMATIVAS SEGUNDO RALWS E ARISTÓTELES

6.9 Contexto social e político em que se inserem as ações afirmativas na

Segundo a professora Mónica Carrillo Zegarra: “Diáspora – dispersão africana na América Latina e os discursos e os diversos contextos em que os afro descendentes firmaram para recriar e desenvolver formas orgânicas de resistência constitui tema amplamente debatido”223; contudo, como a origem de migração dessa

população africana para a América Latina se deu de forma forçada, decorrente do tráfico negreiro; as ações afirmativas indiscutivelmente adquiriram uma natureza não apenas de inclusão social desses grupos vulneráveis; mas sobretudo, uma natureza reparatória pela drástica forma de discriminação a que foram submetidas no passado recente.

Segundo menciona Mónica Carrillo Zegarra, as políticas de ações afirmativas, nesse contexto, têm um viés reparatório, notem: “[...] as políticas de ações afirmativas podem ser conhecidas como a materialização das reparações que se propõem, do ponto de visto étnico como única responsabilidade moral compensatória pelos danos ocasionados pela escravidão”224.

221 WEDDERBURN, 2007, p. 320. 222 Ibid., p. 323.

223 ZEGARRA, 2007, p. 338. 224 Ibid., p. 338.

Na América Latina as ações afirmativas que vêm sendo implementadas pelos países do referido continente têm esse viés reparatório ou compensatório.

Esse posicionamento no sentido de implementação com essa natureza moral e ética de reparação por um passado de profunda discriminação, que se caracteriza nos países da América Latina, têm uma razão muito forte de ser; que é a omissão do Estado em não combater esse sistema de discriminação.

Outra razão se sustenta, no fato de que, aqueles que se valeram da escravidão para impulsionar seus patrimônios, têm uma obrigação moral de compensar as perdas que sofreram os afrodescendentes. Nesse sentido são as palavras de Herreño Hernandez citado por Mónica Carrillo Zegarra:

[...] as reparações expressam apenas uma exigência de justiça e não um desejo de vingança. Falar de reparação [...] reconhecer que foi cometido um crime, uma injustiça e uma violação maciça dos direitos humanos e da dignidade humana, refletida no rapto de milhares de africanos sua deportação e escravidão225.

Ressalta-se, que obviamente quando se fala de ações afirmativas com natureza reparatória não se está a falar de uma reparação financeira ou pecuniária; mas, de promoção social dos afrodescendentes que integram grupos minoritários, como forma de compensar a discriminação sofridas pelo seus ascendentes.

Questão interessante que se verifica com relação aos afrodescendentes que se encontram na America Latina e afrodescendentes dos Estados Unidos é que ainda não há laço de união entre eles. Nos Estados Unidos, promoveu-se a identificação de seus cidadãos como “Americanos (as) ou habitantes da nação americana, ou seja, Americano é sinônimo de cidadão ou cidadã estadunidense e implica atribuir a representação do continente americano perante as outras regiões”226.

Sob esse contexto, constata-se que os afrodescendentes da America latina que migram para os Estados Unidos não são incluídos na categoria de afrodescendentes, como deveriam sê-los, mas na categoria de latinos, sem se reconhecer a sua ascendência étnica racial.

Para o investigador Panamenio Humberto Broun, citado por Mónica Carrillo Zegarra:

225 ZEGARRA, 2007, p. 338. 226 Ibid., p. 338.

[...] não existe a mesma base social e política que promoveu as ações afirmativas e que há uma estruturação de classes, onde os afrodescendentes de melhores condições econômicas não estabelecem laço de solidariedade com os de menos recursos. Os “filhos(as) dos beneficiários das ações afirmativas dos anos 60, hoje em dia, desconhecem que o acesso a determinado nível de educação, emprego, foi produto da luta dos movimentos negros. Isto pelas campanhas dos partidos de direita, que dizem que isso foi um privilégio que não, necessariamente mereciam aqueles que beneficiaram227.

Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos com referência à política de inclusão social dos negros a partir da década de 60; na America Latina, principalmente em países como Brasil, Colômbia e Equador, as ações afirmativas para inclusão de afrodescendentes se baseiam em políticas públicas que promovem mudanças estruturais na sociedade.

Nesse contexto constata-se, que as ações afirmativas na América Latina, mesmo sendo implementadas de certa forma com atraso, devem ser vistas sob uma perspectiva filosófica e política e não devem ser promovidas apenas pelo Estado, mas também pelos grupos privados, ou seja, por toda sociedade; cumprindo ao Estado exercer, sobretudo, uma função reguladora dessas ações afirmativas.

Por outro lado, importa observar também, que ações afirmativas de inclusão social de grupos com origem étnica racial, principalmente os afrodescendentes devem ter natureza reparatória em face de uma realidade que deve ser reconhecida; que é: o fato dos Estados-Nações terem por vezes se enriquecido às custas da escravidão e exploração dos povos afrodescendentes.

Além do que, as ações afirmativas com essa moldura ofertará uma alternativa à globalização neoliberal e ao capitalismo selvagem, que não conseguiram diminuir as estruturas da exclusão social, marginalidade e pobreza dos povos afrodescendentes; cuja perspectiva implica no envolvimento em todos os seguimentos da sociedade e o comprometimento de todos os poderes, quais sejam, Executivo, Legislativo e do Judiciário.

É de relevo ressaltar também, que a inclusão desses grupos vulneráveis nos níveis mais elevados da pirâmide social, não deve ser focada apenas no parâmetro racial, mas, sobretudo, no parâmetro econômico, tendo em vista que em muitos países da America Latina, principalmente os países Andinos e do Merco sul, a

questão relacionada ao afrodescendência não constitui um único problema social, tendo em vista o alto grau de mestiçagem da população desses países.

Sob esse prisma, tem-se que, as ações afirmativas não podem ter como foco principal a questão meramente racial; mas, principalmente, a pobreza na qual se encontra inserida parte da população desses países.

No documento Ações afirmativas e o pricípio da igualdade (páginas 114-118)