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CONTEXTUALIZAÇÃO E CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE IMPUTABILIDADE

No documento BRAZILIAN JOURNAL OF ACADEMIC STUDIES (páginas 83-85)

INIMPUTABILIADE NA DOENÇA MENTAL, UMA VISÃO JURÍDICA

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE IMPUTABILIDADE

Com o grande aumento da criminalidade, seja por crimes comuns ou por crimes patológicos (ausência de entendimento ou controle de vontade), o Estado passa por constante desafio para controle e prevenção. Por esse motivo Hodgins, realizou um estudo de coorte na Suécia com 15.711 pessoas do nascimento até os 30 anos, sendo concluído que pessoas portadoras de doenças mentais ou retardo possuem mais chances de ter comportamentos violentos ou cometer algum crime. Em outro estudo realizado pela mesma autora, foram acompanhados 358.180 indivíduos na Dinamarca, do nascimento até os 43 anos, durante o estudo foi verificado que indivíduos com internação psiquiátrica tiveram mais chances de condenações do que indivíduos sem internação psiquiátricos.2

Imputabilidade é o conceito que liga a responsabilização do ato antijurídico ao autor que o praticou. Construído de dois elementos principais: o entendimento e a vontade, o primeiro refere-se ao conhecimento do caráter ilícito do fato, sua proibição e as repercussões que o ato cometido causa ou poderia causar no mundo naturalístico; o segundo refere ao controle interno necessário para adequação da conduta de acordo com o entendimento do ilícito.3

O código penal trás duas hipóteses para o afastamento da imputabilidade, sendo estas a doença mental ou o desenvolvimento mental incompleto. Durante muito tempo se discutiu como determinar a doença mental ou o desenvolvimento mental incompleto que afastariam a responsabilidade do ato e caberia uma medida de segurança.4

2 CHALUB, Miguel; TELLES, Lisieux E. de Borba. Álcool, drogas e crime. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 28, supl. II, 2006, p. 70.

3 GRECO, Rogerio. Curso de Direito Penal: parte geral, v. I, 19. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2017, p. 516.

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|CORRELAÇÃO DA INIMPUTABILIADE NA DOENÇA MENTAL, UMA VISÃO JURÍDICA PSIQUIÁTRICA

Primeiramente foi usado o critério biológico, isto é, aquele que possui uma doença mental será isento de pena, demonstrada sua insuficiência. Depois, passou a ser adotado o critério psicológico, aquele que no momento da ação não entendia ou não se controlava seria isento de pena, devido a grande subjetividade também se mostrou insuficiente. Por fim foi proposto o critério biopsicológico, portador de determinado diagnóstico, o indivíduo que ao praticar ato criminoso, naquele momento, teve seu entendimento ou o controle comprometido deverá ser isento de pena, cabendo uma medida de segurança. Essa última teoria é aquela aplicada atualmente em casos de afastamento da imputabilidade.5

Na ocorrência de um fato típico e ilícito por uma pessoa inimputável, mesmo com indícios de tal condição na fase extraprocessual, será necessária a denúncia pela promotoria, como forma de garantir o contraditório e a ampla defesa, uma vez que o fato antijurídico existiu no mundo naturalístico. Durante o processo, o juiz fundamentado por laudos técnicos, deverá realizar a absolvição imprópria, uma vez que será excluída a culpabilidade e por consequência pena, todavia será imposta uma medida de segurança.6

A medida de segurança tem objetivo de cura ou ao menos controle do inimputável que realizou fato antijurídico, gerando uma proteção social e ao indivíduo. O código penal determina dois tipos de medida de segurança, sendo o tratamento em ambulatório ou internação em hospital psiquiátrico, ou ainda na falta deste, em estabelecimento adequado. A escolha da aplicação vai de acordo com a periculosidade o potencial ofensivo do fato típico ocorrido.7

Iniciado o cumprimento da medida de segurança no local adequado por no mínimo de um a três anos, devendo durar até a cessação da periculosidade. Essa periculosidade deverá ser verificada por laudos médicos psiquiátricos, realizados anualmente ou a qualquer tempo por solicitação do magistrado.8

Devido à ausência de limite do tempo da medida de segurança, houve a necessidade de posicionamento do Supremo Tribunal Federal em sentido de que a medida não poderá ser superior a trinta anos. Tal posicionamento coloca a constitucionalidade na medida uma vez que a constituição proíbe qualquer tipo de privação de liberdade em caráter perpétuo.9

Muito influenciado pela doutrina Alemã do século XIX, a primeira teoria sobre culpabilidade foi denominada Causal- Naturalista, nela verificava dois aspectos, o interno e o externo, o primeiro era o vínculo psicológico ao ato antijurídico, o segundo era o ato em si que modificaria o mundo naturalístico. O dolo e a culpa

5 Ibid., p. 531-532. 6 Ibid., p. 837. 7 Ibid., p. 838. 8 Ibid., p. 841. 9 Ibid., p. 845.

eram verificados dentro da culpabilidade, logo foi percebido que tal teoria não contemplava de forma satisfatória situações em que a ação era realizada por coação física absoluta, estado de inconsciência ou reflexos internos.10

A segunda teoria, chamada de Normativa, passa a verificar o conceito de exigibilidade de conduta, levando uma ligação entre a norma e o psiquismo. A ação deixa de ser natural e passa a ser inspirada em sentido normativo, juridicamente certo ou errada, dessa forma abarcando as inclusive as condutas omissivas. A tipicidade passa a ter caráter valorativo e a antijuridicidade é vista como dano e injusto social. Desta forma, a estrutura da culpabilidade fundava na imputabilidade, isso é, a responsabilização do agente pelo dolo ou culpa, exigindo uma conduta diversa da pratica.11

A terceira teoria foi denominada de Finalista, uma vez que o elemento subjetivo foi conduzido para ação. O principal fundamento era que toda a conduta humana é um exercício final, ocorrendo à previsibilidade das suas consequências, o dolo e a culpa passam a ser verificado na ação (tipo), tornando sua análise complexa dada a fusão do objetivo e subjetivo. Assim, a culpabilidade fica composta de imputabilidade, potencial consciência sobre a ilicitude, exigibilidade de conduta diversa.12

Quando levamos a inimputabilidade ao cerne do discernimento reduzido por doença mental ou desenvolvimento mental reduzido, temos a definição nas palavras de Damásio de Jesus:

Para que seja considerado inimputável não basta que o agente seja portador de doença mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. É necessário que, em consequência desses estados, seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.13

2.2 OS PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS EM PSIQUIATRIA QUE

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