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Primeiras manifestações de Ações Afirmativas nos Estados Unidos

No documento Ações afirmativas e o pricípio da igualdade (páginas 100-103)

5 AÇÕES AFIRMATIVAS SEGUNDO RALWS E ARISTÓTELES

6.1 Primeiras manifestações de Ações Afirmativas nos Estados Unidos

As primeiras ações afirmativas visando a implementação de fato nos Estados Unidos, surgiram antes mesmo da declaração de inconstitucionalidade da doutrina “separados, mas iguais” em 1.954. Sendo que a primeira manifestação concreta de ação afirmativa tenha ocorrido em 1.941 no governo do presidente Fracklin Delano Roosevelt, através do ato normativo denominado “executive order 8.806 de 25.06.1.941, que segundo Rodrigues impedia:

A discriminação racial na contratação de funcionários por parte do próprio governo federal e das empresas bélicas que mantinham com o mesmo relações contratuais, alem de instituir a Flair Employment pratices comission (FEPC), que ficou incumbida de investigar a ocorrência dessas práticas no mercado200.

Contudo, as ações afirmativas se expandiram e se consolidaram nos Estados Unidos a partir da década de 60, já no governo de John Kennedy que criou um grupo para estudar as relações de trabalho no governo e promover a diversidade racial. Nessa época, ficou consagrada a expressão ação afirmativa “Affirmative Action” nos seguintes termos:

O contratante não descriminará nenhum empregado ou candidato ao trabalho por motivo de raça, credo, cor ou origem nacional. O contratente adotará a ação afirmativa para assegurar que os candidatos sejam empregados e que os empregados sejam tratados sem qualquer consideração a raça, credo, cor ou origem nacional201.

O surgimento das ações afirmativas nos Estados Unidos decorreu em maior parte, dos movimentos ou do ativismo de grupos e particularmente do pastor Martin

199 RODRIGUES, 2010, p. 99. 200 Ibid., p. 100.

Lutherking Jr que lutava em prol da igualdade entre brancos e negros. Lutherking Jr baseou seus ideais de igualdade racial na resistência pacífica tendo como parâmetro os ideais de Mahatma Ghandi na Índia, mobilizando os negros em marchas por diversos Estados do Estados Unidos, buscando a conscientização dos próprios negros e brancos e visando alcançar a igualdade e liberdade entre esses dois grupos nos Estados Unidos.

Registra-se por oportuno, que uma das grandes mobilizações patrocinadas por Martin Lutherking Jr ocorreu em 28 de agosto de 1.963 em New York onde se reuniram mais de 200 mil pessoas no Lincon Memorial. Tendo como Martin Lutherking Jr:

[...] eu tenho um sonho que um dia esta nação acordará e vivenciará o verdadeiro significado de sua crença: “Nós afirmamos estas verdades para serem evidentes: que todos os homens são criados iguais” Eu tenho um sonho que um dia sobre as colinas avermelhadas da Geórgia os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos proprietários de escravos poderão sentar-se juntos na mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, mesmo o Estado do Mississipi, um Estado deserto sufocante com o calor da injustiça e da opressão será transformado no Oasis da liberdade e da justiça. Eu tenho um sonho que meus quatro filhos viverão um dia numa nação onde eles não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje202.

Diante dessa mobilização social patrocinada por Martin Lutherkink, o governo do presidente Lyndon Johnson, fez aprovar no congresso nacional o Civil Rights Act em 1.964. A partir desses acontecimentos as ações afirmativas se consolidaram nos Estados Unidos e com a sua consolidação através dos Executives Order 11.246 de 1.965 e a cláusula de dispêndio de recursos públicos (Spendig Clauses), da própria constituição; as ações afirmativas ficaram mais bem alicerçadas do ponto de vista jurídico constitucional, tendo em vista a garantia de que o “[...] dispêndio de recursos deve servir às causas de interesse coletivo”203.

Uma questão interessante ligada às ações afirmativas nos Estados Unidos é o fato de que através da cláusula de recursos financeiros públicos, o Estado pode interferir para evitar que práticas discriminatórias contra os negros fossem patrocinadas indiretamente pelo próprio Estado, ou seja, pelo poder público. Sendo que a ação interventiva do Estado superou a doutrina que impedia a intervenção

202 RODRIGUES, 2010, p 101. 203 Ibid., p. 101.

estatal na esfera individual das pessoas, a menos quando o ato discriminatório fosse praticado por agente do próprio Estado.

A discriminação racial nos Estados Unidos era de certa forma fomentada por essa prática política e “[...] consensual de que ao governo é dado intervir na esfera das pessoas, sobre pretexto de coibir atos discriminatórios”204.

Para Joaquim Barbosa Gomes, citado por Eder Bomfim Rodrigues o Poder Judiciário desempenhou um papel importante no redesenho da doutrina “State Action Doutrine” diz ele:

O poder judiciário desempenhou papel fundamental no redesenho da State Action Doutrine ao classificar como atividade pública ou de interesse público inúmeros empreendimentos de índole a priori privada, “publicizando-os” em razão da presença do mais singelo indicio de exercício de autoridade estatal, seja na sua operacionalização seja na sua regulamentação205.

Nesse sentido, é de bom alvitre ressaltar o posicionamento da Suprema Corte Americana em dois casos que se discutiu a aplicação da “State Action Doutrine”. No primeiro caso a ação foi proposta por Nor Wood contra Harrison (413 U.S 455 1.973), nesse caso firmou-se um entendimento de que a subvenção a estabelecimento de ensino racista poderia fomentar condutas que mesmo indiretamente levasse a exclusão das minorias.

O segundo caso citado por Rodrigues, refere-se à ação proposta por Bob Jones University V. united States 461 U.S 574 1.983. Tratava-se de uma universidade cristã sem vinculação a igrejas e sem fins lucrativos. Entretanto, com uma doutrina que proibia a mistura de raças. A referida universidade não admitia matriculas de negros solteiros ou casados com brancos. Como se tratava de uma instituição isenta da incidência de imposto de rendas, a receita federal em face da prática discriminatória retirou-lhe o “status” de entidades sem fins lucrativos. Cuja decisão foi referendada pela suprema corte, na época presidida pelo Juiz Warrem Burger.

Diante dessa perspectiva, constata-se que o desapego a doutrina “State Action Doutrine”, constituiu-se um vetor de fundamental importância para a implementação das ações afirmativas nos Estados Unidos; sendo que o contributo do poder judiciário foi decisivo para sua implementação na medida em que

204 RODRIGUES, 2010, p. 102. 205 Ibid., 2010, p. 103.

resguardou as ações dos poderes executivo e legislativo que trilhavam na direção da eliminação das discriminações raciais, não só no sistema de ensino, mas também nas atividades públicas e privadas de diversas naturezas; reforçando assim, as decisões no sentido de aplicação da 14º emenda constitucional.

No documento Ações afirmativas e o pricípio da igualdade (páginas 100-103)